Nestes tristes tempos de lacração a qualquer custo, a Ferrari perdeu a oportunidade de reviver esta semana uma das fotos mais icônicas da história do automobilismo, tirada em 5 de fevereiro de 67, na chegada das 24 Horas de Daytona, etapa do Campeonato Mundial de Marcas, registrando três magníficos Ferrari da série P cruzando em parada a linha de chegada nos três primeiros lugares da prova (nas duas fotos abaixo).
O mais difícil, a Ferrari fez domingo, dia 2 de março, colocando seus três 499P no pódio da Catar 1812Km, disputada em Lusail. Apesar de os carros estarem bem próximos na volta final, a equipe não os alinhou na bandeirada, como o fez 58 anos atrás. Talvez tenha faltado aos italianos ter um jornalista na chefia da equipe, como acontece em Daytona, quando o colega Franco Lini era quem decidia as coisas na pista.
Não foi a primeira vez que a Ferrari deixou passar a oportunidade. Também em Zeltweg 72, a equipe emplacou não três, mas quatro carros nas primeiras posições dos 1000Km da Áustria. José Carlos Pace estava ao volante do – desculpem repetir o adjetivo – magnífico modelo 312PB que cruzou em 2º lugar.
Nas fotos a seguir, vamos relembrar um pouco destas vitórias épicas e, mais do que isso, agradar aos nossos olhos com imagens de alguns dos mais belos carros jamais construídos.
Daytona 67
Já falamos algumas vezes sobre o duelo Ford x Ferrari nos anos 60 (aqui https://gptotal.com.br/foto-legendas-a-saga-do-ford-gt-40-em-le-mans/ e aqui https://gptotal.com.br/foto-legendas-as-joias-da-ferrari-em-le-mans/, por exemplo).
A Ford tinha conseguido as suas primeiras grandes vitórias no Mundial de Marcas no ano anterior, inclusive em Le Mans, interrompendo uma sequência de seis vitórias da Ferrari.
Sedentos de vingança, os italianos arregaçaram as mangas e fizeram melhorias no seu modelo P3 do ano anterior e lançaram o P4, os levando para um então raro programa de testes em Daytona semanas antes da prova, tendo quebrado o recorde da pista, que era da rival.
Enquanto isso, a Ford batia cabeça com a evolução do GT e teve de contar com os modelos de 66 em Daytona, duzentos quilos mais pesados do que os Ferrari. A Ford inscreveu seis carros contra os italianos.
Nos treinos, o Ford de Gurney e Foyt marcou a pole, seguido por um Chaparral e dois Ferrari. O Chaparral, com Phill Hill ao volante, largou na frente e liderou nas primeiras três horas da corrida. Enquanto isso, a Ford começava a ter problemas de transmissão, moendo-as implacavelmente – doze transmissões foram trocadas até que não houvesse mais peças para reparo. No final da prova, apenas um GT de fábrica, pilotado por McLaren e Bianchi, sobreviveu, terminando em 7º. Um GT privado, da dupla Ickx/Thompson, terminou em 6º, 65 voltas atrás do vencedor.
Os problemas da Ford facilitaram a vida da Ferrari. O carro de Amon e Bandini assumiu a liderança com o abandono do Chaparral e daí seguiu até o final, sem maiores dificuldades. Parkes e Scarfiotti terminaram em 2º, com um modelo 330 P4 idêntico ao vencedor, e Rodrigues e Guichet em 3º, com um modelo 412P, todos equipados com motores V12 de 4 litros, duas válvulas por cilindro e carburadores Weber.
Nas fotos abaixo, um registro da largada em Daytona e dois dos carros vencedores ao voltarem para a Itália, ainda com as marcas da batalha.
Zeltweg 72
O Mundial de Marcas de 72 foi quase um monopólio da Ferrari, com seu modelo 312PB, equipado com o mesmo motor de 12 cilindros opostos usado na F1. Nesta altura, a Ford havia se retirado e a Porsche, marca dominante em 70 e 71 com o modelo 917, de cinco litros, tinha tido as suas asas cortadas pelas autoridades esportivas, que simplesmente proibiram motores com mais de três litros na categoria.
Assim, a oposição à Ferrari estava limitada a pouco competitivos Porsches de equipes privadas, os Mirage e os Alfa Romeo. Resultado: a Ferrari ganhou dez das onze provas do campeonato, preferindo abdicar de Le Mans, vencida pela Matra – que não competiu em várias das demais provas do ano. O controle da Ferrari sobre a temporada foi tamanho que a equipe conseguiu retardar a largada dos 1000 Km de Monza de forma a ganhar tempo para consertar um dos seus carros, acidentado nos treinos.
Em Zeltweg, onde foram disputados os 1000 Km da Áustria, em 26 de junho, os quatro carros inscritos pelos italianos largaram nas primeiras posições e lideraram todas as voltas da prova. Venceu a dupla Ickx/Redman seguida por Marko/Pace (carro número 3, na foto acima), Schenken/Peterson e Merzario/Munari.
Marko – sim, o Helmut da RBR – estava em conversações para assumir uma vaga na Ferrari na F1, mas tudo acabou da pior maneira quando, uma semana depois da prova na Áustria, uma pedra lançada pelo Lotus de Emerson Fittipaldi atingiu o olho de Marko, que pilotava um BRM no GP da França, disputado em Clermont-Ferrand.
Nesta prova, a equipe Hollywood inscreveu o seu Porsche 911 para a Luiz Pereira Bueno e Tite Catapani. O carro ia bem quando foi jogado para fora da pista pela Ferrari de Marko, abandonando em seguida.
Abaixo, os 312PB usados em 72 aparecem restaurados em fotos atuais.
Lusail 25
De volta em 23 ao Mundial de Marcas, agora rebatizado de WEC, a Ferrari começou da melhor forma possível a temporada deste ano, em Lusail, domingo passado (a largada na foto acima), terminando a prova nos três primeiros lugares, com o modelo 499P de Fuoco, Molina e Nielsen em 1º (carro número 50, na foto no alto da coluna) e, menos de três segundos depois, os carros de Kubica, Ye e Hanson (carro amarelo, abaixo) e o de Calado, Pier Guidi e Giovinazzi. Os três carros lideraram a prova, que teve 318 volta e durou mais de dez horas. A corrida foi resolvida entre eles apenas na última rodada de pit stops.
Os rivais atuais da Ferrari estavam todos presentes a Lusail, mas não ameaçaram os italianos: em 4º e 7º chegaram os BMW, os Toyota em 5º e 6º, um Cadillac em 8º, um Peugeot em 9º e o menos pior Porsche só apareceu em 10º. Na categoria LMGT3, ganhou um Cadillac, com um McLaren em 2º e o BMW de Farfus em 3º. Rubinho estava lá em um Aston Martin, terminando em 9º.
Uma última informação: a superioridade da Ferrari em Lusail pode virar poeira na próxima prova, a ser disputada em Imola, em 20 de abril. É que agora existe um negócio chamado Bop, que pode impor mais peso e menos disponibilidade de potência sem que haja um critério objetivo para tanto.
Em Daytona 67 e Zetweg 72 não existia isso.
Bom final de semana a todos
Edu
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1 Comments
Edu,
Como esses carros dos anos 60 e 70 são muito mais bonitos que os atuais da WEC …
Concorda comigo?
Fernando Marques
Niterói RJ