Situação Familiar

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O GP da Inglaterra de 2012 está mostrando que a temporada desse ano está configurando um "déja-vu" de 2010.

Alonso mantém seu brilhantismo e, apesar de não contar com o melhor carro, é muito consistente e lidera o certame, porém sem folga. Webber está em 2º, com discurso de “nada mau para o segundo piloto”, um pouco à frente do favorito da equipe, Vettel, o 3º. Hamilton é 4º, correndo por fora, bem à frente de Button, que começou bem a temporada, mas agora está totalmente fora do círculo do favoritismo. Massa, sem conseguir acompanhar seu colega de time, também é carta fora do baralho há muito tempo.

Sim, amigos, depois desta boa corrida em Silverstone, temos uma situação familiar. Colocando talvez um ponto final na imprevisibilidade que tanto fez a F1 2012 ser comparada na mídia a 1982 ou 1983 (sempre de um modo a não deixar minimamente satisfeito este estudioso da Era Turbo…), temos finalmente indícios de polarização. E repentinamente o atual campeonato toma a cara da temporada 2010.

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A vitória de Webber na Grã-Bretanha (como em 2010…) aparentemente confirma que o novo pacote de atualização da Red Bull é um passo à frente da concorrência, algo que já pôde ser sentido em Valencia. E para ser ainda mais a cara de 2010, o carro apresentou uma falha que levou Vettel a abandonar a prova europeia enquanto líder, com um alternador que entrou em colapso. Vimos dois anos atrás vários abandonos dos carros do energético. E várias vezes em que isso acontecia, lá estava certo asturiano do carro vermelho a coletar vitórias e pontos importantes.

A McLaren não conseguiu aproveitar o começo da temporada com melhor carro e segue em queda livre. Um indício de que as coisas não vão bem é que, sem conseguir alcançar os pontos da Red Bull, a McLaren também foi ultrapassada por Ferrari e Lotus em Silverstone, despencando para a 4ª posição.

A Ferrari estava atrás da Lotus, e só conseguiu erguer-se no campeonato de construtores quando Felipe Massa finalmente oferece uma contribuição de pontos satisfatória. Os 12 pontos de seu 4º lugar são mais que os 11 pontos que havia coletado em todas as provas anteriores. O temor é que um rompante de desempenho tenha vindo tarde demais. Há muitos candidatos para o segundo assento da Ferrari – até Webber, que não tem contrato para o próximo ano e é amigão de Alonso.

A Lotus, por sua vez, demonstrou que tem um ótimo carro e fica cada vez mais perto da vitória. Kimi Räikkönen marcou a volta mais rápida da prova, na antepenúltima passagem. Poucos se dão conta, mas enquanto Sebastian Vettel é o Mr. Pole Position, o Iceman é um fenômeno no cartel das voltas mais rápidas. Em Silverstone, o finlandês cravou sua 37ª na carreira, e está a apenas quatro de igualar Alain Prost, o segundo da lista. Schumacher tem 76, número difícil de alcançar. Quanto a Romain Grosjean, escrevo mais adiante, pois o desempenho dele também é digno de análise.

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Só para não perder o costume, devemos ter atenção especial aos pneus, pois eles foram decisivos para o desfecho da corrida. A chuva marcou presença em toda a sexta-feira e na qualificação, e equipes obtiveram dados de comportamento, decaída e desgaste dos pneus secos apenas no treino livre do sábado. Para Silverstone, a Pirelli enviou os compostos macios (soft, amarelos), e os duros (hard, prateados) – apenas lembrando que ambos são separados pelos pneus médios, de faixa branca.

Os pneus duros mostraram um bom compromisso entre desempenho e desgaste. Mas os macios eram simplesmente horríveis, uma péssima escolha da Pirelli, pois decaíam vertiginosamente em meia dúzia de voltas. Pior: nem ao menos eram mais rápidos quando novos. E eis que novamente a regra estúpida da obrigatoriedade do uso dos dois compostos foi fator preponderante.

Dos dez primeiros, apenas Alonso e Hamilton largaram com pneus duros. O espanhol, ameaçado a perder sua liderança na 1ª rodada de pits para Webber, teve que parar relativamente cedo (15 voltas), e colocou seu jogo macio apenas no stint final, justamente quando foi surpreendido por Webber e perdeu a liderança. Ora bolas, agora sabemos que a vitória de Webber foi construída no momento em que ele, que largou com os pneus amarelos, conseguiu tirar leite de pedra e acompanhar Alonso nas primeiras 14 voltas.

A derrota de Alonso não foi o único exemplo da péssima qualidade dos softs Pirelli. Nico Hülkenberg, que se manteve bravamente na zona de pontuação por toda a corrida, foi superado nas voltas finais – inclusive por Bruno Senna – porque estava com os tais softs.

Mas o exemplo mais convincente é o de Romain Grosjean. Ele largou de softs, mas bateu em Paul di Resta na largada, sendo obrigado a trocar o bico logo na volta 2. Realizou, então, uma prova com dois stints longos (24 e 26 voltas) montado em hards… Foi autor provisório da melhor volta da prova por várias vezes, até ser batido pelo companheiro Kimi. De último colocado, terminou em excelente 6º lugar, apenas 7s atrás de Kimi!

Esse desempenho me oferece uma pista para entender o que diabos está acontecendo com Button, quem eu tanto elogio. Inexplicavelmente ele não está bem e o motivo só pode estar nos Pirellis deste ano. Aparentemente, a condução supersuave do inglês não é mais um diferencial na conservação dos pneus, como no ano anterior. A borracha parece se desgastar de qualquer forma, dependendo basicamente do carro. Deste modo, pilotos mais selvagens, que atacam zebras como se estivessem num off-road, ganham vantagem este ano.

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Estava terminando meu texto quando percebi que eu não havia escrito nada sobre Pastor Maldonado e sua refinada arte de esfregar tinta e receber punições dos comissários de prova. O último capítulo foi um ippon na volta 11 no pobre Checo Pérez, que saiu fulo da vida.

E então tenho um ataque de risos ao ver uma postagem do amigo Marcel Pilatti em nosso Facebook. Um blog inglês fez um vídeo que compara a pilotagem do venezuelano ao famigerado Mario Kart, game em que a pancadaria rola solta e as artimanhas para eliminar os concorrentes são liberadas. Para quem é da geração dos 16 bits, vai entender e rir muito também.

É às gargalhadas que mando meu abraço a todos!

Lucas Giavoni
Lucas Giavoni
Mestre em Comunicação e Cultura, é jornalista e pesquisador acadêmico do esporte a motor. É entusiasta da Era Turbo da F1, da Indy 500 e de Le Mans.

3 Comments

  1. Alexandre disse:

    Eu penso que Ferrari e RedBull tem carros no mesmo nivel. So isso explica Massa correndo no top 5. Massa é um piloto q precisa de um carro mto bom pra mostrar velocidade.
    A Ferrari deu mta sorte esse ano que os pneus nivelaram a coisa por baixo no inicio da temporada. Pouco importava quem tinha o melhor carro…

  2. Fernando Marques disse:

    Infelizmente só pude acompnahar as ultimas 10 voltas do GP da Ingflaterra por motivos profissionais. Bem que o Flaviz disse que minhas apostas não tinham ido para cucuias. A Red Bul em pista seca acabou sendo a melhor. Errei ao apostar em Vettel até por que sinceramente não estava dando credito ao M. Webber. Mas creio que irei rever meus conceitos em relação ao austuriano após esta vitoria em Silverstone. A ultrapassagem que ele fez sobre Alonso é digna de elogios e coloca ele merecidamente no hall dos favoritos ao titulo deste ano. Ele vai dar trabalho se continuar assim.
    Lucas o Webber renovou com a Red Bull … estou achando que a Ferrari vai manter MAssa em 2013. Mudanças radicais só para 2014.

    Fernando Marques
    Niterói RJ

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