Olá, amigos!
Na coluna de hoje vou falar sobre um piloto que passou por problemas em 2020 e pagou um preço bastante alto no decorrer de um ano que, por si só. já foi bastante difícil.
Falo de jovem Kyle Larson. Então com 27 anos, estava disputando uma corrida virtual transmitida ao vivo pela internet durante o recesso causado pela pandemia e falou uma palavra racista, pensando que ninguém estava conseguindo lhe ouvir. Não acredito que seja necessário dizer o impacto de uma atitude racista perante a sociedade, principalmente quando lutamos tanto para ter oportunidades e condições iguais para todos, como acontece hoje em dia. Foi uma catástrofe.
Talvez o pior de tudo tenha sido o fato de uma pessoa não achar que o insulto racista poderia ser um problema, seja o ambiente ou momento que for. Larson errou feio. A sequência de eventos foi uma demonstração de como a sociedade não mais tolera qualquer comportamento racista.
A equipe Chip Ganassi demitiu o piloto do número 42 imediatamente, a NASCAR o suspendeu indefinidamente e ordenou que fizesse uma espécie de reabilitação de sensibilidade. Ele também perdeu contratos de patrocínio com Mc’Donalds, Credit One Bank e Chevrolet.
Bubba Wallace, o único piloto negro da categoria principal da Nascar, chegou a ser contactado por Larson no dia seguinte e ambos conversaram. Algum tempo depois, Larson divulgou um vídeo nas redes sociais onde pedia desculpas pela palavra usada, dizendo que não foi criado dessa maneira. Muitos não acreditaram, muitos disseram que o breve vídeo, com aproximadamente 42 segundos de duração, foi feito apenas para dar a impressão de que o piloto se importava. O fato é que a verdadeira intenção ninguém nunca poderá saber, somente Larson.
Após os acontecimentos, ele se isolou e foi lamber suas feridas. Como uma das promessas da categoria, Larson se viu sem contrato, sem patrocínio, banido indefinidamente do esporte e sem apoio nenhum. Foi realmente uma catástrofe.
Depois de um período afastado, Larson voltou a competir nas corridas dos pequenos ovais de terra com sprint cars. Tendo uma equipe na modalidade, o piloto, que sempre gostou de correr na terra, venceu uma série de corridas. Tudo foi feito sem muito alarde, sem mídia. O piloto só queria correr.
Além das provas, Larson também se envolveu em outras atividades, como parte da sua “reabilitação”. Visitou comunidades, participou de aulas sobre a comunidade afro-americana, entre outras atividades.
Em outubro, Larson entrou com um pedido para ser aceito novamente como possível competidor da categoria, mesmo sem um time para correr. Aparentemente sem um time, digamos.
Após a liberação, rumores apontavam para uma possível vaga bastante disputada, em uma equipe de ponta. Com a aposentadoria de Jimmie Johnson, a Hendrick estava com um carro vago, mas para entrar na disputa, Larson tinha que convencer Rick Hendrick que tinha evoluído e mudado seu comportamento.
Segundo o próprio Hendrick, ele e o piloto tiveram muitas conversas antes de entrarem em um acordo para este ano, mas acima de tudo, Rick disse sentir-se confiante quanto a evolução de Larson como pessoa e sobre o sentimento que ele traz no coração.
Chegou o ano de 2021 e Larson foi apresentado oficialmente como piloto do carro número 5, “ressuscitado” no lugar do carro 88. Com a chegada de Larson, a equipe Hendrick possui agora uma das formações mais jovens de pilotos de todos os tempos: Larson tem 28 anos, Bowman 27 anos, o atual campeão Chase Elliott com 25 anos e William Byron com 23 anos.
Para as primeiras provas, o carro número 5 não traz muitos patrocinadores, focando seu esquema de cores e maiores espaços para empresas do próprio Rick Hendrick. Aparentemente, as cicatrizes geradas pelo grave erro de Larson ainda não foram totalmente fechadas. Completando o time, o chefe de mecânicos escolhido para acompanhar Larson em sua nova empreitada é Cliff Daniels, que cuidou dos carros de Jimmie Johnson em seu último ano.
A equipe Hendrick é uma das maiores vencedoras da história da categoria, com um total de 265 vitórias, somente na categoria principal, e atual campeã da categoria. A dúvida é: Larson vai conseguir desempenhar no mesmo nível de seus companheiros? Sem treinos e classificação em 2021, por conta da pandemia, restavam as corridas para comprovar se a aposta de Rick Hendrick valeria a pena.
No oval de Daytona, primeira prova do campeonato, ele conseguiu um bom 10º ao fim da corrida. Seus companheiros chegaram em 2º, com Elliott, 26º, com Byron e 35º, com Bowman, esses dois últimos tendo sofrido com acidentes.
A segunda prova do ano foi disputada no circuito misto de Daytona e Larson fez uma ótima corrida. Nas voltas finais estava no top 5, mas ao arriscar uma ultrapassagem acabou rodando, fechando a prova em 30º. Talvez a manobra mal calculada tenha sido reflexo do ímpeto em ter um bom resultado somado a um pouco de “ferrugem”.
A Nascar viajou para Homestead Miami e mais uma vez Larson não desapontou. Andando sempre na frente, completou a prova em 4º. O progresso era visível e ele já estava se sentindo em casa na Hendrick.
A prova seguinte aconteceu em Las Vegas, pista que permite muitos traçados distintos. Em uma prova impecável, Larson levou para casa o Stage 2 e venceu a prova tranquilamente. Essa vitória foi a primeira da Hendrick no ano e, quem diria, veio com o piloto resgatado.
A vitória não só mostrou o talento de Larson e o dedo de ouro de Rick Hendrick, que enxergou a famosa oportunidade ganha-ganha ao contratar um excelente piloto e gerando uma nova chance para o homem Kyle Larson.
O perdão é difícil, mas também é bíblico. É questionável o quanto a sociedade de hoje está apta e dar segundas chances para aqueles que erram, mas a esperança nunca pode ser perdida.
Grande abraço
Rafael Mansano
2 Comments
Rafael,
O tempo é o maior dono da razão … A pisada de bola do Like Larson foi grande … O mundo atual não admite mais estes tipos de atitudes. Aliás jamais deveria ter admitido no passado … Mas o perdão existe pra ser dado … E será o tempo que dirá se o perdão dado a ele foi correto ou não … Vamos torcer que sim …
Fernando Marques
Niterói RJ
Bem colocado, Fernando. Só o tempo dirá se a aposta tanto do homem, quanto do piloto, foi correta.