Aproveitando o tom “retrô” da coluna de hoje, o GPTotal te convida a relembrar o terceiro mundial de Nelson Piquet em nosso Facebook.
Louis Sullivam foi um célebre arquiteto de fim do século XIX e principio do XX, a quem se considera o pai da arquitetura moderna.
Uma frase sua foi tomada como base fundamental pelos defensores da funcionalidade e acabou sendo reduzida a apenas quatro palavras que pretendiam condensar os princípios de Sullivam: “Form ever follows function” (a forma sempre esta subordinada à função).
Segunda a interpretação radical dessa frase, a função devia prevalecer sobre a forma, não havendo lugar para nada que não aportasse algo à função, prescindindo, assim, de todo elemento ornamental ou supérfluo pois a beleza não contava. No entanto, no que a velocidade se refere, na natureza, a beleza esta intimamente relacionada com essa função.
Tomemos como exemplo os animais mais rápidos que existem e veremos que são, também, os mais belos. No alto desse pódio da velocidade, temos o Chettah, felino com umas formas tremendamente estilizadas e dotado de uma elegância sem par. Curiosamente, suas presas habituais, a gazela e o antílope, também são belíssimos e os segundos animais mais velozes.
Dentre as aves, não há dúvida de que os falcoes apresentam as mesmas características que o Chettah enquanto a beleza e elegância e, também, são os mais velozes, podendo superar os 300 km/h quando se lançam em picado à caça de suas presas.
Na natureza, a beleza é uma questão de proporção e equilíbrio, como descobriram os gregos faz muitos séculos. Na renascença, profundos estudos foram feitos nesse sentido, sendo um dos mais importantes o de Leonardo da Vinci, e foi concluído que as mais belas formas da natureza, seguiam um padrão comum e bem definido que passou a ser conhecido como a “proporção áurea”.
Assim, como disse Sullivam, a forma sempre esta subordinada à função e, na natureza, a função da velocidade acaba criando formas belas. No entanto, na formula um, outra manifestação de velocidade, os carros são cada vez mais feios. Até o fim dos anos 60, os carros eram muito simples e “funcionais”, mas resultavam bastante agradáveis à vista, e os chamados “charutinhos” pareciam até simpáticos.
Os anos 70 trouxeram uma verdadeira revolução no que a formas se refere, mas era raro ver um carro realmente feio, pois, de um modo ou outro, a maioria resultava bastante atraente e transmitiam “sensação” de velocidade.
Então, a interferência da FIA mediante o regulamento começou a ser cada vez maior, chegando a ser sufocante nos dias de hoje e privando os engenheiros da liberdade da que desfrutavam antanho e que lhes brindava a oportunidade de desenvolver as mais variadas ideias (diferentes motores, carros com 6 rodas, etc., etc.)
Logicamente, toda competição deve estar submetida a umas normas e a formula 1 não podia ser uma exceção. Segundo a FIA, as mudanças de regulamento estavam inspiradas e baseadas em três principais fatores: Aumentar a segurança, promover a competitividade entre as equipes e baixar os custos.
Sobre o primeiro fator, a segurança, não tenho nada que objetar e tampouco lhe dou à FIA nenhum mérito ao respeito, pois sempre foi a sua obrigação velar pela segurança dos participantes, portanto apenas fazia o que devia fazer.
Sobre os outros dois fatores, me trevo a dizer, à vista dos resultados, que as constantes mudanças do regulamento, vem constituindo um fracasso na busca dos objetivos perseguidos: a competitividade é menor e as equipes pequenas continuam a uma distância importante das grandes; e os custos, longe de baixar, continuaram subindo.
Como toque final, os carros foram ficando mais e mais feios desde aqueles belos modelos dos 70 e 80. Para 1983, a FIA decidiu proibir as chamados carros asa, estabelecendo a obrigatoriedade de um fundo plano nos carros. Segundo a FIA, “A habilidade do piloto devia contar mais que os avanços tecnológicos”.
Desde então, as mudanças no regulamento tem sido constantes, contudo, tão digno proposito… ainda não foi alcançado. Durante um tempo o efeito solo ficou bastante reduzido, mas os engenheiros foram, paulatinamente, recuperando-o e, ironicamente, em ocasiões, graças aos regulamentos impostos pela FIA.
Normas como a obrigatoriedade de situar o depósito de combustível entre o piloto e o motor, aumentaram a distancia entre eixos dos carros, e a posterior redução da distancia à que devia estar situado o aerofólio traseiro respeito ao eixo traseiro, logo levou os engenheiros a aumentar ainda mais essa distancia entre eixos.
Tratavam, assim de compensar a perda de eficiência de dito aerofólio: se o aerofólio devia ir para a frente… eles deslocavam o eixo para trás.
Como exemplo, temos que nos anos 70, a distancia entre eixos estava, maioritariamente, na casa dos 240/250cm (e.g. Ferrari 312B3 245cm, alguns até menos como o Brabham BT44 ou O Wolf WR-01 com pouco mais de 230cm) e a largura dos carros era de 210cm.
Hoje temos carros com distancias entre eixos na casa dos 350cm (e.g. McLaren MP4-27 357cm ) e a largura ficou reduzida a 180cm. desde 1998.
A mudança dos carros enquanto a proporções se refere foi radical, e em suas formas ainda mais. O fundo plano implantado pela FIA, pretendia acabar com o efeito solo, mas os engenheiros logo perceberam que, se o ar tinha que percorrer uma maior distância por debaixo do carro, era possível recriar o tal efeito e ainda potenciá-lo com o difusor, a elevaçao do bico e com as formas dos flancos.
Em 2008, a Toyota apresenta seu novo modelo que chamou a atenção por sua maior distancia entre eixos respeito ao modelo anterior. Pascal Vasselon, diretor técnico da equipe, quando perguntado ao respeito de tal incremento disse que essa maior distancia lhes permitia distribuir melhor o peso e concedia aos aerodinamicistas uma maior superfície onde poder desenvolver seu trabalho (logo depois na McLaren, seu modelo MP4-25 aumentou em cerca de 30cm a distancia entre eixos do MP4-24 , acontecendo o mesmo com as demais equipes).
O curioso é que a FIA, apesar de seu constante fracasso em promover a competitividade e baixar os custos, continue impondo
tantas restrições. Assim, temos todas as equipes gastando seus recursos em aprimorar e refinar as mesmas ideias, quando seria sadio dar mais liberdade de ação às equipes para que novas e variadas ideias pudessem florescer e ser desenvolvidas.
No fim, a vítima colateral de tanta restrição acabou sendo a beleza, essa companheira que nos proporciona prazer e nos reconforta ao contemplá-la. No passado, os carros mais belos, acabavam sendo conhecidos por nomes que evocavam essa beleza, como o Lotus 79 que era a “Black Beauty” (beleza negra) ou as famosas “Silberpfeile” ( Flechas prateadas ) que se referiam aos Mercedes.
Agora, temos carros que me recordam a uma Louva-Deus com quatro grandes rodas e um enorme bigode. Carros desprovidos de toda elegância e cuja contemplação até fere a vista do observador.
Como disse nosso querido Edu em sua coluna “sobre a importância da beleza”: seria pedir demais que a FIA fixasse regras de beleza dos carros em seu regulamento?
15 Comments
Manuel, meu amigo, sempre um prazer ter um novo texto seu em mãos. E desta vez trazendo à pauta um assunto que lhe é tão familiar, dada a beleza artesanal dos móveis que você produz (Para quem não sabe, Manuel e seu saudoso pai são criadores de alguns dos mais bem elaborados móveis da Europa, com inúmeros clientes conhecidos mundialmente).
Concordo contigo em cada palavra, e já aguardo pela próxima coluna.
Abraço, e tudo de bom.
Oi Marcio,
Obrigado por suas amaveis palavras !
O quer mais me impressiona nos projetista da Formula 1 atual
é que um projeta e os outros demais copiam … parece que só um é capaz de projetar um carro …
Fernando Marques
Niterói RJ
Mas sempre foi assim Fernando.
Na temporada de 1979, logo após ter surgido o Lotus 79, apareceram cópias e mais cópias do Lotus. O Williams FW07 foi apelidado pelo proprio Patrick Head como uma “Lotus 79 embelezada”, a Tyrrell foi tão cara de pau que obteve algumas informações do Lotus 79 junto a fábrica de miniaturas Tamiya pra projetar o seu carro para a temporada 79. O Copersucar F6 também era claramente baseado no Lotus.
Arlindo,
a não muito tempo a gente distinguia uma Lotus, de uma Brabham, de uma Ferrari, de uma Mclaren, de uma Ligier, de uma March … e por ai vai … hoje para mim todos são identicos, minimos detalhes que diferenciam um de outro e na verdade a gente só sabe que um não é outro pelas cores dos patrocinadores … muitas vezes me pego confundindo as RBR’s comas STR’s na TV …
Fernando Marques
Niterói RJ
Tenho aqui na prateleira um Lotus 79, um Williams FW 07, uma Ligier JS 11 e uma McLaren M29, todas extremamente parecidas entre si. Entre 1978 e 1980, de design diferente só mesmo Arrows A2, Lotus 80 e 88 e Ferrari 312 T3/T4/T5. A Williams FW 06 era extremamente parecida com a Brabham BT-46, por exemplo. Naquele grupo de cima poderiam vir as Brabhams BT-48 e BT-49, Arrows A3, etc.
Concordo que a safra 2012 não é das melhores em termos de aspecto visual, mas o cenário atual ainda é melhor do que era por exemplo em 2008.
Mas isso sempre aconteceu. Em 1976, quando a FIA proibiu as tomadas de ar elevadas, o que surgiu foi um punhado de carros remendados e com soluções de improviso. O Lotus 79 era um lindo carro, talvez o F1 com aerofólios mais bonito já construído. Mas seu antecessor era um monstrengo. Os Tyrrell de Jackie Stewart em 1972 e 1973 pareciam o tanque de guerra do desenho corrida maluca. O que dizer por exemplo dos medonhos 312T4 (1979) e 312T5 (1980) que o proprio Enzo Ferrari admitia ser os carros mais feios saídos de sua fábrica?
Acho que no final das contas, prevalece algo que Adrian Newey disse certa vez: com o tempo acabamos nos acostumando com essas formas.
Concordo com o Arlindo e o Adrian Newey, nos acostumamos com essas formas, mas (principalmente) nos afeiçoamos pelos projetos bem sucedidos. Quase sempre achamos que o carro mais rápido é também o mais belo, seu sucesso que os fazem belos.
Quem disse mesmo que “Carro bonito é aquele que vence corridas”? (acho que foi Enzo Ferrari).
Essa mclaren com o hakkinen me faz ter boas lembranças…era linda msm.
Essas mudanças acabam como maravilhosamente dito no texto, cortando boas ideias na raiz, sufocando as mentes, e por cima, deixando os carros de f-1 q deveriam ser os mais bonitos, horrorosos…como essa ferrari de hj é feia nao está no gibi.
A Ferrari é tão feia quanto os demais carros … são todos iguais exceto a Mclaren que não fez aquele bico quadrado …
Fernando Marques
Niterói RJ
Não foi Enzo Ferrari que disse (entre outras pérolas) que “carro bonito é o que ganha corridas”?
Eu, particularmente, gostaria que as dimensões dos pneus voltassem às medidas permitidas até o início dos anos 90. Havia um limite de 18 polegadas, por exemplo, para os traseiros (bem maiores que os atuais), mas com a liberdade de se colocar menores.
A Benetton em 90 e 91 (como o mostrado numa das fotos deste post) usava pneus mais estreitos por opção, tentando reduzir a desvantagem nas retas para os V10 e V12 de Ferrari, Honda e Renault…
O regulamento, da maneira como vem sendo pensado, está transformando a categoria no que há de mais parecido com um certame monomarca sem ser,d e fato, monomarca… Está na hora de abrir algumas portas…
Concordo contigo Pablo!!
Manuel,
bela coluna …
beleza é fundamental
e me atrevo tambem a dizer que atualmente até nas ruas os carros são muito parecidos, alguns muito bonitos até mas a cada dia perdendo mais o glamour que antigamente eles ofereciam … simplesmente por que um copia o outro …
Fernando Marques
Niterói RJ
Sublime.
Parabéns Manuel.
Mais uma bela coluna!
Parabéns Manuel!
Como já mencionei aqui mesmo no Gepeto, na minha opinião, o último F1 bonito de se ver, foi esta mclaren Mp 4/12 de 1997 que esta na foto.
De 1998 para frente, a beleza fui sumindo, sumindo, sumindo…
Abraço!
Mauro Santana
Curitiba-PR