Para os fabricantes com carros , fossem eles comuns ou esportes, uma forma que no pós segunda guerra mundial foi adotada para publicitar seus modelos foram as pistas de corrida, nada melhor que mostrar que o modelo escolhido era vencedor
Assim as diversas tentativas bem-sucedidas de vitórias e de recordes de velocidade tornaram-se um farto material para seus departamentos de publicidade.
Um jovem promissor emergiu nesse cenário nesse período, seu nome Stirling Moss
Moss estreou nas pistas de corrida em 1947, com menos de 18 anos, desde seus 15 anos Moss contou com o incentivo de seu pai Alfred Moss para aprender a dirigir, seu pai o ajudou a comprar seu primeiro carro. Foi diferente quando o jovem falou em participar de corridas o pai não gostou muito da ideia e apreendeu o carro dado por ele a Moss.
Pouco depois Alfred Moss compra uma BMW 328 de um colega, Victor Biggs, foi a oportunidade do jovem Stirling convencer o pai que seu futuro estava nas pistas de corrida e que ele deveria ao menos deixar o jovem testar se tinha talento para aquilo, os argumentos de Stirling foram suficientes para conseguir a aprovação de Alfred, que liberou o filho para usar a BMW para correr
Em 2 de março de 1947 na corrida do Cullen Cup disputada no Harrow Car Club em um evento destinado a novatos, Stirling Moss participa de sua primeira corrida, estava ali dada a partida para um dos maiores talentos dos anos 50 iniciar sua jornada nas pistas de corridas mundo afora
Já em 1947 aquele jovem chama a atenção na Inglaterra nas seis corridas que participa com a BMW do pai e seu nome começa a fazer fama entre os diversos construtores britânicos da época
Importante lembrar que após a guerra a Inglaterra estava cheia de muitos talentosos engenheiros aeronáuticos, de industriais querendo reconstruir suas fábricas e jovens que estavam cheios de esperanças por um mundo melhor, esse pessoal precisava continuar suas vidas com trabalho, nessa circunstância a Inglaterra foi inundada de gente com vontade de reconstruir e encontraram no automobilismo uma forma de reavivar e levar a indústria automobilística britânica para o mundo, já que antes da guerra a participação inglesa ante os Alemães, Franceses e Italianos era a mais tímida e menos vitoriosa dos europeus nas pistas
Marcas como Jaguar, Bristol, Cooper, Aston Martin, BRM, Vanwall, foram tomadas por essa energia e partiram com tudo para participar das provas e campeonatos
A nata dessas competições foi sem dúvida a Fórmula 1, antes da guerra já estava existindo a iniciativa de organizar um grande campeonato que congregasse o que havia de melhor e mais sofisticado, iniciativa interrompida e que nos anos 40 voltou a tomar folego, como sabemos o ano de 1950 marcou o início dessa era
Outras categorias passaram a existir até para acomodar tanta gente e tantos fabricantes ávidos por competir e mostrar seu melhor
As competições de 24 horas eram uma ótima forma dos fabricantes colocarem seus diversos modelos, até carros comuns adaptados, para correr e mostrar velocidade e resistência
A Jaguar era uma marca que precisava “vencer no domingo e vender carros na segunda” lema adotado pela concorrente Aston Martin, e para vencer precisava de pilotos talentosos
Participar de provas de 24 horas estava nos planos da Jaguar, e uma forma diferente de competição foi testada para fazer publicidade da marca
Em outubro de 1950 a Jaguar leva uma equipe para o circuito de Montlhéry na França com o propósito de estabelecer um novo recorde, para tal reservaram a pista oval com curvas inclinadas e seria uma oportunidade para usar Stirling como piloto, um jovem que estava nos noticiários esportivos como uma estrela em ascensão
O plano era que Moss e Leslie Johnson dividissem o volante de um Jaguar XK120 de rua, na tentativa de dirigir por 24 horas ininterruptas a uma média de velocidade de 160 km/h, era a primeira vez que esse tipo de endurance era feito.
Inaugurado em 1924, o Autódromo de Montlhéry havia sido o local do Grande Prêmio da França antes da guerra, e a parte oval da pista com 2,5 quilômetros de extensão tornou-se um local favorito para tentativas de recorde de velocidade.
Em 1926, a piloto inglesa Violette Cordery liderou uma equipe toda inglesa , eles percorreram 8.000 quilômetros na pista a uma média de pouco mais de 70 mph em uma Invicta construída por seu cunhado Noel Macklin, pai de Lance Macklin que ficou famoso no envolvimento no fatídico acidente em Le Mans 1955.
A tentativa de estabelecer esse recorde correndo de forma ininterrupta por 24 horas foi ideia de Leslie Johnson: e como ele havia vencido a corrida de 24 horas em Spa com um Aston Martin em 1948, e principalmente deu ao Jaguar XK120 sua primeira vitória em Silverstone em 1949, foi natural a Jaguar escolher ele para dividir o carro com Moss.
Nascido em Walthamstow dois anos antes do início da primeira Grande Guerra, ele era um amador que subsidiou suas corridas com os lucros de uma bem-sucedida marcenaria herdada de seu pai. Um homem maduro, com uma atitude equilibrada perante a vida e o desporto, tinha acumulado uma grande experiência em ralis e corridas de subidas de montanha, bem como em corridas de estrada e endurance. Ele teve uma carreira mais irregular e quase que amadora por conta de suas responsabilidades com a madeireira e os efeitos prolongados de problemas cardíacos e renais na sua infância.
Johnson forneceu a Moss um tipo de orientação muito diferente da de Macklin. O modelo do Jaguar que seria usado na França era o mesmo que Johnson havia dirigido em Le Mans alguns meses antes com a diferença de ser um modelo de rua sem a preparação especial de um carro de corrida, os ensinamentos de Johnson foram bem assimilados por Moss.
Com a presença de uma equipe de mecânicos de fábrica, a tentativa começou às cinco da tarde de uma terça-feira 24 de outubro.
Ambos os pilotos fariam quatro turnos de três horas cada, com Moss partindo primeiro. Os faróis do carro não eram realmente adequados para dirigir à noite em uma pista inclinada em tais velocidades, mas eles mantiveram uma boa média de velocidade até o amanhecer, no final foi Johnson que estabeleceu a melhor velocidade de volta única de com média de 201,6 km/h, eles totalizaram a distância total ao final de 24 horas de 4.122 quilômetros percorridos com a média de 172 km/h de velocidade (107,46 mph), dando à Jaguar algo interessante para anunciar nos jornais e revistas.
Em abril de 1951, Moss enfrentou a Mille Miglia em um XK120 de corrida e preparado de fábrica, foi sua primeira participação nessa corrida que acabaria por ocupar um lugar de destaque em sua história pessoal, não em 1951 e sim em 1955.
Com dois meses de antecedência, planejando examinar todo o percurso, ele pegou um carro de rua da Jaguar e foi até a Itália. Sua intenção era percorrer todo o circuito e aprender como ir rápido em todo o percurso, só que dessa vez ele não havia passado além de Ferrara – cerca de 160 quilômetros de percurso- quando uma van saiu de trás de um caminhão e atingiu o Jaguar, danificando a direção e danificando o carro a ponto de Moss desistir e voltar para a Inglaterra.
Na corrida de 1951, a experiência foi igualmente inglória, ao seu lado o mecânico da Jaguar chamado Frank Rainbow foi junto com ele no carro, e tendo começado a corrida às quatro e meia da manhã sob chuva torrencial, ele havia percorrido apenas 24 quilômetros quando atingiu um trecho cheio de óleo do motor de um Fiat que abandonara pouco a frente, Moss não conseguiu evitar o acidente e bateu no carro parado, o impacto danificou a carroceria dianteira.
Depois que ele e Rainbow de forma manual colocaram boa parte da carroceria do Jaguar de volta ao lugar, voltaram a pista, aí foi a vez da caixa de câmbio emperrar, dessa vez o dono de uma oficina de beira de estrada os ajudou, mas a frente danificada impediu o fechamento da tampa do motor e eles foram obrigados a abandonar a prova.
Dois meses depois, ele correu pela primeira vez em Le Mans, no novo e muito admirado modelo C-type da Jaguar: um carro esportivo projetado exclusivamente para corridas e com motor baseado no modelo XK. Seu companheiro para dividir o carro nas 24 horas seria Jack Fairman, um veterano de 38 anos de idade, que na verdade se dedicava mais a uma empresa de ferramentas de precisão em Midlands, Fairman era mais valorizado por ser consistente e por ter conhecimento mecânico que ele usava para poupar o carro, não era veloz, mas podia levar um carro até a linha de chegada.
Moss recebeu instruções para andar rápido e tentar servir de “coelho” contra os pilotos dos Talbots de 4,5 litros, principalmente Fangio e seu compatriota José Froilán González, claramente na intenção de fazer os pilotos concorrentes a sobrecarregar seus carros.
Moss largou em vigésimo segundo lugar, no tradicional modelo na largada da pista em que os pilotos corriam até seus carros e saiam em busca do desafio das 24 horas.
Moss em poucas voltas numa pilotagem agressiva como combinado assume a liderança da prova, González estava em seu encalço e não dava trégua, só que Moss pressionou tanto o ritmo que o argentino gastou as pastilhas de freio além da conta, e suas paradas adicionais foram mais longas que o previsto. À meia-noite, após oito horas de corrida, Moss e Fairman estavam em uma liderança confortável, uma volta à frente de Talbot de Fangio.
Então, faltando ainda percorrer dois terços da corrida, o motor do Jaguar explodiu. Moss saiu e caminhou de volta para os boxes na chuva torrencial.
Foi a primeira de muitas decepções para ele em Le Mans, mas para a equipe Jaguar a tática de usá-lo como “coelho” funcionou perfeitamente.
Os beneficiários do abandono de Moss acabaram sendo Peter Walker e Peter Whitehead, eles estavam no outro carro da equipe Jaguar, e conquistaram a primeira vitória da Jaguar na clássica de 24 horas de Le Mans, uma vitória com valor publicitário inestimável.
Naquele verão, Johnson teve outra idéia: eles usariam um carro e uma equipe de quatro pilotos para atingir a média de 160 km/h dessa vez pilotando durante uma semana inteira, sete dias com a carro de rua andando a toda.
Johnson, Moss, Fairman e Bert Hadley seriam os pilotos, e desta vez voltaram a Montlhéry com um XK120 de carroceria fechada.
Ficou estabelecido que eles fariam turnos de três horas cada um e usariam um rádio tipo wakie talkie para se manterem acordados e alertas. O grupo acabou encontrando uma outra forma de ficarem acordados e atentos fazendo pegadinhas um no outro, uma noite, Moss se cobriu com uma lona, colocou um funil de combustível na cabeça, subiu nos ombros de Fairman e andou pela pista com a intenção de assustar o passante Johnson fazendo-o pensar que ele estava tendo alucinações.
A resposta de Johnson foi no turno de Moss ele e Fairman se sentaram numa mesa e ficaram jogando cartas, movendo a mesa na pista a cada volta de Moss para reduzir a brecha por onde o Jaguar passava em alta velocidade.
Feitas as pegadinhas, eles atingiram o objetivo: o coupé havia rodado 26.962 quilômetros de percurso total a velocidade média de 160,5 km/h nos sete dias, gerando mais uma boa publicidade para a empresa.
A Jaguar com essas iniciativas projetou fama de carros velozes e confiáveis, também ficando conhecida pelas propagandas inovadoras para comunicar ao consumidor o diferencial de seus carros, o que fez seus números de fãs crescerem de maneira meteórica.
E isso graças ao talento de Stirling Moss em pilotar qualquer tipo de carro em qualquer condição, fossem corridas curtas, longas de 24 horas ou com sete dias de duração
Em março no nosso próximo encontro vamos relatar um almoço de Stirling Moss em Maranello
Até Lá e boa semana
Mário
1 Comments
Mario,
Contar a história do Stirling Moss, seu início de carreira e suas conquistas junto a Jaguar digno de nota 1099. Curioso pela parte 2.
E a parte dois do Emerson quando vem?
Fernando Marques
Niterói RJ