Respeito

O Jardineiro – Parte 2
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Os Invisíveis da F1
Invisíveis
28/11/2022

Muito se discute quem foi o melhor piloto da história. Nomes vão surgindo na medida em que números surgem e análises são feitas ao longo das 73 temporadas recém-completadas da F1, sem contar na memória afetiva que nos faz preferir A em relação a B. No entanto, algo mais difícil que ter dezenas de vitórias e vários títulos em cima de sua lareira, é ter o respeito dos seus pares.

Quando venceu seu quarto título mundial em 2013, Sebastian Vettel parecia imparável. E com isso se tornou também um alvo de críticas, onde se dizia que ele era um personagem insosso, bem longe de um James Hunt, em alta naquele momento por causa do lançamento do filme Rush. Porém, pequenos gestos do alemão de origem simples garantiam uma simpatia a todos que acompanhavam a F1 de perto. Até mesmo seus rivais. Alonso não cansou de afirmar que os títulos consecutivos de Vettel deviam-se mais à Adryan Newey do que a pilotagem de Sebastian. Hamilton teve um entrevero com Vettel em Baku/2017 que mais pareceu uma briga de trânsito.

Ao anunciar sua aposentadoria ao final da temporada 2022, Vettel fez com que olhássemos de uma forma diferente para os feitos do alemão nascido em Heppenheim. Não falo dos quatro títulos conquistados, as 53 vitórias, 122 pódios, 57 poles e 38 voltas mais rápidas. Mas sim do conhecimento e reconhecimento da história que Vettel tem da F1, reverenciando as grandes lendas da história do automobilismo. O modo gentil que Seb tratava seus mecânicos e engenheiros. Mesmo vendo os demais pilotos como rivais, Vettel se importava com eles, não faltando histórias de Sebastian visitando colegas em hospitais, como foi o caso de Werhlein, Verstappen e Grosjean. Com os bons resultados rareando, Vettel passou a ter um olhar para fora dos muros da F1 e enxergar uma vida muito mais ampla e com elementos mais importantes do que corrida para serem preservados e cobrados. Quando Hamilton encampou a batalha do ‘Black Lives Matters’ em 2020, quem foi o piloto mais engajado com Lewis? Sebastian Vettel.

Dez anos depois de suas disputas com Vettel nos tempos da Ferrari, Alonso simplesmente mudou as cores do seu capacete para homenagear o rival na corrida derradeira de 2022. Cinco anos após Baku, Hamilton organizou um jantar com todos os pilotos para que Vettel fosse reverenciado. Não faltou ninguém. Pérez está com raiva de Verstappen. Alonso está uma arara com Ocon, que não gosta de Gasly, que saiu cuspindo maribondo da Red Bull, cuja briga no ano passado fez com que Verstappen e Hamilton se tornassem ferrenhos rivais. Isso não fez com que ninguém faltasse ao jantar. Por Vettel.

Com a presença do seu pai Norbert no circuito, que o apoiou desde o kart, passando por todas as equipes e pilotos, Sebastian Vettel foi aplaudido por toda a F1. O alemão pode não ser o melhor piloto da história da F1 e nem esteja na lista dos cinco ou dez melhores da categoria máxima do automobilismo, mas Vettel conquistou algo ainda mais impressionante em sua carreira: o respeito de toda a comunidade da F1. Danke Seb!

Nos sete dias que separaram as corridas no Brasil e em Abu Dhabi, ocorreu toda a celeuma dentro do reino de Christian Horner e Helmut Marko, fazendo com que a briga pelo vice-campeonato entre Sérgio Pérez e Charles Leclerc ficasse ainda mais interessante, pois o comportamento dos pilotos da Red Bull seria observado de perto. Verstappen prometeu ajudar Pérez, enquanto Leclerc apenas observava toda a situação que poderia lhe beneficiar. Verstappen saiu da pole e a largada foi convencional, com ninguém tentando maiores ataques, ainda mais em cima de Vettel, que fazia sua despedida da F1. A dupla da Red Bull deu pinta que dispararia frente à Leclerc, enquanto Sainz e a dupla da Mercedes se digladiavam numa disputa animada, mas que durou pouco tempo, com vantagem para o ferrarista. No entanto, Pérez começou a perder rendimento na medida em que a primeira parada se aproximava, fazendo o mexicano parar mais cedo do que Leclerc, que preferiu ficar na pista. Com o circuito de Yas Marina gastando mais pneus do que o esperado, pouco gente arriscou usar os pneus macios, preferindo a gama mais dura. Pérez colocou pneus duros, vislumbrando parar apenas uma vez, mesmo com muita corrida pela frente. Dois seis primeiros colocados, apenas Verstappen e Leclerc postergaram suas paradas, indicando que parariam realmente apenas uma vez, algo confirmado quando colocaram pneus duros perto da metade da prova.

Pérez ficou numa situação incômoda. Tendo parado mais cedo, fazer apenas um pit-stop o deixaria a mercê de um ataque de Leclerc e por isso, optou por parar duas vezes, iniciando uma caçada em cima da Ferrari, numa luta direta pelo vice-campeonato. Para Leclerc, restava esperar um ataque que poderia ocorrer no final da prova. Porém, o monegasco contou com duas ajudas involuntárias que deveria render à Charles pagar os jantares de Gasly e Hamilton na noite de domingo. Também escolhendo parar uma vez, Hamilton foi atacado por Checo, mas lembrando ainda da polêmica da final do ano passado, Lewis não tornou a vida de Pérez fácil, fazendo-o perder precioso tempo. Depois, Checo foi colocar uma volta em Gasly e Albon, dois pilotos apoiados pela Red Bull, mas Pierre, de saída das asas da Red Bull, não ajudou muito a causa de Checo, fazendo da situação do mexicano praticamente irreversível. Pérez lutou até o final, recebendo a bandeirada apenas 1.3s atrás do segundo colocado Leclerc, mas perdendo o vice por essa diferença. Enquanto isso, Verstappen não teve dificuldades maiores para vencer pela décima quinta vez e confirmar um ano próximo da perfeição, o mesmo acontecendo com a Red Bull, que manteve a curiosa estatística de nunca ter feito uma dobradinha no campeonato.

Verstappen teve um campeonato impecável e junto com o ótimo carro da Red Bull, se mostraram um conjunto implacável. Para termos uma ideia, nas décadas de 1970 e 1980, o calendário da F1 tinha em torno de quinze corridas, ou seja, Max teria um campeonato perfeito, se tivesse esse número de vitórias nessa época.

Após vencer sua primeira corrida em Interlagos, Russell fez uma prova discreta, terminando em quinto, atrás de Sainz. Hamilton queria parar duas vezes, a Mercedes não concordou, mas no fim um problema hidráulico no finalzinho da prova fez com que Lewis terminasse sua primeira temporada na F1 zerado em vitórias e poles. Lembrando que não se pode afirmar que a Mercedes não seja um carro vencedor, vide o triunfo de Russell semana passada em Interlagos. No começo do ano meu querido amigo Marcel Pilatti escreveu aqui no GPTotal que, mesmo não sendo campeão, Lewis Hamilton seria comparado com as temporadas de 1992 de Senna e 2005 de Schumacher. Não faltou luta para Lewis, mas a temporada do inglês ficou claramente abaixo do que fizeram Senna e Schumacher quando não dispunham de um bom equipamento, sem contar que Hamilton foi derrotado por um companheiro de equipe pela terceira vez na carreira, algo que nunca ocorreu com Schumacher (tirando as cinco corridas ao lado de Piquet no final de 1991) e com Senna só aconteceu uma vez. E daquele jeito que todos lembramos…

Além de Vettel, outros três pilotos que estiveram esse ano não retornarão em 2023. Ricciardo fez sua última corrida pela McLaren e potencialmente da F1. O australiano chegou em nono lugar, logo à frente de Vettel. Os pontos conquistados por Ricciardo não escondem a temporada pífia que ele teve em 2022. Nem que ele tomou 27s do companheiro de equipe Lando Norris, sexto colocado e o melhor do resto nesse domingo, algo que se tornou habitual nessa temporada. Daniel estaria pronto para ser anunciado como piloto reserva da Red Bull, no que seria uma volta às origens, mas talvez não veremos o Ricciardo fogoso que encantou a F1 dentro e fora das pistas.

Latifi e Mick Schumacher deixarão menos saudades. O canadense chegou na sua usual última posição, mas quando o canadense não faz, fazem por ele. Um ano depois do famoso toque que chamou o Safety-Car que mudou a história daquele campeonato, Latifi e Mick novamente se trombaram na pista. Se Latifi não tem mais lugar na F1, Mick ainda usa o seu sobrenome para ter uma sobrevida na F1, mas se o jovem alemão tiver um mínimo de autocrítica em sua temporada, perceberá o porquê da Haas ter preferido tirar o veterano Nico Hulkenberg da aposentadoria, do que renovar com ele.

Alonso abandonou a corrida de hoje, a sexta no ano pela Alpine. O espanhol parecia conformado em sair da equipe que lhe deu dois títulos no passado, mas que claramente aposta em Esteban Ocon para o futuro. O problema de Alonso é que irá para uma equipe (Aston Martin) que terminou em sétimo no campeonato e terá como companheiro de equipe o filho do ano.

Abu Dhabi viu uma corrida tensa pela caçada final de Pérez em cima de Leclerc, mas que foi longe de ser emocionante, algo que o insípido circuito de Yas Marina normalmente proporciona. Ao contrário de Interlagos, falta alma para Yas Marina, Sakhir e outros circuitos faraônicos construídos ao custo de milhões de dólares e até mesmo de vidas. Uma receita parecida acontecia 557 km ao oeste, com o pontapé inicial da Copa do Mundo realizada no Catar com um ambiente tão estéril quanto o deserto que caracteriza a região.

Max Verstappen teve na corrida desse domingo a síntese do campeonato que lhe deu seu segundo título na F1, onde não teve adversários e nadou de braçada rumo a mais uma vitória, não se importando com os demais. Com 25 anos de idade e muitos anos de carreira pela frente, Max Verstappen já está apenas dezenove vitórias abaixo de Vettel no ranking histórico da F1 e não demorará para que o neerlandês ultrapasse também o alemão. Se conseguirá o mesmo respeito conquistado por Sebastian ao longo da carreira, até agora não deu indícios para tal.

Mais uma temporada da F1 se encerra e que tenhamos um próximo ano mais competitivo, de boas corridas, mas também de paz, saúde e muitas felicidades! Que venha 2023!

Abraços!

João Carlos Viana

JC Viana
JC Viana
Engenheiro Mecânico, vê corridas desde que se entende por gente. Escreve sobre F1 no tempo livre e torce pelo Ceará Sporting Club em tempo integral.

2 Comments

  1. martim disse:

    Senna disputou 3 corridas em 1994 e em felizmente houve a tragédia, contudo Damon Hill havia marcado 6 pontos contra 0 de Senna, então até aquele momento ele foi superado pelo companheiro de equipe. Então foi superado por Prost em 1989 e Hill em 1994. Shumacher foi superado por 0,5 pontos em seu ano de estreia pelo Piquet e em 1999 foi superado pelo Irvine pois quebrou a perna e ficou de fora de umas 4 provas.
    A principio, creio que começou a curva descendente de Hamilton, a de Piquet começou em 1987.

  2. Fernando marques disse:

    J. C. Viana,

    Parabéns ao Verstappen pelo bi campeonato.
    Parabéns para Red Bull pelo excelente carro e o almejado título de construtores.
    Fora isso a temporada de 2022 é para ser esquecida.
    Ainda mais a Ferrari com tantos erros cometidos seja pela equipe em si quanto seus pilotos.
    A fórmula 1 em 2022 foi bem sem graça

    Fernando Marques
    Niterói RJ

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