Não pretendo, de modo algum, fazer dessa coluna uma continuação do soberbo texto do Edu escrito no início desse ano. Acontece, porém, que também irei tratar de pilotos de F1 e publicidades.
Barrichello escolheu um caminho em sua vida profissional. Profissional, repito: a respeito da pessoal nada tenho a falar, nem poderia fazê-lo (sobre isso, vale até mesmo citar outra campanha publicitária, que vem circulando bastante desde junho). Mas a questão é o lado piloto – e não apenas por seu desempenho nas pistas (cuja melhor análise foi feita por Márcio Madeira, aqui), mas principalmente pela imagem que ele carregou e, lamentavelmente, nunca fez a menor questão de mudar.
12 de maio de 2002: “Barrichello vem pra vitória… a dona Idely não veio… dois anos depois da primeira… aí vem Rubens… foi na última curva no ano passado… hoje não, hoje não, hoje sim! Hoje sim?”. Simplesmente um épico da narração esportiva do Brasil, e uma piada que deverá ser reproduzida por ainda longos anos.
Quem aí consegue esquecer?
Quem viveu a época sabe da reviravolta que foi aquele caso; a repercussão negativa que a Fórmula 1 já vinha enfrentando naquele dia tomou proporções simplesmente gigantescas. A pecha do “Cheater” foi definitivamente decretada a Schumacher; já Barrichello, foi visto de formas antagônicas: ou uma vítima do sistema (“só um brasileirinho contra esse mundão“) ou então como outro vigarista.
Sim, é claro que devemos levar em consideração o fato de Rubens ser à época um empregado da Ferrari. E empregados fazem o quê? Cumprem ordens. Várias vezes nós mesmos “estendemos” nosso horário de expediente simplesmente porque é necessário – para a empresa e, ora, também para nós. Nosso cartão-ponto segue sendo rigorosamente ‘batido’, e por vezes nos contentamos e aceitamos desaforos e coisas do tipo.
Assim, vejo que julgar Rubinho por cumprir as ordens da Ferrari é uma senhora hipocrisia.
Feita essa separação, vamos lá: Rubens Barrichello já admitiu que abriu passagem para Michael Schumacher porque fora ameaçado de perder seu contrato. Nunca revelou as palavras exatas da conversa, mas deixou muito claro esse teor. Não que alguém tenha se surpreendido com isso, mas creio ser suficiente para eximir o piloto de qualquer “inocência” no episódio.
Mais ou menos na mesma época dessa “revelação”, escrevi um texto chamando-o de “Dunga Barrichello”: “Rubinho (como Dunga)”, escrevi, “não sabe vencer”. O que me motivou a escrever o referido artigo foi a série de declarações infelizes dadas pelo brasileiro após o GP da Hungria de 2010, quando Schumacher o fechou de forma criminosa em plena reta.
Barrichello conseguiu transformar aquilo que era para ser provavelmente a manobra mais suja da história da categoria em mais um festival de heroísmos inexistentes: “ele estava entalado (…) prometi pro Brasil que ele não passa mais”, disse o piloto. “Agora sabem por que eu saí da Ferrari antes do término do contrato”, completou.
Ah, tá bom.
Fiz toda essa introdução não para reavivar alguma pauta, mas para falar sobre um vídeo que está circulando na internet há algumas semanas: trata-se da publicidade do novo “V40”, carro da Volvo. Quem é o principal ator? Rubens Barrichello. A peça é intitulada “Rubinho contra os alemães”.
No filme, que dura um minuto e meio, Barrichello ‘desafia’ Mercedes, BMW e Audi, algumas das mais consagradas fabricantes alemãs. E o brasileiro as vence, com todos os acessórios e inovações do V40. Ou melhor, está perto de vencer, quando…
Recentemente se tornaram comuns comerciais em que personagens ridicularizam a si mesmos exaltando uma marca: Ricardo Macchi e o comercial do Cinquecento, Joel Santana (Pepsi e Head&Shoulders), Biafra (Bradesco), entre outros. Barrichello acaba de entrar oficialmente para o time dos caras que, em troca de dinheiro, topam a “auto piada”.
Na verdade, creio que Macchi, Santana e Biafra têm muito mais defesa: eles nunca se afirmaram novos Al Pacinos, poliglotas ou Sinatras brasileiros. Nunca compraram ideias de “vingança” pelo povo ou de “honra” ao herói. Nunca afirmaram que poderiam fazer coisas que, na verdade, não podiam – e esse “não podia” se deu por livre aceitação.
Vendo esse comercial de Barrichello, começo a entender a forma exagerada como muitos brasileiros não o respeitam, mesmo com sua bela carreira: diz o ditado que só é respeitado quem se dá o respeito.
A primeira frase do Edu na coluna citada de início diz o seguinte: “há quem venda o corpo; há quem venda o próprio passado”. Nesse comercial da Volvo, Rubens Barrichello vendeu o próprio passado.
Abraços a todos, e boas férias da F1.
ATUALIZANDO…
O Gepeto com ouvido mais atento irá perceber que, nesse vídeo, não foi apenas Barrichello quem vendeu seu próprio passado.
10 Comments
Sem a intenção de requentar o tema, o FG se lascou neste final de semana. Uma coisa é falar mal do seu time, algo desbocado, como procedia o Edgar de Mello Filho, outra é ofender translocuadamente o outro time, seus torcedores, o povo e o Estado do Rio Grande do Sul. Esse cara precisa de internação já…
Ao sr. Flávio Gomes
(tréplica ao postado na lista de comentários do “facebook” da presente coluna)
Sim, estou falando do senhor, tanto que o citei nominalmente. Ficou ofendido? Então é porque a carapuça serviu.
Sobre seus argumentos, são uma lástima. A produtora te contratou para fazer uma propaganda de automóvel? Ótimo. Sabendo do seu passado de críticas ferrenhas a Barrichello, você sequer se questionou sobre a impressão que poderia passar ao comentar uma sátira a um episódio exaustivamente discutido em diversos espaços, inclusive seu blog?
É lógico que Barrichello não se opôs à sua presença no vídeo. A grana era boa! E você, assim como ele, possuem a visão mercadológica aguçada, não deixam escapar nenhuma oportunidade de ganahar um bom dinheiro. Mesmo que para isso precisem passar por cima das próprias convicções (ou pelo menos daquilo que fazem parecer ser suas próprias convicções).
Estou sim te acusando, de ser hipócrita em cada post e discurso que faz, seja na internet, na ESPN ou na reunião de condomínio.
Sem mais!
Com certeza o FG ganha de todos os lados… Qual o sentido, por exemplo, de defender com unhas e dentes (ui!) aqueles enfeites nos semáforos em São Paulo, coisa que custou dinheiro aos cofres públicos sem qualquer benefício real à sociedade? Justo ele, o defensor da morte a quem desperdiça o erário…
O maior erro do Barrichello enquanto esteve na Ferrari foi em insistir e querer convencer a todos (com a ajuda da Globo é claro) que ele não era o 2º piloto da equipe e sim o piloto 1B e assim poderia bater o Dick Vigarista …
Com relação ao Flavio Gomes, pouco leio e nada comento em seu blog … mas confesso que acho bacana ele correndo com seu DKW …
Fernando MArques
Niterói RJ
Piloto 1B… Ora, qualquer criança letrada sabe que o B vem depois do A. Primeiro o A, de Alemão, depois o B de brasileirinho. Alguém sempre terá de ser o segundo. Na Ferrari é o piloto com menos pontos, ou o B por contrato.
Belo texto Marcel.
Barrichello vendeu seu passado por uns trocados e isso não é bom. Mas ao menos está fazendo piada!
Sobre o vídeo, não foi surpresa ver Barrichello fazendo piada por alguns (talvez muitos) trocados. Pra mim soou como um “o que é um peido pra quem ta cagado?”.
No entanto, como você bem observou, quem estiver mais atento notará algo interessante ao ver o vídeo: o comentarista escalado por alguns trocados (talvez não tão poucos) foi ninguém menos que Flávio Gomes!
Mas e daí? Qual a surpresa?
Nenhuma!
Flávio Gomes é um pseudo-jornalista, com um baita faro para o comércio.
Em seu blog, encarna uma persona polêmica, que fala muito e age pouco. E, sem surpresa alguma, vive caindo em contradições.
Defende com unhas e dentes a bandeira do comunismo e dos governos “de esquerda”. Mas fecha os olhos para a “esquerda festiva brasileira” (talvez por não admitir a falência do partido que ele aprendeu a seguir desde jovem).
Julga inúmeros colegas de profissão (podemos chamá-lo de jornalista?) por se “venderem” para o sistema. Mas se vale dos mesmos métodos parciais aplicados nos grandes meios de comunicação para alavancar seus vencimentos. Não foram poucas as vezes que FG publicou posts sobre pilotos brasileiros com os quais não tem a menor simpatia, simplesmente para aumentar a quantidade de acessos diários de seu blog – pesquisem quais os posts com maior número de comentários no tal blog e confirmem o que estou falando.
E este vídeo apenas confirma tudo o que foi dito. Flávio Gomes sempre foi um dos maiores detratores de Rubens Barrichello durante (e depois de) sua carreira na F1. Mas se dispõe a esquecer completamente de sua opinião em nome do vil metal.
E já que o pior cego é aquele que não quer ver, segue abaixo uma dica para aqueles que querem abrir os olhos em relação à FG:
f1critics.blogspot.com/2008/09/sobre-publicaes-alheias.html
f1critics.blogspot.com/2009/10/sobre-publicacoes-alheias-parte-3.html
Abraços
Caro Ballista,
Análise perfeita. Perfeita. Assino embaixo.
Abração!
Lucas Giavoni
Grato! 😉
O Flavio Gomes é um carro culto e inteligente, mas que infelizmente não tem o menor senso de humanidade, respeito e educação. Só vai aprender (talvez…) quando alguém lhe arrebentar o nariz. Daí ele vai postar no seu blog que é favorável à pena de morte a quem lhe bateu… Enfim, coitado, como eu lhe disse (e ele não publicou), tenho pena dos filhos dele, que ou devem se achar os melhores do mundo, ou devem ter uma vergonha danada do pai…
E quanto ao fato de ser detrator de Barrichello além do ponderável, algo que pode explicar é sua sociedade com um ex-empresário do piloto… Li em um post seu, que não consegui encontrar novamente. Enfim
Ballista, o inferno são os outros! 😉
Belo texto Marcel!
Olha, Barrichello sempre foi e sempre será assim.
Segue outro belo texto publicado também no Gepeto.
http://gptotal.com.br/2005/Colunas/Pandini/20050803.asp
Abraço!
Mauro Santana
Curitiba-PR