Alimentando Lobos – Parte 2

Quanto Clark foi maior que seus dois títulos de F1?
06/02/2023
Assuntos inacabados
14/02/2023

Continuando a saga de Jos na formação do Max piloto sugiro a leitura da primeira parte dessa coluna:

Alimentando Lobos – Parte 1

Assim, temo que todos esses anos de intimidação, ameaças e castigos, terminaram marcando o caráter de Max, pois o garoto acabou apresentando muitas das características de seu irascível pai. O próprio Max quando se descreve como piloto disse:

 

Eu posso ser agressivo. Eu gosto de correr duro e creio que o meu pai também era assim. Porem, penso que eu sou um pouco mais refinado do que ele era, mas para isso é que trabalhávamos desde que eu era muito jovem. Meu pai queria que eu fosse melhor do que ele ! “

 

Creio que o primeiro que transparece destas palavras é a predisposição de Max a emular o pai, como a sua figura modelo e referente a seguir. Uma criança é como um jardim onde podemos cultivar tanto amor quanto ressentimento, tudo depende da semente que plantemos. O mal caráter e temperamento de Jos logo ficou marcado no filho

Também evidente como se manifestava no filho desde que este entrou na Formula um. Assim, todos nós recordamos os vários acidentes de Max e que lhe custaram ser conhecido como “Max Crashtappen”. Tampouco escapa à memória seu incidente com Esteban Ocon no GP do Brasil de 2018. Naquela ocasião, Max liderava a prova com folga e tinha ao alcance da mão a que seria sua terceira vitória da temporada. Porem, na volta 44, Ocon saiu dos boxes logo atrás de Max com pneus super macios frescos e um ritmo superior ao do holandês que o levaram logo a tentar a ultrapassagem. Ocon apenas tratava de recuperar a volta perdida e se distanciar de seus perseguidores, enquanto que para Max Ocon não era nenhuma ameaça, pois cada um deles lutava por objetivos diferentes.

 

Mesmo assim, Max, exibindo um absurdo comportamento, resistiu à ultrapassagem com resultado de choque entre ambos. Ocon teve de abandonar e, nesses instantes, Max viu como Hamilton o superava, privando-lhe de uma vitória que deixava escapar estupidamente.

Porem, o pior ainda estava por vir: Depois da corrida, Max foi buscar Ocon nos boxes e, mostrando uma atitude claramente agressiva e reprovável lhe insultou, empurrou e golpeou no peito em varias ocasiões… assim como seu pai costumava fazer com ele mesmo ! Será que era só uma coincidência ? Esse violento e nada exemplar comportamento de Max, lhe custaria um castigo posterior em forma de dois dias de “serviços de utilidade pública”… que nem parecia um castigo, dito seja !

 

De fato, desde que o sistema de punições com a conseguinte atribuição de pontos foi instaurado em 2014, Max é o piloto que mais pontos acumula nesses anos ( ainda que nunca chegou aos 12 pontos máximos numa temporada para ser suspendido ).

 

Essa agressividade também viria à tona durante a temporada de 2021, que ainda está fresca em nossa memória, e só a cabeça fria de Hamilton evitou mais de um acidente. Assim, não creio que sejam necessários comentários ao respeito, mas a colisão entre Max e Hamilton em Silverstone guarda bastante semelhança com a supracitada, pois em ambas Max trata de traçar a curva como se não houvesse ninguém mais por lá !

Na temporada de 2022, a superioridade mostrada pela Red Bull foi tanta que Max esteve bastante “calmo”, ainda que no fim seu mau caráter acabasse exposto uma vez mais. Com o campeonato já no bolso desde o GP do Japão, seu companheiro Sergio Pérez e Charles Lecrerc ainda tinham que dirimir quem seria o vice- campeão. Depois da corrida do México, Pérez contava com 5 pontos de vantagem sobre o monegasco, sendo que o próximo GP por disputar seria o do Brasil.

Em terra brasileira, o desenrolar da prova em Interlagos não foi favorável a Pérez e já nas voltas finais, estando este em 6º lugar e Max em 7º, a Pérez lhe dizem que deixe Max passar à frente, pois parecia o mais rápido dos dois, com o objetivo de alcançar a Alonso e a Lecrerc e, se possível, superá-los para, assim, restar pontos ao ferrarista.

Pérez cumpre a ordem no convencimento de que, se Max não conseguia superar o dois pilotos, a posição lhe seria restituída, como é habitual nesses casos. Para a sua surpresa, e apesar de que Max não avança e lhe ordenam devolver a posição, este ignora a petição. A ordem é logo repetida e Max, novamente, se nega a obedecer aduzindo ter “suas razões”, mantendo-se firme em sua decisão.

 

Segundo se especulou então, Max ainda estava ressentido com Pérez pelo acidente deste em Mônaco durante a classificação, o que lhe impediu de tentar melhorar seu tempo, e a sua negativa em ceder a posição era uma forma de se vingar do mexicano. Max acreditava que Pérez havia provocado o acidente com o único propósito de impedir ser superado por ele no grid, algo que parece difícil de acreditar dado o histórico de bom comportamento de Pérez com a equipe.

 

Ainda assim, mesmo que Max acreditasse nessa má fé de Pérez em Mônaco, já haviam passado vários meses desde o incidente, Max já havia conquistado o campeonato e a equipe estava lutando por colocar seus dois pilotos no topo da classificação final, algo que nunca haviam conseguido antes em seus 17 anos de existência. Se Max queria se desquitar, não era preciso que o fizesse de forma tão grosseira e assegurando-se que todos o vissem.

 

Com isso apenas conseguiu expor uma séria lacuna de sua personalidade. Fossem quais fossem essas “razões” imagino que já existiam antes que Sergio lhe cedesse a posição, contudo Max só as invocou… quando devia devolvê-la. Deste modo, com a sua negativa, Max nos mostrava alguém rancoroso e capaz de antepor a sua sede de vingança ao bem da equipe, mas também confirmava que o pior ressentimento que podemos abrigar é aquele que pensamos estar justificado.

As tais “razões” que dizia Max justificar a sua decisão não podem estar por cima dos interesses da equipe, e como disse o antigo piloto Hans Stuck:

 

No meu ponto de vista, isto tem a ver com uma falta de disciplina. O primeiro mandamento na Formula 1 é seguir as ordens da equipe incondicionalmente ! “.

 

Christian Horner e Helmut Marko, decepcionados com a desobediência de Max, depois diriam que lhe haviam advertido que devia ajudar Sergio em sua luta pelo vice-campeonato na próxima e última corrida da temporada em Abu Dhabi.

 

Assim, chegamos à prova do emirado com Pérez e Lecrerc empatados a 290 pontos e com a incógnita de saber se Max ajudaria o companheiro. Segundo dizia Sergio, as atualizações que o carro foi recebendo ao longo da temporada não lhe favoreciam, pois só eram feitas para melhorar o rendimento de Max. Quando Sergio ficou fora da Q3 nos treinamentos para o GP da Hungria e perante estas queixas do mexicano, Helmut Marko, de maneira grosseira e nada respeitosa, se limitaria a dizer:

 

As férias de verão ainda não começaram, mas ele (Sergio) já parece estar nelas. Temos de falar com ele, pois ele deve se adaptar às configurações de Max ! “.

 

Em definitiva, não vinha sendo um ano fácil para Sergio e creio que havia feito méritos para receber ajuda, portanto veríamos se as advertências feitas a Max no sentido de que devia prestar apoio ao mexicano se concretizariam ali em Abu Dhabi. Também veríamos se, de uma vez por todas, o holandês deixava seu egoísmo de lado em prol da equipe.

Infelizmente, não foi assim e, desde a largada, Max assumiu a liderança e em nenhum momento se preocupou pelo que acontecia por trás dele, para encerrar a temporada com outra vitória. Em segunda posição terminou Lecrerc com Pérez em terceiro a apenas cerca de 1,3” de distancia de Charles. Assim, Pérez tinha de se conformar com a terceira posição na classificação final e a Red Bull perdia a ocasião de conseguir uma dobradinha.

Em declarações posteriores à corrida e com motivo de um comentário respeito à possibilidade de haver “segurado” um pouco a Charles, para permitir que Pérez se aproximasse e poder lutar pela segunda posição com o monegasco, Max, quase indignado, responderia:

 

Isso é algo complicado… Mas isso é uma corrida justa?. Acho que não é a maneira mais agradável de acabar a temporada “.

 

Vejam só, Max falando sobre o que é justo ou não, quando lá mesmo naquele circuito, na temporada anterior, isso é precisamente o que Pérez fez para lhe ajudar a se aproximar de Hamilton.

Na ocasião Max não se queixou da ajuda recebida, nem muito menos lhe pareceu ser injusta. Tampouco se queixou em nenhuma das ocasiões em que Pérez lhe cedeu a posição, cumprindo as ordens da equipe… nem rejeitou as cedidas de posições que o mexicano fez por ele.

Com essa resposta e como havia dito Pérez pelo rádio quando Max não lhe quis devolver a posição em Interlagos… Isto mostra quem Max realmente é !

Ainda que víssemos quem Max era, não nos deve de resultar estranho que o rapaz seja assim, sabendo como foi educado e como era o pai em quem ele se espelhava. Tampouco deve surtir bom efeito a forma em que Christian Horner vem consentindo a sua arrogância e desobediência. Apesar de tudo, entendo que, no fim, uns e outros acabaram conseguindo o que queriam: Jos tornou realidade o projeto da sua vida, vingando-se assim do seu pérfido passado, enquanto que Max terminou cumprindo o sonho de ambos ao alcançar tudo aquilo para o que foi treinado. Por sua parte, a Red Bull aumenta a sua estatística de vitórias e de títulos.

Assim, tanto uns quanto os outros… podem estar satisfeitos !

 

Porem, recordando o velho guerreiro Cherokee quando falava sobre os dois lobos que se digladiam em nosso interior, creio que todos nós podemos ver a qual deles se esteve alimentando durante anos e, portanto, qual deles acabou prevalecendo. Assim, todas as vitórias e os títulos de Max, apenas nos mostram um piloto capaz de vencer muitas corridas e de conseguir títulos.

Contudo, no que penso a respeito, por muito que Max seja um grande vencedor… temo que ainda esteja muito longe de ser um grande campeão !

Um abraço e até a próxima,

Manuel

 

Manuel Blanco
Manuel Blanco
Desenhista/Projetista, acompanha a formula 1 desde os tempos de Fittipaldi É um saudoso da categoria em seus anos 70 e 80. Atualmente mora em Valência (ESP)

2 Comments

  1. Fernando Marques disse:

    Manuel ,

    Concordo plenamente com tudo o que você na parte 2.
    O caráter do verstappen é dos piores.
    Mas faço uma ressalva ao Sérgio Peres.
    Ele está na RBR para ser escudeiro. Assim como foi o barrichello, bottas … E não para medir forças com Verstappen

    Fernando Marques
    Niterói RJ

    • Manuel Blanco disse:

      Oi Fernando, muito obrigado por seus comentários.

      Certamente esse era o papel de Pérez e o cumpriu perfeitamente. Porem isso não esta em questão, mas o comportamento de Max… sim.
      Quando tinha a ocasião de mostrar um pouco de agradecimento a Pérez por toda a ajuda recebida deste ( ainda que fosse cumprindo uma ordem recebida ), Max foi desrespeitoso com a equipe e depreciativo com o companheiro.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *