O primeiro contato

Engenheiros que moldaram a Fórmula 1 – Parte 2
13/06/2025

Quando a McLaren se tornou a equipe dona do melhor carro do pelotão da F1 e sua dupla de
pilotos passou a brigar pela vitória em praticamente toda corrida do calendário, o mundo da
F1 se perguntava quando Oscar Piastri e Lando Norris teriam um contato mais forte entre eles.
Não faltaram oportunidades e até surgiram as chamadas ‘Papaya Rules’.
Não foi uma batalha pela vitória, mas esse primeiro contato imediato entre os papaias
aconteceu em Montreal nesse domingo, num lance infantil de Lando Norris, que
imediatamente assumiu a culpa pelo incidente que quase estragou de vez o final de semana da
McLaren. Com mais esse erro na sua conta, Lando Norris vai entrando numa espiral negativa
de erros que pode ser decisiva em sua luta para conquistar seu primeiro título mundial.
Enquanto isso, George Russell confirmou sua pole conquistada de forma incrível no sábado
com uma vitória tranquila no domingo, onde gerenciou muito bem os pneus e administrou a
vantagem sobre o segundo colocado Max Verstappen. Foi a primeira vitória de Russell e da
Mercedes no ano, que também celebrou o primeiro pódio de Andrea Kimi Antonelli na F1.

Após faltar ao Grande Prêmio da Espanha e operar seu pulso, Lance Stroll terminava as
especulações sobre uma estreia de Felipe Drugovich na F1, mas não terminava as elucubrações
sobre o possível ‘piti’ que o canadense teria dado nos boxes da Aston Martin em Barcelona,
inclusive que o seu problema no pulso teria mais a ver com um soco numa porta (além de um
capacete arremessado) do que o acidente de bicicleta que Lance sofrera em 2023. Retornando
para a sua corrida caseira, Stroll não confirmou as informações dadas pela BBC. Como também
não negou.
Os treinos livres para o Grande Prêmio do Canadá foram marcados pela indefinição de quem
estava em vantagem no circuito Gilles Villeneuve. Mercedes, Red Bull e McLaren lideraram os
treinos, mas havia a sensação de que a pole seria decidida entre Max Verstappen e os dois
pilotos da McLaren. Ninguém apostava em George Russell.
No feudo da McLaren, Norris se mostrou mais rápido do que Piastri nos treinos livres, mas no
momento decisivo, novamente o australiano se sobressaiu e foi ele quem brigou mais
seriamente com Verstappen pela pole. Norris errou em sua primeira tentativa no Q3 e depois
não foi mais um fator na briga pela pole, em mais um Q3 para esquecer para Lando. A briga
entre Max e Oscar era parelha pela pole e quando Verstappen superou Piastri no estouro do
cronômetro, parecia que Max seria o pole.
Quietinho, quietinho, Russell colocou os pneus médios, que em muitos circuitos é o macio e a
diferença para o composto macio em Montreal era muito pequena, e de forma quase
sorrateira, arrancou a pole de Verstappen. Largando apenas em sétimo, Lando Norris já
complicava a sua corrida.


Ao contrário de outros anos, Montreal nos presenteou com um belo dia de sol para o Grande
Prêmio do Canadá de 2025, o que podia ser um motivo de preocupação para a Mercedes, mais
afeita a corrida mais frias. Outro ponto de preocupação era sobre as recentes rusgas entre
Russell e Verstappen, ocupantes da primeira fila. Era esperado uma briga ácida entre os dois,
mas George mostrou a solidez que lhe é característica desde a largada, saindo melhor do que Verstappen e contornando a primeira curva confortavelmente na ponta. Porém, essa briga
aconteceria depois da corrida.
Para sorte de Max, o terceiro colocado no grid Piastri também não largou tão bem a ponto de
Antonelli colocar por dentro da segunda curva e na pequena reta rumo a curva 3, o jovem
italiano se sobressaiu frente à Piastri, assumindo a terceira posição. Afora o enrosco entre
Colapinto e Albon, que fez o piloto da Williams dar um ligeiro passeio pela grama, a primeira
volta foi sem incidentes.
Logo o foco das equipes passou a ser os pneus e sua degradação no asfalto quente de
Montreal. A maioria do grid largou com os pneus médios, pois os pneus C6 da Pirelli, usados
como macios no final de semana canadense, tem a mesma serventia dos pneus de chuva
extrema. Ou seja, ninguém quer usar. Dos pilotos top-10 em Montreal, apenas Norris e Leclerc
saíram com os pneus duros, numa clara indicação que esticariam ao máximo o primeiro stint,
talvez esperando a chegada do Safety-Car, tão comum no Circuito Gilles Villeneuve.
Porém, como se veria mais tarde, o Mercedes pilotado por Bernd Maylander só apareceria no
final da prova. Max Verstappen tentou ataques em cima de Russell e até passou a sensação de
que o neerlandês tinha mais carro que George nas primeiras voltas, mas na medida em que os
pneus foram se desgastando, Russell abriu uma diferença segura e na décima volta Verstappen
já se via atacado por Antonelli. Quando o italiano colocou de lado, Max se dirigiu aos boxes e
inaugurou a rodada de paradas, mostrando a todos que pararia duas vezes. Essa seria a tática
padrão na corrida desse domingo.


As paradas se sucederam rapidamente, logicamente não para quem largou com pneus duros,
fazendo com que Norris e Leclerc pulassem para a liderança da prova em Montreal. A corrida
se aproximava da metade, mas com muito desgaste na borracha da Pirelli, Lando e Charles
foram aos pits, para revolta do monegasco, que queria ficar mais tempo na pista. As posições
voltaram praticamente as mesmas de antes da parada, com Leclerc confortavelmente na
frente de Hamilton. Assim como ocorreu no primeiro stint, Verstappen viu seu rendimento
despencar e quando já tinha Antonelli cheio em seus retrovisores, Max fez sua segunda
parada. Kimi foi aos pits logo em seguida, marcando Verstappen e por muito pouco não saiu na
frente da Red Bull, mas Max se sobressaiu.
Russell esperou mais um pouco, ficou novamente atrás de Norris e Leclerc quando fez sua
derradeira parada, mas voltou à liderança quando esses pararam. O piloto inglês da Mercedes
administrou muito bem a vantagem sobre Verstappen, que se aproximou na medida em que
os retardatários apareceram na frente dos líderes, mas Russell rechaçou qualquer tipo de
ataque até a bandeirada, garantindo uma vitória sossegada, a primeira de 2025.
A rodada tripla na Europa não foi das melhores para a Mercedes, mas o time comandado por
Toto Wolff deu uma bela resposta em Montreal e mesmo com temperaturas mais altas do que
o normal, o ar limpo fez toda a diferença para George Russell gerenciar bem os pneus.

Lutando com o desgaste de pneus nos stints anteriores, Max Verstappen tinha Antonelli
menos de 2s atrás dele depois da última parada e por isso, Max não podia vacilar nas voltas
finais, gerenciando bem os pneus para não ficar sem rendimento no final da corrida,
garantindo um bom segundo lugar. Após superar a dupla da McLaren na classificação,

Verstappen esperava a vitória, mas não contava com a força de Russell e da Mercedes e por
isso, teve que se contentar com o segundo lugar. Contudo, George e Max tiveram mais um
entrevero quando Russell freou forte atrás do SC e Verstappen o ultrapassou. Logo começaram
as briguinhas via rádio, mas a Red Bull levou à sério e protestou a forma como Russell se
comportou atrás do Safety-Car.


A McLaren se mostrou discreta a maior parte da corrida, com Piastri não atacando Kimi pelo
terceiro lugar, mas nas voltas finais o australiano partiu para cima do italiano da Mercedes.
Porém, essa não era a única preocupação de Oscar. Norris fez sua segunda parada depois do
companheiro de equipe, sendo um dos carros mais rápidos da pista nas voltas finais. Com
Piastri hesitando na luta com Kimi, Lando Norris se aproximou rapidamente de Piastri e a
esperada briga entre os dois pilotos da McLaren começou.
Apesar de ter pneus em melhores condições, Lando sabia que Oscar não abriria a porta por
causa da disputa pelo campeonato, jogando as famigeradas 'Papayas Rules' para as cucuias.
Norris fustigou, viu Piastri se aproximar de Antonelli e poder usar o DRS para se defender dos
ataques de Lando. Faltando quatro voltas para o fim, Lando colocou por dentro no hairpin.
Piastri deu o xis na saída da curva e os dois McLarens percorreram a reta oposta juntos,
separados por centímetros. Na freada da chicane, Piastri freou bem mais tarde por dentro e
saiu na frente.
Porém, Piastri entrou na reta dos boxes mais lentamente e permitiu o ataque de Norris. O
australiano esperava por isso e se colocou por dentro. Por um motivo que apenas Norris
poderá explicar, ele tentou uma manobra onde não havia espaço. O toque foi inevitável e
Lando acabou batendo no muro de forma até infantil, ganhando o primeiro zero de 2025, no
que pode ser decisivo no campeonato.
A diferença entre os dois pilotos da McLaren era pequena no Mundial de Pilotos, mesmo com
Piastri tendo cinco vitórias, contra duas de Lando e isso ocorria pela consistência de Norris até
agora. Com o toque entre eles, imediatamente culpabilizado por Norris ainda no rádio, o inglês
perdeu doze pontos para Piastri, que mesmo apenas em quarto e tendo que fazer uma terceira
parada por precaução, aumentou bem a diferença para o vice-líder. Com Max Verstappen
sempre sendo um perigo e o crescimento da Mercedes, chegará o momento em que a
McLaren poderá ter que apostar suas fichas em um único piloto. E Oscar Piastri está
mostrando quem será não apenas por sua velocidade, mas pela maturidade em momentos
chaves do final de semana.

Antonelli sofreu na ligeira má fase da Mercedes e zerou nas últimas três corridas, mas o jovem
italiano passou por mais prova de fogo e não apenas atacou Verstappen, como segurou muito
bem os ataques de Piastri, depois de ter ultrapassado o líder do campeonato de forma
bastante oportunista na largada. Esse primeiro pódio deve ser o primeiro de muitos para
Andrea Kimi Antonelli.
A Ferrari fez uma corrida para lá de discreta, com a volta do alfabeto sendo ditado via rádio
para definir as estratégias e seus pilotos dando patadas via rádio em seus engenheiros. Leclerc
reclamou bastante de sua estratégia e ninguém entendeu quando ele colocou pneus médios
no último stint e mesmo assim, não conseguiu evoluir. Hamilton fez uma corrida opaca, com o
atropelamento de uma marmota na pista sendo a desculpa da vez do inglês.

Com o duplo pódio da Mercedes, os alemães ultrapassaram a Ferrari no Mundial de
Construtores, mas ao menos os italianos podem contar com pontos dos seus dois pilotos. A
Red Bull continua a sofrer com o seu segundo piloto e Tsunoda, largando dos pits após ser
penalizado em dez posições por ultrapassar durante uma bandeira vermelha durante os
treinos, ficou fora dos pontos mais uma vez.


Se torcer para a Ferrari na F1 é um problema, os italianos podem descontar no WEC.
Repetindo o feito de sessenta anos atrás, a Ferrari conseguiu a terceira vitória consecutiva em
Le Mans. E como na década de 1960, com equipes diferentes. Se em 2023 e 2024 a vitória
coube à equipe oficial e seus dois carros, em 2025 coube a equipe satélite da AF Corse a honra
de triunfar em Sarthe, tendo como pilotos Phil Hanson, Yifei Ye e a grande estrela da corrida,
Robert Kubica.
Nessa semana Lucas Giavoni contará em detalhes (e com maestria) mais uma edição das 24
Horas de Le Mans em sua próxima coluna.

Fernando Alonso foi um dos destaques da corrida, retornando aos tempos em que era
normalmente o piloto que ficava atrás das grandes. O espanhol largou bem, se manteve por
algum tempo na frente de Norris antes de ser ultrapassado de forma até esperada pela
McLaren. Depois Alonso entrou na ciranda de paradas, ultrapassando quem esticava os stints
com pneus duros, acabando por terminar em sétimo, marcando bons pontos para a Aston
Martin, enquanto Lance Stroll teve a corrida de sempre. Largou lá atrás, se atrapalhou na luta
com outro piloto (nesse caso, com Gasly), foi punido e terminou… lá atrás. E Lance não pode
culpar sua cirurgia, pois é isso que o canadense normalmente faz.
Hulkenberg fez outra bela corrida com a Sauber, marcando mais pontos. Quando Albon e
Colapinto se estranharam na primeira volta, Nico ultrapassou os dois e já na primeira volta
estava na zona de pontos, levando a Sauber a marcar pela segunda corrida consecutiva.
Bortoleto foi para uma estratégia diferente e arriscada, parando apenas uma vez. Gabriel foi
elogiado pelo engenheiro, mas no fim, só ganhou uma posição em comparação ao que largou.
Ocon e Sainz foram dois que esticaram suas paradas o quanto puderam e foram premiados
com pontos, terminando a zona de pontos. A Williams viu Albon reclamar de forma pública de
procedimentos internos antes de abandonar. Colapinto largou em décimo, mas nem de longe
brigou para marcar pontos, enquanto Gasly, largando dos boxes, pouco evoluiu. Entre a
corrida em Le Mans e Montreal, a Renault anunciou a saída de Luca de Meo, um dos
incentivadores da Alpine tanto na F1, como no WEC. O futuro da equipe e do programa
esportivo da montadora se tornaram uma grande incógnita.

A corrida em Montreal foi próxima, com os líderes andando juntos o tempo todo, mas nem por
isso podemos dizer que vimos uma corrida animada, como normalmente acontece em
Montreal. Um exemplo disso foi que os quatro primeiros que finalizaram a primeira volta
receberam a bandeirada na mesma ordem 69 voltas depois.
George Russell não tem nada com isso e de forma merecida, venceu em Montreal e a
Mercedes ainda comemorou o debute de Antonelli no pódio. Ainda é cedo para dizer que o

time comandado por Toto Wolff esteja voltando à rotina de vitórias, mas é um bom sinal que
uma terceira equipe vença em 2025.
Porém, Zak Brown e Andrea Stella terão trabalho para acalmar seus pilotos nesse primeiro
toque entre os pilotos da McLaren. Haja Papaya Rules dessa vez!
Abraços!

JC Viana
JC Viana
Engenheiro Mecânico, vê corridas desde que se entende por gente. Escreve sobre F1 no tempo livre e torce pelo Ceará Sporting Club em tempo integral.

1 Comments

  1. Fernando Marques disse:

    J. C. Viana,

    Infelizmente até pela dinâmica, certamente teremos mais corridas chatas na Formula 1 do que corridas animadas.
    Confesso que fiquei surpreso com o belo rendimento da Mercedes. Acho que todos ficaram né? A pergunta que não quer me calar é a seguinte: será que essa melhora vai ser consistente? Se sim, bom para quem sabe tenhamos corridas animadas e mais um piloto brigando lá na frente com as Mclarens e Verstappen. Se não, terá sido apenas um fogo de palha. Aguardemos as cenas do próximo capítulo.
    Quanto ao Bortoleto, outra pergunta: quando ele terá as mesmas estratégias do Hulkenberg na Sauber?

    24 HS de Le Mans … assisti a primeira e ultimas 4 horas da corrida … achei um corridaço … não troco 10 hs de corrida em Le mans por 10 minutos de qualquer corrida chata da Formula 1 (Monaco que o diga) … Foi em legal de mais ver o triunfo do Kubica … com certeza sua maior conquista da sua carreira … tudo em razão de tudo que ele passou antes … outro detalhe: primeiro polonês a vencer as 24 HS, primeiro chones a vencer as 24 HS … pena que os nossos 8 representante brasileiros na prova não tenham obtido uma colocação de destaque … mas repito foi uma bela corrida … 389 voltas (acho) e apenas um safety car … ou 24 HS literalmente de pé em baixo … adoro ver a Ferrari vencer …

    Fernando Marques
    Niterói RJ

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *