A estranha história da Yamaha na Fórmula 1 – final

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Confira a primeira parte clicando aqui.

1993 – 1996: Uma parceria sólida com a experiente Tyrrell

Uma nova equipe foi também foi necessária, a quarta em quatro temporadas. A escolhida foi a combalida Tyrrell, outra que sobrevivia apenas das glórias de um passado distante. Com o motor OX10A sendo nada mais do que um Judd V10 com o logo da Yamaha, mais uma temporada amarga se seguiu em 1993, sem nenhum ponto marcado. A parceria, contudo, foi mantida para 1994.

Na temporada marcada pelos acidentes fatais de Ayrton Senna e Roland Ratzenberger, uma das poucas boas surpresas foi o desempenho da Tyrrell-Yamaha. Com um carro bem feito e o motor  OX10B rendendo melhor, os pilotos Okyo Katayama e Mark Blundell eram frequentemente vistos no pelotão da frente e coletaram 13 pontos. Até o primeiro pódio foi atingido, graças à terceira colocação do britânico no GP da Espanha.

Felizes da vida, Tyrrell e Yamaha renovaram os votos de confiança para 1995. O motor OX10C encolheu de cilindrada devido ao novo regulamento passando para 3.000cc. Embora continuasse bom, dessa vez foi a equipe quem errou a mão no carro e Mika Salo somou apenas cinco pontos ao longo do ano. Para se ter uma ideia, a campeã Benetton-Renault, somara nada menos do que 145 pontos.

Apesar dos resultados desanimadores, a Yamaha continuava insistindo. Para 1996, eles projetaram o OX11, um motor muito mais compacto, leve e moderno que o anterior, o que deixou os projetistas bastante impressionados. Contudo, a potência e a confiabilidade, arduamente atingidas com o propulsor anterior precisariam ser restabelecidas do zero novamente.

Mais uma vez, Salo marcou apenas cinco pontinhos em 1996, enquanto que Katayama, acometido de uma doença pessoal, passou zerado novamente. A falta de potência era crônica, conforme denunciou um teste no veloz circuito de Hockenheim: em uma tentativa de se atingir uma maior velocidade final, a Tyrrell experimentou correr com dois pneus dianteiros no eixo traseiro, gerando menos arrasto aerodinâmico. Mais de 50 motores explodiram ao longo do ano.

1997: do vexame à surpresa em seis meses

Era hora de mudanças e para 1997, a Yamaha encarava a sua quinta equipe diferente na Fórmula 1. A bola da vez foi a Arrows, agora sob propriedade do ambicioso empresário britânico Tom Walkinshaw. Em uma audaciosa jogada empresarial, o dirigente havia conseguido contratar o britânico Damon Hill, ninguém menos do que o campeão do mundo em atividade!

A responsabilidade era grande, talvez maior do que a Yamaha poderia arcar. O novo Arrows-Yamaha A18 ficou pronto muito tarde e nasceu com diversos problemas. Na primeira etapa do ano, Hill escapou por pouco do vexame de não conseguir se classificar para o grid de largada. Nenhum ponto sequer foi somado até o Grande Prêmio da Inglaterra. Então, eis que no Grande Prêmio da Hungria quase acontece… um milagre.

https://youtu.be/6bjhLCwMSY4

No apertado circuito de Hungaroring, o Arrows já era um carro muito melhorado e o motor OX11B potente e confiável o bastante para que Hill se classificasse em terceiro no grid de largada. Durante a corrida, o britânico se aproveitou da melhor aderência de seus pneus Bridgestone para ultrapassar os medalhões Michael Schumacher e Jacques Villeneuve e liderar quase toda a prova.

Parecia que a Arrows-Yamaha teria uma primeira – e insólita – vitória na Fórmula 1. Entretanto, justamente na última volta, o carro começou a entrar em pane devido a uma falha hidráulica e Villeneuve recuperou a liderança. Hill, apesar dos problemas conseguiu chegar em segundo, a melhor posição de chegada da marca japonesa na categoria.

Assim como na história da Cinderela, o encanto logo acabou e a Arrows não conseguiu repetir o feito nas etapas seguintes. Quando a equipe anunciou que em 1998 estaria usando motores de fabricação própria, a Yamaha desistiu e resolveu colocar um ponto final na sua difícil história na Fórmula 1.

No final das contas, apenas 36 pontos foram marcados em oito temporadas completas, muito pouco para uma marca, que entrou com planos de disputar vitórias e títulos. Falta de experiência, uma subestimação do trabalho em questão, recursos insuficientes e muitos compromissos impediram o fabricante japonês de capitalizar suas ideias. No entanto, a sensação que ficou é de que a Yamaha desistiu da Fórmula 1 justamente quando estava a beira de começar uma nova era de grandes resultados.

texto publicado originalmente no Notícias Motociclísticas

Lucas Carioli
Lucas Carioli
Publicitário de formação, mas jornalista de coração. Sua primeira grande lembrança da F1 é o acidente de Gerhard Berger em Imola 1989.

1 Comment

  1. Fernando Marques disse:

    Lucas,

    aquela corrida na Hungria foi realmente incrível. Creio que não seria apenas um feito para a Yamaha mas para Arrows também que nunca subiu tão alto no pódio. E digo mais, acho que foi a melhor corrida que vi o Damon Hill.
    Muito legal a história.

    Fernando Marques
    Niterói RJ

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