Simplifica!

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Quais são mesmo os problemas da F1? Já nem lembro direito... Em todo caso, vou me permitir propor mais uma solução.

Já me perdi um pouco nesta história de sugerir soluções para os problemas da Fórmula 1. Aliás, quais são mesmo os problemas da categoria?

Custos altos demais? Não. Este a gente já resolveu limitando os testes em pista, o número de motores por temporada, as horas de desenvolvimento nos túneis de vento e até fixando uma relação de marchas única para o ano inteiro.

Poucas ultrapassagens? Não. Este problema, resolvemos com as asas móveis (em minha modesta opinião, talvez a única coisa efetiva e correta posta em prática pela categoria nos últimos anos) e outras mumunhas mais. Hoje, há tantas ultrapassagens num GP que é preciso um especialista para contá-las. Infelizmente, descobrimos que uma ultrapassagem não é necessariamente relevante…

A previsibilidade das corridas? Bem. Este problema só é um problema para quem desconhece a história da Fórmula 1. Já falamos bastante sobre isso (por exemplo, aqui), não quero me alongar.

O que temos mais? A troca das pistas tradicionais pelos tilkodromos? Desculpem, mas não dá pra brincar com a segurança dos pilotos e do público. Que tal o desinteresse dos jovens pelos carros e pelo automobilismo em geral? Sim, é indiscutível que isso acontece, e não é porque a Fórmula 1 virou as costas para as mídias sociais. Talvez seja apenas um reflexo dos tempos, um avanço social, quem sabe até sinal de amadurecimento humano, por mais difícil que seja acreditar nesta hipótese.

Enfim, sejam quais forem os problemas apontados para a Fórmula 1, creio que já os discutimos demais aqui. Em todo caso, vou me permitir propor mais uma solução, sabendo de antemão que ela é impraticável: simplificar radicalmente a categoria.

Queria tentar demonstrar a justeza do meu ponto de vista citando dois exemplos simples, ambos envolvendo a troca de pneus durante os GPs, que quebrou recentemente a barreira dos dois segundos.

Não é possível que uma categoria de automobilismo, mesmo que se encontre em seu pináculo, demande pistolas pneumáticas para a troca de pneus que funcionem a 12 mil RPM (isso mesmo, tanto giros quanto um motor Ford Cosworth dos anos 70) e que tenham chegado a tal desempenho graças ao uso de técnicas aeronáuticas e estudos de fluidodinâmica.

Não é possível que a Fórmula 1 exija dos mecânicos que fazem a troca dos pneus dos carros não só preparação física como também alimentar, além de apoio biomecânico, gestão de reflexos e de ansiedade. Tudo em busca de, literalmente, centésimos de segundo de vantagem.

Por óbvio que estou me apegando detalhes absurdos para demonstrar meu ponto de vista mas creio que eles espelham bem o paroxismo a que se chegou na Fórmula 1.

Mas, pelo que se viu na tal reunião do grupo estratégico da Fórmula 1, duas semanas atrás, não é o que vem por aí. Como assim trazer o reabastecimento de volta? Ele não foi banido para baixar custos e tornar as corridas mais facilmente compreensíveis?

Uma breve palavra sobre a confusão da Mercedes em Mônaco, determinando o resultado da corrida: segundo Niki Lauda, há gente demais que decide na equipe.

Creio que a frase do austríaco depõe em favor da minha sugestão.

Ah, sim: as luvas usadas pelos pilotos (pelo menos os da Mercedes) já têm dois sticks de patrocinadores…

Em minha coluna “Clangor” informei aos leitores que os atuais detentores dos direitos comerciais da Fórmula 1 precisarão necessariamente vendê-los no futuro próximo, de forma a cumprir compromissos assumidos com os investidores que proveram os recursos para o negócio. A seguir mais algumas informações sobre o tema:

– a CVC, detentora de 63,4% das ações do braço comercial da Fórmula 1, prometeu reembolsar os investidores até 2018.

– A situação é mais urgente no banco Lehman Brothers, concordatário desde 2008 e que detém 15,3% da categoria: ele prometeu aos seus credores reembolsa-los no ano passado.

– CVC e Lehman Brothers tentaram vender as suas participações na Fórmula 1 de forma gradual na bolsa de valores de Singapura mas não conseguiram fazê-lo no volume desejado, muito provavelmente porque do ponto de vista de finanças e compliance, os negócios da categoria ainda são por demais obscuros. Por isso, as suas ações são negociadas na bolsa de Singapura e não da Alemanha ou Inglaterra, por exemplo.

– Numa entrevista recente a AutoSprint, Bernie Ecclestone tratou de jogar água na fervura, informando que a CVC pode cumprir sua obrigação para com os investidores simplesmente revendendo a participação para outra empresa do mesmo grupo. Não sou capaz de dizer se Bernie disse isso como mera estratégia negocial ou se, de fato, tal manobra é possível.

Na mesma entrevista, Bernie esclareceu que a Fórmula 1, como categoria, faturou no ano passado, cerca de US$ 1,350 bilhão. Deste total, cerca de US$ 900 milhões foram rateados entre às equipes.

A estes valores devem ser somados os patrocínios conseguidos diretamente pelas equipes para se chegar ao total de dinheiro movimentado pela categoria.

Para quem se interessa pelos aspectos biológicos do esporte, recomenda-se a leitura do livro “The Professor in the Cage”, de Jonathan Gottschall, ainda sem tradução para o português.

Brevemente resenhado por Hélio Schwartsman em coluna recente na Folha de S.Paulo, o livro reduz o esporte a um fundamento estritamente biológico: ao mesmo tempo em que dá margem ao instituto agressivo do homem (e o livro demonstra ser o esporte uma atividade tipicamente masculina, às quais as mulheres aderem – percepção minha – mais por emulação do que por necessidade), o esporte oferece tanto aos mais fracos quanto aos mais fortes maiores probabilidades de saírem vivos da disputa.

Ou seja, nos campos, quadras, pistas e arquibancadas (os estudos de Gottschall abrangem tanto os esportistas quanto os torcedores), estamos fazendo pouco mais do que seguir instintos primitivos. Quem disse que o ser humano é tão diferente assim dos outros animais?

Leia a coluna completa de Hélio Schwartsman clicando aqui.

Boa semana a todos

Eduardo Correa

Eduardo Correa
Eduardo Correa
Jornalista, autor do livro "Fórmula 1, Pela Glória e Pela Pátria", acompanha a categoria desde 1968

12 Comments

  1. Arthur Luz disse:

    Todos os esportes estão em crise, e logicamente, a Formula 1 também.

    Sempre existiram pilotos pagantes, o problema é que existiam tantas equipes que isso passava quase que desapercebido. Um dos motivos que faziam esses pilotos terem pouco destaque era que lá na frente haviam uns 8 caras que pilotavam muito, e desses 8 apenas 6 pontuavam. Quem entrasse na zona de pontuação que não fosse desses 8 pilotos, já era considerado herói.

    Outra coisa, os carros eram muito mais sensíveis e quebravam com facilidade. Então, muitas vezes o piloto pagante acabava quebrando logo no começo. Só que hoje o carro não quebra (menos as Mclarens). Fora essas coisas, tem mais um monte de coisa que havia antes e que deixa muita gente com saudade.

    Uma boa corrida não se faz com 80 ultrapassagens, mas sim com ultrapassagens na hora certa. DRS não ajuda em nada, só banaliza a ultrapassagem. Se tirassem isso e fizessem carros que conseguissem andar mais próximos, isto é, com mais aderência mecânica, a coisa toda fluiria muito melhor.

    Não ligo se os motores são híbridos, mas que fossem biturbos e com mais de 1000cv.
    Os pneus tinham que ser de alta performance e duráveis, pelo menos umas 30 voltas andando no limite.
    As pistas são outro problema, mas se os carros andassem mais próximos, não precisariam esperar uma reta de 50Km pra abrir a asa e depois fazer um cotovelo em 1ª marcha.
    Outro problema das pistas pra mim, é a área de escape. O piloto entra e sai da pista e nada acontece. Se não quer botar grama, fazendo um paralelo moderno à areia, bota uma asfalto tão áspero e irregular que vai lixar tudo e acabar com a corrida do piloto.

    O resto, fica liberado.

    abraço,
    Arthur

  2. Fernando Marques disse:

    Eduardo,

    está vendo , quando voce imagina não mais haver sugestões aparece um monte de uma vez só aparecem e todas de bons gostos … hehehehe
    Hoje pela manha, ouvindo um programa na radio, o tema era que num futuro próximo de 20 anos algumas profissões os robôs estarão substituindo o ser humano na tarefa de conduzi-las … como atendente de telemarketing, na area de contabilidade e possivelmente na de motorista …
    Pois bem a Formula 1 segue num rumo onde em breve serão os robôs que pilotarão o carro … o avanço tecnológico segue por esse rumo …
    o que eu proponho então é duas formulas 1. Uma como seres humanos como pilotos, carros mais simples com 3 pedais, cambio manual, pneus mais largos, sem DSR, etc e etc … a outra Formula 1 teria toda a tecnologia possível e com robôs no comando do volante … não vejo outro jeito de humanizar a Formula 1 a não ser este …

    Fernando MArques

  3. Bela coluna Edu,

    A F1 atual é um pouco do que sempre cobramos dela nos anos anteriores e agora… estamos querendo voltar para o que era antes!
    Sobre o DRS, acho uma ótima ideia, mas imensamente mal gerida na F1. Nos anos 80, o ‘DRS’ da época era a pressão do turbo, onde o piloto de 30 anos atrás poderia aumentar ou diminuir a potência do seu carro dependendo de sua necessidade. Se precisasse fazer uma ultrapassagem ou ganhar tempo, aumentava-se a pressão do turbo. Se a necessidade fosse economizar combustível ou preservar o carro, diminui-se a pressão do turbo. Isso, os pilotos faziam pelo ‘feeling’, pois sabiam que andar com a pressão do turbo lá em cima o tempo todo, o motor iria pelos ares. Voltando aos tempos atuais, ao invés da complicação toda da utilização do ‘DRS’ (em determinado local, se estiver 1s ou menos do adversário da frente), simplesmente estabelece um número ‘X’ de oportunidades de se utilizar o ‘DRS’ quando o piloto bem entender. Ah! E proibindo as equipes e engenheiros de gerir isso também. Tudo fica na mão do piloto. Como nos ‘velhos’ tempos…

    • Mauro Santana disse:

      A sua ideia é interessante, João Carlos.

      Mas, eu acho que seria mais interessante a volta do Buster na F1, pois os motores não são turbo?!

      Com certeza seria mais a “cara” da F1 do que estas asas móveis.

      Abraço!!!

      Mauro Santana
      Curitiba-PR

    • Marcelo C.Souza disse:

      Assino embaixo,João Carlos!!! Contigo contigo em número,gênero e grau!

      A F-1 precisa aplicar regras mais simples e coerentes no seu regulamento para voltar a ser a categoria atraente das décadas de 80 e começo de 90,e uma dessas mudanças seria deixar o uso da asa traseira móvel(ou seja,o DRS) totalmente a critério do piloto. Com isto,o piloto que estivesse à frente também poderia utilizá-la a fim de se defender de uma tentativa de ultrapassagem,exigindo mais perícia e arrojo do piloto que viesse atrás.

      Marcelo C.Souza

      • Lucas dos Santos disse:

        Mas aí cairíamos no problema que havia antes da implementação da asa móvel: se o piloto de trás abrisse a asa para ultrapassar ao mesmo tempo em que o da frente abrisse para se defender, ninguém ultrapassaria ninguém e a corrida ficaria, teoricamente, monótona.

        No modelo atual, se o piloto da frente não quiser ser ultrapassado, basta andar rápido o suficiente para manter a distância acima de 1 segundo para o piloto de trás, impedindo, desta forma, o acionamento da asa móvel.

        E tem piloto que, mesmo utilizando o DRS, não consegue efetuar a ultrapassagem de jeito nenhum e acaba ficando “preso” atrás de um carro mais lento – normalmente em uma estratégia diferente – perdendo um tempo precioso até que este entre nos boxes e libere o caminho.

        Enfim, é uma equação complicada de se resolver: ou se tem uma corrida cheia de ultrapassagens artificiais, ou não se tem ultrapassagem nenhuma!

        • Mauro Santana disse:

          O certo e bom mesmo, seria se tivéssemos novamente os 3 pedais para os pilotos comandarem.

          Tipo, não precisava voltar ao câmbio manual(não que eu não goste, eu até prefiro, mas, sabemos que isso não volta mais), mas assim, eles teriam que voltar a fazer o punta taco, e aí, somado a carros mais largos, curtos, com pneus mais largos, e uma variedade de motores V8, V10 e V12, talvez a F1 voltaria a andar no trilho.

          Esses pilotos de hoje em dia o que iriam quebrar de câmbio durante as corridas(caso uma alma abençoada resolva dar uma canetada pra volta do câmbio manual), seria um show a parte para o público.

          Vejam neste vídeo aos 3m40s o alemãozinho quase mandando a robusta caixa de câmbio da Ferrari do Berger para o espaço.

          É pra rir.

          rsrsrs

          https://www.youtube.com/watch?v=Cwhn4TgJOQg

          Abraço!

          Mauro Santana
          Curitiba-PR

  4. Mauro Santana disse:

    Bela coluna Edu!

    Realmente, concordo com o Fernando, e digo mais:

    Por mais que exista tecnologia pesada na motogp, ela ainda é uma corrida de motos.

    Nos últimos anos, a F1 ficou tão perdida em tecnologia, que esta para um caminho tão negro do qual pode não se tornar mais uma corrida de carros.

    Parece loucura minha, mas é bem por aí.

    E a respeito das asas móveis que facilitam as ultrapassagens, eu as compararia com uma partida de futebol sem os dois goleiros.

    Ou seja, os gols vão sair aos montes, mas, nunca terá o mesmo prestigio.

    É…, ou F1 se espelha no seu rico passado, ou sei lá o que de pior pode vir a acontecer.

    Abraço!

    Mauro Santana
    Curitiba-PR

    • Lucas dos Santos disse:

      Para a Fórmula 1 voltar a ser uma corrida de carros, é necessário acabar com o que eu chamo de “desafios paralelos” e manter o foco apenas e tão somente na corrida.

      Chega de obrigar o piloto a andar com um composto de pneu que não lhe favorece, a fazer uma parada desnecessária nos boxes, obrigar os dez primeiros a largarem com pneus usados, e vários outros “desafios” que nem lembro mais.

      A corrida deveria se resumir a unicamente ver quem consegue percorrer os 305 km – ou o que for possível percorrer dentro do limite de 2 horas – e nada mais do que isso. Sem esse monte de “obstáculos” colocados artificialmente a fim de “dar mais emoção” e fazer os pilotos de palhaços.

      E deveriam rever os critérios para se admitir novos pilotos na categoria, de modo a haver uma equivalência de habilidades. Só deveria ingressar na Fórmula 1, por exemplo, apenas os pilotos que passaram por todas as categorias de base e tendo vencido tudo por onde passaram. Ou seja, somente os melhores entre os melhores é que teriam o privilégio de correr em uma categoria extremamente seleta. Isso certamente elevaria o nível das corridas e diminuiria bastante a diferença entre pilotos, permanecendo apenas as diferenças entre equipes.

      • Mauro Santana disse:

        Falou Tudo Lucas!!!!

        Aonde já se viu, uma categoria “máxima” do automobilismo, tendo no grid pilotos pagantes de péssimo nível.

        Abraço!

        Mauro Santana
        Curitiba-PR

  5. Fernando Marques disse:

    Eduardo,

    a Formula 1 deveria copiar ou fazer um bom estudo a respeito do que a o Mundial de Motovelocidade faz para equilibrar as forças entre as grandes marcas e equipes da categoria … não existe esporte de velocidade para apreciar melhor que a Moto GP …
    Veja o que acontece hoje … a Yamaha parece ter a melhor motocicleta mas isto não impede que a Honda e a Ducati ao menos proporcionem bons pegas e brigas por vitorias ou melhores colocações nas corridas com ela …
    Neste fim de semana em Muggelo, novamente as 3 grandes da categoria deram um show de combatividade e disputa esportiva nas pistas …
    O que a Formula 1 nos anos 70 e 80 tinha de mais bacana era exatamente isso … tinha sempre Lotus, Brabham, Tyrrel, Ferrari, Willians, Mclaren brigando por titulos e vitorias … havia sempre uma equipe dominante mas havia equlibrio … a distancia entre um e outro não era tão grande como hoje …
    O que mais a meu ver está tirando do ser humano o espirito esportivo de ser é a evolução tecnológica do mundo … isto vale para todos os esportes … e vale muito dinheiro …

    Fernando Marques
    Niterói RJ

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