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Em 1932 a Coppa Ciano, disputada no circuito chamado de Montenero, teria sua 12a. edição (a 6a. para carros de corrida, também conhecidos como Grand Prix, antes era dedicada a carros esporte).

Estradas que beiravam o mar Tirreno, iniciando em Ardenza Mare e seguindo para Montenero, Savolano, Castellagio, completando a volta na primeira localidade.

20km lotados de curvas de todos os tipos, entre penhascos litorâneos e montanhas.

Os carros estavam divididos em 2 categorias. Com motor até 1,1L e acima disso, os primeiros tendo que cumprir 8 voltas e os últimos 10.

Esta prova ocorria na mesma data do GP de Nice mas era considerada mais importante, por ser tradicional e porque valia para o campeonato italiano.

Uma razão oculta é que não havia nenhuma equipe em condições de vencer a Alfa Romeo, conforme se viu nas principais corridas do ano, após a introdução da monoposto TipoB/P3, o mais avançado carro de corrida da época.

E a Alfa veio com força total: as duas 2,6L Tipo B/P3 para Tazio Nuvolari e Mario Umberto Borzacchini e uma Monza 2,3L 8 cilindros para Giuseppe Campari.

Poucos meses antes Borzacchini tinha obtido a autorização para mudar seu próprio nome de batismo, Baconin, imposto por seu pai, admirador do anarquista russo Mikhail Bakunin, para um nome que homenageava Umberto, o príncipe herdeiro da casa de Savoia, reinante na Italia.

Evidente que não compartilhava as preferências ideológicas de seu genitor.

O único rival que poderia ameaçar esse trio era Achille Varzi, com sua Bugatti T51 vermelha particular, 2,3L 8 cilindros. Ele também preferia esta prova, mesmo sem o apoio oficial da Bugatti. Todos os esforços desta para romper a hegemonia da montadora milanesa tinham sido infrutíferos nesse ano, mas Achille, visto como traidor por parte dos tifosi, por estar correndo por uma montadora francesa, talvez não quisesse se afastar muito de suas raízes, seus amigos, seu habitat original.

A Scuderia Ferrari inscreveu os modelos anteriores da Alfa, quatro Monza, para Piero Taruffi, Pietro Ghersi, Guido D’Ippolito e o Conde Antonio Brivio.

Renato Balestrero e Eugenio Fontana também pilotariam Alfa Monza.

Secondo Corsi, Ferdinando Barbieri e a Sra. Vittoria Orsini se inscreveram para pilotar Maserati tipo 26, 1,5L 8 cilindros. O Conde Luigi Castelbarco alinhou uma 26M, 2,5L 8 cilindros.

Clemente Biondetti trouxe sua já conhecida MB Speciale, uma Maserati-Bugatti 2,5L 8 cilindros modificada e o Conde Luigi Premoli sua B. M. P. originada de uma Bugatti 3,0L.

Silvio Rondina se apresentou com uma OM 665 de 6 cilindros, 2,2L.

Na classe abaixo, até 1.100L, se destacavam as Maserati 4CM do Principe Cerami e de Francesco Matrullo, além da 26C oficial, pilotada por Amedeo Ruggeri.

Albino Pratesi inscreveu uma Salmson de 1,1L e Luigi del Re um Fiat-Lombard AL3 1,1L de 4 cilindros, compondo um grid total de 17 carros.

Estima-se que o público atingia 60.000 pessoas, o que oferece uma boa medida da importância da prova.

Conscientes de que o circuito era essencialmente sinuoso e repleto de trechos montanhosos, os organizadores decidiram reduzir os riscos dividindo a largada em grupos de três carros por vez, com um minuto de intervalo entre cada grupo.

A primeira fila era composta por Rondina, Varzi e Corsi, largando às 15:30.

A segunda, Fontana, Castelbarco, Biondetti.

A terceira, Balestrero e a Senhora Orsini. A quarta, Ghersi, Brivio e Campari, depois Matrullo, e Cerami. O grupo restante era composto por D’Ippolito e Premoli.

Dia ensolarado e quente.

Largando no primeiro grupo, Varzi logo se impõe e cruza a linha em primeiro, virando em 14’08”.

Biondetti aparece 2 minutos depois mas vai direto aos boxes, parando por 1’30” para trocar velas. O terceiro é Corsi, 3 minutos atrás do ponteiro.

A seguir passam Campari, Ghersi, Rondina e Brivio.

De repente a audiência começa a aplaudir, entusiasticamente.

É Tazio quem vem a seguir, completando a volta em 13’52”, seguido por Balestrero, Borzacchini, Fontana, Castelbarco, Taruffi, Orsini e D’Ippolito.

Antes de Calafuria há uma descida. “Gigi” Premoli acerta um marco de pedra da estrada nesse local. Uma roda traseira se solta e, consequentemente, o carro inicia uma derrapagem, que se transforma em uma capotagem e vai parar em uma ravina. Aparentemente sai apenas com o ombro machucado e vários outros ferimentos sem gravidade. Uma ambulância o leva ao hospital de Rosignano. Lá constataram que ele tinha batido a cabeça, o que indica a possibilidade de consequências bem mais graves logo ele deverá ficar um período em observação.

No tempo compensado a ordem dos carros era diferente do que se via na pista.

Nuvolari já estava na liderança, seguido por Varzi, Borzacchini, Campari, Taruffi (até aqui o melhor dos ferraristas), Ghersi, Brivio, D’Ippolito, Castelbarco, Biondetti, Balestrero, Corsi, Fontana, Rondina e a sra. Orsini.

Na classe até 1,1L Cerami liderava (15’57”), seguido por Matrullo, Pratesi, Ruggeri e Del Re, este a quase 2 minutos de distância do príncipe.

Varzi melhora seu tempo na segunda volta para 14’01”, mas Tazio vira em 13’55”.             Mario Umberto faz ainda melhor, assinalando 13’46″2, média de 87,146km/h e ultrapassando o galliatese no tempo corrigido.

A ordem então era: Tazio 27’47”, Borzacchini 27’52”, Achille 28’09”, Campari 28’28”, Taruffi 28’45”, Ghersi 29’18”, Brivio 29’25”, D’Ippolito 29’51”, Castelbarco 31’24″ e Biondetti 31’58”.

Na categoria abaixo Cerami segue liderando, seguido por Matrullo, Pratesi e Ruggeri.

A sra. Orsini se retira devido a um mal estar após completar a terceira volta. Aquele traçado sinuoso, repleto de subidas e descidas radicais beirando o mar, era mesmo muito desafiador.

Tazio cruza a linha batendo o recorde, 13’42”2, média de 87.570km/h. Varzi não deve ter gostado nada porque a marca anterior, 14’00”6, média de 85.652km/h era sua.

Após o trio líder vinham Campari, Taruffi, Ghersi, Brivio, D’Ippolito, Biondetti, Balestrero, Castelbarco, Corsi, Rondina, Fontana.

Na 1,1L, Cerami e Matrullo continuam em suas posições, agora seguidos por Del Re.

O príncipe marca seu melhor tempo, 15’53”8, média de 75,5km/h nessa volta 3.

Na seguinte Achille cede mais terreno para Borzacchini, que vira no mesmo tempo que Tazio, 13’45”. Os demais seguem sem alteração, apenas Taruffi diminui a distância para Campari.

Mais atrás, Cerami, Matrullo, Pratesi, Del Re com Ruggeri fechando a fila, mau prenúncio para a Maserati oficial.

Quinta volta e a novidade é que Borzacchini está a apenas 9 segundos do mantuano, ao passo que o galliatese já anda mais de um minuto atrás do líder. Os demais mantém suas posições, mas Brivio se apresenta para lutar pela sexta posição. Ele passou 8 segundos atrás de Ghersi na primeira volta, tirou um segundo na segunda, quatro na terceira e agora a diferença era de dois apenas. A prova já durava mais de uma hora.

Para piorar a posição da Maserati oficial Ruggeri abandona. Na 1,1L as posições não se alteram e ficarão assim até o final, ao menos aí são duas Maserati na frente.

A diferença entre Tazio e Mario Umberto se mantém nos 9 segundos na sexta volta mas a diferença entre Varzi e Campari diminuiu para pouco menos de 30 segundos. Brivio vira mais lentamente e Ghersi volta a respirar, agora 9 segundos à frente. Fontana abandona, com problemas mecânicos.

Na volta sete tanto Nuvolari quanto Mario diminuem o ritmo, mas a diferença entre eles aumenta para 13 segundos. Biondetti abandona, com problemas em uma roda. O líder completa 1h36m40s de prova. Del Re, lá atrás, cumpre 2h06m08s.

Na volta 8 a classe 1,1L recebe a bandeirada final, sem maiores emoções.

Tazio abre 26” sobre Borzacchini, que tem 1’43″ de vantagem sobre Achille, que vem diminuindo o ritmo, resultando em uma diferença gradativamente menor sobre Campari, agora 7 segundos. Brivio volta a se aproximar de Ghersi, apenas 3 segundos os separam.

Na volta 10, Varzi passa 1 minuto adiante de Nuvolari mas no tempo corrigido está agora atrás de Campari, portanto 4º lugar.

Giuseppe correu no estilo que consagraria Varzi, deixando para atacar no final da prova.

Tazio completa a prova em 2h18m19.4s, Borzacchini pouco mais de 25 segundos atrás.

Taruffi se mostra o melhor dos pilotos ferraristas, seguido por Ghersi, Brivio, D’Ippolito, Balestrero e Castelbarco.

Rondina e Corsi estouraram o tempo de prova e foram desclassificados.

A supremacia da Alfa B/P3 e a habilidade de Nuvolari eram absolutas neste momento do ano.

A alta classe de Achille Varzi não era nem capaz de superar uma Alfa Monza, pilotada com competência por Campari.

Como Taruffi também se destaca fica evidente que a Italia está em um momento espetacular, esbanjando tecnologia e talento em todas as áreas do automobilismo de ponta.

W (Viva!) Italia!

Até a próxima

Carlos Chiesa

Carlos Chiesa
Carlos Chiesa
Publicitário, criou campanhas para VW, Ford e Fiat. Ganhou inúmeros prêmios nessa atividade, inclusive 2 Grand Prix. Acompanha F1 desde os primeiros sucessos do Emerson Fittipaldi.

2 Comments

  1. RAFAEL FRIEDRICH RUDOLF BRANDÃO MANZ disse:

    Aguardar as publicações de todos os escribas do Gepeto é sempre recompensado com maravilhas como esta. Muito obrigado a todos Vocês.

  2. Fernando Marques disse:

    Chiesa,

    Mais uma grande história e lindas fotos.
    Clap
    Clap
    Clap

    Fernando Marques
    Niterói RJ

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