Fórmula 1 75-58-24

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75 anos de Fórmula 1, 58 anos que acompanho a categoria (https://gptotal.com.br/o-monolito/), 24 anos de GPTotal, a serem completado em menos de três meses.

Muitas lembranças, muitas mesmo, boas em sua maioria. Já comemorei aqui várias datas redondas da F1 (https://gptotal.com.br/mil-4/), não queria deixar passar essa – mas como?

Que tal algumas lembranças pessoais, reunidas às pressas, sem maiores compromissos e já pedindo desculpas pelas inevitáveis distrações e esquecimento:

 

Nas arquibancadas

Meu primeiro contato físico com a F1 se deu em Buenos Aires, numa tarde de sexta-feira, 21 de janeiro de 1972, treinos para o GP de abertura da temporada. No domingo, Jackie Stewart ganhou e Emerson Fittipaldi começava bem a temporada do seu primeiro título; corria em 3º quando abandonou.

Minha lembrança mais forte daqueles dias? O cheiro da gasolina…

Nos primeiros anos do GP em Interlagos, eu ia pra pista com uma mochila e me ajeitava na arquibancada próximo à linha de largada, melhor lugar pra se acompanhar uma corrida naqueles tempos, de 8 km de pista.

Na maioria das vezes, chegava no dia anterior, pulava o muro e encarava a noite ali mesmo. Numa dessas noites, choveu canivetes. Uma boa alma tinha uma lona sob a qual encaramos algumas horas. Alguém tinha uma garrafa de conhaque Dreher…

Enquanto a corrida não começava, o ambiente na arquibancada era pura zoeira, pontuada por guerras de coisas jogadas de um lado para o outro. Lembro de alguém que jogou um abacaxi inteiro, casca e coroa. Horas depois, o miolo do abacaxi foi devidamente devolvido…

E quando o calor apertava, os bombeiros mandavam água na plateia. Até hoje tenho a maior simpatia pelos heróis do fogo.

Das arquibancadas, vi a corrida extra-oficial de 72 e os quatro primeiros GPs do Brasil, comemorando bastante as vitórias de Emerson e Pace e engolindo em seco o passeio de Lauda em 76. (https://gptotal.com.br/se-eu-fosse-voce-ficaria-na-caixa-dagua/)

Só voltei a Interlagos em 90 (nunca fui a Jacarepaguá, que Deus me perdoe por isso) e vi todos os GPs até 2018, sempre nas arquibancadas e tribunas. Na foto abaixo, o pódio de 2018, foto do autor, o que explica sua baixa qualidade.

Deste período, tenho uma vaga lembrança, vaga mesmo, de uma cena bem à minha frente, perto da linha de chegada no GP de 96, na conclusão da primeira ou segunda volta da prova, debaixo de chuva torrencial.

Tudo pareceu acontecer em câmara lenta: Heinz-Harald Frentzen em busca do 6º lugar de Martin Brundle tentou sair para a esquerda, mas uma breve olhada no retrovisor lhe revelou que não havia espaço, Jos Verstappen e David Coulthard estavam próximos, e ele trouxe seu Sauber de volta, isso em meio a um spray d’água indecente, todos os carros próximos, baixa visibilidade, pneus frios etc. Foi uma boa mostra da dificuldade de conduzir um F1 naquelas condições.

No link abaixo, a transmissão completa da Globo. A largada acontece em 1h12m, se alguém quiser ver o tamanho do aguaceiro.

Interlagos 2007: a disputa de posição entre Fernando Alonso e Lewis Hamilton na Curva do Lago, de onde eu assistia à corrida. Alonso leva a melhor, mas a disputa arruína a chance de um dos dois levar o Mundial daquele ano.

 

Os instantes de silêncio que se produziram na tribuna em que estava, Interlagos 2008, depois da explosão quando Felipe Massa recebeu a bandeirada até se entender que Hamilton havia recuperado a 5ª posição, o que tirou o título do brasileiro. Acompanhei a corrida de novo de da Curva do Lago. Não dava pra ver o que acontecia na reta, mas havia televisores por perto.

Mais uma lembrança de Interlagos, que não envolve F1: 15 de agosto de 71, estreia do Porsche 908/2 da Equipe Z no Brasil, pintado em branco e verde, com Luiz Pereira Bueno ao volante.

Ele sai da última fila para a liderança da prova, denominada Torneio União e Disciplina – olha a ditadura aí, gente! –, poucos segundos após a largada, numa graciosa manobra pelo lado direito da pista. Foi a primeira corrida que vi com meus olhos. Eu já gostava daquele negócio pelo que lia nas revistas jornais. Depois de ver o que Luizinho fez, acabei de me apaixonar.

 

No asfalto

Interlagos, primeiras semanas de 1974, Emerson testou seu McLaren por vários dias. Eu e Roberto Agresti estivemos presentes em alguns deles, andando livremente pela pista, a ponto de catarmos pedaços de pneus deixados pelos carros na Curva do Sol.

Encerrado o dia, o McLaren era levado para uma garagem de Emerson, bem em frente a autódromo. A polícia parava o trânsito e quem estava por perto ajudava a empurrá-lo. Agresti era um deles e eu ia atrás, só na zoeira.

Num desses dias, eu estava bicando a conversa de Emerson com alguns jornalistas nos boxes. Num dado momento, ele vira pra mim e pergunta: quantas voltas tem o GP? E eu, claro, não sabia…

Os treinos em Interlagos valeram. Emerson venceu o GP. Eu e Roberto estávamos lá, desta vez na arquibancada.

 

Também vi de perto alguns treinos da equipe Copersucar em Interlagos, 74/75, com Wilsinho Fittipaldi. O FD01 tinha problemas exasperante, a ponto da equipe não saber o que fazer. O projeto ousado de Ricardo Divilla – de quem me aproximei anos mais tarde e fazendo com que assinasse algumas coluna para GPTo. Ele aparece na foto que abre esta coluna, observando sua criatura logo que ela foi pra pista – cobrava seu preço.

Trinta e tantos anos depois, revi o FD01 restaurado andando em Interlagos, pilotado pelo mesmo Wilsinho.

Fevereiro de 1990, uma tarde de sábado de inverno ameno, caminhei por umas duas horas ou mais pela pista de Monza, inclusive pelas curvas inclinadas. Tirei foto, mas não a achei.

Novembro de 1990: de volta a Monza, “pilotei” por cerca de uma hora um Citroën BX pelo exato trajeto do GP. Paguei uma taxa, aumentei a pressão dos pneus (como Piquet nos ensinou) e fui com tudo, em meio a dezenas de Ferrari, Porsche, BMW e também alguns Fiat Uno.

Um deles, quatro moleques sem apego à vida dentro, colou na traseira do Citroën na reta principal. Consegui segurar a posição até a Variante del Rettifilo. Pelo retrovisor, via os moleques me xingando e balançando conforme o Fiat atacava as zebras.

Em novembro de 2000, com um Renault, percorri por algum tempo o finado circuito de Reims, as laterais da pista cobertas de girassóis.

 

Imagens

Não deu tempo pra ver Jim Clark correr. O que guardo dele são imagens. A mais memorável mostra o escocês rumo à vitória em Indy 500 65, pilotando o magnífico Lotus 38. (https://gptotal.com.br/memorias/).

Os F1 deslizando no limite da aderência sobre a chicane na Woodcote, a partir de 75. Sutil, modesta até, mas apertada e traiçoeira, exigia uma freada violenta em curva. Foi usada pela última vez em 85.

A ultrapassagem de Senna sobre Karl Wendlinger em Donington 93. Eu quase cai da cadeira, literalmente, com o susto que levei.

Já Piquet sobre Senna e Mansell sobre Senna, Hungria 86 e 89, eu vibrei – e não porque não torcesse por Senna. (https://gptotal.com.br/em-busca-da-ultrapassagem-perfeita-4-4/)

Imola, 1º de maio de 1994. Sozinho na sala de casa, vejo o acidente. A gravidade é evidente, inclusive pela rapidez com que Senna é retirado do carro. Em casos assim, a remoção rápida significa risco cardíaco-respiratório absoluto, o único que supera o risco de lesão medular.

Três dias depois, de mãos dadas com minha filha, vejo o féretro de Senna passar à minha frente, na Avenida 23 de Maio.

 

Frases (lembradas de cabeça)

“O que? Como não quer que eu beba? Preciso descontar trinta minutos de vantagem do líder, o trecho é de serra, está anoitecendo e você não quer que eu beba? Me dá o vinho aqui!”

Giovanni Bracco a Enzo Ferrari, durante a Mille Miglia de 52. Ele bebeu seu vinho e venceu a prova.

 

“O momento mais forte para mim era quando o último mecânico a deixar a pista apertava minha mão e eu ficava sozinho, eu, o carro e a pista”.

René Arnoux

 

“Pistas devem ser como as estradas que nos levam a nossas casas”.

Jacques Villeneuve

Montreal foi palco da última vitória de Piquet na F1.

Montreal foi palco da última vitória de Piquet na F1.

“Na Fórmula 1 não tem estratégia. É o tempo inteiro com o pé lá”.

Nelson Piquet

“Não há justiça no automobilismo. Nunca houve”.

Mike Kranefuss, chefão da Ford nos anos de ouro do motor Cosworth.

 

E mais

A longa entrevista que fiz por telefone com Ayrton Senna ( https://gptotal.com.br/senna-a-entrevista-1/) e o lançamento do meu livro, Fórmula 1, Pela Glória e Pela Pátria, 22 de março de 94, na semana do GP em Interlagos. Wilson Fittipaldi e Alex Dias Ribeiro me honraram com as suas presenças

Pra terminar: muito justo que o aniversário da F1 tenha sido comemorado em Imola, pista magnifica. Está se tornando anacrônica, mas que se dane.

E saibam que considero seriamente a hipótese de pedir que meu coração seja enterrado lá, e não mais em Monza, como manifestei aqui, muitos anos atrás (https://gptotal.com.br/enterrem-meu-coracao-em-monza/).

Abraço a todos

Edu

Eduardo Correa
Eduardo Correa
Jornalista, autor do livro "Fórmula 1, Pela Glória e Pela Pátria", acompanha a categoria desde 1968

3 Comments

  1. Carlos E C Toledo disse:

    Registro importante (e me perdoem por não tê-lo feito na coluna): a foto lá no alto, abrindo a coluna, é de Cláudio Larangeira, o mais importante fotógrafo de automóveis do Brasil

    Edu

  2. Fernando Marques disse:

    Acima quis dizer invejei o Márcio Madeira com Piquet em Brasília

    Fernando Marques
    Niterói RJ

  3. Fernando Marques disse:

    Grande Edu,

    Que boas lembranças hein?
    Assim como inventei no bom sentido quando ele esteve com Piquet em Brasília, invejo tbm no bom sentido, todos esses grandes momentos que vc viveu. Vcs são privilegiados.

    Assisti apenas 3 corridas de fórmula 1, todas no Rio e sempre nas arquibancada no início do retao. Era o ingresso mais barato. Ali pude ver um loco a ultrapassagem do Piquet em cima da Ferrari do Villenueve … foi a minha maior emoção vivida lá.

    Fórmula 1 75 anos. Que perdure para sempre

    Fernando Marques
    Niterói RJ

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