Que venha 2023!

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Chegamos na semana de corrida. Finalmente, depois do inverno europeu, novos carros na pista, novas disputas e um novo gigantesco calendário.

Enquanto esperamos o domingo para largada do grande prêmio de Bahrein, a ansiedade cresce e as especulações sobre o ritmo de cada equipe se escondem atrás de parcos 3 dias de testes e uma chuva de entrevistas e conteúdo das redes sociais.

O que teremos pela frente em 2023?

Testes, sim, são só testes. Há uma infinidade de planos e estratégias, mesmo dentro de cada equipe. Pilotos fazendo programas diferentes dentro do mesmo time. Times focados em entender todos os pneus, outros buscando focar em suas deficiências do ano passado, gente buscando relação dos dados da pista com o que seus supercomputadores entregam nas fabricas.

Realmente, testes são testes.

Só que não há nenhuma regra proibindo de se analisar o mundo de informações que são disponibilizadas nesse mundo digital. Dizer que teste não representa nada, foi um artificio fantasioso de parte da imprensa que perdeu ao logo dos anos a possibilidade de cobrir presencialmente os eventos. Um exemplo de como testes importam, na verdade dois exemplos recentes: Primeiro, em 2021 a F1 mudou a regra dos assoalhos e baniu o DAS para domar a soberania da Mercedes, nos testes quem viu a Mercedes na pista avisou que foi o carro que mais perdeu desempenho. Segundo exemplo, 2022, novos carros na pista e novamente quem estava na pista (e os dados disponibilizados) mostravam uma Mercedes completamente fora do jogo. Nós vivemos pra ver essas duas informações serem validadas.

Testes são testes, mas quem está mal não consegue fingir sorriso e otimismo. Quem está bem não consegue dissimular a confiança.

Reclamam do Qatar fazer Copa do Mundo, mas Bahrein fazer F1, tá tranquilo. Tá sossegado. Há anos, infelizmente, temos Bahrein no calendário. Paremos de nos lamentar, porque o dinheiro manda. E nesse quesito os Bareinitas falam com autoridade.

Russel falou o que está na cabeça de todos: 1.5 dias no carro é muito pouco para se sentir pronto pra disputar um multimilionário campeonato mundial. O novato (não tão mais novato assim) da Mercedes tem razão. Não se testa mais como uma resposta aos quilômetros infinitos da era de ouro da Ferrari, mas não há mais espaço para experimentações e novatos se desenvolverem. Jovem pilotos agora precisam de mais dinheiro pra conseguir bancar um programa de testes com carros mais antigos, só para sentir na pele a força G que um simulador não oferece. Nikita Mazepin, Mick Schumacher, Oscar Piastri, Nick de Vries e alguns outros utilizaram esse expediente recentemente. Barato, certamente não é.

Aproveitando que tivemos um total de três dias gloriosos de testes, vale a tradicional atualização de regulamento!

Houve sim uma pequena mudança de regulamento. Como em 2020 a Red Bull deu chilique e mudou o regulamento pra 2021, dessa vez a Mercedes bateu o pé e colocou na conta da “segurança dos pilotos” um aumento da altura dos carros em relação ao solo. Os carros estão 15mm mais altos em relação ao solo para diminuir o “quique” dos carros batendo o fundo no chão.

Teremos também retrovisores maiores, pra os pilotos não usarem a famosa desculpa “não vi” na salinha de comissários pra escapar de punições.

Outro ponto importante é o fato de ser o primeiro ano completo com restrições de orçamento combinadas com restrições de desenvolvimento aerodinâmico. A regra é complexa, mas é uma das mais importantes desse regulamento atual.

Desenvolvimento aerodinâmico inclui simulações no computador, uso do túnel de vento e até a quantidade de superfícies geométricas analisadas.

Quem pode usar 100% da capacidade de desenvolvimento aerodinâmico hoje? O 7º colocado no campeonato, a Aston Martin. Haas (oitava em 2022) pode usar 105%, Alpha Tauri está autorizada a 110% e a Williams, 115%. Obviamente, quem foi melhor que 7º tem um penalização, crescente. A Red Bull, campeã de 2022, pode só usar 70%. Mas a RBR também foi punida por estourar o teto de gastos em 2022, além da multa financeira foi obrigada a reduzir em 10% a sua capacidade de Desenvolvimento Aerodinâmico. Por conta disso, ela tem em 2023 somente 63% do volume básico de Desenvolvimento permitido.

Cabe a reflexão aqui. Para esse ano, talvez não faça diferença, mas pode fazer para o carro de 2024. Em contrapartida, os valores gastos com a contração e manutenção de Adrian Newey (no português claro: salário) não entram no teto de gastos. Dado os resultados de 2022, realmente o que mais pesa? Horas de DA ou ter um gênio na folha de pagamento?

A quinta temporada de Drive To Survive está disponível na Netflix.

Vejam, por favor.

Em uma época de redução de jornalistas sérios cobrindo a Formula 1 presencialmente, DTS ainda nos traz algumas boas imagens dos bastidores. Inclusive com cenas onde os envolvidos falam “Estamos aqui com câmeras da Netflix, devemos seguir?”

Gostando ou não da série, há sim boas informações pros fãs mais atentos e muita “novela da Globo” para atrair nova audiência. No fundo, a Netflix manteve o interesse pela F1 acesso fora da temporada e traz sim uma nova audiência para o esporte.

Devemos agradecer, pois.

O que os testes nos disseram até agora sobre essa Fórmula 1 de 2023?

Para começar a entender um pouco o cenário, não se pode esquecer de 2022. Max Vestappen ganhou 15 corridas. Perez duas. São 17 corridas para Redbull. Sobraram só 5 para outras equipes.

Essa vantagem absurda da RedBull em todo o tipo de circuito, não vai sumir quando um regulamento é mantido de um ano pra outro. Precisamos ser realistas quanto a isso. O domínio da Red Bull em 2022 foi tão grande quando o da Mercedes em 2016 ou 2019. A Red Bull chegou aos testes com uma evolução do carro de 2022. Sem surpresas, sem magia. Um carro que foi refinado e melhorado pra 2023. Sim, continuam os favoritos e por larga margem. Esse ano foi possível ver imagens completas dos testes, com onboardings dos pilotos. É triste para a concorrência, mas na primeira volta do novo carro na pista você não vê Max tentando domar o carro. Tudo é suave e com ritmo. Na sequência, voltas e mais voltas dentro da mesma faixa de tempo e da mesma forma: com suavidade e ritmo.

Se no começo de 2022 tivemos uma briga entre Ferrari e RBR, Mercedes um pouco atrás e depois o resto, esse ano aponta para uma consolidação do domínio da RBR de forma isolada. Atrás deles, um mistério.

A Ferrari veio para os testes testando configurações extremas para seu carro. Foram buscar como seu carro se comporta no espectro completo de configurações, independente do tempo de volta que fosse gerar no circuito do Bahrein. Coletaram dados. A única certeza apresentada é que poderão usar a potência completa do motor após as melhorias de confiabilidade (únicas permitidas).

No campo da Mercedes, estão sim melhores que o ano passado. Lógico, o ano passado foi uma desgraça pro time. O primeiro ponto a observar: o time germânico andou com sua configuração de maior pressão aerodinâmica nos 3 dias. Resumidamente, estavam com a asa traseira de Monaco. A hipótese mais provável pra essa direção nos testes: gerar a maior quantidade de downforce possível para testar o efeito do “quique”. Performance e tempo de volta? Só na classificação de sábado que vem. A boa notícia é que resolveram o “quique” e buscam um ano normal. Estão um ano atrasados em relação a RedBull, mas ao menos apontam pro lado certo.

No meio do pelotão, podemos ter uma surpresa. Não que vá ameaçar a RedBull, nada disso! Os testes apontam que a Aston Martin pode ter acertado o seu carro pra se recuperar do desastre do começo do ano passado. Lembre-se, a AMR fez uma segunda versão de seu carro ainda em 2022 de tão ruim que era o primeiro. Com a chegada de Alonso ao time para um contrato de anos múltiplos anos, será que finalmente Alonso acertou a hora de mudar de time?

Ainda sobre a audiência da Formula 1, números atualizados foram divulgados hoje. Fresquinhos.

Obviamente toda a base comparativa é afetada pela pandemia e as corridas com autódromos vazios. Mesmo com a devida cautela, os números são impressionantes e mostram uma F1 crescendo. 5.7 milhões de pessoas passaram pelas catracas dos autódromos em todo mundo e as receitas cresceram em 20%. Cada time recebeu quase 9% a mais em premiação do que em 2021.

São números muito importantes porque apontam pela manutenção do esporte vivo e lucrativo. Não há mais aquela preocupação se teremos um grid com no mínimo 18 carros no ano seguinte. Fica aqui só a ressalva para que a vaidade das mídias sociais e a busca por “entretenimento” ao invés de esporte não traga mais artificialidades para disputa na pista (já nos basta o DRS).

As voltas de cada time no Bahrein. Confiabilidade não é um problema crônico em 2023.

1 AlphaTauri 456

2 Williams 439

3 Ferrari 417

4 Haas 415

5 Red Bull 413

6 Alfa Romeo 402

7 Mercedes 398

8 Aston Martin 387

9 Alpine 353

10 McLaren 312

Ainda nesse pacote do meio do pelotão, Williams fez um bom começo de temporada e deve se juntar ao meio do pelotão. Ali misturada com Alpine e Alpha Tauri. Será um dos campeonatos mais equilibrado nessa faixa do grid. Dependendo do circuito, uma equipe vai se sobressair.

Duas equipes pode ser destaques. Uma positivo e outra negativo.

No lado negativo, a Mclaren. Equipe que menos rodou nos testes e com declarações contraditórias nas entrevistas. Andreas Seidl mudou-se pra Alfa Romeo Sauber Audi e James Key está sob pressão. Dado como o substituto natural de Adrian Newey, ainda não mostrou na Mclaren a capacidade de fazer um carro vencedor.

Voltando ao lado positivo, a Haas. O time entra no seu primeiro ano sem problemas financeiros e de pilotos pagantes! Isso abre espaço para um desempenho mais constante ao longo do ano, sem as quedas constantes de performance que vimos nos anos anteriores.

Será um ano longo e difícil para todo o grid da Formula 1. Não podemos esperar que o domínio da Red Bull evapore como fumaça, mas torcemos para um equilíbrio e alguma real disputa pelo campeonato. Quem você acha que desafia Max Verstappen pelo título?

Abraços

Flaviz Guerra

Flaviz Guerra
Flaviz Guerra
Apaixonado por automobilismo de todos os tipos, colabora com o GPTotal desde 2004 com sua visão sobre a temporada da F1.

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