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Domínios sempre fizeram parte da F1. Desde a primeira temporada, em 1950, a F1 viu equipes dominando um campeonato. Nos últimos anos esses domínios foram se transformando em dinastias e ao invés de um ou dois de anos de domínio de um mesmo conjunto, estamos vendo muito mais tempo de hegemonia de um carro ou um piloto. Conquistando seu quarto título consecutivo, podemos afirmar que Max Verstappen hoje domina a F1, mas justamente em seu quarto título, estamos presenciando algo não muito usual nesse script de domínios.

A temporada 2024 viu o declínio da soberania do carro da Red Bull por vários motivos, mas ainda assim Max Verstappen soube administrar muito bem o campeonato, mesmo ficando dez corridas sem vitória. Um triunfo inesquecível em Interlagos encaminhou o campeonato, vencido semana passada em Las Vegas. No circuito de Lusail, no endinheirado Catar, Max Verstappen novamente nos relembrou de que ele é feito de um material diferente. Dos gigantes do esporte.

Na sexta-feira a Red Bull parecia perdida e Max só conseguira um sexto lugar na classificação da Sprint e na mini-corrida, Verstappen largou mal e só garantiu um oitavo lugar, reclamando bastante do equilíbrio do carro. O que fez Max? Fez pequenas melhorias no acerto do carro, marcou a pole duas horas depois de dizer que escorregava tanto com o carro que parecia que estava num rali e no domingo, dominou a corrida no Catar, derrotando o melhor ritmo de corrida da McLaren no braço. Max Verstappen faz toda a diferença!

Assistam o Podcast abaixo, onde JC Viana e Lucas Giovone comentam tudo da corrida

Num final de semana com Sprint Race, as equipes tem pouco tempo para acertar seus carros, mas logo ficou claro que a McLaren tinha uma vantagem, com Lando Norris ficando com a pole da Sprint e dominando a prova no sábado. Seu companheiro de equipe Piastri e George Russell brigaram a corrida inteira, com vantagem para o australiano. Em Interlagos, Piastri cedeu sua vitória na Sprint para Norris, que ainda sonhava com o título de pilotos.

De forma surpreendente e sem avisar a ninguém, nem mesmo a própria McLaren, Norris entregou sua vitória para Piastri na última curva da última volta, pegando a todos de surpresa. Mais preocupada com o Mundial de Pilotos, a McLaren não reclamou dessa inversão da dobradinha, mas essa atitude de Lando só demonstra que o inglês ainda não entendeu que sua posição dentro da F1 mudou. A história dos esportes já mostrou diversas vezes que para ser campeão num ambiente tão competitivo, muitas vezes precisa-se ser um pouco egoísta e ter o que os ingleses chamam de ‘killer instinct’. Essa atitude generosa de Norris só demonstra que falta isso tudo para que ele se torne um campeão algum dia.

Verstappen estava em lugar nenhum, junto à sua equipe. O neerlandês largou mal na Sprint e reclamou bastante do comportamento do seu carro. No intervalo para a classificação, Max fez pequenas alterações no carro, como ele próprio falou e de um final de semana que ele seria coadjuvante, Verstappen marcou o melhor tempo para ficar com a pole, superando Russell e a dupla da McLaren.

Três horas depois da classificação foi anunciado que Max Verstappen perdera sua pole position por ter bloqueado George Russell, que acabou sendo o beneficiado, no Q3, mesmo que ambos estivessem numa volta de aquecimento. Logicamente Max não gostou muito da situação, mas publicamente ele não reclamou. Afinal, como bom tetracampeão que é, Verstappen gosta de dar respostas na pista. Reclamar, só depois da corrida e Max reclamou bastante.

Sabendo da dificuldade de se ultrapassar, os pilotos forçaram bastante na largada, ainda mais Max, mordido pela punição discutível que recebera no dia anterior. Verstappen imediatamente se colocou por dentro, enquanto Russell, inocente, tentou manobrar para cima de Max por fora. Tudo o que George conseguiu foi perder não apenas a pole, como o segundo lugar para Norris, que fez uma baita largada. Novamente Lando performou muito bem, quando não era necessário…

Observando como fora ruim o ritmo da Red Bull em na Sprint, era esperado que a McLaren fosse para cima de Max, com Lando subido para o segundo lugar logo na largada, mas Verstappen mostrou sua magia novamente ao imprimir um ritmo fortíssimo, igualando ao ritmo superior da McLaren no braço. Max e Lando faziam uma corrida particular, enquanto Russell segurava Piastri, com as duas Ferraris mais atrás e Pérez segurando Hamilton numa corrida melancólica à parte dos dois. A corrida ficou estática e de certa forma, chata. O circuito de Lusail fora construído vinte anos atrás para receber corridas da MotoGP e mesmo os pilotos tendo gostado do desafio da pista, as poucas retas e freadas fortes não fizeram com que a corrida fosse das mais empolgantes. Somente algo fora do comum poderia mexer no status quo da prova. E ela veio na volta 30, quando o retrovisor de Alex Albon saiu do seu carro no final da reta dos boxes.

A bandeira amarela por detrito na pista apareceu no final da reta e Norris tirou seis décimos no processo, algo que Max percebeu na hora e entrou no rádio reclamando da manobra. O novo diretor de prova Rui Marques preferiu deixar a corrida solta, mas não contava que Valtteri Bottas atropelasse o retrovisor ao ser gentil e deixar os líderes lhe colocarem uma volta. Os cacos de vidro cortaram os pneus de Sainz e Hamilton, trazendo o Safety Car para a pista, bem no momento em que os pilotos se preparavam para entrar e trocar pneus. Russell já havia feito sua parada e mostrava aos demais que retardar a parada seria mais negócio. Com pneus duros e no trânsito, George simplesmente não conseguia evoluir e então os demais pilotos do pelotão da frente, mesmo com pneus médios bem gastos, foram postergando suas paradas até o SC entrar em cena.

Os líderes pararam e na relargada, Norris tentou uma manobra sobre Max por fora. E sabemos que Verstappen nunca levaria uma ultrapassagem por fora. Zero a zero e bola ao centro, com as duas posições mantidas. O terceiro e último SC do dia veio logo em seguida e o motivo foi Pérez. Ah, Pérez…

O mexicano até fazia uma corrida nos pontos no Catar, mas ele rodou sozinho durante o período de SC, ficando com seu carro parado. O zero ponto de Pérez praticamente garantiu que a Red Bull, carro do campeão Max Verstappen, ficará em terceiro no Mundial de Construtores e por mais que o carro austríaco tenha involuído ao longo da temporada, essa posição cairá nas costas de Pérez e somente um milagre o manterá no cargo em 2025.

Na última relargada, Verstappen brincou de acelerar-frear-acelerar com Norris e conseguiu uma ótima vantagem, que ficaria ainda maior quando Norris foi punido por não ter diminuído o bastante no período em que o espelho de Albon caiu. E Rui Marques não teve muita pena de Lando, lhe aplicando uma pena severa de 10s, deixando Norris em último faltando doze voltas. Com Verstappen num ritmo já fortíssimo e com Leclerc superando Piastri nas paradas, o neerlandês controlou o resto da corrida rumo a uma vitória que mostrou a superioridade de Max frente aos demais. E nem vamos comparar com o companheiro de equipe na Red Bull, pois já seria humilhação demais…

O segundo lugar de Leclerc, que lutou forte com Piastri nas últimas voltas, foi duplamente importante. Primeiro que mantém o monegasco com chances de tirar o vice-campeonato de Norris. O pontinho que Norris cedeu à Piastri na Sprint pode fazer uma falta…

Segundo que a Ferrari se aproximou da McLaren no Mundial de Construtores, com apenas 21 pontos separando as duas tradicionais equipes e essa disputa será o maior atrativo para a última corrida do ano, em Abu Dhabi. Piastri foi apático novamente e Norris ainda conseguiu assegurar alguns pontos, com a décima posição e o ponto da melhor volta. Zak Brown fora ao Catar especialmente para comemorar o título, mas irá passar a semana coçando a cabeça com a chance real de perder um campeonato onde teve por boa parte o melhor carro.

Sainz foi outro que fez uma corrida bem chinfrim, mesmo antes de ter seu pneu cortado pelo espelho de Albon. Essa irregularidade de Sainz que impressiona. Russell reclamou bastante de ter ido aos pits uma segunda vez e ter colocado pneus duros ao invés dos médios, mas ao menos garantiu um quarto lugar, mesmo punido em 5s por infringir os regulamentos do SC. Depois da corrida, Max Verstappen contou um bastidor de sua punição no sábado. O neerlandês se mostrou muito mais irritado com Russell do que com os comissários de pista e de forma enérgica, Verstappen disse que ‘perdeu o respeito por Russell’ e que ‘ele (George) se comporta de um jeito na frente das câmeras e outra fora delas’. Se com Lando o relacionamento de Max é bom, não se pode dizer o mesmo com George…

A atuação de Lewis Hamilton é para deixar preocupado… a Ferrari! O inglês tomou tempo de Russell o final de semana inteiro, queimou a largada e ainda perdeu posições, ficando o primeiro stint atrás de um não menos melancólico Pérez e demonstrou muita apatia nas entrevistas. O que passa com Lewis Hamilton?

Numa prova cheia de incidentes, Pierre Gasly se aproveitou dos infortúnios alheios para conseguir um ótimo quinto lugar, segurando os ataques de Carlos Sainz nas voltas finais para conseguir ótimos pontos para a Alpine na luta pelo sexto lugar no Mundial de Construtores, além do francês ficar apenas um ponto atrás de Nico Hulkenberg, o décimo colocado no campeonato. A diferença entre Gasly e Ocon nas últimas corridas, que sempre fora muito pequena, subiu bastante a ponto da Alpine pensar em substituir Esteban na corrida da próxima semana, promovendo a estreia de Jack Doohan em Abu Dhabi.

Por muito pouco Alonso não soltou um ‘GP2 Engine’ via rádio hoje, reclamando da falta de velocidade de reta do seu Aston Martin, mas o espanhol ainda salvou um sétimo lugar, pontuando depois de muito tempo, enquanto Lance Stroll bateu em Albon na primeira volta, lhe rendendo uma punição (discutível, em defesa do canadense) e o consequente abandono de Lance. Destaque positivo para os primeiros pontos da Sauber no ano e corroborando para a dispensa de Bottas, quem conseguiu a proeza foi Zhou, com um ótimo oitavo lugar. Com Hulkenberg abandonando ao rodar logo após o segundo SC, Magnussen salvou a lavoura da Haas com um nono lugar, além de ter xingado Albon quando devolveu uma ultrapassagem sobre o anglo-tailandês. E falando em Williams, novamente os ingleses terão trabalho de funilaria a fazer, com Colapinto batendo seu carro na primeira curva, mesmo que o argentino não tenha tido culpa, pois acabou atingido por Ocon. Outro novato a decepcionar no final de semana em Lusail foi Lawson, que além de ter ficado atrás o tempo todo de Tsunoda, rodou sozinho quando tentava ultrapassar Bottas e foi punido por isso.

Na penúltima corrida do ano, Max Verstappen ainda estava faminto para provar que o seu tetracampeonato não fora conquistado por acaso e ainda descontar sua fúria em cima de Russell, que segundo Max, ‘fez de tudo para me ferrar’. Enfrentar um Max Verstappen mordido é uma missão para lá de complicada para qualquer piloto atualmente e com sangue nos olhos, o piloto da Red Bull derrotou seu novo desafeto na largada e controlou com maestria a diferença para Lando Norris e sua McLaren, com ritmo superior ao da Red Bull.

A luta pelo Mundial de Construtores ainda está aberta, o mesmo acontecendo na luta pelo vice-campeonato no Mundial de Pilotos. Mas ninguém duvida que Max Verstappen é o grande senhor das pistas da atualidade!

Abraços!

João Carlos Viana

JC Viana
JC Viana
Engenheiro Mecânico, vê corridas desde que se entende por gente. Escreve sobre F1 no tempo livre e torce pelo Ceará Sporting Club em tempo integral.

3 Comments

  1. Fernando Marques disse:

    J. C. Viana

    eu achei a corrida bem chatinha de se ver mas concordo plenamente com vc … tem que se tirar o chapeu para Verstappen …

    Fernando Marques
    Niterói RJ

  2. RAFAEL FRIEDRICH RUDOLF BRANDÃO MANZ disse:

    Campeão.

  3. RAFAEL FRIEDRICH RUDOLF BRANDÃO MANZ disse:

    Eu mesmo sou muito complacente mas concordo que em nível altíssimo eu também seria mais egoísta. Alguém conhece um campão sem sangue nos olhos? Sir Stirling Crawford Moss lembra alguma coisa? Lando que se cuide com Piastri, já deu alguns 1×0 nele. Boa semana a todos.

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