Foto-Legendas – A saga do Ford GT 40 em Le Mans

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Quem reclama do poder econômico na Fórmula 1 devia conhecer a história do Ford GT40, o carro que desbancou a Ferrari em Le Mans na segunda metade da década de 60.

Foram quatro vitórias em sequência, numa saga que começou em 63, com investimentos em níveis nunca vistos na história do automobilismo e que passaram até pela tentativa de comprar a Ferrari. O negócio já estava na fase de fechamento quanto Enzo Ferrari, no auge da sua malícia e rabugice, bateu a porta na cara dos americanos.

Enzo ficou com sua empresa, levando-a depois para os braços da Fiat, mas pagou caro pela desfeita: a reação da Ford lançou a equipe em uma das suas crises mais fundas e longas.

Nesta nova rodada de Foto-Legendas sobre Le Mans, vamos lembrar um pouco da trajetória da Ford na corrida francesa.

 

 

O GT40 nasceu em 63, depois de a Ford buscar vários parceiros na Europa – a Lotus inclusive. Acabou optando por partir de um Lola Mk6 equipando-o com um motor Ford V8.

O primeiro protótipo do GT40 é o que se vê na foto acima e o primeiro a testá-lo foi Bruce McLaren. Ken Miles juntou-se ao grupo meses depois, quando Carroll Shelby passou a liderar a equipe de desenvolvimento do carro.

 

 


Os dois primeiros protótipos do GT40 foram destruídos em acidentes às vésperas da sua estreia, que se deu em maio de 64, em Nurburgring.

Com o número 140, foi pilotado por McLaren e Phil Hill e a equipe chefiada por John Wyer. Usava o mesmo motor que empurraria o Lotus de Jim Clark em sua vitória na Indy 500 de 65. Abandonou por quebra da suspensão.

 

 

Três semanas mais tardes, três GT40 alinharam em Le Mans, mas todos abandonaram ainda que um deles, pilotado por Richie Ginther e Masten Gregory, tenha liderado no começo da prova, depois de marcar o 2º tempo nos treinos.

Na foto acima, o carro de Hill e McLaren, que abandonou depois de 14 horas de corrida, com a caixa de câmbio quebrada. O resto do ano foi decepcionante para a Ford, mas a aposta em Le Mans foi redobrada – e recompensada.

 

 

Em fevereiro de 65, com Carroll Shelby assumindo mais responsabilidades no projeto, veio a primeira vitória do GT40, na Daytona 2000, com Lloyd Ruby e Miles pilotando o carro de número 73. Um mês mais tarde, Miles e McLaren terminam em 2º em Sebring.

 

 

Para Le Mans, a Ford leva nada menos do que onze carros de vários modelos e inscritos por seis equipes, com Hill largando na pole. Mas os carros se quebram, um após o outro, e só um modelo Cobra sobrevive, chegando em 8º, atrás de cinco Ferrari e dois Porsche.

 

 

Em 66, com o modelo Mk II, o GT40 passa a ser equipado com um motor V8 de sete litros derivado do Ford Galaxie. O carro vence em sua estreia, fazendo também o 2º e 3º lugares em Daytona, na primeira vez em que a prova é disputada em 24 horas, e repete os resultados em Sebring.

E então viria a tão sonhada vitória em Le Mans, num resultado controverso, tema central do filme Ford x Ferrari: a equipe define que os seus dois carros que lideravam com grande folga devem cruzar a linha de chegada juntos, forjando um empate.

O carro de Miles e Dennis Hulme estava bem à frente, mas reduz a velocidade, esperando por McLaren e Chris Amon, que corriam com o carro número 2, visto também no alto desta coluna. Encerrada a prova, os organizadores deliberam dar a vitória a estes, pelo fato de terem largado uns 18 metros atrás de Miles e Hulme, sob a alegação de que percorreram uma extensão maior de pista durante as 24 horas da prova.

 

 

 

Dois meses depois, Miles morre em Riverside, ao testar um novo modelo do GT40, denominado Ford J, visto nas duas fotos acima, um ousado experimento em aerodinâmica, que daria origem ao Ford MK IV, que seria o grande protagonista em Le Mans 67.

 

 

Um carro especialmente belo, o MK IV foi construído em torno de um chassi reforçado do J, sendo equipado com o mesmo motor de sete litros do ano anterior. Este carro extraordinário correu apenas duas provas: Sebring (com Mario Andretti e McLaren) e Le Mans, vencendo ambas.

Le Mans 67 foi o ponto alto na batalha Ford x Ferrari e justamente definida como “a corrida do século”, abrilhantada também pela presença da Chaparral, Lola, Porsche, Matra e Alpine. A Ferrari alinhou sete carros para a largada ante catorze da Ford e só dois de cada uma das equipes sobreviveram às 24 horas de prova: Ford 1º e 4º lugares, Ferrari 2º e 3º.

Incrível: três dos carros da Ford envolveram-se num mesmo acidente, na 13ª hora da corrida, talvez porque seus pilotos tenham sido recrutados entre os mais selvagens e devidamente estimulados por remuneração por resultado. Andretti foi um dos acidentados e só escapou sem maiores ferimentos graças a uma estrutura de segurança adicionada ao carro após o acidente com Miles.

A vitória coube a Dan Gurney e A.J.Foyt, que assumiram a liderança na segunda hora da prova, percorrendo extraordinários 5 233 km até a linha de chegada – no ano anterior, o carro vencedor percorrera 4 843 km… Todos os demais recordes de Le Mans foram pulverizados: McLaren marcou a pole em 3m24 ante 3m50 da pole em 63.

O MK IV era extremamente veloz nas retas – Andretti atingiu 343 km/h de velocidade máxima na Hunaudières – e severo com os freios. A vitória de Gurney e Foyt deveu-se, em parte, ao fato de eles terem optado por soltar o acelerador bem antes de começar a frear o carro.

 

 

Em 68, temerosos pelo desempenho dos carros, os organizadores das 24 Horas adotam algumas iniciativas para reduzir a velocidade, construindo, por exemplo, uma chicane antes da linha de largada, a batizando em honra a Henry Ford II.

A Ferrari, mergulhada em grave crise, não compete. Em seu lugar, como adversária da Ford, emerge a Porsche, marcando a pole e liderando a corrida em seu começo. Cede a liderança na quarta hora ao GT40 de número 9, pilotado por Pedro Rodríguez e Lucien Bianchi inscrito pela equipe de John Wyer e pintado com as cores da Gulf, que apareceriam depois nos Porsche 917.

Os motores Ford têm agora 4,9 litros e os percursos cobertos caem bastante em relação a 67. A vitória é tranquila; o Porsche 2º colocado percorreu 80 km menos que o vencedor.

 

 

Em 69, quando a Ford já havia saciado a sua fome de Le Mans, voltando a sua atenção para a Fórmula 1, a vitória vem com o carro número 6, pilotado por Jacky Ickx e Jackie Oliver, num dos finais mais eletrizantes da história das 24 Horas de Le Mans. Eles cruzam a linha de chegada poucos metros à frente do Porsche 2º colocado, pilotado por Hans Herrmann e Gérard Larrousse.

A prova é liderada em seu início pelo Porsche 917, que no ano seguinte poria um ponto final no domínio da Ford em Le Mans.

Mais Foto-Legendas:

As joias da Ferrari em Le Mans https://gptotal.com.br/foto-legendas-as-joias-da-ferrari-em-le-mans/

O Porsche 917 https://gptotal.com.br/foto-legendas-porsche-917/

Jim Clark https://gptotal.com.br/foto-legendas-jim-clark/

Legendas 1 https://gptotal.com.br/foto-legendas-1/

 

Eduardo Correa
Eduardo Correa
Jornalista, autor do livro "Fórmula 1, Pela Glória e Pela Pátria", acompanha a categoria desde 1968

3 Comments

  1. Fernando Marques disse:

    Edu,

    sou fã incodicional do Ford GT 40.
    Se fosse rico já teria feito uma proposta pra comprar o Ford GT 40 do nelson Piquet … sorte dele que não sou rico, pois se fosse ia enchher o saco dele até conseguir comprar … hehehehehe
    Mais uma vez “Fotos Legendas” conta uma bela história …

    Fernando marques
    Niterói RJ

  2. Mauro Santana disse:

    Que beleza de coluna, amigo Edu!

    E o Ford MK IV é o meu preferido da família dos GT40.

    Abraço!

    Mauro Santana
    Curitiba-PR

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