Drama em Portugal 89

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Registro, pra começar, meu profundo pesar pelas mortes de dois grandes ídolos: Neil Peart, baterista do Rush, e Kobe Bryant, um dos gigantes do basquete de todos os tempo. Era fã ardoroso dos dois. Vai ser difícil superar o choque destas perdas.

Hoje vamos lembrar de um GP que completou 30 anos em 24/09: o polêmico GP de Portugal de 1989 e que, ao menos para mim, foi um dos GPs mais dramáticos da história da F1.

Naquela altura do campeonato, como era de costume, a dança das cadeiras já havia acontecido na Hungria, e já estava certo para a temporada de 1990 que Prost iria ocupar o lugar de Berger na Ferrari, e Berger iria ocupar o lugar de Prost na McLaren.

Senna faz a pole, com Berger (que até aquele GP, não havia terminado nenhuma corrida) ao seu lado na primeira fila, com Mansell em terceiro e Prost apenas na quarta posição.

Ao apagar da luz verde, Berger, arrancando frações de segundos antes do brasileiro e assume a ponta, no que seria hoje considerada uma queima de largada, e tal manobra seria repetida pelo Professor dois GPs depois, o Titânico GP do Japão.

Com o andar da prova, as Ferrari vão mostrando força, dando as cartas desde o início, com Berger abrindo de Senna e Mansell voando baixo, tanto que, na oitava volta, ataca a McLaren de #1, e assume o segundo lugar. Com dez voltas completadas, as posições eram a seguinte: Berger em primeiro, Mansell em segundo (descontando rapidamente a vantagem para Berger), Senna em terceiro e Prost em quarto, fazendo uma corrida discreta, bem ao seu estilo.

Mansell cola em Berger e quando os dois entram na reta da meta do Estoril para a abertura da vigésima terceira volta, Berger fica encaixotado por um grupo de retardatários e Mansell, como o Leão que costumava ser, dá o bote preciso, assumindo a ponta de maneira parecida com o que fizera com Senna três corridas atrás, na travada pista de Budapeste.

Na trigésima quinta volta, Berger é o primeiro dos ponteiros a parar nos boxes, com a Ferrari fazendo uma excelente troca em 6s84, e Senna, que havia herdado o segundo lugar de Berger temporariamente, faz sua troca logo na volta seguinte – uma péssima troca, em 12s94, por um problema no encaixe da roda traseira direita.

Naquela altura, Mansell tinha a corrida nas mãos. Liderando tranquilamente, ele tinha tempo suficiente para fazer sua troca, voltar na ponta e correr de braçadas para a vitória.

Mas não foi bem assim e na trigésima oitava volta, quando o Leão entrou para sua troca, fez uma trabalhada histórica, passando reto, dando marcha a ré (o que é proibido pelo regulamento) e rugindo tão alto o V12 italiano tal como uma besta fera, ele coloca a Ferrari #27 na posição correta.

A equipe faz a troca e o Leão retorna a pista atrás de Senna. Com toda esta lambança, eis que Pierluigi Martini e sua inseparável Minardi surgem na liderança, tendo Patrese em segundo, Berger em terceiro, Senna em quarto, Mansell em quinto e Prost em sexto.

A liderança de Martini durou uma volta. Ele é superado por Berger e Senna, com o brasileiro resolvendo partir para o ataque e tentar reassumir a liderança. Mansell também supera Martini e rapidamente encosta em Senna. A direção de prova, porém, como determina o regulamento, aplica bandeira preta ao inglês.

Neste ponto da corrida, Berger já estava liderando tranquilamente, com Mansell babando em cima de Senna, desrespeitando a bandeira preta por três voltas, até que, na quadragésima oitava volta, ele ataca Senna na Curva Um do Estoril e acaba tocando na roda traseira direita de Senna, para desespero de Galvão Bueno e de quem torcia por Senna ao ver o McLaren #1 deslizar pela caixa de brita.

A partir daí tivemos que torcer para que Berger seguisse na ponta, pois Prost assumia o segundo lugar da prova e em caso de uma quebra do austríaco, o título praticamente estaria liquidado em favor do francês.

Pra piorar ainda mais a tensão dos torcedores de Senna, na volta sessenta e três de um total de 71, Galvão Bueno anunciou que a exibição da prova seria suspensa, pois a Rede Globo teria que exibir o horário político da eleição presidencial.

A emissora chegou a pedir ao Tribunal Superior Eleitoral para que a Lei nº 7.773, sancionada pelo presidente José Sarney, não fosse aplicada neste contexto, mas não teve jeito. Ou seja, ficamos todos num voo cego, sem saber como ficaria o final da prova.

Foi somente após o término do horário político que, antes do início das séries “Anjos da Lei”, e “Alf, O É Teimoso”, que Leo Batista, num rápido plantão, nos informou o resultado final da corrida, em que os três primeiros colocados foram, Gerhard Berger, Alain Prost e um Stefan Johansson correndo pela equipe Onyx no terceiro lugar e que, por algum motivo, chegou atrasado ao pódio, no exato instante que Berger e Prost já estavam no estouro do champagne.

Este GP também marcou o último ponto de Jonathan Palmer na F1, correndo pela saudosa equipe Tyrrell.

Muito se falou que Mansell teria batido de propósito em Senna, pelo fato de em 1990 ter Prost como companheiro na Ferrari.

Já Mansell falou por várias vezes não ter visto a bandeira preta por dois motivos, o primeiro pelo sol forte que estava bem de frente para a reta da meta e o segundo por estar colado em Senna.

Senna por sua vez, alegou não entender as mensagens que Ron Dennis lhe tentava informar por falhas no rádio.

Fato é que, o GP de Portugal de 1989 foi uma corridaça, e um dos GPs mais dramáticos que eu assisti.

Grande abraço!

Mauro Santana

 

2 Comments

  1. Geraldo Flávio Chaves disse:

    Caro Mauro, realmente uma grande corrida, pena que não vimos o final da corrida por causa da famigerada política brasileira. Pessoalmente gostei de mais de ver esses dois se enroscando! Uma correção, se tiver enganado me corrija: o Berger fazia uma temporada terrível, mas me parece que no gp anterior, o da Itália ele tinha chegado em segundo. Ou estou enganado? Abraços!

  2. Fernando Marques disse:

    Mauro,

    esta corrida foi realmente dramática … e a história dela relembrada foi mais que merecida …
    mas creio eu que caso Senna fosse o vencedor desta corrida o plano maquiavélico do Prost já estava mais que traçado para ocorrer em Suzuka …
    um plano tão maquiavélico que gerou precedentes como vimos em 90 com Senna dando o troco no francês e utilizado pelo alemão Dick Vigarista para ganhar o mundial em cima do D. Hill e tentar o mesmo em cima do J. Villenueve. O regulamento era falho e o Prost profundo conhecedor dele, soube usar a seu favor. Senna depois fez o mesmo mas a emenda não foi tão forte como a do Prost. Ficou com marca de vingança.

    Fernando Marques
    Niterói RJ

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