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Imagine disputar o campeonato da NASCAR por vinte anos, tendo vencido praticamente tudo nesse período, e não conseguir uma única vitória naquela que é possivelmente a corrida mais importante da categoria. Entre 1979 e 1998, Dale Earnhardt venceu setenta corridas, obteve sete títulos de campeão e foi o piloto dominante por mais de uma década, porém, nunca havia vencido a grandiosa, e cheia de prestígio, Daytona 500.

Essa corrida é considerada um campeonato a parte na NASCAR, sendo chamada de “O Super Bowl das corridas”, ou ainda “A grande corrida americana”, tendo prestígio semelhante às 500 milhas de Indianápolis. A prova conta com duzentas voltas de duração, sendo percorridas 500 milhas (805 km) em um traçado de 2.5 milhas. A velocidade média é extremamente alta, passando de 310 km/h na classificação. Antes da introdução das placas restritoras, a média de velocidade na classificação chegou próxima de espantosos 340 km/h. Justamente por essa média de velocidade tão alta e a proximidade dos carros, os famosos “Big ones”, os acidentes envolvendo múltiplos carros, são bastante comuns durante a prova, fazendo com que ela seja também uma prova de resistência.

Mesmo com sua carreira fantástica e cheia de triunfos, Dale Earnhardt sempre teve dificuldades nessa prova. O problema não era a alta velocidade da pista, já que Dale venceu dez vezes na famosa e velocíssima Talladega, além de também ter vencido na própria pista de Daytona, na segunda corrida do ano. Seu problema sempre foi a Daytona 500. Parecia haver uma barreira mística que impedia o piloto do #3 de chegar à Victory Lane nessa grande prova do automobilismo americano.

Dale esteve perto da vitória em diversas oportunidades e seu retrospecto na pista não era ruim. Vamos ver os resultados do The Intimidator durante os vinte anos que sucederam sua estreia nessa grande prova: Em 1979, seu ano de rookie, Dale conseguiu uma excelente oitava colocação, tendo liderado a prova por 10 voltas. No ano de 1980 Dale chegou na quarta colocação, mesmo tendo largado em trigésimo segundo. Nessa prova Dale chegou a ficar em segundo lugar, mas a falta de uma rosca em uma das rodas o obrigou a fazer uma parada extra nos boxes, deixando o piloto uma volta atrás.

No terceiro ano em que disputou a Daytona 500, em 1981, Dale ficou com a quinta colocação, tendo liderado por quatro voltas. Em 1982, o carro teve problemas de motor e Dale ficou com a trigésima sexta colocação. No ano de 1983, novamente Dale teve problemas no motor e fechou a prova em trigésimo quinto. O ano de 1984 trouxe mais sorte para Earnhardt e o piloto teve uma excelente prova, disputando a liderança contra Cale Yarborough até o fim da prova, mas não foi páreo suficiente, chegando na segunda colocação.

Depois de seis Daytona 500 disputadas, Dale havia conseguido um segundo lugar, um quarto, um quinto, um oitavo e dois abandonos. Na média eram bons resultados, o que trazia esperança aos torcedores e ao próprio Dale.

O azar voltou a atormentar Dale em 1985 e novamente o carro #3 teve problemas no motor. Em 1986 parecia que Dale chegaria ao grande triunfo nas 500 milhas de Daytona, porém os problemas continuaram e enquanto estava na segunda posição, teve que fazer uma nova parada nos boxes para colocar combustível. Em 1987 ele terminou em quinto novamente, fazendo uma boa corrida. No ano de 1988 Dale usou pela primeira vez a pintura preta que se tornou característica de seus carros até o fim de sua carreira. The Intimidator ficava ainda mais intimidador, mas o resultado em Daytona foi uma modesta décima colocação.

O ano de 1989 não começou bem e o carro de Dale teve problemas durante o fim de semana, ainda sim, Earhardt terminou a prova numa boa terceira colocação, tendo liderado três voltas. No início da nova década, a sorte parecia virar e Dale largou na primeira fila. Ele dominou a prova, tendo liderado 155 voltas e tudo parecia caminhar para um grande desfecho e finalmente a tão sonhada vitória. Faltando apenas três voltas, Dale estava na liderança correndo de forma tranquila, porém faltando apenas meia volta para o final, o carro de Dale desacelerou por causa de um corte no pneu traseiro, causado por um detrito na pista. Ao fim da prova, um devastado Dale deu uma entrevista onde mal conseguiu aguentar a emoção e tristeza. “Faltava apenas meia volta…”, disse um triste Dale. Mesmo com o problema, Earhardt terminou na décima colocação.

Em 1991 um problema bizarro atrapalhou Dale enquanto liderava. Na reta oposta, seu carro atingiu um pássaro, que causou danos no radiador e fez com que um pit stop para reparos fosse necessário. O resultado final não foi ruim, uma quinta colocação. No ano de 1992, depois de se envolver em um “Big one”, Dale acabou a prova na nona colocação. Em 1993 Dale teve o carro que dominou a prova, tendo liderado por 107 voltas. Na última relargada Dale estava em primeiro, seguido por Dale Jarrett e Jeff Gordon. Infelizmente para os torcedores do #3, Earnhardt não aguentou a pressão e perdeu a primeira colocação para Jarret na última volta. Mais uma decepção na Daytona 500.


Pra curtir, na íntegra (lá pelo momento 2h20m, as voltas finais).

Para o ano de 1994, Dale era considerado o favorito, tendo largado em segundo, mas ao final chegou apenas na sétima colocação. Em 1995 Earnhardt fez outra grande prova, largando em segundo, tendo liderado vinte e três voltas, e fechando a corrida atrás do carro do dia, o #4 pilotado por Sterling Marlin. 1996 marcou a pole position pela primeira vez na Daytona 500, porém faltando apenas vinte e três voltas, Earnhardt não aguentou a pressão de Dale Jarrett, que havia trocado quatro pneus contra os dois do #3. Novamente Dale chegou na segunda colocação. Em 1997 Dale sofreu seu maior acidente em Daytona até o momento. Faltando menos de 15 voltas para o fim, Dale estava em segundo lugar quando perdeu controle do seu carro e, após um toque, capotou seu carro. Pela décima nona vez, Dale não conseguiu a vitória na maior corrida da NASCAR.

Finalmente chegou o ano de 1998 e antes da prova, Dale se encontrou com uma criança portadora de deficiência, que lhe entregou uma moeda da sorte e disse que ele ganharia a prova este ano.

Outras pessoas também disseram o mesmo para Dale e ele estava com uma boa esperança. Dale largou no quarto lugar e fez uma grande prova, liderando 107 voltas. As duas últimas voltas foram de tirar o fôlego, com Dale na liderança seguido de perto por Bobby Labonte e Mayfeld. Na reta oposto, no fim do pelotão, carros se tocam e rodam, causando uma bandeira amarela, que só seria acionada após o líder cruzar a linha de chegada. Um retardatário surge do nada na frente de Dale e a pressão é enorme por parte dos demais. Earnhardt faz um traçado defensivo e se mantem à frente de Labonte na linha de chegada. A torcida explode de emoção e o que se vê é realmente impressionante. Todas as pessoas presentes na pista estavam torcendo por esse momento, e após cruzar a linha de chegada, Dale não se contenta de emoção. Ao entrar nos boxes, todos os mecânicos de todas as equipes fazem uma fila para saudar o campeão, uma imagem sem precedentes. No Victory Lane, um emocionado Dale diz ao repórter: “Nós ganhamos! Nós ganhamos! Nós ganhamos!”.

A frase característica do narrador da prova diz tudo, “foram vintes anos de tentativa, vinte anos de frustrações, Dale Earnhardt ganha a Daytona 500, finalmente!”. E que vitória foi essa, cheia de emoção, adrenalina e muita velocidade. Os feitos de Dale Earnhardt ficaram na história, seus sete títulos e suas setenta e seis vitórias são o seu legado. Mas não podemos negar a emoção que apenas essa corrida trouxe para os fãs de automobilismo.

Foi emocionante!

Um abraço!
Rafael Mansano

Rafael Mansano
Rafael Mansano
Viciado em F1 desde pequeno, piloto de kart amador e torcedor de pilotos excepcionais.

2 Comments

  1. Mauro Santana disse:

    Grande Rafael!

    Foi mesmo um momento muito marcante, de uma emoção única.

    Guardadas as devidas proporções, lembra as tentativas do Senna de vencer em Monza e no Brasil.

    Grande abraço!

    Mauro Santana
    Curitiba-PR

    • Rafael Mansano disse:

      Bom dia, Mauro!

      A comparação faz muito sentido e concordo com você, emoção muito semelhante.

      Grande abraço!
      Rafael Mansano

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