Uma das músicas que mais gosto de ouvir é de autoria de Ivan Lins, chama-se “Guarde nos Olhos”, é na verdade uma música sobre reminiscências, lembranças que mantemos e que vez ou outra somos aclamados por uma nostalgia sem uma explicação
O mês de maio é um mês de duas provas emblemáticas, falamos de Monaco e as 500 milhas de Indianapolis, como também é um mês que abre a temporada europeia da Fórmula 1, acaba sendo um mês de reminiscências, vamos listar algumas lembranças que foram recentemente postadas em nossas redes sociais, Instagram e Facebook, contando com a colaboração de nossos colunistas que foram a fonte para essas lembranças e também a bela coluna de Roberto Agresti sobre Ayrton Senna e o fatídico maio de 1994, postada em 2010
Rei de Mônaco! Maio de 1993
Ayrton Senna se consagrava definitivamente em Monte Carlo com a sua sexta vitória no principado, trinta anos atrás. Além do seu enorme talento, Senna contou com a sorte, com os problemas que afetaram Prost e Schumacher. Uma vitória para a história!
GP da Bélgica de 1983
Havia um clima de nostalgia no ar quando a F1 chegou a Bélgica para o seu tradicional Grande Prêmio quarenta anos atrás. Ao invés de partir para Zolder, de triste memória para os amantes do automobilismo desde a morte de Gilles Villeneuve, o circo da F1 partiria para o reformado circuito de Spa-Francorchamps. Treze anos após a vitória de Pedro Rodriguez na última corrida de F1 realizada na pista da região das Ardennes, os pilotos teriam pela frente uma pista bem menor do que a original, mas nem assim menos desafiadora.
Andrea de Cesaris surpreendia ao liderar boa parte da corrida, mas quando a Alfa Romeo deixou o italiano na mão, Alain Prost assumiu a ponta rumo a bandeirada. O reencontro entre F1 e Spa teria um superpiloto como vencedor.
GP da Bélgica de 1978
Um dos carros mais belos da história da F1 fazia sua estreia de forma oficial 45 anos atrás. O esperado Lotus 79 estreou em Zolder, numa clara evolução do já revolucionário modelo 78. Após longos estudos no túnel de vento, o Lotus 79 utilizaria ao máximo o efeito-solo. O Lotus 79 era de uma fluidez inédita e quando o carro foi apresentado ao paddock da F1 naquele final de maio de 1978, imediatamente ficou claro que Chapman tinha proporcionado uma nova revolução na F1.
O primeiro piloto Mario Andretti, único a ter o novo modelo em mãos, ficou com a pole com quase 1s de frente para a Ferrari de Reutemann e o americano dominou a corrida de ponta a ponta. A vitória de Mario Andretti provava a inacreditável superioridade do Lotus 79 sobre o resto do pelotão e o americano se tornava grande favorito ao título daquele ano, iniciando um raro domínio de uma equipe na década de 1970.
GP da Bélgica de 1973
Cinquenta anos atrás, quase que o GP da Bélgica fora cancelado, mas não por causa da chuva, mas pelas condições do asfalto em Zolder. Os pilotos chegaram a fazer greve, mas tudo se revolveu e Peterson largou na pole, mesmo o sueco tendo destruído dois carros da Lotus nos treinos. Peterson lideraria por algumas voltas, até ser ultrapassado por Cevert e quando o francês aumentava sua vantagem, ele acabou rodando, ainda por causa das condições do asfalto. A Tyrrell tinha o melhor carro naquele dia e Jackie Stewart ultrapassa Emerson e Peterson. O escocês ganharia e para completar a festa da Tyrrell, Cevert inicia uma bela corrida de recuperação e completa a dobradinha da equipe azul, com Emerson Fittipaldi, com problemas na bomba de combustível, fechando o pódio. Com essa vitória, Stewart se iguala aos 24 triunfos de Juan Manuel Fangio e mostrava que estava na briga pelo título com Emerson, sempre no pódio nas cinco corridas de 1973, mas vendo sua vantagem cair cada vez mais para Stewart e seu novo Tyrrell 006.
GP da Espanha de 1968
Cinquenta e cinco anos atrás, a F1 chegava o novo circuito de Jarama ainda chocada com a morte de Jim Clark pouco mais de um mês antes, numa corrida de F2 em Hockenheim. Se pouca tragédia fosse suficiente, a Lotus havia perdido Mike Spence durante os treinos para as 500 Milhas de Indianápolis. Arrasado, Colin Chapman pensou seriamente em abandonar as corridas e entregou sua equipe nas mãos dos seus funcionários. Para sorte de Chapman, um desses funcionários era Graham Hill. O experiente piloto conseguiu aglutinar a Lotus em torno de si para o único carro que o time levaria à Espanha, que recebia a F1 após um hiato de catorze anos.
Outro ausente era Jackie Stewart, que tinha tido um acidente numa prova de Formula 2 em Jarama, machucando um dos pulsos. Apenas treze carros largaram naquele dia quente nos arredores de Madri, com o pole Chris Amon perdendo a ponta para Pedro Rodríguez, que liderou as primeiras voltas antes de ser ultrapassado pela única Matra da pista, de Jean Pierre Beltoise, mas o francês abandonaria ainda no começo da prova, elevando Amon à primeira posição. Hill fazia uma corrida de espera e assumiu a segunda posição quando Rodríguez bateu seu BRM.
Amon liderou a maior parte da corrida, até ter problemas na bomba de combustível de sua Ferrari, cimentando a fama de pé frio de neozelandês. Hill assumia a ponta da corrida e recebia com alívio a bandeirada em primeiro. Aquela corrida foi cheia de marcos, como a primeira vitória oficial de um carro patrocinado e o primeiro pódio para a equipe McLaren, com Denny Hulme terminando em segundo. Mais importante, foi que esse triunfo de Graham Hill praticamente salvou a equipe Lotus na F1.
GP de Imola – 1988
Dia primeiro de maio. Ímola. Ayrton Senna.
Infelizmente a junção desses três tópicos nos faz lembrar de um dos dias mais tristes da Fórmula 1, mas seis anos antes desse dia em 1994, Ímola viu uma importante vitória de Ayrton Senna.
A estreia de Ayrton Senna na McLaren foi, no mínimo, bastante decepcionante naquele início de 1988, mas o recado havia sido dado. Mesmo desqualificado corretamente por ter trocado de carro após o sinal verde, o brasileiro mostrou todas as suas credenciais em Jacarepaguá. O ímpeto nas Classificações, mostradas desde os tempos da Lotus, continuava intacto. Na corrida, largando dos boxes, Senna imprimiu uma corrida de recuperação incrível, passando com facilidade todos que via pela frente com a ajuda do seu mitológico McLaren MP4/4 até receber a bandeira preta. Em Ímola, circuito no qual Senna largara na pole nos últimos três anos, Ayrton estabeleceu mais uma pole com Prost ao seu lado.
Senna largou muito bem e dessa vez era Prost quem tinha problemas, perdendo várias posições. Depois da corrida, o próprio Senna admitiu que isso havia decidido a corrida a ser favor. Alain Prost nunca foi reconhecido por sua agressividade nas ultrapassagens, mas o francês sabia da superioridade do seu carro para subir pelo pelotão de forma inapelável. Prost cruzou a primeira volta em sexto e em apenas oito voltas ultrapassou quatro carros, assumindo o segundo posto. A McLaren demonstrava sua enorme superioridade nesses pequenos detalhes, mas Senna estava com 8s de vantagem sobre Prost ainda na décima volta. A corrida estava decidida.
A briga pelo terceiro lugar era animada e foi aí que residiu nos melhores momentos da prova. Piquet, Patrese, Nannini, Berger, Boutsen e Mansell trocaram de posições durante várias voltas, trazendo muita emoção para a corrida. Piquet, que por causa de sua entrevista à Playboy fora bastante criticado pelos tifosi devido às piadas que fez com Enzo Ferrari, ficaria com a terceira posição, mas já estava um minuto atrás de Senna e acabaria tomando uma volta. Se haviam algumas dúvidas com relação ao domínio da McLaren em 1988, aquele dia do trabalhador em Ímola trinta e cinco anos atrás apagou todas. Logo após cruzarem a linha de chegada, ambas as McLarens encostam para iniciar a festa da equipe. Os dois carros eram os únicos na mesma volta. Piquet completava o pódio já ciente que não poderia defender seu título. Ele sabia que essa decisão seria entre Ayrton Senna, na sua sétima vitória na F1 e primeira (de muitas) na McLaren, e Alain Prost.
Nós e Ayrton – por Roberto Agresti
Leia a integra da coluna do Roberto Agresti no link abaixo
https://gptotal.com.br/nos-e-ayrton/
Encontrei com Ayrton Senna umas dez vezes em minha vida. Contemporâneos – eu de 1959, ele de 1960 – e paulistanos, tais encontros se deram em locais e situações bem distintas.
O primeiro registro marcante dele foi no kartódromo de Interlagos, lugar que frequentei na metade dos anos 70 na qualidade de amigo do Tadeu, dono de um kart. Já naquela época entendi que Ayrton era especial. Mas não se enganem pensando no meu olho clínico sobre as qualidades de piloto do futuro mito nacional. Não. Para mim e para uma boa parte da tribo que frequentava o kartódromo, Ayrton era especial pois chegava levado por um motorista de Mercedes, o carro, enquanto eu e os outros chegávamos também de motorista… do ônibus Mercedes. E, além disso, Ayrton dispunha do melhor equipamento da época enquanto eu… bem. Eu queria ter um kart, qualquer um, mas não dava. Faltava $$$.
Pouco depois, esbarro novamente nele. Na saída do Colégio Rio Branco onde o proletário aqui arrumara uma namorada riquinha. Lá estava o Mercedes, o motorista, e Ayrton dentro. E mesmo sendo minha namoradinha de então bem ajeitadinha, confesso que preferia estar sozinho, dentro de Mercedes (e com um kart me esperando em Interlagos) do que apalpar a mocinha.
O tempo passou – alguns poucos anos – e reencontro Ayrton. Não em carne e osso, mas em fotos nas revistas e jornais. Eram os tempos do sucesso nas F-Ford e F-3 inglesas, seguido daquele episódio em que ele voltou do exterior para trabalhar nos negócios da família, abandonando provisoriamente a carreira pois “o patrocínio estava difícil”. Quando li isso pensei: “mas será que ele precisa mesmo de patrocínio?”. E nesse julgamento, claro, aplicava meu conhecimento sobre as finanças da família Senna da Silva, baseado na simples análise da frota de Mercedes-Benz que, convenhamos, eram artigos bem mais raros (e caros) de se ter nos anos 70/80 do que atualmente.
Se alguns de vocês que conseguiram chegar até aqui nesse meu testemunho estão com a palavra “inveja” na cabeça, saibam que vocês acertaram. Eu morria de inveja de Ayrton Senna da Silva. Enquanto empurrava a merda do kart do Tadeu, um Mini mais sambado que passista na quarta-feira de cinzas, Ayrton pilotava um must da época, com aqueles estupendos motores Parilla de cabeçote redondinho, lindos.
Enquanto eu chacoalhava num buzum fedido da Aclimação até Higienópolis para aniquilar minhas finanças pagando um reles picolé de limão para a Jussara (a namoradinha ajeitadinha…) em troca de uns beijinhos, ele, Ayrton, entrava no Mercedes com motorista e ia para Interlagos treinar. Ah, como eu queria ser quem ele era e ter o que ele tinha… e trocar aqueles beijos molhados por um kart, correr, competir!
Mas o tempo foi bondoso comigo, e mesmo com a abissal diferença de budget entre o clã Agresti e clã Senna da Silva, eu e Ayrton chegamos à F1 praticamente juntos.
Ele piloto, eu repórter.
E a inveja? Sumiu, ou foi substituída pela projeção.
Espero que sejam lembranças que toquem vocês
até a próxima
Mário
3 Comments
[…] tipicamente, é o mês das memórias na Fórmula 1: Salu (aqui) e este colunista que vos escreve (aqui) já dedicaram colunas sobre lembranças – fatos e […]
Mario,
As boas lembranças são sempre bem vindas …
Inclusive do R. Agresti … Fico imaginando como está aquele puma prata dele que ele usava pra passear em Interlagos.
Fernando Marques
Niterói RJ
Este texto do Roberto foi pra arrematar muito bem!