Revisitando 2002

Vendendo o próprio passado
23/01/2013
Seis vezes três
28/01/2013

Se houve uma das 19 temporadas disputadas por Barrichello em que ele poderia ser campeão, foi em 2002.

O ano era 2002. A seleção brasileira, após difícil campanha nas eliminatórias — classificou-se na última rodada, conquistando a última vaga –, chegava em busca do pentacampeonato na Copa do Mundo. Logo de cara, um grande reforço: Ricardo Teixeira foi nomeado vice-presidente da comissão de arbitragem (“Qual é o problema, pô?!”).

O começo do torneio foi muito complicado: vitória sofrida (2 a 1) contra a Turquia, após sair perdendo e chegar à virada de maneira, digamos, pouco digna: o pênalti que originou o segundo gol brasileiro foi um erro grosseiro: Luizão de fato sofreu falta, mas a mais de dois metros da entrada da área! Não bastasse a marcação equivocada, o juiz expulsou o jogador turco.

Minutos depois, escanteio para o Brasil. Rivaldo fica no corner, ao lado do bandeirinha, esperando a reposição da bola para fazer a cobrança do tiro de canto. Um jogador da seleção da Turquia chuta a pelota em direção ao brasileiro: acerta a coxa direita do camisa 10, que se joga no chão com a mão no rosto. O juiz expulsa o atleta turco. Após a análise do vídeo, a FIFA decidiu multar Rivaldo em 1000 libras (hoje, o equivalente a mais de 3 mil reais) por simulação. Iniciava-se, assim, o recorde de vitórias seguidas em Copas.

Os desafios subsequentes na 1ª fase foram muito tranquilos (China e Costa Rica), mas no confronto com os centro-americanos aconteceu mais uma situação interessante: o primeiro gol da partida entre brasileiros e costa-riquenhos foi, claramente, marcado pelo zagueiro de Costa Rica.  O juiz anotou na súmula como sendo gol contra. Mas um protesto – o títpico “tapetão” – feito pelo atacante Ronaldo após a partida fez os oficiais reverem o video e alterarem a decisão do juiz: assim, o brasileiro conseguiria, 4 anos depois, superar Gerd Müller e se tornar o maior artilheiro da história das Copas.

A primeira partida eliminatória traria novos problemas: em jogo amarrado contra a Bélgica, são os europeus que abrem o placar, aos 35 minutos do primeiro tempo, em belo cruzamento que resultou num gol de cabeça de Marc Wilmonts. Mas foi anulado. Por falta. A maioria concorda que na súmula deveria estar escrito: “perigo de gol”. Wilmonts chegou a relatar que o juiz da partida, Peter Prendergast, se desculpou pelo erro de marcação no intervalo – fato negado pelo árbitro. O Brasil só conseguiria abrir o placar aos 22’ do segundo tempo.

“Só isso”, no entanto, não é motivo para desqualificar a conquista brasileira. O que coloca um ponto de interrogação na conquista de 2002 é: onde foram parar Portugal, Itália e Espanha, de início apontadas como favoritas? TODAS as seleções pararam na Coreia do Sul (!), até hoje única equipe não europeia/sul-americana a chegar numa semifinal. Mas como? Através de arbitragens ainda mais escandalosas que aquelas das partidas da Seleção Brasileira.

O jogo contra os espanhóis, então, poderia ser qualificado como crime hediondo.

Resultou, em todo caso, que o Brasil foi o campeão com mais vitórias num só torneio, venceu todas as partidas (algo que só acontecera duas vezes), igualou o recorde de finais consecutivas, marcou o maior número de gols e teve o maior saldo desde 1970. Ainda, Ronaldo foi o primeiro artilheiro desde Müller a marcar mais de 7 gols numa mesma edição. “É, amigo: Todo mundo tenta, só o Brasil é penta!”.

Exatas 3 semanas depois do quinto título brasileiro (que veio em 30 de junho), o esporte mundial tinha outro pentacampeão: Michael Schumacher chegava ao seu terceiro título consecutivo pela Ferrari e igualava Fangio em total de conquistas. Aquele quinto caneco fazia dele o campeão mais antecipado da história (ainda havia 6 etapas a serem disputadas).

Schumacher e Seleção Brasileira, portanto, estavam em sintonia fina. E havia também uma Coreia do Sul naquela temporada: a Scuderia Ferrari.

Olhando no retrospecto de sua carreira, podemos dizer que a melhor temporada de Barrichello tenha sido a de 2004 (foram 14 pódios em 18 GPs e o vice-campeonato). No entanto, fazendo uma análise mais cuidadosa, não há dúvidas de que 2002 foi o ano em que Rubens melhor pilotou. Se houve uma vez em que ele pudesse terminar em primeiro alguma das 19 temporadas que disputou, foi em 2002.

Naquele ano, o brasileiro estava no auge de sua forma física, motivado como nunca — e essa talvez seja a maior diferença em relação a 2004 — e pilotava um dos melhores carros de todos os tempos (não à toa, Schumy/Rubens igualariam naquele ano o recorde da dupla Senna/Prost em 1988: triunfos de um só time numa mesma temporada, com 15 vitórias combinadas entre eles).

Falo isso não somente pelos números (4 vitórias – máximo na carreira –, 5 melhores voltas – idem –, 3 poles – em 2004 foram 4 – e 1445 Km na liderança – outro recorde pessoal – mesmo sendo apenas o oitavo em distância percorrida!), mas principalmente julgando pela performance do piloto: depois de duas temporadas sem conseguir disputar com o alemão, conseguiu estar constantemente próximo de Schumacher e superou o heptacampeão em uma série de ocasiões.

(Esse texto não deve ser lido como um “Tratado sobre a inocência de Barrichello”. Pelo contrário, foi por tudo isso ele virou o Dunga da Fórmula 1)

Logo na abertura da temporada, o GP da Austrália, Rubens Barrichello marcou a pole: seria a primeira e única que vez que Barrichello conseguiria largar à frente de Schumacher em um GP de abertura de temporada nos seis anos que dividiram a Ferrari. Rubens pole, Schumy segundo, por míseros 0.005s.

Na largada, Barrichello parte bem e Schumy é superado por seu irmão Ralf que… usa o carro de Rubens para realizar uma decolagem. Rubens abandona. Michael cai para quarto e, entre boxes e ultrapassagens, assume a liderança.

Na etapa seguinte, Malásia, o filme quase se repete: novamente um Ferrari (pole) duela com um Williams: a briga se dá entre Montoya e Schumacher – após uma daquelas largadas clássicas do alemão –, que cai para o fim do pelotão. Rubens partia em terceiro e assumiu a liderança, onde se manteria até a volta 21. Voltou à primeira colocação na volta 32, e na 36 cai para segundo. No 39° giro, o motor de Barrichello quebra. Schumacher era quarto. Terminou em terceiro, dando início à temporada com 100% de pódios.

Depois, Interlagos. Lá começariam a acontecer uma série de “coincidências” que culminariam no GP da Áustria.

A Ferrari chega ao Brasil com “somente um” modelo do novíssimo F2002: obviamente, a escolha foi pelo piloto que tinha mais pontos. Barrichello largou em oitavo, e Schumy na pole. Mas em poucas voltas Rubens já era segundo, e assumiu a liderança – Schumacher deu-lhe passagem – na volta 13 para… quebrar na volta 16! “Pane hidráulica”, disse a Scuderia.

No GP de San Marino, um fato inacreditável: nos treinos houve uma dura batalha entre os dois, com Schumy superando Barrichello somente no último minuto, por diferença de 0.064s. Antes da corrida, porém, o alemão chegou à conclusão de que o acerto encontrado por Barrichello era melhor que o seu e solicitou uma troca de carros. Isso mesmo: Schumy disputou o GP de San Marino com o carro de Rubens. E venceu, com o brasileiro marcando a melhor volta e terminando em segundo, a 18s de distância.

Na etapa seguinte, em Barcelona, os treinos novamente apresentam uma batalha duríssima entre os ferraristas, e outra vez Schumacher vence: para tanto, segundo o próprio confirmou, copiou o acerto de Barrichello – expediente ao qual recorreria também em 2003, ainda usando o modelo F2002. Méritos para ele. No dia seguinte, Barrichello não largou: antes da volta de apresentação, seu carro apresenta problemas. Os mecânicos ainda tentariam algo nos boxes, mas Rubens abandonou. Schumy venceu.

(confira charge da época – em inglês – sobre a situação)

A próxima corrida foi na Áustria. Ponto.

Depois, veio Mônaco, que foi a pior prova de Rubens no ano, largando em sétimo e completando na mesma posição – mas marcando a volta mais rápida do dia. Schumacher foi segundo. Entretanto, no Canadá Barrichello realizou outra grande corrida: largando em terceiro, assumiu a liderança logo no início e lá ficou até a volta 25 (quando Schumy era segundo); foi aos boxes, voltou em sexto, e acabou em terceiro.

Ross Brawn, questionado pelo problema que Barrichello teve em seu pitstop (11 segundos), falou que a equipe não estava preparada para atender o piloto 1B naquele momento. Rubens alegou ter perguntado à equipe se podia ir aos boxes naquele volta, mas não obteve resposta. Ah, sim: Schumacher, é claro, venceu.

No GP seguinte, em Nurburgring, Rubens finalmente conseguiria sua primeira vitória no ano: largando em quarto (Schumy era terceiro) beneficiou-se de outro enrosco entre Schumacher e Montoya e, ultrapassando Ralf, chegou à liderança na primeira volta e venceu de ponta-a-ponta: a única de sua carreira. Schumacher assumira a segunda posição na volta 3 e completou a dobradinha a 0.3s do brasileiro.

O décimo GP da temporada era Silverstone, onde normalmente Barrichello andava bem, e pela terceira vez no ano ele bateu Schumy nos treinos: largaria em segundo, com o alemão em terceiro, a 0.010s. Como na Espanha, Rubens não consegue partir para a volta de apresentação: mais um problema elétrico. Dessa vez, porém, ele consegue largar dos boxes: vai de 22° a 2°, marcando a volta mais rápida, e vê Schumacher vencer mais uma vez.

Com os 10 pontos do GP inglês, Schumacher tinha chances de ser campeão já na França. Para que isso acontecesse, um desses cenários teria de se concretizar: Schumacher tinha de vencer, com Montoya e Barrichello sendo no máximo terceiros; ou ser segundo contando que Montoya fosse no máximo sexto e Barrichello… não pontuasse. Nos treinos, Schumy obteve a 2ª marca e Rubens marcara o… 3° tempo.

Depois de troca de equipamento antes de GP e de inversão de posições na linha de chegada, imaginava-se que a Ferrari não poderia se superar. Mas se superou: Barrichello não largou, e dessa vez não foi nenhum problema elétrico/mecânico: seu carro ficou suspenso sobre um cavalete, aos olhares incrédulos do mundo.

De novo, Rubens vai aos boxes, mas a Ferrari examinou e percebeu que o problema encontrado não teria solução. Ao sair do carro, Barrichello mandou uma “banana” para a equipe. Schumacher venceu. Prova e campeonato.

O balanço até ali era o seguinte: Schumacher obteve 87,27% dos pontos que disputou, contra míseros 29,09% de Barrichello. Rubens abandonara nada menos que 5 de 11 etapas, sendo 3 por falhas no equipamento (Malásia, Brasil e Espanha), 1 por colisão (Austrália) e 1 por decisão da equipe (França). Nenhuma por erro do piloto, pois. Além disso, foi diretamente prejudicado por decisão do time duas vezes (San Marino e Áustria), e enfrentou problemas distintos (equipamento na Inglaterra e estratégia no Canadá) que lhe custaram possíveis vitórias.

Resumindo: em apenas duas (!!!) de onze provas, Europa e Mônaco, Barrichello não foi afetado pelo “sobrenatural de Almeida”. O gráfico da temporada (ver acima) mostra bem a discrepância no desempenho dos pilotos até que o título de Schumacher fosse assegurado.

Nas seis etapas finais, Barrichello não teve mais nenhum abandono e só não subiu ao pódio em uma corrida (Alemanha), onde foi quarto. Venceu três provas (Hungria, Itália e EUA) marcando a pole na primeira delas (0.059s a frente de Schumy), e sendo o autor da melhor volta nas duas últimas. Nas etapas europeias Schumacher terminou, respectivamente, a 0.4s e 0.2s do brasileiro. Em Indianápolis, oficialmente aconteceu a “devolução” do GP da Áustria – mas há quem diga que foi um erro de cálculo do alemão.

Schumacher venceu as outras três etapas do ano, em duas delas (Bélgica, 1.9s, e Japão, 0.5s) com Barrichello cruzando muito próximo.

Como a Seleção na Copa, ao fim da temporada o alemão estabeleceu alguns recordes impressionantes: maior número de vitórias numa mesma temporada (11), maior diferença de pontos entre campeão e vice (67), único piloto a completar todas as voltas num mesmo ano e único piloto a estar presente no pódio em todos os GPs de uma temporada. Todas essas marcas – a exceção da primeira, ampliada pelo próprio Schumacher em 2004 – permanecem imbatíveis, e nada leva a crer que um dia possam cair.

Mesmo sem todas as bizarrices ocorridas com Barrichello, é provável que Schumy fosse o campeão daquele ano: jamais, porém, com (todos) os recordes supracitados.

O título do alemão em 2002 não é tão questionável quanto o de 1994 (e a conquista da “Família Scolari” não precisa ter o mesmo asterisco que o bi de 1962), mas ilustra perfeitamente uma realidade bastante conhecida, por vezes ignorada, outras tantas ironizada: ele jamais teve concorrência interna; e não (apenas) porque fosse vastamente superior aos companheiros de equipe que teve.

Bom fim-de-semana a todos.

Marcel Pilatti

Marcel Pilatti
Marcel Pilatti
Chegou a cursar jornalismo, mas é formado em Letras. Sua primeira lembrança na F1 é o GP do Japão de 1990.

35 Comments

  1. Mauro Santana disse:

    Teria sido muito mais lindo para o alemão, se ele tivesse esmagado o Barrichello na pista, sem esse “medo” todo, que parecia haver, pois se ele era assim tão bom, o melhor dos melhores, em condições normais, ninguém conseguiria vence-lo, certo!?

    Por essas que seus títulos na F1 não tem o mesmo brilho que de muitos outros campeões, pois na maioria deles não houve o combate, e a cereja no bolo numa conquista de um campeonato, na minha opinião, é o combate.

    Abraço!

    Mauro Santana
    Curitiba-PR

    • Marcel Pilatti disse:

      Perfeito, Mauro.

      Como afirmo no texto, Schumacher era suficiente melhor que Barrichello para ganhar o campeonato.

      Mas, em condições normais, creio que seria um campeonato de dinâmica semelhante ao de 2000, com decisão de título nas duas últimas provas…

      Trocar de carro? Proibir piloto de largar? Mandar entregar posição na sexta prova do ano? Aí já é um pouco demais, não?

    • Allan disse:

      Como se vê nas linhas e evidências supra apontadas, não era ano para o Miguel esmagar Rubens…

  2. Para mim, a diferença entre Schumacher e Barrichello é bem simplória, sem muitas teorias ou teses. O alemão é melhor do que o brasileiro. Ponto.

    • Claudio disse:

      Concordo, João.

      Mas por isso mesmo que não dá pra tolerar muito o que aconteceu… Essa de trocar o carro, muito doido!

    • Allan disse:

      Então para que campeonato? Não era melhor entregar a taça na primeira etapa? Bem, a Ferrari até que quis, né… Mas fico triste ao ler isso de pessoas que no mínimo acompanham a F1…

  3. wladimir duarte disse:

    Tudo que se falou sobre Schumacher me fez lembrar René Arnoux na Regié Renault entre 1979 e 1982. Como companheiro de Jean Pierre Jabouille fez 8 pontos a mais em 1979 e 20 a mais em 1980. Apesar das vitórias os carros da equipe só melhoraram a confiabilidade em 1983. Mas como é possível o desempenho de Arnoux ter piorado somente com a chegada daquele engodo campeão de papel chamado prost à equipe?? Na minha humilde opinião foram várias maracutaias políticas daquele sujeito, pois o duelo memorável contra Gilles Villeneuve provou que Arnoux era mais piloto que aquele palhaço papagaio de pirata!!! As mesmas maracutaias políticas neutralizaram Rosberg, que também era anos luz mais habilidoso que aquele sujeito, na McLaren em 86!! É de se lamentar que Nikki Lauda tivesse perdido a motivação em 85, pois poderia aposentar-se com chave de ouro infligindo outra derrota sobre aquele farsante piloto de m…!!! Rosberg também poderia ter feito o que Senna fez ao ir para a McLaren: mostrar quem era piloto de verdade. No caso do finlandês, mostrar quem era campeão de verdade!!!

  4. Fernando marques disse:

    Imagina voce sendo o Presidente da Ferrari tendo M. Schumacher como piloto pagando um salario/anual de quase 50 milhões de dolares e Barrichello com salario/anual de 8 milhões. Como dono da equipe quem voce queria que fosse o campeão mundial da Formula1? … O Barrichello? … Pra que então pagar tantos milhões ao Schumacher …
    O errado desta historia toda é o Barrichello que se vendeu para fazer papel de escudeiro e viu que pegou mal para ele ….
    Agora por estes esquemas a meu ver o Schumacher jamais pode ser considerado o maior piloto que a Formula 1 já teve … mesmo tendo numeros que comprovem ao contrario

    Fernando Marques
    Niterói

    • admin disse:

      that’s the point, Fernando.

      Escreva sempre.

      Abraço!

    • Allan disse:

      Não é o caso. Uma coisa é na pista você priorizar um piloto. Outra é sacanear o outro. E não é só salário que conta. No Brasil a Fiat há anos é lider de mercado e, pior ou melhor, vende mais que em qualquer lugar do mundo! Fiat é dona da Ferrari, Brasil é quem dá lucro, possivelmente para as duas, mais do que a Alemanha, então não é só salário. Não é questão de priorizar, e sim respeitar, porque fosse dado condições semelhantes Miguel teria sido campeão, fato, mas Rubens teria algumas vitórias, pódios e pontos a mais no currículo. Quem sabe algumas outras memoráveis apresentações, como a já citada em Nurburgring, templo sagrado que viu o brasileiro se mandar em primeiro, e Schumacher rodar quando tentava alcançá-lo.

  5. Arlindo Silva disse:

    Vale lembrar que havia uma regra que proibia (alias, ainda existe) que os mecânicos tocassem no carro após a luz de 30 segundos para a volta de apresentação apagasse. Por isso tanto a Williams, quanto a Ferrari não mexeram no carro de seus pilotos. E, no fim das contas, Rubens não largou, diferentemente do que houve em Silverstone.

    Rubens fez sua melhor temporada em 2002, sem dúvidas. Em várias ocasiões andou próximo a Schumacher, em outras superou o alemão. Agora, é bom não se apegar a distâncias finais entre eles, porque a Ferrari em várias ocasiões ordenou que eles cruzassem a bandeirada em formação. Foi assim em Nurburgring (Rubens chegou a ficar 10 segundos na frente), Spa (Schumacher chegou a ficar 18 segundos na frente), Monza (Rubens ficou 19 segundos a frente). Sem contar as inversões de EUA e Áustria.

    Além disso, houveram os casos onde os pilotos tinham estratégias diferentes. No Brasil, Canadá, Inglaterra e Itália, Rubens largou mais leve, enquanto Schumacher usava estratégias mais conservadoras (a idéia da Ferrari era cobrir todas as possibilidades dos adversários, se é que Williams e McLaren foram adversários).

    O F2001b que começou a temporada de 2002 incorporava alguns elementos do F2002. Especialemente na leveza do chassis e suspensão redesenhada. Barrichello e Schumacher já haviam corrido com parte dessas alterações no GP do Japão de 2001, mas haviam diferenças significativas entre o carro que correu toda aquela temporada para aquele que correu no início de 2002.

    • admin disse:

      Caro Arlindo, como vai?

      Quanto aos cavaletes, a regra não fala em 15 segundos? Novamente, não acho que mereça muita discussão um caso desses. É total direito seu acreditar que a Ferrari “errou” ali.

      Sobre o “se apegar às diferenças finais entre eles”, meu único objetivo citando as referidas foi demonstrar que o mesmo ocorria em vitórias de Rubens e de Schumacher.

      Como você bem lembrou, tanto um quanto outro chegou a “abrir” muito mais em relação ao outro.

      Acontece, porém, que virou uma quase verdade que os GPs da Hungria e da Itália foram “meias” vitórias do Rubens: todo mundo definiciu que o Schumacher “deixou” o brasileiro vencer nas referidas etapas – baseando-se… nas diferenças finais!

      Abraços!

    • Ballista disse:

      Arlindo, o limite de tempo existe realmente, mas veja na imagem que os mecânicos da Ferrari tiveram sim tempo para tirar o cavalete do carro do Rubens. Tanto que o responsável pelo cavalete traseiro foi lá e tirou.

      Sobre as distâncias finais, concordo. O que reforça o ótimo desempenho de Rubens em 2002.

      No Brasil, a estratégia de ambos era realmente diferente, tanto que Rubens assumiu a ponta nas primeiras voltas. No Canadá, também: a estratégia de Rubens era perder 11s nos boxes porque a equipe nao sabia se deveria trocar os pneus durante safety car…

      O F2001b possuia itens do F2002, mas limitados a suspensão traseira e sistema de direção (atualizado devido a proibição da direção assistida eletronicamente a partir de 2002). Na questão aerodinâmica, era o mesmo carro do ano anterior. Não diria que as diferenças entre o o F2001 e o F2001b eram significativas.

      Abraços

      Ballista.

  6. Marcos disse:

    Alguém já parou pra pensar que o que aconteceu no GP da França foi o “troco” da Ferrari sobre o que rubens fez na áustria???????????

    • Ballista disse:

      Pode ser. Barrichello melou o plano da Ferrari. Deu pra ver pelas reações da equipe, e principalmente do Schumacher, que eles não tinham planejado tomar uma vaia histórica na cerimônia do pódio.
      E esse troco veio em prestações: problema no radio no Canadá, cavalete na França, pane seca no Brasil em 2003…

  7. Lucas Giavoni disse:

    Marcel, amigão,

    Adoro quando textos me fazem rever conceitos. Como conversamos previamente, tinha, para mim, que Barrichello teve um melhor desempenho em 2004. Mas o tinha diante de um pensamento superficial – e sempre que estou nessa situação, gosto quanto trazem um contexto que possa me abastecer de mais informações verossímeis.

    Você trouxe, neste texto, uma revisão aprofundada baseada única e exclusivamente em fatos e vidências, sem cavar polêmicas desnecessárias (carro-chefe do mau jornalismo informativo) ou apelar para teorias da conspiração – talvez a mais ridícula de todas tenha sido a do Lemyr Martins, um cara que não aprendeu a fazer jornalismo preciso em 40 anos na profissão.

    Parabéns, amigão. Estamos diante de um texto de referência.

    Abração!

    Lucas Giavoni

    • admin disse:

      Valeu, meu amigo Lucas!

      Sim, tomei esse cuidado de expor fatos. Afinal, foi tudo muito claro.

      Em tempos de Lance Armstrong, o que a Ferrari fez/faz, é “pinto”, como se diz.

      Mas nunca é demais lembrar.

      Os maiores campeões nem sempre se constroem (somente) de talento.

      Abração!

  8. Bela retrospectiva, Marcel. A rigor, se analisarmos detalhadamente todos os episódios ocorridos dentro da Ferrari nos anos Schummy, veremos que existem diversos componentes externos nesses números fantásticos.
    Claro que Schumacher foi excelente, isso jamais será discutido. Mas a análise dos fatos tem que importar mais que a frieza dos números, e nela Schumacher não é tão perfeito, nem Rubens tão inferior assim. Longe disso.
    Abraço!

    • admin disse:

      Obrigado, Márcio.

      De fato, não pode ser verdade que um é o “Maior de todos” e o outro “um fracassado”.

      Algo de errado tá errado!

      Abs.
      Marcel

  9. Ballista disse:

    Ótimo texto. Revelador em muitos sentidos.

    Algumas considerações:

    – Se o F2001 conseguiu ser competitivo no início da temporada, a ponto de vencer uma corrida, devemos rever o equilíbrio de forças da temporada 2001. Talvez a McLaren não tivesse realmente condições de disputar o título em 2001.

    – A troca de carros entre Schummy e Barrichello no GP de San Marino diz muita coisa:

    1) Barrichello estava realmente motivado naquele ano – nunca antes nem depois chegou tão próximo de Schumacher.

    2) A segunda unidade da F2002, por algum motivo, andava mais do que a primeira – daí a solicitação de troca, permitindo a Schumacher disputar a temporada com o carro de melhor desempenho.

    3) Quem mandava naquela p**** era o Schummy, e o resto era o resto.

    – A cópia de acertos que aconteceu em Barcelona, provavelmente ja havia acontecido antes, e com certeza aconteceu depois. Talvez o GP da Espanha teha sido a primeira vez que isso se tornou público (ou que Barrichello pegou o alemão anotando seu acerto no caderninho).

    – A Austria foi o episodio mais escandaloso da série “como ganhar um campeonato em 11 corridas”. Mas com certeza não foi o mais sujo. O último capítulo (O cavalete rampante) é merecedor deste título.

    Aqui quero abrir um parentesis: na bélgica em 2001, Ralf Schumacher também ficou sobre os cavaletes. Mas isso ocorreu porque os mecânicos da Williams não conseguiram trocar o aerofólio traseiro a tempo da relargada. No caso de Barrichello, dizer que tinha problemas elétricos é apenas cortina de fumaça. Se o carro não tivesse condições de largar, o mecânico não voltaria para tirar o cavalete da parte traseira do carro.

    – Alguém tem dúvidas de que Schumacher seria campeão em 2002? Nem o próprio colunista tem. Mas a conclusão que chego ao revisitar 2002, é que o domínio alemão não foi tudo aquilo que pareceu ser na época. Conclusão bastante similar ao que as temporadas de retorno de Schumacher nos possibilitou.

    • admin disse:

      Olá, Ballista, como vai?

      Interessante sua menção a Bélgica 2001. Tentei me recordar de caso semelhante, mas não sabia precisar a corrida/temporada. Obrigado pela lembrança.

      Sim, são dois casos bastante distintos. No de Rubens, o video mostra nitidamente que os mecânicos estão perfilados no muro, como que dizendo: “ordens são ordens, Rubens, não é nada pessoal”.

      Um abraço e escreva sempre!
      Marcel

    • Mauro Santana disse:

      Barrichello poderia fazer chover em 2002, mas Schumacher iria com certeza ordenar a equipe a chover granizo!

    • Ballista disse:

      É bem por aí Marcel. E o mecânico que criou coragem de sair do muro e tirar o cavalete traseiro, provavelmente foi excluído do caderninho de contabilidade dos italianos.
      A história da Ferrari na F1 é uma mistura de momentos de extrema maturidade técnica permeados por infantilidades imbecis (incluindo muitas decisões tomadas pelo Sr. Enzo “cabeça-dura” Ferrari).

      Abraço

    • admin disse:

      Excelente observação, Mauro.

      E se fosse granizo que Barrichello chovesse, Schumy conseguiria um tsunami.

      por aí vai!

    • Mauro Santana disse:

      Segue o vídeo do GP da Belgica de 2001 com o Ralf Schumacher no cavalete.

      http://www.youtube.com/watch?v=uoHfLAPdXQg

      Abraço!

      Mauro Santana
      Curitiba-PR

    • Adílson disse:

      mauro!! o mais engraçado desse video que você postou são os caras da ferrari, eles começam a apontar pro carro do ralf, tipo, pedindo para a direção de prova tomar cuidado, abortar a largada, sei lá… na frança em 2002, só faltava eles dizerem: “podem largar, rubens não tem nenhum problema, deixa com a gente” ahahha…

    • Ballista disse:

      Bem observado Adilson! Pimenta no olho dos outros é refresco, certo?

  10. Adílson disse:

    Um primor de artigo, parabéns!!! Confesso que não lembrava de vários casos apontados… o que só faz questionarmos ainda mais o porquê de Barrichello ter se submetido a isso tudo… só o dinheiro compensava? ou ele ainda acreditava que um dia poderia bater o alemão e, assim, ter a equipe colaborando e podendo ser campeão??!?!? considero barrichello um caso negativo pro esporte tanto quanto schumacher, pois ele foi submisso e aceitou trocar a honra por uma glória…. que nunca veio.

    sobre as copas, realmente vergonhoso… diz a teoria da conspiração que o brasil vendeu a copa de 1998 em troca da garantia de vencer 2002… vai saber!!!

    • Mauro Santana disse:

      Concordo contigo Adílson!

      Barrichello pode ter sido um grande piloto, mas vai ter que carregar esta macha com ele pela sua vida inteira.

      Também já escutei este papo da teoria de conspiração envolvendo a copa do mundo.

      Vai saber né…

      Abraço!!!

    • admin disse:

      Olá, amigos.

      Também concordo com vocês. Em nenhum momento pretendi, nesse texto, santificar ou inocentar Barrichello. Ele é o “Dunga” da F1, afinal.

      Nunca deixo de me lembrar de Carlos Reuteman e Alan Jones quando penso em Barrichello e Schumacher…

      Abraços!

      Marcel

    • Mauro Santana disse:

      Verdade Adílson!

      A respeito desta prova da Bélgica de 2001, me trouxe a lembrança que Burti quase morreu no grave acidente que sofreu no final do GP, e também que a antiga e famosa Buss Stop ainda existia.

      Abraço!

  11. Mauro Santana disse:

    Em termos de falcatruas envolvendo Schumacher, 1994 e 2002 estão no top da F1.

    Mauro Santana
    Curitiba-PR

    • admin disse:

      Olá, Mauro!

      Sim, eu menciono que 1994 é ainda pior, mas lá ele tinha “vantagens”. Em 2002, ele corria contra o vento, literalmente.

      Abs!

      Marcel

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