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Leia a primeira parte aqui.


Após vencer os campeonatos de 1959 e 1960, Brabham vê como suas possibilidades de se manter entre os vencedores desaparecem quando um novo regulamento estabelece motores de apenas 1.500cc, nascendo assim os famosos e ligeiros “charutinhos”. No entanto, para um piloto pequeno e leve como Clark aquilo foi uma ótima oportunidade e seria justo nesse período quando o escocês conseguiria seus dois títulos e 19 de suas 25 vitórias. Por sua parte, Brabham não conseguiria nenhuma vitória e só voltaria a ganhar quando em 1966, quando os motores passam a ser de 3.000cc. Neste ano, ele volta a ser campeão.

Nossos seguintes campeões foram aqueles cujas carreiras transcorreram majoritariamente nas décadas dos anos 70 e 80, e o resumo de suas trajetórias é o seguinte:

Aqui, o primeiro que chama a atenção é um notável descenso na idade em que estes pilotos estrearam na categoria, sendo Lauda o mais precoce, ao debutar com apenas 22 anos de idade. Apesar disso, todos haviam já mostrado suas extraordinárias qualidades ao volante, o que logo lhes brindou a oportunidade de formar parte de boas equipes e, uma vez nelas, confirmar essas qualidades em forma de vitórias e títulos. Concretamente, Emerson Fittipaldi venceria logo na sua quarta participação na categoria: o GP dos Estados Unidos de 1970.

 

 

Seu gráfico fica assim:

Neste caso, o gráfico é bastante homogêneo, ainda que, no caso de Senna, a morte uma vez mais truncou uma brilhante carreira, pois o brasileiro ainda tinha muito por nos oferecer.

 O resumo dos dados de suas carreiras fica assim:

Cabe destacar que Alain Prost e Ayrton Senna manteriam uma dura pugna que se prolongou ao longo de quatro temporadas, nas quais a disputa pelo título era praticamente um duelo entre ambos e durante as quais conseguiram vencer em 48 dos 56 GPs  completados por algum deles, o que, sem dúvida, acabou reduzindo as percentagens de ambos.

Apesar disso, Senna apresenta o segundo melhor coeficiente de aproveitamento, apenas superado por pouco por Stewart, que conseguiu 25 de suas 27 vitórias nas temporadas em que esteve ligado a Ken Tyrrell e com quem conquistou seus três títulos, enquanto que Senna apresenta a percentagem mais alta de vitórias nas temporadas em que disputava o cetro. Não é descabido pensar que, se a desgraça não se tivesse assanhado com Senna naquele fatídico GP de São Marino de 1994, é muito provável que o título tivesse sido dele, pois seu companheiro Damon Hill, acabou disputando-o até a última prova do ano.

O gráfico destes dados fica assim:

No caso de Emerson Fittipaldi, e apesar das oportunidades às que teve acesso, o sonho de competir com sua própria equipe foi mais forte, mas lhe privou de conquistar mais vitórias e, possivelmente, algum outro título, pois as escuderias que tentaram sua contratação (Williams, Ferrari ou Lotus) acabaram vencendo nos anos em que ele se esforçava por manter aquele sonho em pé.

Sobre Nelson Piquet, suas baixas percentagens são indicadoras de quão acirradas foram as temporadas em que ele esteve em condições de conseguir o título, nas quais finalmente conquistou três e o disputou até o último GP em outra duas temporadas.  Vale destacar também que Piquet conquistou dois desses títulos com a equipe Brabham, que não foi a vencedora do campeonato de construtores desses anos – em 1983 só foi terceira. Porém, as poucas vitórias obtidas devido a essa alta competitividade e sendo o mais longevo na categoria destes pilotos, faz que seu coeficiente de aproveitamento baixe.

Prost é um claro exemplo de piloto cujo talento se complementava perfeitamente com sua nacionalidade, pois não há dúvida que ser francês foi um ponto ao seu favor. Alain não deixaria passar a oportunidade que lhe foi oferecida na McLaren em 1980 e logo destacaria o bastante para ser recrutado pela Renault em 1981.

Enquanto a Lauda, o austríaco chegou à Ferrari em 1974, recomendado por Clay Regazzoni, depois de haverem sido companheiros na BRM a temporada anterior. Lauda não duvidou em aproveitar a oportunidade que tinha ante si, ainda que fosse a custa de minar a posição de primeiro piloto de Clay, algo que terminou deteriorando o relacionamento entre ambos dentro da equipe.

Lauda teria uma nova oportunidade em 1982 quando, após dois anos retirados da competição, Ron Dennis o chama para a McLaren. Havia dúvidas sobre qual seria seu desempenho, mas estas logo se dissipariam com sua vitória no GP dos Estados Unidos Oeste, em Long Beach. Em 1984, viria seu terceiro título, aproveitando o excelente motor TAG que a McLaren passou a equipar e com o que dominariam o campeonato com 12 vitórias em 16 corridas, sete para Prost, cinco para Lauda.

 

 

Finalmente, temos os campeões dos anos 90 até nossos dias e, uma vez mais, chama a atenção suas precoces idades de iniciação na Fórmula 1. Neste caso, os mais “velhos” tinham apenas 22 anos em suas estreias, a idade que tinha Lauda, mais jovem até então. Isto confirma a tendência seguida nos últimos anos pelas principais escuderias, de tomar sob sua proteção jovens promessas desde idades muito tenras e de ir promovendo suas carreiras. Este é o resumo de suas trajetórias:

Fruto dessa precocidade, e ao ter pela frente muitos anos em plenitude de faculdades, todos acabam tendo muitas mais oportunidades do que seus predecessores. Dentre estes pilotos, Mika Hakkinen foi quem a menor porção de sua vida havia dedicado à Fórmula 1 no momento de sua retirada, sendo o único com menos de 12 temporadas de presença na categoria, e Schumacher quem mais se prodigou na mesma. Hamilton e Vettel continuam em ativo.

Apresentados de maneira gráfica estes dados se vem assim:

Logo vemos como Fernando Alonso é quem dedicou a maior porção de sua vida à Fórmula 1, seguido por Schumacher, mas o alemão poderia ter disputado este quesito com o espanhol, não fossem os três anos em que se ausentou da competição. Lewis Hamilton e Sebastian Vettel podem continuar aumentando esta percentagem.

O resumo dos dados obtidos por estes pilotos se apresenta da seguinte maneira seguinte:

Como todos sabemos, Schumacher esteve no lugar certo no momento certo, portanto creio que se dispensam mais comentários. Caso contrário é o de Fernando Alonso, cuja longeva carreira sempre esteve marcada por seu caráter difícil e suas escolhas erradas, ao não saber ver, nem muito menos aproveitar, as oportunidades. Já Hakkinen, justo nas únicas duas temporadas que teve nas mãos um carro ganhador… venceu.

Hamilton é claro exemplo de piloto cuja carreira esteve ligada a uma grande equipe desde muito jovem, pois ficaria logo sob a tutela da McLaren quando contava apenas 13 anos de idade, convertendo-se no “protegido” de Ron Dennis. O rapaz não decepcionou, pois logo em sua primeira temporada entraria na disputa pelo título, vencendo já em sua sexta aparição e repetindo vitória na corrida seguinte: os GPS do Canadá e dos Estados Unidos.

O gráfico destes dados se apresenta assim :

Alonso é, de longe, quem apresenta os dados mais modestos, em boa medida devido à sua longevidade, ainda que também caiba destacar que seus dois títulos foram obtidos em temporadas muito disputadas. Tanto em 2005 quanto em 2006, seu rival pelo título conseguiu tantas vitórias quanto ele mesmo, enquanto que em 2010 e 2012, os pontos que lhe “roubou” Mark Webber, seriam decisivos para que o título acabasse nas mãos de Vettel. Porém, o mais notório de sua carreira são suas más escolhas.

Após seu segundo título, Alonso vai para a McLaren, destino que parecia satisfazer plenamente suas aspirações. No entanto, Juan Pablo Montoya e, principalmente, Flavio Briatore, lhe advertiram de que ali não iria desfrutar do tratamento VIP que recebia na Renault, pois teria ao seu lado o protegido de Dennis, Hamilton. Assim foi e Alonso não soube lidar com a situação e, apesar de vencer já em seu segundo GP, o ambiente na equipe se tornaria insuportável.

 

 

Isto é algo que já havia ocorrido a Nelson Piquet, quando foi para a Williams em 1986 e teve de se enfrentar a Nigel Mansell, quem contava com o total apoio de Patrick Head. Contudo, Piquet soube resistir muito bem à pressão e, ainda que aquela disputa interna acabasse deixando o título nas mãos de Prost, o brasileiro soube reverter a situação e consagra-se campeão na temporada seguinte.

Já Alonso preferiu abandonar a equipe e, mediante acordo entre a McLaren e a Renault, Alonso e Kovalainen intercambiaram seus lugares. Por sua parte, Hamilton, sem a disputa com Alonso, venceria o campeonato em 2008.

De volta na Renault, já muito menos competitiva, Alonso perdeu dois anos esperando o fim do seu contrato e rejeitando a oportunidade que lhe ofereceram na Red Bull. Ironicamente, seria justamente a equipe das asas a que passaria a dominar a categoria nos seguintes quatro anos, com Vettel ganhando os títulos de forma consecutiva e derrotando em três dessas temporadas, precisamente, a Alonso, que havia ido à Ferrari, para depois voltar à McLaren em 2015, onde penou durante quatro temporadas até a sua retirada. Assim, e apesar de seu enorme talento, Alonso é quem menos o aproveitou.

O caso de Hamilton foi justo inverso ao de Alonso, pois o inglês não duvidou em abandonar a equipe que lhe havia levado até a glória na Fórmula 1, para se incorporar à Mercedes em 2015 e com a qual vem ganhando deste então. Até agora já são 51 as vitórias conseguidas e cinco os títulos conquistados.

Como uma compilação de todos estes dados, temos este gráfico geral para todos os pilotos analisados, e que nos mostra o coeficiente de aproveitamento respeito às temporadas disputadas para cada um deles:

Assim, temos a Juan Manuel Fangio como o piloto que melhor aproveitou sua carreira ao conquistar cinco títulos em pouco mais de sete temporadas, além de entrar na disputa em outra.

Por sua parte, Clark se situa à frente de vários pilotos com mais títulos, devido a suas altas percentagens de vitórias, enquanto que no resto de pilotos o seu aproveitamento vai progressivamente baixando até encontramos a Fernando Alonso fechando esta “classificação”.

Não há dúvida de que dispor de boas oportunidades é essencial para ter sucesso na vida, mas não é menos essencial saber reconhecê-las e estar preparado para quando essas oportunidades estejam ao alcance das mãos, pois, no fim das contas, o aproveitamento delas apenas nos mostra nossas próprias capacidades ou carências, pois ainda perante uma igualdade de oportunidades, os resultados nunca serão iguais. Alonso teve uma oportunidade de ouro na McLaren, mas que não aproveitou e seu lugar na equipe acabou sendo ocupado por Heikki Kovalainen, que tampouco foi capaz de aproveitá-la, ainda que no seu caso, essa oportunidade apenas revelou que ele não estava preparado para a mesma.

Portanto, do mesmo modo em que aquele garotinho de nossa fábula soube aproveitar a oportunidade que se lhe apresentou quando menos a esperava, também devemos aproveitar as nossas, pois estas nunca voltam a se apresentar.

Um abraço e espero que nos encontremos todos novamente quando este pesadelo tenha passado.

Manuel Blanco

Manuel Blanco
Manuel Blanco
Desenhista/Projetista, acompanha a formula 1 desde os tempos de Fittipaldi É um saudoso da categoria em seus anos 70 e 80. Atualmente mora em Valência (ESP)

1 Comments

  1. Fernando Marques disse:

    Manuel,

    gostei das duas coluna “Oportunidades” … tema foi muito bem abordado e as conclusões demonstram bem o que foi a vida e a realidade dos maiores campeões mundiais da Formula 1.


    Mas tudo isso que foi abordado me fez pensar o seguinte. Se a morte não aparecesse na historia das carreiras de Jim Clark e Ayrton Senna muita coisa mudaria nos resultados de muitos campeões como J. Stewart e Emerson Fittipaldi, isso no caso do Jim Clark e possivelmente do de M. Schumacher no caso do Ayrton Senna, pois tanto Clark quanto Senna foram ceifados de poder brigar por mais títulos quando ainda viviam o auge de suas carreiras e tinham carros dominantes. E neste caso eles foram esportivamente beneficiados com a ausência

    Fernando Marques
    Niterói RJ

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