As Voltas

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O último GP da Europa apresentou muitas voltas além das 57 inicialmente programadas.

Este interessantíssimo GP da Europa teve diversas voltas ainda não computadas. Vamos conferir?

Começou com a volta da Ferrari a gazetear o Q3, desta vez com os 2 pilotos. Foi por um pelo, como disse o nosso Felipe, mas ficaram de fora. Por que aconteceu isso?

Fiquei com a impressão de que, na tentativa de poupar um jogo de pneus soft para o Q3 deixaram passar o momento adequado do Q2 para ir para a pista. Esqueceram que este ano os tempos estão muito próximos, portanto um pelo pode realmente fazer a diferença entre céu e inferno.

Voltava a Scuderia a errar com os pneus e voltaram então os prognósticos de que não teria a menor chance… “só o Rubens ganhou nesse circuito sem ter feito a pole”… “é difícil ultrapassar”… mesmo com aquelas siglas artificiais acionadas por botões.

Então começa a voltar o fator sorte.

Esse erro rosso permitiu a Alonso dispor de um jogo de médios e dois de softs, portanto podendo cobrir a corrida inteira com borracha nova.

Hamilton deve ter notado isso com clareza no stint final, pouco antes de tomar a maldonada na costela, enquanto tentava administrar a calvície pronunciada de seus pneus.

Uma espécie de reviravolta do que aconteceu no Canadá.

Outro prognóstico, muito lógico, era de que seria mais uma corrida sonolenta, como foram as anteriores em Valencia.

Então voltaram a furar os prognósticos.

Diametralmente oposto ao seu colega, voltou a má fase e consequentes críticas ao Felipe, seja na mídia italiana ou na brasileira.

Tanto Montezemolo quanto Domenicali trataram de defender expressamente seu piloto: “Pecado pelo Felipe, que hoje teve uma verdadeira coleção de azares, primeiro con detritos que arruinaram o balanceamento de seu carro, depois com a neutralização justo depois do seu pit-stop, para terminar com a colisão com Kobayashi: tinha iniciado em grande estilo e tinha as cartas na mão para fazer de fato um bom resultado””, traduzindo livremente as palavras exatas de Domenicali. Estariam sendo “bonzinhos” com seu piloto?

Ou eles acham que Massa continua sendo um bom piloto, apenas não é páreo para um colega fora-de-série?

Observe como existem outras disparidades consideráveis entre companheiros de equipe, inclusive gente consagrada.

Jenson fez a temporada passada claramente acima de seu companheiro de equipe. E o que acontece com ele este ano, justamente quando a administração da borracha faz toda a diferença? Desaprendeu?

Opinião de Simon Roberts, diretor de operações da McLaren: “Acho que o Canadá foi muito interessante pois usamos o mesmo carro para ambos os pilotos e eles possuem as mesmas peças. Permitimos que eles adaptem o chassis aos seus estilos de pilotagem, mas claramente vimos um desempenho distinto em termos de desempenho dos pneus e do carro.”

Será que o carro do ano passado favorecia o estilo do Botão? E vice-versa este ano? Por que a imprensa inglesa não faz pressão para ele ser substituido?

Embora Mark Webber tenha vencido em Monaco e esteja bem situado na tabela, dá algum sinal de que vá finalmente superar seu jovem colega? Esses resultados parecem ter acontecido mais por sorte do que por mérito.

Principalmente porque também tivemos uma volta da Supremacia Newey. Nesta corrida a Red Bull apresentou sua 4a. versão do trem posterior, bastante redesenhado. Nas mãos de Seb isto se transformou em 19 espantosos segundos de vantagem, até que o que Vergne considerou um “incidente normal de corrida” embaralhasse novamente o jogo.

O mesmo carro nas mãos de Webber larga em 19º e chega em 4º. Em tese parece uma façanha só superada pela de Alonso mas…

Tanto Webber quanto os pilotos da Mercedes largaram com pneus médios, certamente tentando uma única parada.

A expectativa era que um jogo médio durasse 25 voltas e um soft 20. Fazendo as contas, a maior parte das equipes concluiu que não valeria a pena fazer uma única parada. Todas sabem que o problema está em descobrir o momento em que o nível de desgaste afeta o desempenho. A dificuldade está em que esse ponto crítico varia conforme a pista e as condições de temperatura do dia.

Nas temperaturas mais altas esse ponto costuma aparecer quando 70% da borracha foi embora. Como se sabe, alguns carros e pilotos conseguem ir mais adiante, como Di Resta e Perez, clientes habituais da parada única.

Em Valencia a Mercedes optou por fazer esse jogo com seus dois pilotos e tinha tudo para se dar mal.

Quando Vettel terminou seu primeiro stint, já tinha 32” de vantagem para Nico, tão lento este andava.

Na volta 46 Michael e Webber viravam um segundo mais rápido que os ponteiros. Com a entrada do SC, puderam andar devagar por várias voltas e assim retardar a parada ao máximo, botar um jogo de softs novos e, com as vantagens de tempo anuladas pelo SC, puderam escalar posições.

Exemplo: Hulkenberg ia 16” à frente de Michael na volta 42 e foi ultrapassado por ele na volta 56.

Volta – eufórica – de Michael ao pódio.

A McLaren voltou a liquidar as chances de Hamilton com mais uma atuação comica no pit stop. Tivessem sido competentes, o inglês teria voltado à pista na frente do espanhol e aí….

A Ferrari, em contra-partida voltou a ser esplendida nesse quesito. No primeiro pit foi 2” mais rápida que a Lotus, por exemplo, permitindo que Fernando saisse na frente de Raikkonen. Independente da competência de Alonso, nesse momento a Scuderia fez o que se espera dela.

Talvez o melhor de tudo tenha sido a volta das ultrapassagens aparentemente naturais, particularmente de Alonso, Grosjean e… Massa, logo no início. Esse é um circuito, como bem lembrou GB, onde a asa móvel influencia muito pouco mesmo com 40 metros a mais de reta. Na mídia italiana alguém achou que foi uma volta à F1 dos anos 80.

Também tivemos a volta dos problemas no material fornecido pela Renault. Dois alternadores em chassis diferentes mas praticamente ao mesmo tempo. Embora negue o efeito “safety car”, falta de refrigeração etc., é sintomático. Provavelmente sabe a causa mas vai fazer “poker face”, tratando de evitar que os concorrentes também descubram seu ponto vulnerável.

Resumindo, a volta de Alonso ao lugar mais alto do pódio este ano

deveu-se à sua agressividade na largada e voltas iniciais, à competência da Ferrari nas trocas de pneus, ao erro que permitiu fazer a corrida inteira com borracha nova e ao fator sorte, que afastou os principais rivais do seu caminho.

Obviamente Alonso, Kimi e Schumi tiveram a sorte dos campeões e Massa, Grosjean e Seb azar. Não ficaria surpreso se o contrário ocorrer antes do final do campeonato.

É o Cassino Royale.

Carlos Chiesa
Carlos Chiesa
Publicitário, criou campanhas para VW, Ford e Fiat. Ganhou inúmeros prêmios nessa atividade, inclusive 2 Grand Prix. Acompanha F1 desde os primeiros sucessos do Emerson Fittipaldi.

9 Comments

  1. Mauro Santana disse:

    Olá Amigos do GPTotal!

    Tenho uma pergunta:

    Já faz um tempo que ando lendo por aí que a RG esta sofrendo quedas com a audiência da F1.

    http://victormartins.warmup.com.br/2012/06/29/em-queda/#.T-4FL7VPvdk

    Uma vez eu vi uma entrevista do Reginaldo Leme com o Gil de Ferran, e nela , o Reginaldo comentou que logo após a morte do Senna, ele e o Bernie Escclestone tentaram levar o Gil pra F1, mas não deu certo.

    Aí que vem a minha pergunta:

    Será que pode haver alguma interferência da RG junto ao velho Bernie, para que um piloto brasileiro esteja alinhado no grid num carro de ponta, para que o público brasileiro não perca o interesse com a F1?

    Abraço!

    Mauro Santana
    Curitiba-PR

    • Lucas R disse:

      Não é nada impossível, Mauro. Acho que cai naquela história do “pagando bem, que mal tem?”.

      O problema é que as equipes – mesmo as de ponta – vivem de patrocínio e as empresas brasileiras não estão nem aí para os pilotos brasileiros, já que as corridas não estão dando a audiência esperada. A menos que a própria Rede Globo resolvesse patrocinar algum piloto, aí até poderia dar certo, mas é difícil.

    • Carlos Chiesa disse:

      Mauro, a RG é líder de audiencia no Brasil há décadas. Essencialmente por causa de sua competencia e seriedade em fazer TV aberta. Falo isto como profissional de publicidade, portanto com um conhecimento acima da média. Mas, quem é líder só tem a perder, no longo prazo. Não que a qualidade tenha caído, mas é que novos meios surgiram, como TV paga e web. No caso da F1, é natural que quem só pensa em vitórias, que acha que é um direito divino ter um brasileiro campeão do mundo, passar a não assistir tantos GPs. Acho muito difícil a RG patrocinar diretamente um piloto, por “n” razões, inclusive reverter essa possível queda de audiencia. Mas existem, sim, empresas brasileiras patrocinando pilotos brasileiros e mesmo multinacionais baseadas aqui. Bruno Senna é o exemplo mais gritante, com Embratel e Gillette. Portanto o problema de colocação de mais um piloto brasileiro na F1 me parece bem mais complexo. Ainda mais com qualidades para ser campeão. Volto à questão da audiência. A “azzurra” é tão importante para os italianos quanto o “escrete canarinho” para nós. Mas, na F1, ao invés de pilotos, a Itália tem a Ferrari como motivo de orgulho constante. E é um orgulho também mais complexo, pois representa tecnologia de ponta. Poucas marcas de tecnologia tem tanto prestígio. Logo é um gigantesco chamariz de audiência. Em coluna recente informei que os italianos estão reclamando muito da qualidade da narração da sua TV aberta. Agora estão reclamando que não terão mais transmissão pela RAI (estatal) e sim, pela Sky. Parece que foi jogada do Bernie, sempre ele. Portanto, os italianos agora vão ter que pagar outro pacote para poder ver ao vivo os GPs. Protestos generalizados. Como tenho dito, RG e GB podem não agradar totalmente ao público mais conhecedor da F1, mas é melhor com eles do que sem eles.

  2. Carlos Chiesa disse:

    Olá Manuel. Pois é, tem tanto dinheiro e tantos interesses envolvidos na F1 hoje que, sabe-se lá se essa teoria da conspiração pode ser real. A rigor bastaria o Bernie se reunir com um capo da Pirelli para perpetrar… pessoas como Briatore podem não ser exceção na categoria. Tomara que não seja verdade.

    • Fernando Marques disse:

      Se existe uma Teoria Conspiratoria ou não a verdade é que nenhuma equipe tem a verdadeira noção de como vai comportar os seus carros nas proximas corridas por causa do pneus … e há promessas de chuvas em Silverstone …

      Fernando Marques
      Niterói RJ

    • Carlos Chiesa disse:

      De fato, Fernando, estão todas quebrando a cabeça para lidar com os pneus. Pessoal da Ferrari, por exemplo, declara que ainda precisam entender como eles se degradam… No entanto, observe que o fator Newey voltou ao cassino. Agora Ferrari, McLaren, Mercedes, Lotus.. precisam se preocupar também com a superioridade mostrada por Vettel até o alternador entregar os pontos. Já se prevê protestos junto a Charlie Whiting em Silverstone, junto com as chuvas.

  3. Fernando Marques disse:

    Carlos Chielsa,

    com esta incognita em relação aos pneus acho desnecessario o uso da Asa Movel para favorecer ultrapassagens …

    Fernando Marques
    Niterói RJ

    • Carlos Chiesa disse:

      Tambem acho, Fernando. Muita tecnologia ofusca o trabalho dos pilotos, que mais um pouco poderão pedir licença médica por LER (Lesão por Esforço Repetitivo) de tanto botão precisam manusear. Os apreciadores mais genuínos da F1 tendem a depreciar esses recursos artificiais, pensados para gerar “emoções”, em momentos em que uma equipe e seu piloto principal não davam chance para ninguém.

    • Manuel disse:

      Será mesmo uma incognita ?
      Com minha “natural” desconfiança nos caras que regem a formula um, me pergunto se realmente os pneus sao iguais para todos, ou se haverá algum jogo que apresente maior desgaste e seja assignado de maneira aleatória entre as equipes ( preferivelmente as principais ), para impedir que alguma domine o campeonato. Nao sería esta outra maneira de “gerar” emoçao ?
      Diz um ditado popular espanhol que : ” Pense mal… e acertará ! “

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