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Em AVUS a situação é diferente. Auto Union e Mercedes-Benz aparecem e agora tem carros
efetivamente da categoria Grand Prix. Mais que isso, parecem mais evoluídos. A Auto Union inscreve 3 Tipo A, 16 cilindros 4,4L instalados atrás do piloto, para Hans Stuck, Hermann zu Leiningen, August Momberger. A Mercedes traz 3 W25, 3.0, 8 em linha para Caracciola, Manfred von Brauchitsch e Luigi Fagioli. A Ferrari traz uma P3 carenada com motor 3.2 para Moll, mais duas P3 convencionais para Varzi e Chiron.
Tazio coloca mais um precioso tijolo na construção de sua lenda, se apresentando para pilotar uma Maserati 8CM 3.0 por sua própria escuderia, com a perna direita engessada. Os pedais foram adaptados para que ele pudesse fazer tudo com o pé esquerdo. Caracciola dá algumas voltas na W25 sofrendo fortes dores na bacia. Mas a Mercedes percebe que os carros ainda não estão prontos – apresentam problemas na bomba de combustível – e decide não competir, para decepção do enorme público presente.
Dada a largada debaixo de chuva, Stuck assume a ponta com Chiron em segundo, Varzi em terceiro, Moll em quarto. Mas o ritmo do alemão é impressionante e ele abre 1 minuto do monegasco antes mesmo de completar a primeira volta! Moll recebe ordem de acelerar e passa Varzi na volta 4, Chiron na volta 7. Na volta 10 Stuck pára nos boxes para trocar pneus, quando estava 1’25” à frente de Guy. Chiron tem problemas com a tubulação de óleo e abandona no 9º giro.
Na 12ª volta Stuck é obrigado a abandonar, por problemas na embreagem. Moll, Varzi e Momberger, salvando a honra da Auto Union, em terceiro. Nuvolari chega em quinto. Observe: até aqui a maior preocupação dos projetistas tinha sido criar carros estreitos. Com a Auto Union Tipo A, criada por Ferdinand Porsche, há não apenas um avanço aerodinâmico mas a introdução do motor central traseiro, algo inédito. Antes dominavam os 8 em linha, agora vinha um V16 projetado assim, e não adaptado. A Ferrari também se deu conta de que precisava evoluir, por isso o motor maior e a carenagem na Alfa pilotada por Moll. Novos tempos se iniciaram nesta prova.
Novamente a coincidência de datas faz a Ferrari dividir sua equipe, para participar da Eifelrennen e do GP de Montreux (Suíça). Varzi é escalado para este último, em companhia de Moll e Trossi, todos com as 2.9. Étancelin (Maserati 3.0), que tinha feito a pole, mostra-se um adversário duro e competente. Moll lutou com ele a maior parte do tempo, com Trossi e Varzi vindo de trás. Quando Moll abandona na volta 42, com problemas na tubulação de óleo, os dois ferraristas restantes vão à caça dele, Varzi à frente. Quando Achille faz um pitstop na volta 69 Trossi, que se sente totalmente à vontade em circuitos de rua, sobe para segundo e ultrapassa Étancelin na última volta. Varzi fecha o pódio.
Penya Rhin conflitava com Le Mans e uma subida de montanha na Alemanha, assim nem franceses nem alemães oficiais apareceram em Barcelona. A Ferrari compareceu com Varzi, Chiron e Lehoux, por seu grande conhecimento da pista. O principal adversário seria o ainda convalescente Nuvolari, já sem gesso mas ainda frágil. Ele trava dura disputa com o trio mas na volta 32 as dores na perna se tornam insuportáveis e ele abandona. Varzi lidera e vira sempre mais rápido que seus colegas. Recebe a bandeirada um minuto e meio à frente de Chiron, que é seguido por Lehoux.
A prova seguinte é o GP da França, em Montlhéry. A turma toda diz presente. A AU vem com 3 Tipo A, para Stuck, Momberger e zu Leiningen. A M-B com 3 W25 para Caracciola, von Brauchitsch e Fagioli. A Ferrari vem com 3 P3, para Varzi, Chiron e Trossi. A Bugatti alinha 3 T59, para Nuvolari, Benoist e Dreyfus. A Maserati envia uma solitária 8C 2.5 para “Freddy” Zehender.
Dada a largada Chiron, mesmo saindo da terceira fila, assume a ponta, seguido por Caracciola, Fagioli e Stuck. Na terceira volta este passa todo mundo e assume a liderança. Na volta seguinte Fagioli bate o recorde de volta e passa Rudi. Achille vem em quinto, seguido por Trossi, von Brauchitsch, Dreyfus, Zehender, Étancelin, Benoist, Momberger e Nuvolari, com problemas no câmbio. Na volta 8 von Brauchitsch passa Trossi e Nuvolari entrega o carro a Wimille.
Em 20 voltas todos os carros alemães, exceto Stuck, tinham abandonado, com problemas diversos. E Stuck tinha problemas. E assim Chiron vence com Achille em segundo, Moll completando barba-cabelo-bigode para a equipe do cavalo rampante.
GP do Marne, em Reims. Sem equipes oficiais da Bugatti, Maserati, Auto Union e M-B, restava apenas Tazio, com a sua 8CM. Não era páreo para as Alfa em um circuito veloz como esse e ele queima dois jogos de pneus tentando acompanhar Varzi, até que quebra um semi-eixo. Com problemas de cambio Achille faz um terceiro.
GP da Alemanha, Nurburgring. As duas alemãs vem com força total para fazer frente à Ferrari. Bugatti e Maserati permanecem ausentes oficialmente, mas Tazio tem apoio da fábrica. Achille é obrigado a abandonar por problemas de câmbio logo após a primeira volta, quando estava em terceiro. Stuck finalmente vence para a AU, Fagioli em segundo com a W25 seguido por Chiron.
Na Coppa Ciano Moll dá bastante trabalho a Achille, mas este se impõe. Tazio, novamente o único adversário serio da Ferrari não pode fazer melhor que um terceiro. Dos nove carros que terminaram apenas o dele não era Alfa.
Em um GP da Bélgica sem carros alemães (a alfândega belga cobrou 180 mil francos pelo combustível especial que AU e M-B traziam e ambas preferiram voltar para casa), o duelo se deu entre a ressuscitada Bugatti oficial e a Ferrari, com Chiron e Varzi somente. Apenas 7 carros. Chiron assumiu a ponta, Varzi atrás. Logo as Bugatti começaram a ter problemas com velas e a vitória pareceu fácil para os dois veteranos. Mas…. Chiron errou feio na Eau Rouge e capotou, felizmente sem se machucar, na altura da volta 20, quando estava em segundo. Achille continuou tranquilo, fazendo sem esforço a volta mais rápida, mas na volta 26 seu motor começa a expelir fumaça e ele é obrigado a abandonar. Esta será a última vitória da Bugatti nas “Grandes Épreuves”, Dreyfus fazendo 1-2 com Brivio, com as T59.
A Coppa Acerbo viu novamente confronto entre Auto Union, Mercedes e Alfa, carros e pilotos oficiais inscritos, Tazio sendo o único contraponto. Achille é o mais rápido dos pilotos Ferrari e larga na primeira fila, entre Stuck e Caracciola. Dada a largada os três se engalfinham pela ponta. Tinha chovido muito antes e a pista ainda estava bem úmida, não demorou para Rudi assumir a ponta e Stuck passar Varzi. A Alfa não era páreo para a potência das máquinas alemãs nas retas e nem mesmo a classe de Achille permitia recuperação nos trechos sinuosos.
Fagioli vinha em quarto, a quase 9 minutos, e Moll em quinto. Na terceira volta, Achille faz um esforço enorme e emparelha com a Auto Union na longa reta que leva a Monte Silvano e toma a frente na entrada da curva rápida à direita que fica no final dela, mas ele e Stuck começam a ter problemas e param nos boxes. Fagioli, Tazio e Moll sobem. Na altura da 5a. volta Achille pára de vez com problemas no cambio. Na volta 9 Rudi perde o controle sob chuva perto de Capelle sul Tavo, sai fora da pista e é obrigado a abandonar.
Na volta 11 Moll liderava seguido por Henne (M-B), que é ultrapassado por Varzi, agora no carro de Ghersi. Com a parada de Guy para reabastecimento Achille assume a liderança. Mas na volta 17 ele devolve a Alfa a Ghersi, com problemas de lubrificação que tiram qualquer expectativa de vitória. Um entusiasmado Moll bate o recorde de volta na perseguição a Fagioli, 29” à frente. O argelino sabe que agora é a única esperança de vitória em casa para os italianos.
Mas a tragédia estava à espreita. Ao tentar ultrapassar Henne, que estava uma volta atrás, na reta de Monte Silvano, sua Alfa estranhamente perde controle a 270km/h, sai da pista, uma roda bate em um pilar de concreto e Moll é catapultado. Morte instantânea.
No III GP de Nice, 3 Alfa enfrentam Tazio (Maserati) e Dreyfus (Bugatti oficial). Varzi e Tazio duelam por algum tempo mas a Alfa é superior. Antes da volta 30 Nivola abandona e Achille põe uma volta sobre o segundo colocado, Étancelin.
No GP da Suíça, embora tenha feito a volta mais rápida lá pelo meio da prova, Achille nada pode fazer contra as Auto Union. Um quarto lugar era o que havia para o momento. O 1º Circuito di Biella, disputado uma semana antes do GP da Itália, atraiu somente a Ferrari e equipes independentes italianas. Após três baterias eliminatórias os classificados competiram por 40 voltas em um circuito de rua de 2,199km. Trossi, especialista nesse tipo de circuito, vence com Achille a meros 0.02 atrás.
Após o terrível acidente do ano anterior, em que pereceram Campari e Borzacchini, os organizadores reduziram o traçado de Monza de 10km para 4.3, com direito a chicanes. A Mercedes compareceu com Caracciola, Fagioli e Henne. A Ferrari com Varzi, Chiron, Trossi e Gianfranco Comotti. A Auto Union com Stuck, Momberger e zu Leiningen. A Maserati estréia a aguardada 6C-34, seis em linha, 3.2L, com Tazio.
Faltando 20 voltas Varzi aparecia em segundo, mas novamente teve problemas de câmbio e abandonou. Essa turma volta a se reunir no GP da Espanha. Desta vez a Bugatti comparece, com duas T59 3.3 para Tazio e Jean Pierre Wimille, duas 2.8 para Dreyfus e Brivio. As máquinas alemãs novamente se impõem. Tazio consegue um terceiro e Achille um quinto, sendo a Alfa melhor colocada. Fagioli e Caratsch fazem dobradinha.
Em Masaryk somente Tazio com a nova Maserati consegue oferecer alguma oposição às AU e M-B, fazendo um terceiro atrás de Stuck e Fagioli. Achille tem de se contentar com um quinto, atrás da AU de zu Leiningen.
No GP de Modena só equipes italianas participam. Tazio e Achille reeditam outro de seus duelos mas a superioridade da nova 6C 3.3 se confirma, o galliatese tem que se contentar com o segundo posto. Graças aos bons resultados obtidos no inicio Achille é novamente campeão italiano. Durante a silly season Achille recebe um convite – e imediatamente aceita – para fazer parte da equipe Auto Union. É hora de dizer adeus à Alfa, à Ferrari, à Itália, o que novamente é considerada uma traição pelos tifosi.
Mas as Alfas tinham ficado tecnicamente para trás e o convívio com Enzo nunca tinha sido fácil. Achille era demasiado aristocrático para Enzo e este mandão demais para o gallliatese. Achille-homem era visto como caprichoso, lunático, egocêntrico, com atitudes de prima-dona. Achille-piloto era visto como inteligente, calculista, corajoso quando necessário, veloz, meticuloso e impiedoso. Enzo nunca foi piedoso, como se sabe, logo…
Achille estava sempre com mulheres que chamavam a atenção, gostava da vida de luxo e, ciente de seu valor, cobrava caro, o que batia de frente com um dos pilares de Enzo, para ele os pilotos eram meros acessórios. Além da áspera discussão sobre o jogo de pneus decisivo para a vitória na Mille Miglia um outro episódio ilustra esse relacionamento.
Pouco antes da largada de Monaco 1931 Achille infernizava a vida de Bazzi, homem de confiança de Enzo, porque não encontrava a posição ideal para pilotar. Foram experimentados diversos tipos de almofadas, de diversas consistências e alturas, mas nada satisfazia Varzi. Ele enfim escolhe cuidadosamente duas almofadas e diz que servem mas é preciso aumentar a altura um tantinho assim, menor que qualquer outra almofada. Enzo chega à pista nesse momento e enquanto Varzi reclama com ele Bazzi percebe um exemplar do Corriere Della Sera sobressaindo do bolso do paletó do capo.
Rapidamente Bazzi convence os dois a irem tomar um café, prometendo que terá a solução quando voltarem. Dobra o jornal em quatro e o coloca entre as almofadas. Varzi volta, experimenta e… “Perfeito!”, quase comovido. Enzo considera isto absurdo.
Além de um carro potencialmente vencedor a oferta da AU é generosa: ele pode ficar com 90% dos prêmios mais um valor considerável fixo, além de ter atendidas suas meticulosas exigências. Embora tivesse testado uma Auto Union, Tazio fica bloqueado pela ida de Varzi. Não havia lugar para os dois na mesma equipe. O mantuano decide deixar a Maserati e a Ferrari, que estava somente com pilotos estrangeiros na equipe, Dreyfus e Chiron, é pressionada por Benito Mussolini em pessoa a dar um lugar para um herói nacional.
A saga de Varzi já está próxima do fim. Em breve continuamos.