O Canadian-American Challenge Cup, CanAm, durou nove anos em sua fase de ouro. Como toda grande disputa do automobilismo, foi refém de monopólios. Cinco dos campeonatos foram dominados pela equipe McLaren e outros dois pela Porsche.
Disputado geralmente nos últimos meses do ano em pistas americanas e canadenses, o CanAm atraiu os melhores pilotos do mundo e tornou possível a criação alguns dos mais belos carros de corrida de todos os tempos, monstros empurrados por motores de sete litros ou mais, capazes de superar em velocidade os Fórmula 1 da época, dependendo da pista em que competiam.
O CanAm era disputado por protótipos do Grupo 7 da FIA que, resumidamente, exigia apenas que os carros tivessem dois lugares, as rodas cobertas e alguns itens de segurança. Cilindrada, peso, turbos, apêndices aerodinâmicos, materiais… Tudo era permitido, o que deu origem a algumas pesquisas que depois se irradiaram para outras categorias.
A seguir, um pouco – muito pouco – sobre este extraordinário campeonato.
1966
Tudo começou em 11 de setembro de 1966, na pista de St. Jovite, no Canadá.
Na lista de inscritos, predominavam carros da Lola e da McLaren. Nos anos seguintes, o CanAm atrairia também Chaparral, Ferrari, BRM, March e Porsche, entre outros fabricantes europeus. Os motores Chevrolet predominariam.
Pole e vitória nesta primeira corrida couberam a John Surtees, campeão mundial da Fórmula 1 em 1964 e que ganharia o primeiro título do CanAm. Ele dirigiu um Lola T70 equipado com motor Chevrolet (foto acima, no carro 3, seguido por Bruce McLaren em um McLaren M1B).
Dan Gurney ganhou a segunda corrida, Mark Donohue a terceira, ambos com o Lola T70, Phil Hill com Chaparral a quarta e Surtees de novo a quinta e sexta etapas.
1967
Começa o “Bruce and Denny show”, o domínio tirânico da equipe McLaren no CanAm.
Bruce McLaren fora o 2º colocado na corrida de estreia da categoria no ano anterior, atrás de Surtees. Outros bons resultados foram conseguidos, mas nenhuma vitória.
Em 67, a McLaren está de volta, alinhando o modelo M6A, com motor Chevrolet V8 (foto acima, com Denny Hulme à frente de Bruce e de um Chaparral).
Bruce vence as etapas de número 4 e 5, enquanto seu companheiro de equipe, Hulme, vence as etapas 1, 2 e 3. A etapa 6, a último do ano, cabe a Surtees, com Lola T70. Na soma dos resultados, Bruce se sagra campeão.
Neste ano, tornou-se possível uma comparação direta entre os carros de CanAm e da Fórmula 1 – e ela foi acachapante: na pista de Mosport, Hulme marcou a pole com o M6A em 1m20s8 ante 1m22s4 da pole de Jim Clark, com Lotus, no GP do Canadá.
1968
É a vez de Hulme ganhar o título, ao volante de um McLaren M8A Chevrolet. Ele vence as etapas 1, 3 e 6, enquanto Bruce (foto acima) tem de se contentar com a vitória na etapa 5.
Donohue ganha a etapa 2, com um McLaren M6B, e John Cannon a etapa 4, com um McLaren M1B – o modelo que a equipe alinhou no campeonato de 66.
1969
O título é de Bruce, com o McLaren M8B Chevrolet (foto acima).
O campeonato tem, agora, onze corridas, começando em Mosport, em 1º de junho. O domínio da McLaren é total: Bruce ganha as etapas 1, 3, 6, 8 (disputada em Michigan, com Hulme e Gurney, ambos da equipe McLaren, em 2º e 3º), 9 e 11, enquanto Hulme fica com as etapas 2, 4, 5, 7 e 10. Bruce e Hulme fazem dobradinhas em todas as corridas menos duas.
Nesta temporada e na seguinte, o encontro entre CanAm e Fórmula 1 limita-se a Watkins Glen, com vantagem para os carros de Can Am.
1970
O ano triste. Bruce perde a vida em Goodwood em 2 de junho, quando testava o M8D (na foto acima e na de abertura desta coluna). Em plena reta, a carenagem traseira se desprende, o carro fica fora de controle e bate num barranco.
Doze dias mais tarde, Dan Gurney vence a corrida de abertura do CanAm 70, disputada em Mosport, com o M8D que seria pilotado por Bruce. Hulme termina em 3º. Ele venceria mais seis corridas neste ano, as etapas 3, 4, 5, 8, 9 e 10. Gurney vence também a segunda corrida e depois cede o lugar a Peter Gethin, que ganha a etapa 6. Na sétima corrida, uma zebra: ganha Tony Dean, com um Porsche 908.
1971
Peter Revson junta-se à McLaren e chega ao título, com o modelo M8F Chevrolet (foto acima), quinto título da equipe no CanAm. Ele vence as etapas 3, 4, 6, 7 e 9. Hulme fica com a vitória nas etapas 1, 8 e 10. Jackie Stewart, correndo com o Lola T260 Chevrolet da equipe de Carl Haas, ganha a etapa 2 e 5. O carro é um ousado experimento de aerodinâmica, antecipando o efeito-solo.
É o ponto final no domínio da McLaren no campeonato. Na etapa 4, disputada em Watkins Glen, termina em 3º o Porsche 917/10, pilotado por Jo Siffert. O carro seria o nêmesis da McLaren no CanAm.
Neste ano, 72, 73 e 74, o confronto direto com a Fórmula 1 acontece nas pistas de Mosport e Watkins Glen e estabelece-se um padrão: os Fórmula 1 são mais rápidos na pista canadense, os CanAm mais rápidos na pista dos Estados Unidos. A exceção é a pole de 74 em Watkins Glen, o Brabham de Carlos Reutemann sendo muito mais rápido que o Shadow de Oliver. Um ano antes, prevaleceu a vantagem do CanAm: a pole do Lotus de Ronnie Peterson é de 1m39s6 ante 1m38s8 do Porsche de Donohue.
1972
A Porsche bate a McLaren, graças a George Follmer e ao modelo 917/10 (foto acima), carro desenvolvido em grande parte por Mark Donohue, que não pode disputar o título por estar se recuperando de grave acidente. O carro era empurrado por motor de doze cilindros flat, turbocomprimido, que desenvolvia uns 900 HP.
São nove provas no ano. Follmer, correndo pela equipe de Roger Penske, ganha as etapas 2, 4, 5, 8 e 9.
Hulme, correndo com o McLaren M20, ganha as etapas 1 e 3, totalizando 22 vitórias na categoria.
François Cevert, com um McLaren M8F, fica com a vitória na etapa 6 e Donohue, com Porsche 917/10, na 7.
Ao final do ano, a McLaren anuncia o seu abandono do CanAm. Foram nada menos do que 42 vitórias dos seus carros em 58 disputadas até aqui – haveria mais uma nos anos seguintes.
1973
Sem a equipe oficial da McLaren, o título fica com Donohue, conduzindo o magnífico Porsche 917/30 (foto acima), um monstro de 816 kg equipado com um motor de 12 cilindros flat de 5,4 litros, capaz de entregar entre 1 100 HPs em corrida e mais de 1 500 HPs nos treinos.
Donohue marca a pole na corrida inicial da temporada, em Mosport, com 1m14s1 (dois anos antes, a pole de Hulme na mesma pista havia sido de 1m18…), mas termina em um modesto 7º lugar. Na prova seguinte, é segundo e ganha as seis etapas seguintes. Charlie Kemp, com Porsche 917/10, ganhou a primeira corrida e Follmer a segunda, também com um 917/10.
A entrada da Porsche no CanAm representou um salto de qualidade e também de custos. Combinado com a crise energética da época, o campeonato perdeu seu impulso, a ponto da própria Porsche anunciar a sua retirada do torneio.
1974
Sem as equipes oficiais da McLaren e Porsche, o último CanAm digno deste nome, é vencido por Jackie Oliver com um Shadow DN4A com motor Chevrolet (foto acima).
São apenas cinco provas, em plena crise do petróleo. Oliver vence as quatro primeiras corridas do ano, em três delas fazendo dobradinha com seu companheiro de equipe, Follmer.
O Porsche 917/30 aparece apenas na etapa 4, em Mid-Ohio, nas mãos de Brian Redman, terminando em 2º lugar.
Um toque quase que poético na corrida derradeira da fase de ouro do CanAm, disputada em Road America: ela é vencida por um McLaren M20, pilotado por Scooter Patrick, correndo por uma equipe privada. O M20 é o modelo que a McLaren alinhou na temporada 72.
Com a escalada dos custos, não há CanAm nos anos seguintes, até ressurgir em 1977, totalmente emasculado, como uma arremedo da Fórmula 5000.
Neste formato, o CanAm sobreviveu até 1986, quando deu lugar ao IMSA GT.
Todos os resultados citados aqui foram pesquisados no site
http://www.classicscars.com/wspr/results/canam/nf_canam_home.html
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