Ponto de desequilíbrio

Campeões Invisíveis
20/10/2022
Última volta
27/10/2022

Passados sete meses da corrida de abertura da F1 2022 no Bahrein, parece incrível dizer que havia a forte expectativa de uma briga acirrada entre Red Bull e Ferrari, tendo como seus principais destaques Max Verstappen e Charles Leclerc, antigos e ferrenhos rivais no kart. E que em certo momento, a Ferrari parecia estar à frente nessa disputa. Porém, desde a vitória de Leclerc na Áustria, a Red Bull vem numa sequência de oito vitórias consecutivas, sendo sete com Verstappen, o atual bicampeão mundial. Além dos já citados erros da Ferrari ao longo do ano, talvez o grande ponto de desequilíbrio seja mesmo Max Verstappen. O neerlandês e o Red Bull RB18 formam um conjunto praticamente imbatível nessa temporada. A naturalidade com que Verstappen destruiu a desvantagem que tinha para Hamilton nesse domingo em Austin e ultrapassou o inglês chega a impressionar, da mesma forma como Max fez nas remontadas na Bélgica e na Hungria.

É tudo tão natural, que aparenta ser fácil vencer uma corrida de F1, dominar uma temporada e bater vários recordes. Verstappen atingiu um patamar de pilotagem que transforma sua oposição em meros coadjuvantes, enquanto Max leva seu Red Bull a incríveis vitórias e por consequência, aos recordes. E hoje Max Verstappen já igualou mais um.

A Red Bull começou o final de semana pensando em garantir o título do Mundial de Construtores, terminando com um jejum de nove anos, porém, minutos antes do início da classificação para o Grande Prêmio dos Estados Unidos, a equipe recebeu a notícia da morte de Dietrich Mateschitz, um dos fundadores da marca Red Bull e grande incentivador do esporte. O choque da morte do austríaco deixou todos nas equipes Red Bull e Alpha Tauri logicamente tristes e acabou atingido muitas pessoas no paddock, como Vettel e Ricciardo, que passaram pela canteira da Red Bull.

Ainda é muito cedo para analisar mais a fundo o impacto da morte de Mateschitz dentro da equipe de F1, mas não é segredo que a venda (não finalizada) de 50% da equipe Red Bull para a Porsche poderia indicar o início de uma saída da Red Bull da F1 num futuro próximo. Amante dos esportes e de automobilismo em particular, Mateschitz era um dos pilares da equipe de F1 e seu falecimento poderá reverberar à médio prazo no time comandado por Christian Horner e Helmut Marko.

Austin recebeu um público digno de 500 Milhas de Indianápolis nesse final de semana, assim como um clima quente e com bastante vento, o que dificultou bastante a vida dos pilotos, principalmente no insinuante primeiro setor da pista, com os esses de alta velocidade comendo os pneus. Isso fazia com que as equipes já soubessem de antemão que teriam que visitar os boxes pelo menos duas vezes nesse domingo. Sainz ficou com a pole no sábado e mesmo o primeiro colocado largando no lado limpo da pista em Austin, o segundo colocado no grid fica melhor colocado no aproche da primeira curva, ao ficar por dentro. Bastou à Verstappen largar melhor do que Sainz para se colocar tranquilamente na ponta na primeira curva, com Sainz fazendo um traçado bem aberto. O que o espanhol não esperava era ter a companhia das duas Mercedes, com Russell freando forte por dentro, atingindo a Ferrari de Sainz, que rodou imediatamente no meio do pelotão, mas felizmente não sendo atingido. Vindo de uma temporada tumultuada, isso parecia somente mais um contratempo para Sainz, mas o radiador da Ferrari acabou furado e isso significou Game Over para Sainz. Com a carambola na primeira curva, alguns pilotos surgiram bem, como foi o caso de Lance Stroll em terceiro e Sebastian Vettel em quinto.

Aparentava ser mais um Sunday Drive para Max Verstappen na tarde de hoje, repetindo outras corridas tranquilas para o piloto da Red Bull em 2022, mas Austin reservou ao neerlandês um pouco mais de trabalho do que o imaginado. Depois de dominar os primeiros dois terços de corrida, talvez a Red Bull tenha resolvido pregar uma peça para Verstappen e dificultou um pouco as coisas para o neerlandês. Conhecida por raramente errar em seus pit-stops, a Red Bull viu a roda dianteira esquerda de Max ficar presa e o atual campeão mundial ficou longos 11.8s parados nos pits. Max caía para terceiro, faltando poucas voltas.

Num final de semana emocional e querendo garantir à sua equipe o Mundial de Construtores, Verstappen partiu para cima do segundo colocado Leclerc, ultrapassando o monegasco após uma animada briga. Quem liderava a corrida era Lewis Hamilton. Até esse momento, Austin foi a melhor chance de Hamilton manter sua marca de pelo menos uma vitória por ano desde que estreou na F1 no longínquo ano de 2007. Só que haviam alguns detalhes que acabaram por atrapalhar as contas de Hamilton e da Mercedes. Mesmo Austin desgastando bastante os pneus, os compostos médios se comportaram melhor do que o esperado, fazendo a Red Bull colocar essa borracha no carro de Verstappen, enquanto a turma de Toto foi mais conservadora e meteu pneus duros no carro de Hamilton. Isso seria decisivo. Após ultrapassar Leclerc, Verstappen rapidamente se aproximou de Hamilton. Seria o replay das disputas do ano passado? Hamilton não entregaria a vitória fácil e estava andando realmente no limite, enquanto Max queria a vitória para homenagear Mateschitz.  Max tentou uma vez, Hamilton deu o xis. Na segunda tentativa, na reta oposta e o DRS aberto, Verstappen completou a ultrapassagem definitiva faltando cinco voltas para o fim. Andando no limite, Hamilton ficou contando quantas vezes Max saía da pista, mas quando Lewis errou uma freada e ele próprio foi avisado que já estava pendurado no quesito saída de pista, o inglês da Mercedes se aquietou e Verstappen pôde comemorar sua décima terceira vitória no ano, se igualando à Vettel e Schumacher como os maiores vencedores numa mesma temporada. Mais um recorde na conta de Max!

Hamilton teve que se conformar com o segundo posto, enquanto Leclerc ficou sem pneus e viu a aproximação de Pérez no final, mas o mexicano teve o que comemorar depois da bandeirada. Com a Ferrari pontuando apenas com um carro em terceiro, mais a vitória e um quarto lugar da Red Bull, o time austríaco comemorou seu quinto Mundial de Construtores da sua história. Um título merecido para os austríacos, amenizando um pouco a perca de Mateschitz e com Horner ainda tendo que explicar à F1 e a FIA o furo do teto orçamentário de 2021.

Na volta 17, a Ferrari ofereceu à Charles Leclerc o ‘Plano E’. Isso dá uma média de um plano a cada 3,4 voltas. Isso também explica a facilidade com que Verstappen dominou a temporada 2022.

O momento mais assustador do final de semana ocorreu logo após a primeira relargada da corrida. Fernando Alonso fazia uma boa corrida de recuperação e atacava Lance Stroll, que perdera a posição para Sebastian Vettel no momento da entrada do SC, causado por uma rodada de Valtteri Bottas, que atolou numa das raras caixas de brita em Austin. Alonso partiu para cima de Stroll para ganhar a sétima posição quando o atarantado canadense mudou de trajetória de forma tardia, pegando Alonso totalmente de surpresa. O choque foi inevitável. A Alpine de Alonso chegou a ficar com duas rodas no ar e bater no guard-rail, enquanto Stroll bateu forte no outro lado do muro. Isso bem na reta oposta, em meio aos carros a uma velocidade superior aos 300 km/h! Um acidente potencialmente perigoso, demonstrando mais uma vez a incapacidade de Lance Stroll de estar na F1 e que somente ele ser filho do dono da Aston Martin justifica a permanência do canadense na equipe. Falando nas terras canadenses, é incrível um país que já teve Gilles Villeneuve e hoje ter Stroll e Nicholas Latifi, que cometeu erros aos montes nesse domingo.

Se o início da corrida da Aston Martin era promissor, a prova não terminou nos melhores termos para o time verde. Após o acidente provocado por Stroll, Vettel até acompanhava o pelotão da frente de perto e quando os pilotos da frente foram aos pits, o alemão voltou a liderar uma corrida depois de dois anos. Porém, a Aston Martin colocou tudo a perder com um pit-stop horroroso de Sebastian, jogando o alemão para as últimas posições. Vettel, porém, colocou a faca entre os dentes e seguiu ultrapassando quem via pela frente, acabando por ultrapassar Magnussen na última volta para garantir um oitavo lugar, além de ser considerado o piloto do dia. Já Alonso mostrou que seu Alpine pode ser considerado um tanque azul! O espanhol fez uma corrida espantosa após ficar em duas rodas pela imprudência de Stroll. Alonso manteve um ritmo forte e só não foi sexto por não ter os pneus bons o bastante para segurar Norris nas últimas voltas.

Porém, o prospecto para Alonso em 2023 não é nada animador. Ele recebeu um ‘belo’ cartão de visitas do seu futuro companheiro de equipe Stroll, enquanto a Aston Martin entregou a rapadura no pit-stop de Vettel. Será outro passo em falso na carreira do espanhol?

Alex Palou deu suas primeiras voltas num carro de F1, substituindo Daniel Ricciardo, que chegou à Austin montado num cavalo, que tinha credencial e tudo. Porém, o australiano deveria se concentrar mais na pista do que fora dela. Novamente Daniel teve um final de semana esquecível e só não ficou em último na corrida, porque ultrapassou o limitado Latifi nas últimas voltas. Para quem esteve em equipes grandes e brigando por vitórias, esse final de carreira de Ricciardo é bastante melancólico. Se o australiano chegou à Austin montado num cavalo, Daniel saiu de lá levando um baita coice!

Nessa madrugada aconteceu também o GP da Malásia da MotoGP e Bagnaia conseguiu sua sétima vitória em 2022, praticamente garantindo o título desse ano. Foi uma corrida tensa, onde pilotos como Jorge Martin e Enea Bastianini pareciam colocar seus objetivos pessoais na frente dos objetivos da Ducati, mas no fim Pecco acabou vencendo e o italiano precisa apenas de um 14º lugar para ser campeão na última etapa em Valencia. A chance de Quartararo é que Valencia é uma pista travada, bem ao gosto de sua Yamaha, mas para Bagnaia basta praticamente não cair para se sagrar campeão.

Austin viu uma das corridas mais animadas do ano, com muitas brigas em várias partes do pelotão, belas ultrapassagens, além de um acidente perigoso causado por Stroll, reforçando a sensação de que o canadense só estar na F1 por causa do bolso fundo do papai. O que não mudou foi o vencedor. Após um primeiro terço de campeonato equilibrado entre Ferrari e Red Bull, Max Verstappen começou a fazer a diferença no resto do campeonato, transformando o que poderia ser um certame emocionante num recital solo do neerlandês, que pode acabar o ano batendo ainda mais recordes da F1.

Abraços!

João Carlos Viana

JC Viana
JC Viana
Engenheiro Mecânico, vê corridas desde que se entende por gente. Escreve sobre F1 no tempo livre e torce pelo Ceará Sporting Club em tempo integral.

1 Comments

  1. Fernando Marques disse:

    JC Viana,

    pelo visto a corrida foi boa de assistir … pena que tive um compromisso que me impediu de ver a corrida.
    Tirando o Max Verstappen e sua RBR a temporada de 2022 em relação ao resto do grid não tem nada de bom para ser lembrado no futuro.

    Fernando Marques
    Niterói RJ

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