A estranha história da Yamaha na Fórmula 1 – parte 1

Indelicado fim
09/10/2017
A estranha história da Yamaha na Fórmula 1 – final
13/10/2017

texto publicado originalmente no Notícias Motociclísticas

A Yamaha produz de tudo, desde instrumentos musicais a algumas das melhores motocicletas do mundo. Mas houve uma época em que a marca dos diapasões ousava sem limites e o ápice foi ser fornecedora de motores na Fórmula 1. Essa história você confere aqui.

Fundada no final do século XIX, a Yamaha rapidamente tornou-se um dos maiores conglomerados industriais do Japão. A divisão de motocicletas, no entanto surgiu muito depois, em 1955. Leves, esguias e rápidas, elas rapidamente fizeram sucesso e logo a marca seria tão ou mais conhecida no mundo do esporte a motor quanto por seus instrumentos musicais.

Em meados da década de 1960, a Yamaha começou a se interessar também pelas quatro rodas e aproximou-se muito da Toyota. As duas marcas passaram a ter um bom relacionamento – que mantém até hoje – e desenvolveram em conjunto o motor do carro esporte Toyota 2000GT. Os resultados foram bons, com uma vitória nos 1000 quilômetros de Suzuka de 1966.

A parceria continuou nos anos seguintes, com os modelos Toyota 1600GT e Toyota 7. Cada vez mais confiante, a Yamaha passou a projetar também iates, carrinhos de golfe, carrinhos de neve, motores de piscinas e karts. Em 1979, até um veículo do tipo todo-terreno chamado “Land Car” foi desenvolvido.

Aos poucos, a Yamaha percebeu que o automobilismo era um terreno fértil para o desenvolvimento de novas tecnologias. Em 1984, eles criaram o seu primeiro motor próprio para um carro de competição, o OX66. Esse propulsor com seis cilindros em V ganhou logo a primeira corrida que participou, no Campeonato Japonês de Fórmula 2 de 1986.

No ano seguinte, a Yamaha contou com a colaboração da famosa Cosworth para desenvolver o melhorado OX77, motor que se sagraria campeão da Formula Nippon em 1988 com o conhecido piloto Aguri Suzuki. Era um campeonato importante, onde boa parte do grid utilizava propulsores da rival Mugen-Honda.

Motivada pelo sucesso no Japão e também nas 500cc, onde Eddie Lawson acabara de se sagrar tricampeão, a Yamaha achou que já estava pronta para encarar o desafio da Fórmula 1 em 1989. A categoria, no entanto passava por um momento de transição. Os motores turbinados davam adeus e os convencionais estavam de volta. Os custos mais brandos estimularam a entrada de uma série de novas equipes e fabricantes.

1989-1992: entrando na Fórmula 1 pela porta dos fundos

Para o novo desafio, a Yamaha, criou o motor OX88, um V8 largamente baseado no Ford-Cosworth DFZ, mas com cinco válvulas por cilindro, engenharia que os japoneses acreditavam ser a solução para uma maior potência. A equipe escolhida foi a modesta Zakspeed, um pequeno time alemão que ainda lutava para se firmar. Os pilotos seriam do agrado de ambas as partes: o alemão Bernd Schneider e o campeão japonês Aguri Suzuki.

Mas ao contrário do que acontecia até então, a estreia da Yamaha na F-1 foi um desastre completo. O motor OX88 era fraco e rendia cerca de 570 cv, menos do que os rivais mais próximos da Judd (em torno dos 640 cv) e muito menos do que os Honda, os mais fortes da categoria, já beirando os 750 cavalos.

Para completar, haviam tantas equipes que faltaram lugares no grid de largada. Apenas os melhores do ano anterior estava garantidos. Para contornar isso, a Fórmula 1 criou a chamada “Pré-Classificação”: os novatos precisavam lutar pelas últimas vagas em um treino extra. Schneider conseguiu se classificar para correr em apenas duas das dezesseis corridas, enquanto Suzuki ficou de fora de todas.

O baque foi tão grande que a Zakspeed não conseguiu verba para continuar na Fórmula 1 em 1990. A Yamaha, por sua vez ficou sem equipe e aproveitou o tempo para se reorganizar em uma segunda tentativa. Um novo chefe, Takaaki Kimura assumiu o projeto e eles criaram uma empresa só para cuidar desse departamento, a Ypsilon Technology.

Com a nova gestão, a Yamaha concebeu um novo motor, o OX99. Dessa vez, os engenheiros japoneses tentaram resolver a falta de potência criando um V12, com 70 graus de inclinação e 60 válvulas (novamente cinco por cilindro). Esse propulsor, inclusive foi parar em um carro esporte, o OX99-11. Três protótipos foram construídos, mas nunca chegaram a ser produzidos em série.

O OX99 seria utilizado pela equipe Brabham, aquela mesma que deu dois títulos mundiais à Nelson Piquet. Porém, em julho de 1990, quando a parceria realizou os primeiros testes (ainda com o OX88), o time inglês era apenas a sombra do que foi um dia, com sérios problemas financeiros.

Felizmente, o OX99 era realmente um motor melhor e a Brabham uma equipe bem mais experiente. Embora ainda ocupassem as últimas posições, a Yamaha finalmente disputou suas primeiras corridas de verdade em 1991. O primeiro ponto veio no Grande Prêmio da Bélgica, pelas mãos do competente Mark Blundell, enquanto que o seu colega Martin Brundle garantiu outros dois com uma 5º posição em Suzuka, no Japão. Nada mal em uma época onde apenas os seis primeiros pontuavam.

Os três pontos, no entanto, não foram suficientes para salvar a Brabham, que resistiria apenas mais alguns meses. Vendo o barco afundar, os chefes da Yamaha resolveram – mais uma vez – mudar de equipe, indo para a Jordan em 1992. O time irlandês também tinha seus próprios problemas financeiros, mas haviam feito uma impressionante temporada de estreia no ano anterior, chamando atenção pelo bom desempenho.

https://www.youtube.com/watch?v=rnO7WujAkSE

Sem muitas modificações, o motor OX99 foi instalado no Jordan 192, mas ao contrário do que se esperava, a temporada 1992 foi sofrível. Com problemas crônicos de potência, confiabilidade e peso (mais de 140 kg), os pilotos Maurício Gugelmin e Stefano Modena penaram nas últimas posições. Um mísero pontinho foi conquistado pelo italiano na última etapa, na Austrália.

Ciente de seus problemas – e de sua falta de experiência na categoria, a Yamaha passou a trabalhar em colaboração com o britânico John Judd, aquele mesmo rival de 1989. Eles montaram uma base na Inglaterra e refinaram um antigo motor V10 de Judd que existia desde 1990, rebatizando-o como OX10A.

Na próxima sexta-feira, veremos a longa parceria com a Tyrrell e o sonho com a Arrows.

Lucas Carioli
Lucas Carioli
Publicitário de formação, mas jornalista de coração. Sua primeira grande lembrança da F1 é o acidente de Gerhard Berger em Imola 1989.

1 Comment

  1. Fernando Marques disse:

    Lucas,

    boa lembrança da Yamaha na Formula 1
    show de bola!!!

    Fernando Marques
    Niterói RJ

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