O que nos move

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Chega ao fim mais um ano de corridas. Escrevo esta coluna no dia de encerramento do calendário de corridas da F1 e da Moto GP. A partir deste dia até o início da próxima temporada, se inicia para mim o que chamo de período das trevas. A abstinência de corridas. Sei que algumas categorias ainda estão disputando provas, como a Stock Car, por exemplo, mas no meu caso, acompanho fielmente F1, NASCAR, Moto GP e as emblemáticas corridas Indy 500 e as 24h de Le Mans.

 

No início do dia de hoje me peguei pensando em como iria assistir as duas provas que fecham o ano, pois elas aconteceriam praticamente no mesmo horário do dia. Como o campeonato de F1 já estava decidido, resolvi assistir as duas provas em tempo real, uma em meu computador e outra na televisão. Perdi alguns lanças e ambas, sim, mas o grosso pude acompanhar. Meu foco alternou entre a largada da F1, as paradas nos boxes e depois a largada e disputa das voltas iniciais da Moto GP. Na F1, sem surpresas e sem muito entusiasmo, vi o que mais aconteceu neste ano, Max sumindo na liderança, Perez em corrida de recuperação e os demais se engalfinhando por alguns pontos e o troféu de melhor do resto e um campeonato decidido há tempos. Sem muita emoção, sem muita comoção, apesar da temporada cheia de recordes. Na Moto GP foi o oposto. Última prova do ano, dois pilotos com chance de ser campeão, o segundo colocado claramente o mais rápido, mas menos consistente. Porém, no que parecia ser a disputa primordial para suas chances, o veloz Martin cometeu não um, mas dois erros. Primeiro, ao sair do traçado ao quase arrebatar Bagnaia, depois, atropelando Marquez e dando adeus à sua chance. Um fim morno para um campeonato quente.

 

 

Ao refletir sobre os campeões e os campeonatos disputados em 2023, pensei sobre o que faz com que nós, amantes das corridas, sigamos acompanhando as disputas, mesmo depois de um campeonato decidido há muito tempo, como na F1. Podemos pensar a adrenalina da disputa, a torcida por nossos pilotos favoritos, o testemunho na quebra dos recordes, o som, o cheiro (para quem está ao vivo no autódromo), a emoção, as ultrapassagens, as velocidades altíssimas, a ousadia de quem freia por última, a habilidade, são tantas coisas que passaria alguns dias listando aqui. Porém, para mim, algo que se destaca no meio disso tudo são as discussões e reflexões com amigos (um abraço para meus companheiros do GP Total) e familiares (abraço para meus irmãos). A possibilidade de discutir uma ultrapassagem, uma vitória, uma volta rápida, uma estratégia de parada nos boxes, uma defesa, é algo que nos aproxima e torna nossa vida mais emocionante. Na grande maioria das vezes vejo as corridas sozinho em casa, mas muito bem acompanhado nos grupos de discussões. Sem essas pessoas, não teria a mesma graça.

 

 

O ano de 2023 foi um ano atípico em alguns sentidos. Na F1, Max dominou como poucos o fizeram, mas apesar das corridas previsíveis, as conversas foram sempre boas entre os amigos. A expectativa de algo diferente acontecer, será que a Aston e Alonso poderiam combater a Red Bull depois de um início impressionante? A Mercedes poderia melhorar com sua nova especificação com a volta dos side pods? A Ferrari poderia dar a volta por cima? A McLaren e sua atualização surpreendente poderia colocar Max em apuros? No fim, nada muito emocionante aconteceu. Max pôde escolher os melhores pneus, o momento ideal para entrar nos boxes, poupar o ritmo e seu carro, enfim, um completo passeio. Mas a esperança de uma boa disputa sempre esteve em nossos pensamentos. Será que hoje o Max perderá, finalmente?

 

 

O mesmo pode ser dito em relação a NASCAR. Aqui a imprevisibilidade é constante e vimos alguns altos e baixos de estrelas como Kyle Larson e Kyle Busch, por exemplo. O campeão inédito, Ryan Blaney, foi um que teve uma temporada não muito regular, mas foi forte no stint final, não dando chances para a concorrência. Ainda que o regulamento da NASCAR seja algo a se discutir em relação a como o campeão é definido, não se pode negar que a imprevisibilidade acelera nossos batimentos cardíacos. Não basta juntar todos os pontos possíveis, é preciso chegar na frente perante os que ainda estão na disputa pelo título. Uma batida leve, um erro nos pits ou um ajuste ruim pode jogar tudo pelos ares.

 

Eu, particularmente, fico dividido entre a emoção e a razão. É justo um piloto vencer mais corridas do que todos os outros e ficar apenas em quinto lugar ao fim do campeonato? Basta ir mal em uma rodada de eliminação e suas chances vão embora. Ainda sim, é possível ter boas conversas ao fim do campeonato para ambos os casos mencionados. Max dominando ou Blaney vencendo se ter sido necessariamente o melhor no ano todo, geram horas de discussões. Desde pontos de vista sobre a superioridade do Holandês, quanto ao merecimento do piloto norte-americano.

 

 

Assim, porém, são as corridas. Ao mesmo tempo que odiamos quando o mesmo piloto vence, podemos não gostar quando o azarão é campeão. No entanto, o que nos move não é só um resultado, mas sim a possibilidade de nos aproximarmos mesmo estando muito distantes geograficamente. As corridas são campos de batalha e os pilotos nossos heróis, mas a magia do que está em torno de tudo isso é que nos move adiante.

Para o próximo ano renovamos a esperança de corridas emocionantes, sem acidentes graves e que continuemos a nos divertir, entre amigos, mesmo que à distância.

 

Grande abraço.

Rafael Mansano

Rafael Mansano
Rafael Mansano
Viciado em F1 desde pequeno, piloto de kart amador e torcedor de pilotos excepcionais.

1 Comments

  1. Fernando Marques disse:

    Rafael Mansano,

    creio que depois da Moto GP, as maiores emoções aconteceram na 24 Horas de Le Mans com Ferrari de volta ao topo … onde talvez essa vitória tenha sido a mais inesperada dessa temporada.

    No mais que venha 2024

    Fernando Marques
    Niterói RJ

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