Esperança, eterna esperança

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President Donald Trump and first lady Melania Trump ride in the presidential limousine as they take a pace lap ahead of the start of the NASCAR Daytona 500 auto race at Daytona International Speedway in Daytona Beach, Fla., Sunday, Feb. 16, 2020. (Saul Loeb/Pool Photo via AP)

Todo ciclo que se inicia invariavelmente traz consigo essa tal de esperança. Seja um novo ano, relacionamento, emprego, casa, ou campeonato. Os fãs de determinada equipe têm a esperança de que o carro desse ano seja rápido e vencedor ou ainda que um novo regulamento traga mais competitividade para as provas. Ano novo, esperança renovada.

Os aprendizados do passado podem fazer com que as equipes e pilotos façam algumas mudanças para conseguir aquele resultado a mais do que a concorrência, vencendo corridas e brigando pelo campeonato. Porém, como fãs e admiradores dessas feras da velocidade, só nos resta ter esperança. Não sabemos qual equipe trabalhou mais para identificar os erros do passado, não sabemos qual piloto estudou seus adversários para prever manobras de defesa ou ataque, não sabemos qual chefe de equipe tem seus mecânicos “na mão” e podem fazer um pit stop mais rápido e eficiente. Enfim, não sabemos.

Seria essa uma das razões que nos faz ficar tão empolgados com os novos ciclos? Essa ignorância sobre aquilo que é desconhecido e imprevisível pode ser a chave para mantermos a esperança? Não. Esperança é aquilo que nos faz ler todas as matérias, assistir todos os treinos e provas, conhecer os detalhes dos carros e pilotos, entender o regulamento e se preparar para assistir corridas de forma empolgada. Ela traz a confiança em coisa boa, como diz uma das definições da palavra. Não é o desconhecido que nos anima. É esperar e torcer que o piloto que a gente torce vença.

Estamos começando mais uma temporada da Nascar e ela promete ser inesquecível em muitos sentidos. O último ano de um dos maiores campeões da história da categoria, um equilíbrio enorme entre carros Ford, Toyota e Chevrolet, um regulamento mais coeso, ao qual pilotos e times estão mais acostumados, vários novatos velocíssimos chegando na categoria principal em grandes equipes, campeões com sede de vitória e querendo quebrar recordes, além das mudanças drásticas no calendário. Enfim, são inúmeros motivos para termos esperança, a velha confiança em coisa boa que pode vir. Mas e se não vier? Talvez não aconteça na primeira corrida. Ou ainda nas dez primeiras corridas. O que importa? Manteremos sempre a esperança de que a próxima corrida vai ser melhor e nosso piloto vai vencer. Essa é uma das maiores belezas de uma categoria como a Nascar. Diferente da F1, não vai vencer somente quem está sentado em uma das três principais equipes da categoria. Praticamente qualquer carro pode vencer. Acredito que seja muito mais fácil manter a esperança na Nascar do que na F1, nesse sentido. A Moto GP pode ser um meio termo, já que Marc Marquez não está permitindo que tenhamos muita esperança nos demais pilotos.

Em um mundo onde temos reduzidas esperanças em diversos aspectos da vida, pelo menos temos a Nascar para nos trazer essa fagulha de alegria no aguardo de coisas boas. Corridas movem mundos e paixões. O combustível só pode ser esperança.

Iniciar um ciclo em Daytona é sempre uma coisa boa. Alta velocidade, carros praticamente grudados uns nos outros, chegadas apertadas e, claro, os tradicionais “Big Ones”. Não dá para perder a esperança com um cenário desses, não é mesmo?

A corrida do dia 16/02 foi cercada de grande expectativa, com pilotos e torcedores ansiosos pelo começo da temporada. Mas ela começou com um teste para nossa esperança. Feitas as tradicionais apresentações e cerimônias de início de corrida, com a presença talvez não tão ilustre do presidente norte-americano Donald Trump, a corrida estava pronta para começar, mas no momento da bandeira verde, veio a chuva. Primeiro teste para mantermos a esperança de que ela fosse embora e tivéssemos corrida. Funcionou. Ela foi embora e a corrida começou, mas durou apenas por 20 voltas. A chuva veio novamente, dessa vez para não ir embora. Corrida adiada, fãs frustrados.

Mesmo sem corrida, ressalto alguns pontos interessantes sobre o evento e que chamaram minha atenção. As arquibancadas estavam lotadas, algo que não vemos com tanta frequência ultimamente, um ótimo sinal para a categoria. A Nascar não tem mais um patrocinador principal em seu nome, algo inédito desde 1971, quando o nome passou a ser patrocinado então pela Winston, famosa marca de cigarros da R. J. Reynolds Tobacco Company. A partir de 2020, a divisão principal da Nascar será conhecida como Cup Series, que particularmente acho mais legal. Os patrocinadores principais da categoria serão Coca Cola, Busch Beer, Geico e Xfinity.

A presença de Donald Trump também foi um ponto interessante, contando com uma participação bastante ativa do atual presidente dos EUA. Trump é um entusiasta da categoria. Em entrevista à repórter nos boxes, ele disse que já assistiu algumas corridas in loco, quando era apenas um civil. Após a entrada com o carro presidencial no pit lane, Trump deu o comando para os pilotos ligarem os motores, ainda citando a frase clássica “Gentlemen, start your engines”, deu duas voltas com o carro presidencial liderando o pelotão antes da largada e pediu para entrar no rádio dos pilotos para mandar uma mensagem. Trump agradeceu os competidores pela coragem e desejou sorte e proteção para todos. Para finalizar, na entrevista nos boxes, disse que não pode pilotar seus próprios carros, no cargo de presidente, mas que gostaria de pular dentro de um Nascar e sair acelerando pela pista. No mínimo uma postura bem diferente da que vemos nos jornais e TV, sendo até simpático, por incrível que pareça.

Jimmie Johnson, em seu ano derradeiro, recebeu uma homenagem antes da largada, liderando o pelotão em uma volta de apresentação, sendo ovacionado pelo público presente. Devemos ter muitas homenagens durante o ano, afinal estamos falando de um dos maiores vencedores da categoria. O piloto parece feliz com o desfecho de sua carreira, buscando aproveitar os últimos momentos em sua plenitude. Já se fala que Johnson pode participar de algumas provas da Indy em 2021 pela equipe McLaren. Não é impossível de acontecer. Basta lembrarmos que Johnson e Alonso trocaram de carros em uma ação promocional, no fim de 2018, e o piloto esteve em eventos da Indy na semana passada. Esperamos que ele continue acelerando, mesmo que seja apenas em alguns eventos.

Não tivemos corrida no domingo, mas a esperança é que tenhamos um campeonato acirrado, com muitas disputas, emoções e equilíbrio. Que seja um excelente ano de corrida para todos!

Grande abraço,

Rafael Mansano

 

 

Rafael Mansano
Rafael Mansano
Viciado em F1 desde pequeno, piloto de kart amador e torcedor de pilotos excepcionais.

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