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Mike Hawthorn usava gravata-borboleta durante as corridas e isso sugeria um estilo de vida glamouroso, uma extravagância.

Até 1958, nenhum piloto britânico havia vencido o Mundial de Fórmula 1. Na fase final da temporada, Stirling Moss e Mike Hawthorn disputavam esta primazia.

Moss comentou a respeito de Hawthorn: “sua presença fez muito bem para o automobilismo, eu acho. Ele personificava um estilo de vida que atraia os jovens. Eu gostava dele, embora não fôssemos amigos íntimos. Você sabe, eu nunca fui amigo íntimo de nenhum piloto, mas alguns pilotos contaram com minha admiração”

Por mais extravagante que Hawthorn parecesse, ele estava preocupado. A temporada de 1958 estava sendo um tanto que sombria, perseguida pela tragédia. Seus companheiros de equipe na Ferrari, Luigi Musso e Peter Collins, haviam morrido depois de acidentes em Reims e Nürburgring. Alguns anos antes, Hawthorn foi protagonista do terrível acidente em Le Mans 55 e isso ainda estava fresco em sua cabeça.

 

 

Após dez rodadas, faltava apenas o GP do Marrocos.

Moss em sua Vanwall britânica precisava vencer para ser campeão, além de fazer a volta mais rápida e esperar que Hawthorn ficasse abaixo do segundo lugar. Vale lembrar que 1958 era o primeiro ano onde também estava na disputa o campeonato de construtores e que a Vanwall tinha o carro mais competitivo do ano.

Moss havia vencido três GPs até então: Argentina (onde correu com um Cooper), Holanda e Portugal, mas teve muitos abandonos, o que o deixou na vice-liderança, enquanto que Hawthorn, apesar de só ter vencido o GP da França pontuou em todas as provas menos uma. Ele tinha 29 anos e decidiu se aposentar após a corrida do Marrocos. A corrida anterior, em Monza, havia sido cinco semanas atrás e isso deu a Hawthorn tempo suficiente para refletir.

Ele havia estreado em 1952 com Cooper, foi para a Ferrari, depois para Vanwall, Maserati, BRM e de volta para a Ferrari. Surpreendentemente, em todo esse tempo, ele ganhou apenas três GPs.

Para o GP de Marrocos, Hawthorn demonstrava uma ansiedade pelo fim daquilo tudo, tendo confessado aos mais próximos não sentir mais a chama interior para pilotar. Seu negócio era terminar o GP e sair do circo da Fórmula 1, ainda mais que houve uma corrida lá no ano anterior e Hawthorn ainda se lembrava do voo “apertado e desconfortável” na Air France sem comida a bordo.

Tony Vandervell, a força motriz por trás de Vanwall, fretou um avião para Casablanca e ofereceu – ah! O cavalheirismo britânico… – um assento a Hawthorn.  Os pilotos se reuniram na quinta-feira.

Phill Hill lembrou: “Ficamos em um hotel muito elegante, que tinha portas que abriam automaticamente. Eu nunca tinha encontrado portas assim antes e fiquei terrivelmente impressionado que elas deveriam se abrir quando você se colocava no tapete na frente delas”.

Naquela noite, ao jantar, Hawthorn viu a lista de inscritos da equipe Ferrari e comentou sobre a possibilidade de ter de correr com o número 2: “A visão da lista realmente me perturbou.  Eu recebi o número 2. Sem dúvida foi em parte devido ao meu estado de nervos, mas como Peter e Luigi morreram com o número 2 no carro, pedi para que fosse alterado.”

O gerente da equipe acalmou Hawthorn, dizendo que ele poderia ter o número 6, que havia sido atribuído a outro piloto da Ferrari, Olivier Gendebien, que não era supersticioso e pegaria o 2. Phil Hill dirigia a terceira Ferrari, com o número 4.

 

 

A primeira sessão de classificação foi na sexta-feira. O circuito ficava na beira do oceano Atlântico, um circuito de rua de 7,6 km em grande parte ladeado por fardos de feno.

Hawthorn chegou aos boxes da Ferrari e viu instantaneamente que o carro de Phil Hill tinha o número 4, mas o de Gendebien ainda era o número 6. O carro de Hawthorn tinha uma tampa sobre ele. “Oh inferno, ele pensou, o número 2 está no carro e eu simplesmente não ouso olhar.

Ele teve que se acalmar novamente: sua Ferrari ainda não tinha o número prometido

Foi na sessão do sábado que o grid definitivo se formou, tendo os pilotos sidos mais rápidos no sábado. Formando a primeira fila, estavam Hawthorn como pole, seguido de Moss em segundo e Lewis-Evans em terceiro, seus tempos eram bem próximos: 2m 23,1s; 2m 23,2s; 2m 23,7s

Naquela noite Hawthorn foi a uma festa realizada pelo Embaixador Britânico e estava na cama pouco depois das 11h30.  Ele sentiu uma curiosa sensação de alívio da tensão. Quando acordou, olhou para o mar. Era um dia nublado e isso o encantou, a paisagem o tendo deixado calmo e confiante.

Antes da corrida, o rei do Marrocos apareceu em uma carreata flanqueada por guarda-costas em motocicletas, foi apresentado aos pilotos e fez seu caminho majestoso até o camarote real na arquibancada. Bandas tocaram, o sol brilhou, o dia ficava mais e mais quente.

 

 

Moss, vice-campeão em 1955, 1956 e 1957, podia virtualmente ignorar qualquer tática, partir para vencer, estabelecer a volta mais rápida e esperar que Stuart Lewis-Evans, um britânico de 28 anos em sua segunda temporada, ou Brooks nas outras Vanwalls, conseguissem o segundo lugar, o que daria o título a Moss.

Ele escreveu sobre aquele dia: “foram estressantes as cinco semanas antes da viagem ao Marrocos e devo confessar que a tensão realmente me atingiu. Eu cobicei aquele campeonato. Após a aposentadoria de Fangio, senti que era seu herdeiro natural. Apenas sua presença fora o que me havia impedido de ser campeão nas três temporadas anteriores. Isso soa como arrogância? Não acredito que tenha sido – eu ainda era um jovem e essa atitude instintiva se desenvolveu em minha mente. Mike colocou sua Ferrari na pole position depois que meu motor explodiu no treino. Na corrida, eu fiz a minha parte, o danado era que eu dependia de meus colegas de equipe para ser campeão.”

Veio a largada, Moss largou bem e assumiu a ponta, com Stuart Lewis-Evans no vácuo e Phil Hill à frente de Hawthorn. Moss fez a primeira volta em primeiro, seguido de Hill. Hawthorn por sua vez não estava particularmente preocupado que Lewis-Evans e o suíço Jo Bonnier, com BRM, estivessem na sua frente; ele se importava só com Moss e Phil Hill. Havia 53 voltas para cobrir, 403 km, e Isso levaria mais de duas horas sob um sol escaldante.

Mais algumas voltas e Hawthorn subiu para a terceira posição, acompanhando Hill atacar Moss. “Tivemos uma grande batalha desde o início”, disse Hill.

 

Concluo na 5ª-feira.

 

Boa semana

 

Mário Salustiano

 

Mário Salustiano
Mário Salustiano
Entusiasta de automobilismo desde 1972, possui especial interesse pelas histórias pessoais e como os pilotos desenvolvem suas carreiras. Gosta de paralelos entre a F1 e o cotidiano.

2 Comments

  1. Fernando Marques disse:

    Mario,

    você está cada vez melhor como contador de boas historias …
    A historia do titulo de 1958 conquistada pelo Mike Hawthorn tem belos ingredientes … os caras eram malucos mas tinham lá suas crendices …
    gostei muito … já estou ligado para parte 2 na quinta

    Fernando Marques
    Niterói RJ

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