Um sábado de sol em Interlagos

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Só criando novos talentos e deixando eles aparecerem é que as arquibancadas não ficarão vazias, com as de Interlagos naquele sábado de sol, quando foram disputadas as 6 Horas de São Paulo.

Era um sábado de sol quando fui a Interlagos para ver de perto a prova das 6 Horas de São Paulo. Ela faz parte de um campeonato que tem uma corrida que ainda hei de ver – Le Mans! Qual grande fã de automobilismo não tem vontade de reunir as maiores disputas de carros na pista no seu rol de eventos já presenciados? Eu tenho. Assistir a uma grande prova da Nascar, outra da Indy, uma muito legal da DTM, a da Fórmula 1 obviamente, WRC, WTCC, Rally Dakar, enfim, são tantas…

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Mas, como não tive a chance ainda de acompanhar esses protótipos na França, fui à Zona Sul de São Paulo mesmo. Os carros não deixaram nada a dever, o Audi E-tron Quattro, e o Toyota TS030, lá estavam. Eu ainda não tinha visto esses carros de perto na pista. Já os tinha visto em Goodwood este ano, onde ninguém menos que o próprio Emerson Fittipaldi os apresentou a mim. Lá em território inglês, os membros do time japonês da Toyota falavam da decepção da quebra em Le Mans e da projeção otimista para São Paulo. Lembravam com nostalgia da alegria da arquibancadas na Fórmula 1, visto por eles ainda quando a Toyota tinha sua equipe – boa parte dos integrantes fez parte daquele time. Em Goodwood, me explicaram o funcionamento da motorização elétrica e a aplicação de força somente no eixo traseiro (uma tecnologia bastante parecida à utilizada no carro de passeio Prius), o que se diferencia bastante dos carros da Audi.

Em Goodwood ainda, os alemães falavam de sua tração integral e das maravilhas de última geração. Por dentro, segundo o próprio Emerson, além dos comandos todos que o piloto tem a mão e toda a visualização das condições do motor e gerenciamento do carro, o que chamou a atenção foi a visibilidade. Emerson, mesmo já acostumando também a carros de turismo, ficou impressionado com a pouca visibilidade, devido ao túnel que dividi o cockpit.

Mas, enfim, voltando àquele sábado de sol, muito me empolguei pelos carros e a competição em si. Como tinha visto muita publicidade envolvida, esperava um autódromo tomado de gente. Logo nos arredores, os flanelinhas ofereciam compra e venda de ingressos, como na Fórmula 1, o que me deixou mais crente ainda sobre a presença de público. No entanto, qual não foi minha decepção quando do paddock club vi as arquibancadas vazias, pouquíssimas pessoas ocupando assento diante da reta principal em frente aos boxes. E é uma prova tão legal, de uma categoria tão bacana! Que deu pena de ver. Espero realmente que tenha sido somente pela ocasião da prova de estréia no Brasil, e uma possível associação e relação entre público e prova se estreite, e que nos anos seguintes o público compareça.

Porém, fiquei sabendo também que os preços não ajudaram em nada. Setenta reais pelo ingresso! É muito caro. Muitos afirmam que por ser um evento internacional, uma prova deste porte, e “barari barara”, o preço é justo. Não digo que não é, mas justamente pelo fato de ter sido a estréia da prova no Brasil, e a corrida estar ainda buscando seu público por aqui, melhor teria sido 10 pessoas pagando 7 Reais, do que uma pagando 70! Enfim, mas como de matemática e de sistemas financeiros sei muito pouco, fica aqui somente esta minha impressão.

Na pista, que é o que entendo mais, a vitória da Toyota não chegou a surpreender. Nos treinos, ela já mostrava que estava muito bem (talvez, como um dos membros ingleses da equipe me disse, a caipirinha ajudou!). A Audi falou muito bem de Lucas di Grassi no volante do E-Tron, e eu também gostei muito da participação dele. Aliás, acho que Lucas foi muito injustiçado pelo automobilismo, é um baita piloto! Faltaram oportunidades, vagas, tempo… Esses elementos malucos que na soma contribuem para ajudar com que o piloto mostre seu trabalho de forma eficaz.

Por falar em Lucas, que nas temporadas que disputou na GP2, deixou registrada sua habilidade, a categoria chegou ao fim em Cingapura e como não ocorria desde seu ano de estréia, há 8 anos, o campeonato só foi decido na última etapa, na penúltima prova.

Já tinha expresso, aqui no GPTotal, minha torcida pelo Luiz Razia, não só pelo nacionalismo de ser brasileiro, mas sim pela briga que mostrou na pista ao longo da temporada – confirmação disto é que até na última corrida, com a posição final de campeonato já decidida, disputou posição até a metros da linha de chegada. O italiano Davide Valsecchi levou o título, mas é um piloto apagado aos olhos da Fórmula 1, não se ouve falar dele na categoria – pode até ser que eu queime a língua, mas não sei se vai virar na F1. Lembrando que nos últimos anos, campeões e vices da GP2, efetivaram presença, ou até mesmo já tinham passado por ela, como Giorgio Pantano em 2008. Razia, após quatro vitórias e nove pódios, tem conversado com algumas equipes e recebido elogios como os de Christian Horner, “team principal” da Red Bull, e Emerson Fittipaldi. Toro Rosso, Force Índia e talvez alguma outra surpresa apareça – ele tem um teste agendado com o time B da Red Bull, em Abu Dhabi, em novembro.

O que achei mais louvável na posição conquistada por Razia em 2012 foi justamente o fato de conseguir a proeza de não contar com patrocinadores pesados para isso. É diferente de você ter um baita respaldo e uma grande equipe trabalhando por você nos bastidores. Será bom poder ver outro brasileiro brigador na Fórmula 1.

Quanto aos outros dois brasileiros, Victor Guerin não marcou pontos, não tenho muito o que dizer, vi poucas imagens dele na pista. E quanto a Felipe Nasr, fez bonito, belas disputas, boas colocações na prova, mas também prefiro esperar mais uma temporada. Como diz um amigo meu – ligado a um esporte que envolve uma bola, um gramado e a simples atuação física dos pés e por vezes da cabeça para garantir a vitória – jogar um campeonato bem é fácil como estreante; difícil é provar nos anos seguintes, mesmo que outros jogos em categorias inferiores já tenham sido vencidos. No entanto, a impressão deixada em 2012 por Nasr foi muito positiva.

Resta torcer para que emplaquem, e muitos outros também. Só criando novos talentos e deixando eles aparecerem é que as arquibancadas não ficarão mais vazias, com as de Interlagos naquele sábado de sol.

Até!

Tiago Toricelli

tiagotoricelli@hotmail.com

Tiago Toricelli
Tiago Toricelli
Jornalista, autor de "Rally dos Sertões" e "Manual do Alpinista de Primeira Montanha". Já cobriu 12 temporadas de F1 (CBN) e acompanhou de perto as principais categorias da velocidade.

4 Comments

  1. Fernando Marques disse:

    Acho que durante esta pane no site muita coisa aconteceu na Formula 1, inclusive permitindo ao GP Total alguma previsão para a temporada de 2013.
    Com relação a GP-2 creio que o futuro do Brasil na Formula 1 está ligado diretamente ao sucesso do Luiz Razia e Felipe NArz daqui pra frente. Serão eles os brasileiros por quem nós vamos torcer, daqui pra frente até por que não dá mais para torcer pelo MAssa e Bruno Senna se as coisas continuarem assim como estão. Nem mesmo se o MAssa continuar na Ferrari.

    Fernando Marques
    Niterói RJ

  2. Edu disse:

    Já voltamos a funcionar!

    Desculpem a nossa falha

    Edu

  3. Fernando Marques disse:

    teste

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