Max faz a diferença

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Recentemente Helmut Marko foi perguntado sobre a fase atual da Red Bull, onde o time austríaco claramente não tem o mesmo desempenho dominante do começo de 2024. Sempre muito pedante, Marko falou que os circuitos onde a Red Bull oscilou (Miami, Ímola e Monte Carlo) não favoreciam ao RB20, antes de exclamar: Em Barcelona, seremos superiores. Se não formos bem lá, aí teremos um problema.

A fala de Marko tem muito a ver com o histórico dos carros de Adrian Newey na pista catalã, com catorze vitórias em 33 edições no Circuit de Montmeló, sem contar que o autódromo que fica nas proximidades de Barcelona tem características próximas de pistas como Suzuka e Xangai, onde a Red Bull matou a pau em 2024. Nesse ano o Red Bull RB20 se tornou o 15º modelo projetado por Newey a vencer em Barcelona, mas o triunfo desse domingo tem muito mais a ver com o piloto que lá estava no alto do pódio. Mais uma vez Max Verstappen fez toda a diferença para que a Red Bull vencesse pela sétima vez em 2024 e se Marko não tem um problema, ele pode colocar as barbas de molho acerca da dominância do Red Bull RB20 sobre os demais carros, em particular ao McLaren MCL38.

O final de semana barcelonense começou com uma notícia a muito especulada, mas que era tão inverossímil, que parecia até mentira. Porém, nunca podemos duvidar das proezas da cúpula da Alpine. Depois de mais de quinze anos após o escândalo em Cingapura, onde o dirigente mandou Nelsinho Piquet bater de propósito para beneficiar Alonso, Flavio Briatore está de volta à F1 como consultor executivo da equipe Alpine, que parece mais perdida que uma freira em lua-de-mel.

Não se pode negar que Briatore tem experiência em conquistar títulos e na mesma estrutura da Alpine, quando se chamou Benetton e Renault anos atrás, Flavio conquistou quatro títulos de pilotos. Não importando como…

A primeira vitória na F1 fez muito bem à Lando Norris, que no sábado tirou a pole de Max Verstappen com o cronômetro já zerado por meros dois centésimos de segundo. A pole de Lando mostrava que o domingo não seria um passeio no parque esperado para Max Verstappen e seus blue caps. E realmente não foi.

A corrida no circuito de Montmeló foi mais tática do que emocionante, com um momento fundamental para a prova espanhola: a largada.

Lando Norris e Max Verstappen largaram muito bem no apagar das luzes vermelhas e tendo o carro por dentro, Max deu uma estilingada e estava claramente na frente do inglês, que imediatamente convergiu para cima da Red Bull, chegando a fazer Verstappen ir pela grama. Isso fez com que ambos se aproximassem da primeira curva lado a lado, mas com Verstappen em clara vantagem. O que nenhum dos dois percebeu foi que George Russell executava a melhor largada do ano até o momento. O piloto da Mercedes imediatamente ultrapassou Hamilton e pegou o vácuo de Max e Lando, com ambos bem à direita na reta, o que fez Russell ir para a esquerda, no traçado convencional da curva um. Com uma freada no limite, Russell ultrapassou aos dois ponteiros numa bela manobra, com Lando Norris tendo juízo o suficiente para tirar o pé e evitar um acidente com três carros praticamente lado a lado na primeira curva. Mesmo com Max não assumindo a liderança da prova naquele instante, ficou claro que o grande derrotado do dia já estava definido: Lando Norris.

Assim como aconteceu no ano passado, a McLaren deu um passo gigantesco no desenvolvimento do seu carro, num grande mérito do time comandado por Andrea Stella. Mesmo com Oscar Piastri tendo feito uma corrida medíocre (novamente…), o time papaia inegavelmente é hoje a segunda força da F1 e ao contrário da Aston Martin em 2023, a McLaren incomoda bastante a Red Bull, fazendo o time austríaco suar bastante para manter Verstappen na ponta.

Tendo deixado Norris para trás, a ordem para a Red Bull era clara para Max: ultrapassar o mais rapidamente possível George Russell. Bastou que o famigerado DRS estivesse à disposição de Max para ele ultrapassar George no final da reta dos boxes, numa manobra agressiva, mas cirúrgica, principalmente para a estratégia da corrida. Correndo com cara para o vento, Max não se preocuparia com o superaquecimento dos pneus ao ficar preso atrás de alguém, enquanto Lando Norris não teve a mesma facilidade quando se encontrou poucas voltas mais tarde com o compatriota, pois a borracha de Lando não estava na mesma temperatura com que Verstappen encontrou Russell na volta três. Norris e a McLaren teriam que usar a estratégia para deixar Russell para trás.

Mesmo Barcelona sendo uma pista de ultrapassagens difíceis, a McLaren arriscou numa tática diferente do grupo que tinha a dupla da Mercedes e também da Ferrari, que viu seus pilotos brigarem entre si, com vantagem para Sainz após um leve toque com Leclerc. Enquanto essa turma e Max pararam cedo, indicando uma estratégia de duas paradas, Lando e Leclerc postergaram ao máximo suas paradas, até mesmo imaginando uma tática de uma única parada, mas a realidade era que Norris queria ter pneus em condições bem melhores do que os rivais para efetuar as ultrapassagens necessárias. Mesmo perdendo tempo num primeiro momento, caindo para trás de Hamilton e Sainz, o ritmo de Lando Norris era muito superior e ultrapassou os dois sem maiores problemas.

Porém, George ofereceu bastante resistência ao compatriota, no melhor momento da corrida, quando Russell e Norris percorreram metade de volta trocando posições, até Lando se impor e imediatamente abrir a segura vantagem de 1s para não ser mais atacado por George. Nesse momento, a vantagem de Max era de 9s, a maior que o neerlandês obteve na corrida. Mais uma vez Norris mostrou o crescimento da McLaren, tirando a vantagem de Verstappen de forma contínua. Na segunda rodada de paradas, Norris ficou duas voltas a mais do que Max, no que pôde ter sido decisivo no final, pois com pneus macios novos, Max abriu novamente 8s quando Lando parou, desta vez com o inglês em segundo, saindo dos boxes milimetricamente na frente de Russell. As últimas voltas viram uma briga de alto nível, com Norris tirando tudo do seu carro e dos seus pneus, enquanto Max Verstappen administrava sua vantagem com uma pilotagem cerebral, onde não destruiu os pneus e se manteve rápido. No fim, Max recebeu a bandeirada com pouco mais de 2s de vantagem sobre Lando Norris, numa briga que deverá se repetir outras vezes. Para a nossa alegria. As duas voltas a mais na pista fizeram a diferença a favor de Max? Se Lando tivesse mantido a ponta na largada, a vitória seria sua?

Demonstrando o nível que está no momento, Norris saiu do carro chateado, quando em outros tempos o simpático inglês comemoraria um segundo lugar. Lando sabe que poderia ter marcado mais uma vitória nesse domingo, mas a largada não tão boa fez toda a diferença, sem contar a pilotagem extremamente sólida de Verstappen, no entanto, o inglês já está num merecido segundo lugar no Mundial de Pilotos.

Mais atrás, Lewis Hamilton conseguia o primeiro pódio da temporada, concluindo uma sequência incrível de dezoito temporadas seguidas subindo pelo menos uma vez no pódio na F1. Lewis teve seu melhor final de semana de longe em 2024, indicando também o crescimento da Mercedes, mas também escancarando uma divisão no time comandado por Toto Wolff. Nessa semana a Mercedes recebeu e-mails dizendo que Hamilton está sendo boicotado, mas hoje quem pode reclamar é Russell.

Tendo sido um dos primeiros a parar, após ter forçado bastante para se manter na frente de Norris, George viu Hamilton encostar após sua bela batalha com Lando. Algumas voltas antes, Hamilton estava se defendendo de Norris, mas sem poder contar o DRS por estar a mais de 1s de Russell, virou presa fácil para a McLaren. Custava George ter tirado o pé e ter dado DRS para Hamilton se defender por mais tempo de Norris? Quando as duas Mercedes iniciavam uma briga, o time chamou Russell aos pits, colocando pneus duros no carro de George. A escolha parecia lógica, pois seria um stint longo, se Russell não quisesse parar.

Porém, o jovem inglês teve dificuldades com os pneus duros e como resultado, se viu alcançado por Hamilton, que usou pneus macios usados no último stint. Com um ritmo bem melhor, era lógico a Mercedes pedir a George passar, mas Russell lutou com o compatriota, que efetuou a manobra na curva um, fechando com gosto George, além de tirar o companheiro de equipe da posição de pódio que esteve por dois terços de prova. O clima na Ferrari também não está um morango. O leve toque entre Sainz e Leclerc no começo da corrida trouxe consequências depois da prova, inclusive com um flagra dos dois discutindo a manobra. Com táticas diferentes, a Ferrari escolheu a mesma estratégia de Russell para Sainz, deixando o espanhol sem ter o que fazer se não deixar Leclerc passar, na frente de sua torcida, mas o espanhol não deixou barato depois da corrida, principalmente quando soube que Leclerc disse que ‘Sainz queria dar um show em casa, ainda mais na situação atual da carreira dele’. De saída da equipe, Carlos foi bem sucinto: Charles sempre tem alguma coisa para reclamar.

Trocando em miúdos, a Ferrari viu seus pilotos chegarem nas mesmas posições onde largaram, longe da luta pela vitória, mas terá que administrar Sainz e Leclerc.

Red Bull, Ferrari e McLaren estão separadas por menos de cem pontos no Mundial de Construtores e a razão disso é que a Red Bull está pontuando basicamente com apenas um piloto, enquanto Ferrari e McLaren tem dois pilotos marcando pontos, mesmo com Piastri tendo feito uma corrida bem mequetrefe nesse domingo. Tão mequetrefe quando Sergio Pérez, que fez uma corrida opaca, sendo até mesmo ultrapassado por Nico Hulkenberg no primeiro stint, fazendo a Red Bull o colocar numa rara estratégia de três paradas, onde Checo teve bastante trabalho antes de ultrapassar a dupla da Alpine, sendo que Gasly só foi deixado para trás na última volta. Muito, muito pouco para um piloto que tem o melhor carro do pelotão, mesmo que não sendo mais tão dominante como no início do ano. Será difícil para Horner justificar a renovação de Pérez, caso a Red Bull perca o Mundial de Construtores esse ano.

A Alpine se aproveitou de outro final de semana horroroso da Aston Martin para colocar seus dois pilotos na zona de pontuação pela segunda corrida consecutiva e, felizmente, sem nenhum contato imediato entre Gasly e Ocon. Correndo na frente de sua torcida, Alonso amargou outra corrida ruim da Aston Martin, que deu uma verdadeira marcha ré em comparação ao ano passado e de equipe que pensava em vitória, o time comandado por papa Stroll agora luta para retomar a quinta posição no Power Ranking da F1/2024. Mesmo com contrato renovado, Alonso não esconde de ninguém seu desgosto com a situação atual da equipe esmeraldina.

Hulkenberg andou bastante tempo na décima posição, mas acabou saindo da zona de pontuação. O fato foi que o alemão deu um banho em Magnussen, provavelmente sabendo que está de aviso prévio. Racing Bulls e Williams também caíram bastante em comparação às últimas corridas, fazendo-os entrar na briga com a Sauber para se livrar das últimas posições, numa corrida onde os vinte carros que largaram viram a bandeirada.

Num circuito que sempre favoreceu aos carros projetados por Adrian Newey, mais uma vez o inglês viu uma obra sua vencendo em Barcelona, porém, não se pode negar que o time austríaco já não tem a vantagem de antes, com a chegada de outros times, a McLaren em particular, alavancada pela super confiança que Lando Norris ganhou com a primeira vitória na F1.

Porém, a Red Bull ainda pode contar com Max Verstappen para potencializar ainda mais seu conjunto e mesmo sem dominar como antes, Max pode caminhar a passos largos rumo ao tetracampeonato.

 

Abraços!

João Carlos Viana

JC Viana
JC Viana
Engenheiro Mecânico, vê corridas desde que se entende por gente. Escreve sobre F1 no tempo livre e torce pelo Ceará Sporting Club em tempo integral.

2 Comments

  1. João Carlos Viana disse:

    Olá Fernando!

    Sobre o ponto 2, já está na hora de Piastri dar uma reposta ao crescimento de Norris, depois da vitória do inglês. Principalmente em ritmo de corrida. Domingo, Oscar tomou 30s de Lando. Muita coisa!

    Já Briatore fora perdoado ainda em 2010. Ele só não voltou antes, porque ninguém o queria por perto. Até aparecer a desesperada e confusa gestão de Alpine.

    Eu e o Lucas falamos mais da corrida no endereço abaixo:
    https://www.youtube.com/watch?v=FHd9rD57GPo&t=11s

    Escreva sempre!

  2. Fernando Marques disse:

    JC Viana,

    como sempre sua leitura da corrida foi perfeita
    Abaixo minhas opiniões sobre alguns tópicos da sua coluna:

    1) Eu achei que o Lando Norris largou muito mal … e o Max tentou tirar proveito disso … o que salvou a largada do ingles foi a manobra limpa que ele fez para se defender do ataque do Max … e quase conseguiu … o que não era esperado foi a sensacional largada do Russel …

    2) Está claro a meu ver duas situações que valem pra Mercedes e Mclaren … Hamilton e Piastri estão sendo preteridos internamente em suas respectivas equipes … no caso do Hamilton com certeza o fato dele ter assinado coma Ferrari … mas na Mclaren sei não, há controvérsias … O Piastri já mostrou diversas vezes que não deve nada ao Lando … estranho o fraco rendimento dele nessas duas ultimas corridas …

    3) Se houve alguém errado naquele toque entre as Ferraris esse alguem foi o Le Clerck … certamente o piloto mais chorão da Formula 1 atualmente … a soberba dele também em certas ocasiões chega a ser ridiculo … vide o que ele disse sobre o Sainz após a corrida … fico imaginando como ele vai se comportar com Hamilton na equipe ano que vem …

    4) Flávio Briattori de volta na Formula 1 … não entendi … ele não foi banido da Formula 1 para sempre?

    5) Fiquei com pena do Alonso correndo em casa … merece um carro melhor …

    Fernando Marques
    Niterói RJ

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