O mágico e o refundador

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Dois pilotos tiveram atuações lendárias no GP da Malásia: Alonso e Perez

Um belo GP da Malásia. Instabilidade climática e demanda por pneus adequados todo o tempo deram o tom para uma corrida em que competidores tiveram suas habilidades colocadas em prova com mais intensidade do que numa corrida seca. Acima de todos os outros, dois pilotos brilharam: o mágico Fernando Alonso e o refundador Sergio Pérez.

De fato, a corrida foi um tanto caótica nas primeiras 20 voltas, com chuva forte demais, depois forte de menos, bandeira vermelha, Safety Car e entra-e-sai dos pits. Mas depois disso, foi só braço mesmo, e competidores precisaram se virar em ambiente de aderência que mudava todo o tempo.

A placa de pit com a inscrição “MAGICO” mostrada para Alonso foi justa e merecida. Levar uma carroça que provavelmente é apenas o quinto melhor carro do grid para uma vitória incontestável, no limiar de uma crise histórica (ou histérica?) dentro da Ferrari, foi um feito e tanto. Fernando é um daqueles que ajudam a não nos esquecer que pilotos, sim, fazem a diferença. Talvez seu avô, em Oviedo, tenha lhe ensinado na infância truques de mágica a serem usados ao volante dos carros…

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Pérez, o outro grande nome da corrida. Ele chegou a ser o penúltimo colocado na volta 2, quando apostou que a chuva era demais e antecipou a troca, dos verdes intermediários para os azuis de chuva pesada. Foi uma jogada tão bem feita que ele seria alçado a um incrível 3º posto quando o SC entrou na volta 9 e a corrida foi posteriormente paralisada em 52 minutos. (Ninguém aprendeu coisa alguma no dilúvio bíblico de 2009)

De nada adiantaria jogar bem com a tática sem corresponder na pista. E o mexicano da Sauber surpreendeu a todos: não foi ultrapassado por ninguém, tomou de Hamilton a 2ª posição ainda no recomeço e aspirou vencer a corrida, o que não aconteceu por dois pequenos lapsos, sendo o primeiro o de demorar uma volta a mais para pegar slicks, e o segundo pela escapada na volta 50.

Nenhum dos fatos, entretanto, obscurece sua excelente performance. Pérez é o primeiro mexicano a visitar o pódio da F1 em 41 anos, quase o dobro de seus 22 anos de idade. O último a fazer isso foi um dos irmãos Rodríguez, Pedro, ao chegar em 2º no GP da Holanda disputado em 20 de junho de 1971, a bordo de uma BRM. Foi a penúltima corrida dele na F1: Pedro faleceu menos de um mês depois, em decorrência de um acidente durante uma endurance em Norisring, Alemanha.

Nesse sentido, Pérez funda uma nova onda de interesse do México pela F1. Carente de pilotos competitivos, e bandeando suas preferências automobilísticas para modalidades do vizinho Estados Unidos, o México pode viver agora fenômeno semelhante ao que tomou a Espanha com o surgimento de Alonso e ao que tomou a Polônia com Robert Kubica, cara que está fazendo falta (fico apreensivo pela falta de informações de seu real estado clínico). Digo que seria ótimo a F1 voltar a correr em Hermanos Rodríguez – sobretudo por se tratar de uma pista tradicional e, sobretudo, não-tilkeana!

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Depois do memorável close em slow-motion no carro de Lewis durante uma freada, seguido de imagens de seu último pit, em que um mecânico foi obrigado a tirar um enorme pedaço de borracha do duto de freio dianteiro, surgiu a seguinte linha de pensamento: O 3º lugar de Hamilton na Austrália foi causado pela tocada do piloto, que desgastou demais seus pneus. O 3º lugar de Hamilton na Malásia foi causado pela tocada do piloto, que desgastou demais seus pneus. [Agora imite voz de secretária eletrônica e diga: Isto é uma gravação.]

Lewis tem um fortíssimo conjunto de atributos para ganhar o título: tem velocidade e talento comprovados, já foi campeão, e também possui o melhor carro do grid. Só que não tem juízo na conservação dos pneus. Seria um tanto embaraçoso um piloto do quilate de Hamilton se mostrar tão inflexível na maneira de pilotar, a ponto de atirar (outro) campeonato pela janela pela simples falta de adaptabilidade. Piloto campeão é aquele que sabe se adaptar ao jogo.

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Sobre os pneus, de chuva pesada e intermediários, só posso perguntar o porquê de uma janela de funcionamento tão restrita – tanto em temperatura operacional quanto em nível de escoamento de água.

Os de chuva pesada simplesmente não escoam água quando a chuva realmente aperta (é necessário arrego, ou melhor, Safety Car). Estes compostos faixa azul, de quebra, viram farelo assim que a pista se apresenta apenas úmida, e a maratona nos pits a partir do momento em que o Safety Car saiu de cena para recomeço de prova, em frenética busca por intermediários, só reforça o argumento. Os pneus de chuva pesada da Pirelli ficaram a um passo da total inutilidade.

Intermediários também não fogem das críticas. Podem até parecer melhores para pista úmida, mas viram paçoca mesmo antes da formação de trilho seco. Os carros da Mercedes provaram-se os mais vorazes consumidores da borracha italiana. Por outro lado, vários pilotos reclamaram que simplesmente não conseguiam manter temperatura operacional durante a chuva, sobretudo nos pneus dianteiros, fazendo o carro sair de frente todo o tempo. Entre eles Jenson Button, em raro dia em que cometeu um erro – mas, como manda a cartilha dos campeões, prontamente assumiu a culpa.

Pilotos do pelotão dianteiro, entretanto, não enfrentaram esse problema de temperatura. Lanço uma teoria: para os que ficaram presos atrás de carros mais lentos, sem conseguir se livrar deles rapidamente, o simples fato destes jogarem spray em suas trajetórias, já era suficiente para esfriar a borracha. Se recapitularmos, as mudanças de posição na pista só ocorreram quando a pista começou a secar e o problema foi de temperatura elevada dos pneus, primeiramente dos azuis, depois dos verdes.

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Outros pilotos merecem nota. Bruno Senna, em ótimo 6º lugar, fez sua melhor exibição na F1, provando ter habilidade em pista molhada, pois foi um dos poucos a ganhar posições quando a corrida se estabilizou, a partir da volta 20. Outro destaque vai para Kimi Räikkönen. Muitos vão dizer que ele fez um 5º lugar burocrático, mas eu digo que ele realizou uma prova sem cometer erros (que seriam até comuns para quem retorna depois de um afastamento de três anos), e de quebra assinalou a volta mais rápida, apenas para provar que sua velocidade está intacta.

Sebastian Vettel conquistaria facilmente a 4ª posição, não fosse a mesma Hispania de Narain Karthikeyan, que já havia cruzado o caminho de Button, a lhe rasgar um pneu. A questão aqui é que Sebastian já não conta com aquela “sorte” que todo campeão deve ter – naquela minha teoria em que não existe piloto que ganhe campeonato colecionando azares.

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A improvável vitória de Alonso salva a cabeça do chefe Stefano Domenicali. E adia a fritura do diretor técnico Pat Fry (o trocadilho foi inevitável, me desculpem), indicado por Alonso para integrar a Ferrari, cansada de Aldo Costa, hoje na Mercedes – que está em melhor forma, mas que precisa resolver como não triturar tanta borracha.

Estranhamente, o ótimo desempenho de Alonso também salva provisoriamente Felipe Massa da guilhotina. A Ferrari quer curtir a vitória e o (novo) desempenho pífio do brasileiro foi imediatamente varrido para baixo do tapete. Quando o encanto for quebrado, entretanto, e os resultados minguados inevitavelmente voltarem, dedos inquisitórios voltarão a ser apontados em direção de Felipe, que há muito tempo não tem alternativa, senão voltar a apresentar resultados compatíveis com o apresentado no começo de sua carreira na equipe.

E quando tais dedos voltarem a ser apontados, todos vão querer que o mágico tenha o refundador como companheiro de equipe.

Aquele abraço!

Lucas Giavoni
Lucas Giavoni
Mestre em Comunicação e Cultura, é jornalista e pesquisador acadêmico do esporte a motor. É entusiasta da Era Turbo da F1, da Indy 500 e de Le Mans.

12 Comments

  1. Fabiano Vasconcelos Borges disse:

    Ola gptos a pilota Maria de Villota so treinar as sextas feiras ela ja estreou ja treinou? abraços

  2. Fabiano Vasconcelos Borges disse:

    Ola gptos a pilota Maria de Villota so vai treinar as sextas feiras ela ja estreou ja treinou?

  3. Fernando Marques disse:

    Eu vi a corrida e digo que:

    1) Fernando Alonso é um iluminado …

    2) Foi estranho aquele radio pro Peres dizendo que o 2º lugar era importante quando ele tinha tudo para ganhar a corrida. Uma Sauber/Ferrari bater uma Ferrari oficial de fabrica seria um caos em Maranello com certeza. Fica a duvida no ar …

    3) As Mclarens decepcionaram por não mostrarem na chuvao tão bom são em pistas secas ..

    4) Se não fosse a chuva jamais Senna teria chegado em 6º lugar ( nem o Peres em 2º e muito menos o Alonso em 1º}, por isso acho prematuro dizer que o carro da Willians é bom … tenho as minhas duvidas mas não pode-se deixar de elogiar o desempenho do Bruno.

    5) E o Felipe Massa … vou levantar uma teoria e quem discordar que discorde ou vice e versa … quando Massa estreiou na Sauber cometeu tantos erros quanto vem cometendo atualmente em termos de pilotagem … tanto que não teve o contrato renovado para a temporada seguinte e foi “amargar” uma situação de piloto reserva na Ferrari … onde mostrou ser bom aluno para assim ser efetivado … e graças ao seu bom empresario … e pelo visto a novela vai se repetir desde que daqui para frente ele consiga revereter esta situação … a prova que ele não está bem reparei na maneira como ele se defendeu dos ataques do Button, a meu ver em algumas vezes de forma bruta, não tendo consequencias desastrosas por ser o Button que estava atras dele … se fosse um Hamilton ia dar batida novamente … o cara não está bem …

    Fernando Marques
    Niterói RJ

    • Lucas disse:

      Bom, não custa lembrar que na corrida de abertura o Maldonado (o mesmo Maldonado que ano passado só teve um mísero décimo como melhor resultado da temporada e só três vezes conseguiu passar ao Q3) tinha classificado em oitavo e no finzinho da corrida já estava em quinto lugar, botando a maior pressão no Alonso de Ferrari, até rodar e abandonar – o que indica que a Williams conseguiu, sim, fazer um bom carro pra essa temporada. Ainda bem, era de dar pena ver um nome histórico como o da Williams virando sinônimo de equipe de fim de grid.

  4. felipe disse:

    elogiaram tanto o trabalho de di grassi na pirelli ano passado, no 1° GP em que os pneus foram o sentro das atenções todo mundo metendo o pau..
    o di grassi entao nao fez um um bom trabalho?
    ou estao apenas buscando explicações para esse GP maluco??

    • Marcos - DF disse:

      Olá Felipe, olá amigos do GPeto !
      Quanto à rápida deterioração dos pneus, segundo alguns sites especializados, é proposital para, desta forma, dar mais emoção à F1, que andava (ano passado), tão carente disso.
      E dizem mais: que titio Bernie tem o dedo enrugado nisso, orientando a Pirelli a fazer compostos com esta característica !
      Eu não duvido !
      Abraços a todos !
      Marcos – DF

  5. Rafael Carvalho de Oliveira disse:

    Bom dia amigos do GPTotal

    Estive assistindo ao GP da Malásia e mais uma vez fiquei chateado com a corrida do Felipe Massa.

    Eu sinceramente gostaria de saber o que acontece, por que ele não consegue esboçar nenhuma reação para que a mídia e os torcedores mudem de opinião a seu respeito. Fico com dor no coração em ver críticas e mais críticas sobre ele, mas infelizmente estou me convencendo de que Massa realmente não é mais aquele piloto que chegou na Sauber no GP da Austrália de 2002.

    Antigamente dava gosto vê-lo pilotar. Era um piloto com arrojo, garra e rapidez, a ponto de ser comparado com Nigel Mansell. Talvez seja porque a Ferrari trabalhe em função do Alonso? Será que ele está de saco cheio de ficar na Ferrari? Ou será que aquele acidente em 2009 afetou no seu estilo de pilotagem?

    Talvez ele recupere um pouco da confiança mudando de equipe. Eu assisto às corridas e percebo que ele até começa razoavelmente bem mas vai perdendo rendimento no decorrer do GP. Fazendo uma comparação com o futebol, ele está parecendo certos jogadores que entram sempre no segundo tempo por serem jogadores rápidos e porque o time adversário já está cansado. Se ele continuar com este desempenho, o nosso Massinha não chega até o final da temporada na Ferrari, infelizmente.

    Torço pra que ele se recupere logo mas estou vendo que esta difícil!

    Rafael Carvalho de Oliveira, São Paulo

  6. Josilmar Oliveira disse:

    O desempenho de Alonso ontem lembrou o de Schumacher em Barcelona/1996, em condições muito semelhantes.

    • Allan disse:

      Com a diferença que, em carros melhores, não estavam Hill (o Damon…), Villeneuve (o Jacques…) e, talvez, Berger, Alesi, Coulthar e Hakkinen. Hamilton, Vettel, Webber (si, si, por que non?) e Button, fora o “mágico” Miguel Sapateiro, são bem melhores que aquela turma…
      Concluindo: feito bem maior de Don Cabeçon das Astúrias, em que pese Miguel ter ficado sem um cilindro ao final daquela prova.

    • Salve Josilmar.
      A mim, o desempenho de Alonso lembrou a vitória de Senna no Brasil em 1993. Com um carro igualmente lento, Senna tomou decisões acertadas em relação às paradas nos boxes, se aproveitou de erros de adversários, e acelerou como louco quando se viu em condições de brigar pela vitória.
      Mais ou menos como Alonso fez nesse fim de semana.
      Abraços,

  7. Mauro Santana disse:

    Olá Amigos do GPTotal!

    Excelente coluna, amigo Lucas!

    E Vettel?

    Quero ver ele andar tão bem com um carro, que a princípio até o momento não é tão bom quanto os de 2009, 2010 e 2011.

    Agora ele vai ter que mostrar que é tudo isso mesmo!

    Abraço a todos!

    Mauro Santana
    Curitiba-PR

    • El Matocho disse:

      Não gosto do Alonso mas não tem como discutir o cara é F…
      Essa vitória foi tirada da cartola, com um desempenho impecavel…
      Perez ótimo, não ganhou por causa daquele rádio estranho no minimo…
      Lewis parece estar amadurecendo, se fosse o velho Lewis tinha arrebentado (ainda mais) seus pneus tentando buscar o Perez e seria obrigado a fazer mais uma parada…
      Massa…aposto que até agosto está a pé…
      Vettel, parece ser o baby Schummy mesmo, só ganha com o melhor carro…
      Abraço!!

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