Caos na confirmação da expectativa – coluna + YouTube

His name is… Bob Dylan
13/03/2025

NORRIS Lando (gbr), McLaren F1 Team MCL39, VERSTAPPEN Max (ned), Red Bull Racing RB21, RUSSELL George (gbr), Mercedes AMG F1 Team W16, portrait, podium during the Formula 1 Louis Vuitton Australian Grand Prix 2025, 1st round of the 2025 FIA Formula One World Championship from March 14 to 16, 2025 on the Albert Park Grand Prix Circuit, in Melbourne, Australia - Photo Joao Filipe / DPPI

A pré-temporada foi unânime em afirmar que a McLaren tem o conjunto mais forte para esse início de temporada 2025 da F1. Ao final do Grande Prêmio da Austrália, pole, melhor volta e vitória da McLaren em Melbourne, na abertura do campeonato 2025 da F1. Expectativas confirmadas depois da pré-temporada, correto? De certa forma, sim, porém, a primeira corrida de 2025 foi das mais animadas e a equipe comandada por Zak Brown perdeu uma dobradinha certa.

A esperada chuva que caiu em Melbourne nesse domingo pode ter camuflado todo o potencial do novo modelo MCL39, mas ao menos nos presenteou com uma corrida caótica e cheia de alternativas, apesar de que o resultado esperado se confirmou. Criando casca, Lando Norris sobreviveu bem ao caos australiano e administrou muito bem uma corrida em que aconteceu muita coisa que não estava no controle do inglês. Lando largou bem e, aleluia, confirmou a pole, tendo que segurar a pressão de Piastri quando a pista secou e depois Max Verstappen nas duas últimas voltas, em condições bem traiçoeiras. E falando em Max, o piloto da Red Bull claramente andou bem mais do que o carro e somente seu talento o fez andar minimamente próximo das McLarens em alguns momentos.

A classificação desse sábado foi o primeiro momento da temporada 2025 em que as dez equipes mostraram a sua força no sempre desafiador circuito citadino de Melbourne. Nada a esconder, tudo a mostrar! Por mais que Albert Park seja um circuito de rua e bem específico, algumas respostas começam a ser dadas.

A Haas tem no momento o pior carro do pelotão, com a Sauber evoluindo e impulsionado por Gabriel Bortoleto, tenta fugir das últimas posições. Por sinal, Bortoleto foi uma das boas surpresas da classificação, ao se colocar no Q2. A Aston Martin dependerá bastante de Alonso tirar coelho da cartola, enquanto a Alpine claramente evoluiu, indo ao Q3 com Gasly logo na primeira corrida, enquanto Jack Doohan fez uma classificação decente. A Racing Bulls foi outra boa surpresa, com Hadjar quase indo ao Q3, enquanto Tsunoda arrancou um ótimo quinto lugar. A Williams confirmou a boa performance da pré-temporada com seus dois carros no Q3 e Albon surpreendendo ao superar Sainz com alguma folga.

Nas equipes ditas grandes, a McLaren ficou com a primeira fila, mostrando sua força, mas já vendo Max Verstappen fustigando a equipe papaia. A Ferrari chegou a andar próxima da McLaren nos treinos livres, mas decepcionou na classificação, enquanto a Mercedes foi bem água com açúcar. Contudo, a grande curiosidade do ecossistema da F1 estava no falado ritmo de corrida da McLaren, mas havia um detalhe que poderia atrapalhar essa resposta.

Nos últimos dias previa-se chuva iminente em Melbourne no momento da corrida da F1. Horas antes, um temporal se abateu no momento da corrida da F2 e a prova foi cancelada, com direito até mesmo a patinhos bebendo água no asfalto alagado. Felizmente a chuva diminuiu no momento da largada da F1 e a largada ocorreu normalmente. Bem, pelo menos os carros saíram na hora exata para a volta de apresentação, pois Isack Hadjar rodou poucos metros depois, ainda na curva 2. Um duro golpe para o novato francês, que se dirigiu aos pits claramente triste e numa cena tocante, foi consolado por Anthony Hamilton, pai de Lewis, ídolo confesso de Isack, com quem tirara um self durante a parada dos pilotos.

A largada teve Max Verstappen mostrando suas credenciais e logo de cara ultrapassando Piastri, que mesmo relutando, acabou cedendo a posição para o neerlandês. Porém, a pista molhada fez mais vítimas e o ameaçado Jack Doohan bateu com força na curva seis, trazendo o Safety-Car. Começo nada auspicioso para alguém tão pressionado quanto o australiano, enquanto seu pai, o lendário Mick Doohan, balançava a cabeça nos boxes. Outro pai lendário que não deve ter ficado muito feliz com as estripulias do filho foi o bicampeão mundial do WRC Carlos Sainz, pois seu filho rodou durante o período de SC, num verdadeiro anticlímax, após um final de semana promissor de Sainz Jr. Os mecânicos da Williams tiveram um verdadeiro Deja-Vu, tendo que trazer o funileiro mais cedo que o esperado.

Com poucas voltas a corrida já havia se tornado uma prova de sobrevivência. A relargada, ainda com pista molhada, mostrava o trio Norris-Max-Piastri juntos e destacados dos demais, liderado por Russell e Leclerc, que fez uma excelente largada. Hamilton era segurado por Albon e tentava se entender com os novos comandos de sua Ferrari. Como a pista melhorava nitidamente, era chegada a hora das equipes conversarem com os pilotos para o momento exato de colocar pneus slicks. Porém, antes disso, a McLaren mostrou sua força.

Já com os pneus intermediários desgastados, Verstappen era fortemente pressionado por Piastri e acabou errando uma freada, permitindo a ultrapassagem do piloto da casa. Com a pista bem melhor, a McLaren começou a imprimir um ritmo 1s mais rápido do que Max, que parecia impotente frente a força dos carros laranjas. Max chegou a ficar 15s atrás da dupla da McLaren. A hora de colocar pneus slicks chegou no momento em que Alonso, tentando ir para cima de Gasly, bateu seu Aston Martin no muro, trazendo novamente o Safety-Car. Com todo mundo com pneus slicks, o céu melburniano ficou escuro e as equipes previam chuva forte em poucos minutos. Não havia sossego para os pilotos e para Lando Norris em particular, que foi o primeiro que alcançou o asfalto novamente molhado e saiu da pista, trazendo consigo Oscar Piastri. Contudo, se o inglês se saiu bem da escapada de pista, Piastri ficou parado no grama e teve que engatar uma ré para sair da situação, perdendo quase uma volta no processo. O caos retornou com força e dois estreantes, Gabriel Bortoleto e Liam Lawson, bateram seus carros e o SC estava de volta.

As voltas finais, com todos os pilotos novamente de pneus intermediários, viu Verstappen partir para cima de Norris, mas este segurou o rojão muito bem, mostrando uma evolução do ano passado para cá. Tendo claramente o melhor carro do pelotão no momento, Lando Norris capitalizou a pole, algo que o inglês falhou várias vezes ano passado. Numa corrida com várias intempéries, Norris não se abateu e levou a McLaren a vitória, confirmando toda a expectativa que havia em cima da equipe. Piastri ainda marcou pontos, incluindo uma ultrapassagem antológica na última volta em cima de Hamilton.

No entanto, a McLaren terá que cuidar do gerenciamento dos seus pilotos. Quando a pista estava no limite para se colocar pneus slicks, Piastri se aproximou rapidamente de Norris e tomou um rádio que pareceu mexer com o australiano. Situações que devem se repetir ao longo dessa longa temporada e a McLaren terá que ter cuidado para não degringolar para uma situação de perder um campeonato que poderá ser ganho com alguma facilidade. Até porque Max Verstappen está à espreita, só esperando o menor dos erros mclarianos para agarrar a oportunidade. Na Austrália, Max Verstappen lembrou os tempos de Michael Schumacher nos primeiros anos de Ferrari, quando não tinha carro para vencer, mas sempre que podia cravava Hill, Villeneuve e companhia. Max largou muito forte, andou no meio das McLarens até onde deu e somente um incaracterístico erro deixou Verstappen num longínquo terceiro lugar. Porém, os SC’s fizeram com que Max fosse uma constante ameaça aos pilotos da McLaren e será interessante observar essa fase caçadora de Max Verstappen, farejando qualquer vacilo de Lando ou Oscar.

Se de um lado a Red Bull sabe que pode contar com um extraclasse, no outro sofre com o segundo piloto. OK, ainda é muito cedo para apontar dedos à Liam Lawson, mas o final de semana de estreia do neozelandês foi pífio, culminando com uma rodada solo. No entanto, para um piloto que se mostrou inseguro o final de semana inteiro, deixa-lo com pneus slicks na pista molhada foi uma atitude sórdida da Red Bull, enquanto que no México, há pessoas com um sorriso no canto da boca…

George Russell fez uma prova solitária, onde mal apareceu e se aproveitando do erro de Piastri, beliscou um pódio. No entanto, os olhos de todos que acompanham a F1 nesse domingo se viraram para Andrea Kimi Antonelli. Vindo de uma má classificação, o italiano foi mais um dos novatos a rodar, mas salvou o carro e fez uma belíssima corrida de recuperação numa prova caótica, chegando em quarto lugar, apenas 1,7s atrás de George, que largou doze posições à sua frente. Bela estreia do italiano, se tornando o segundo piloto mais jovem da história a marcar pontos. Com dois pilotos pontuando bem, a Mercedes termina o primeiro final de semana do ano empatada com a McLaren no Mundial de Construtores. Um bom começo para Toto Wolff, mesmo com um carro que não se mostrou forte o suficiente para tal feito.

A Ferrari começou o ano com muitas mensagens de rádio truncadas para seus pilotos e se complicando na estratégia. Ou seja, tudo normal para a turma de Fred Vasseur. Hamilton liderou sua primeira volta com uma Ferrari, mas num erro estratégico da equipe, que o manteve na pista tempo demais com pneus slicks, jogando Lewis e Leclerc, que ainda rodou, para o final da zona de pontuação. Charles recuperou duas posições na relargada, enquanto Hamilton tomou uma ultrapassagem por fora de Piastri, marcando apenas um pontinho. P8 e 10 não estavam nos planos da equipe de Maranello.

Uma corrida caótica é tudo que as equipes do pelotão intermediários pedem a Deus e vários times se valeram dos problemas dos pilotos das equipes grandes para se destacarem. Mesmo com a saída precoce de Sainz, a Williams viu Albon fazer uma corrida sólida, sempre na zona de pontuação e terminando em quinto, lembrando que só não foi quarto lugar porque a Mercedes obteve êxito no recurso que punia em 5s Antonelli por uma saída insegura dos pits.

 

Fazendo uma corrida arroz-com-feijão, Lance Stroll levou seu Aston Martin ao sexto lugar, sem incomodar ninguém. Mostrando que panela velha é que faz comida boa, Nico Hulkenberg fez em uma corrida mais do que Zhou e Bottas fizeram ano passado, levando a Sauber a um ótimo sétimo lugar. Bortoleto largou mal, relatou problemas nos freios e levava seu carro rumo a bandeirada até rodar e bater seu Sauber. Porém, o recado de Gabriel foi dado no sábado. Tsunoda passou boa parte da corrida na zona de pontuação, mas a Racing Bulls se atrapalhou na hora de trazer o japonês aos boxes na hora correta e acabou vendo Yuki fora dos pontos, o mesmo acontecendo com Gasly, que foi engolido pelas Ferraris e Piastri nas voltas finais. Confirmando o que fora visto no sábado, a Haas tem hoje o pior carro do pelotão, com Ocon e Bearman sempre nas últimas posições, mas pelo menos o inglês não bateu o carro no domingo, algo que fizera na sexta e no sábado.

Muitos fãs da MotoGP gostam de criticar a F1 dizendo que a categoria de quatro rodas está muito previsível, onde o vencedor é conhecido antes mesma da largada. Contudo, em 2025 as coisas podem estar se invertendo um pouco. Por mais que a McLaren esteja um degrau acima das demais, ainda podemos ver um Max Verstappen incomodando os pilotos papaias. Já na MotoGP, nada e nem ninguém parece capaz de parar Marc Márquez.

A corrida em Termas de Rio Hondo nesse domingo parecia definida desde a pole de Marc Márquez, repetindo o roteiro visto em Chang, duas semanas atrás. Depois de vencer a Sprint no sábado sem maiores arroubos, Marc se manteve na ponta na largada no domingo, onde mais uma vez teve seu irmão Alex em segundo. Alex capitalizou um ligeiro erro de Marc e assim como ocorreu em terras tailandesas, ficou na ponta boa parte da corrida. Porém, até os mosquitos que sujaram as bolhas e macacões sabiam que a corrida estava no controle de Marc, que mesmo com um errinho aqui e ali, atacou seu irmão na hora certa para efetuar a ultrapassagem decisiva e vencer pela segunda vez em 2025, imprimindo um domínio impressionante, onde Marc mantém 100% nas poles, Sprint e corridas no domingo.

No outro lado do boxe da Lenovo Ducati, Bagnaia parece impotente frente à força de Márquez. Fica a sensação de que a equipe já se enamorou por Márquez e todo o seu talento, deixando Pecco e sua apatia num passado de conquistas, mas que vem sendo superado de forma sistemática pelo espanhol. Por sinal, a Ducati dominou as cinco primeiras posições nesse domingo. Como fala Lucas Giavoni, o maior rival de Marc Márquez em 2025 é… o chão!

A abertura da F1 viu uma corrida para lá de animada, mas quando teve pista livre a McLaren deu o seu recado às demais equipes: em ritmo de corrida, o time papaia tem uma vantagem grande. Até demais. Norris venceu com certa autoridade, enquanto Piastri sofreu com a falta de sorte dos australianos em casa.

 

Porém, Max Verstappen provou mais uma vez que é hoje o grande piloto do pelotão atual e estará à postos para capitalizar qualquer vacilo da McLaren. Um belo início de campeonato, mas o ritmo de corrida da McLaren assusta para quem esperava um campeonato apertado. Xangai nos dará mais respostas, por ser um circuito mais convencional. A não ser que o clima chinês esteja tão maluco quanto o australiano.

Abraços!

João Carlos Viana

 

 

JC Viana
JC Viana
Engenheiro Mecânico, vê corridas desde que se entende por gente. Escreve sobre F1 no tempo livre e torce pelo Ceará Sporting Club em tempo integral.

2 Comments

  1. Helena Sophia disse:

    “Max Verstappen lembrou os tempos de Michael Schumacher nos primeiros anos de Ferrari, quando não tinha carro para vencer, mas sempre que podia cravava Hill, Villeneuve e companhia.”
    Em verdade, isso foi no primeiro ano de Ferrari, 1996. Ganhou três corridas e foi a mais 5 pódios. No segundo ano, disputou o título com Villeneuve, perdendo na manobra desleal em Jerez. Em 1998, perdeu pra Hakkinen, deixando o carro morrer na volta de apresentação e largando em último.

  2. Fernando Marques disse:

    J. C. Viana,

    Pelo visto pouco ou nada mudou na fórmula 1 em relação ao ano passado.
    Inclusive a Sauber que continua uma draga …

    Na moto gp a diferença entre as ducattis e demais motos parece abissal … ainda mais com M. Márquez novamente em forma

    Fernando Marques
    Niterói RJ

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *