Monza e suas longas retas não combinam com carros com grande arrasto aerodinâmico. A
McLaren domina a temporada 2025 e o modelo MCL39 tem como uma de suas características
ter bastante arrasto e como foi dito por Lucas Giavoni no último vídeo do canal do GPTotal
(www.youtube.com/@gptotal), em Monza a equipe poderia ter dificuldades. E Lucas acertou
na mosca! Os ‘papaias’ não dominaram como normalmente fizeram nesse ano, mas ainda
assim houve domínio em Monza. Assim como fizera na outra corrida italiana do calendário da
F1, em Ímola, Max Verstappen venceu com bastante facilidade em Monza, completando a
dobradinha italiana em 2025, porém, para azar de Verstappen, não teremos uma terceira
corrida na Itália e nem outro circuito como Monza até o final do ano.
A vantagem de Max Verstappen foi tamanha nesse domingo, que ele teve tempo até mesmo
de rir da presepada da McLaren, que nesse domingo se embananou inteiramente na estratégia
e, principalmente, na gestão dos seus dois pilotos.
Se tem algo que a temporada 2025 da F1 pode se orgulhar é da compactação do grid, o mais
apertado da história. Monza foi mais um exemplo de um mísero vacilo na classificação pode
colocar um bom carro fora do Q2 ou Q3. Uma semana depois de conquistar o pódio em
Zandvoort, Isack Hadjar ficou no Q1 pela primeira vez no ano, mas sua diferença para o
primeiro colocado foi ligeiramente superior a quatro décimos de segundo, enquanto que no
Q2, a diferença entre os dez primeiros colocados foi inferior a três décimos. Isso, num circuito
com mais de cinco quilômetros de extensão!
Já nos treinos a McLaren demonstrava que não dominaria em Monza como fizera em outras
pistas. A dupla 'mclariana' era a mais lenta no final da longa reta de Monza, chegando a tomar
quase 15 km/h de Gabriel Bortoleto, o mais rápido e novamente se destacando, mais uma vez
indo ao Q3.
Verstappen ficou com a pole, superando a dupla da McLaren no estouro do cronômetro,
batendo o recorde extra-oficial de Monza a uma incrível média de 264,682 km/h. E este não
seria o único recorde batido por Max no final de semana.
Como normalmente ocorre em setembro na região da Lombardia o céu estava claro e o sol
radiante para mais um Grande Prêmio da Itália com clima perfeito e arquibancadas lotadas.
Porém, ainda antes da largada ocorreu o primeiro drama do dia, com a Sauber chamando Nico
Hulkenberg para os boxes durante a volta de apresentação, fazendo com que o alemão se
tornasse o primeiro abandono do dia por causa de um problema hidráulico ainda antes do
apagar das luzes vermelhas.
A largada em Monza sempre é tensa pela longa reta até a forte freada rumo à estreita chicane
da Variante del Rettifilo. Ainda com receio de como seria o ritmo de corrida do seu carro, o
pole Max Verstappen fez uma largada bem diagonal, fazendo com que Lando Norris fosse para
a grama, mas o inglês se manteve por dentro, enquanto Leclerc, correndo na casa da Ferrari,
partiu para cima de Piastri. A primeira freada foi hirta, com Lando alargando a primeira curva e
fazendo com que Max Verstappen cortasse a chicane. Norris saiu lentamente da chicane,
encaixotando atrás de si Piastri e Leclerc, que se aproveitou para tomar a terceira posição do
australiano.
Na freada da Variante Della Roggia, Norris tentou novo ataque em cima de Max sem sucesso e
novamente o inglês ficou lento na retomada. Dessa vez quem se aproveitou foi Piastri,
executando uma bela ultrapassagem por fora sobre Leclerc na segunda de Lesmo. Antes
mesmo que a FIA iniciasse qualquer investigação, a Red Bull mandou Verstappen ceder a
primeira posição para Norris, enquanto Leclerc usava a velocidade prodigiosa da Ferrari em
linha reta para retomar a terceira posição novamente.
Um início elétrico de corrida, mas rapidamente as coisas se acalmaram. Com um ótimo acerto
com pouca asa em seu Red Bull, Verstappen não esperou muito para retomar a ponta,
enquanto Piastri demorou um pouco mais para ultrapassar Leclerc. O ritmo de Max lembrou os
bons tempos da Red Bull e logo os três primeiros colocados ficaram bem espaçados entre si.
Leclerc claramente correu para a torcida e superaquecendo os pneus, viu Piastri ir embora na
mesma medida em que Russell se aproximou rapidamente. Se Hulkenberg abandonava
tristemente ao fim da volta de apresentação, Gabriel Bortoleto fazia uma bela corrida em
Monza, onde ano passado saiu da última posição rumo à vitória na F2, chegando a colocar de
lado em cima da Mercedes de Russell durante a primeira volta e segurava um enorme pelotão
de carros, com seu Sauber com pouquíssima asa e muita velocidade de reta.
A corrida ficou estática, principalmente com a certeza de que a estratégia padrão seria de uma
única parada, restando às equipes escolherem o melhor momento de trazer seus pilotos aos
pits. Lawson foi o primeiro e algumas voltas depois foi a vez de Bearman visitar os boxes,
fazendo com que Bortoleto fosse aos pits, trazendo colado atrás de si Alonso. A parada de
Gabriel foi uma clara reação à parada de Bearman, mas um pit-stop lento por causa de um
erro de Bortoleto, que travou o pneu dianteiro, somado a manobra de Alonso, que colou no
brasileiro na entrada do pit-lane, fez com que o espanhol emergisse na frente de Bortoleto
com os pit-stops feitos, mas ambos saíram na frente de Bearman e Lawson.
Enquanto os pilotos do pelotão intermediário colocavam as cartas da estratégia na mesa, a
pergunta que ficava era quando os líderes parariam. Max, Lando e Oscar faziam corridas
tranquilas e distantes dos rivais quando Verstappen fez o trivial e parou nos boxes no último
terço de corrida e colocou pneus duros para levar seu carro até a bandeirada. A McLaren
tentou fazer diferente e deixou seus dois pilotos na pista, esperando por um Safety Car que
não veio. Deixando para parar tão perto da bandeirada, a McLaren optou por colocar pneus
macios usados nos carros dos seus pilotos. A tática da McLaren começou a ir para os ares
nesse momento.
Com Piastri se aproximando de Norris no final do stint, a McLaren trouxe o australiano
primeiro, na vã tentativa de evitar um undercut involuntário. O problema foi que a McLaren
errou no pit de Norris, com a pistola pneumática do pneu dianteiro esquerdo não funcionando
e Lando perdendo 6s na parada. Quando o inglês da McLaren retornou à pista, Piastri tinha
acabado de passar. Para completar, Verstappen tinha quase 20s de vantagem sobre o duo da
McLaren no final da manobra atrapalhada da turma de Stella, mas o pior ainda estava por vir.
Norris começava a tirar a vantagem de Piastri, quando a McLaren interveio na disputa e
mandou Oscar ceder sua posição, numa atitude inacreditável de Andrea Stella seus papayas
caps. Com os dois lutando diretamente pelo título e vendo a chance de aumentar a vantagem
de forma inesperada, Piastri não discutiu muito e simplesmente deixou Lando passar para
receber a informação: agora está valendo!
Um erro estratégico se transformou numa situação desconfortável dentro da McLaren, com
Norris e, principalmente, Piastri com caras de poucos amigos depois da corrida ante a situação.
Um erro de pit-stop não era motivo para ordens de equipe, ainda mais com dois pilotos
lutando pelo título. O paddock inteiro criticou a decisão da McLaren, que abriu um precedente
perigoso e tornou a gestão dos seus jovens pilotos ainda mais delicada até o final do ano.
Enquanto isso, a situação de Max Verstappen na frente da corrida era tão confortável que o
neerlandês achou tempo para rir da desgraça alheia. Ao saber que a dupla da McLaren trocou
de posições por um erro no pit-stop, Max riu da situação e seu bom humor tinha razão de ser.
Com a McLaren não estando tão confortável em Monza, Verstappen enxergou uma chance de
agitar o status quo de 2025 e como normalmente acontece, Max agarrou a oportunidade com
as duas mãos. Foi uma vitória sem qualquer contestação de Verstappen, que conseguiu um
Grand Slam, bateu recordes de velocidade em ritmo de corrida (250,706 km/h de média na
corrida) e mostra mais uma vez que é o melhor piloto da atualidade. Um carro melhor e Max
entraria de vez na cabeça de Lando e Oscar. Ao ser perguntado depois da corrida se teria a
mesma atitude de Piastri, Max foi enfático em dizer não. Eyes of tiger…
Já o outro carro da Red Bull segue seu calvário. Mesmo largando entre os dez primeiros e se
mantido na zona de pontuação o primeiro stint inteiro, Yuki Tsunoda se perdeu
completamente após sua parada e com pneus duros, o nipônico caiu pelas tabelas. Yuki
também reagiu a parada prematura de Bearman, mas ao contrário de Bortoleto, Tsunoda foi
se apagando a ponto de Isack Hadjar, que largou dos boxes após trocar o motor, estender seu
stint e ainda marcar um ponto, na frente do nipônico. E quase Tsunoda levou uma
ultrapassagem de Lawson, mas o atabalhoado neozelandês acabou tendo que devolver a
posição após sua tentativa temerária na Variante Della Roggia.
Enquanto Verstappen recebia a bandeirada, o carro de Tsunoda estava logo à frente do
neerlandês, quase tomando uma volta do companheiro de equipe. Com a Honda indo embora
do programa Red Bull no final desse ano, Tsunoda dificilmente permanecerá na equipe, ainda
mais com desempenhos tão abaixo. O problema de Helmut Marko será quem ficará na ingrata
situação de companheiro de equipe de Max Verstappen.
Após uma primeira volta empolgante, a corrida de Charles Leclerc murchou. O monegasco
ainda teve que controlar alguns ataques de Russell, mas sem grandes sustos. Depois disso
Leclerc questionou o momento de sua parada, recebendo um 'depois da corrida vemos isso'
antes de receber a bandeirada em quarto lugar próximo da dupla da McLaren mais pelos
estrategistas papaias do que pelo desempenho da Ferrari. Hamilton foi punido por um
incidente em Zandvoort e largou em décimo. O veterano soube fazer uma boa corrida de
recuperação, ultrapassou Antonelli e Tsunoda na pista e ao estender seu stint, facilmente
ultrapassou Bortoleto, chegando a pensar em fustigar Russell, mas isso não foi possível,
fazendo com que Lewis se conformasse com o sexto lugar.
Russell ficou no meio do sanduíche das Ferrari numa corrida praticamente incógnita, trazendo
mais pontos para a equipe, enquanto Antonelli fazia uma corrida de altos e baixos. O jovem
italiano foi ajudado pela estratégia para ficar na frente de Bortoleto, mas seu ritmo de corrida
não era exatamente dos melhores e quando foi atacado por Albon, Kimi acabou jogando o
piloto da Williams para fora na Curva Biassono e seria punido em 5s por isso. Para piorar,
Albon mais tarde completaria a ultrapassagem e Antonelli ficou atrás do piloto da Williams no
campeonato. Uma temporada de estreia nada animadora para Antonelli.
Falando em novatos, Gabriel Bortoleto fez outra boa prova rumo aos pontos em 2025. Após
segurar sem maiores problemas um pelotão de carros no primeiro stint, Gabriel não foi muito
ajudado pela Sauber, que o trouxe para uma prematura parada reagindo ao movimento de
Bearman. Bortoleto teve sorte com a estranha quebra de Alonso, mas foi superado por
Antonelli no ritmo e por Albon na estratégia. Com o entrevero entre eles, no entanto, Gabriel
herdou uma posição com a punição de 5s de Kimi, subindo para oitavo e ganhando uma
posição no campeonato, superando Bearman. O inglês teve um toque com Sainz que quase fez
a alegria da McLaren, que torcia por um SC desesperadamente, mas os dois pilotos voltaram à
corrida sem problemas, contudo, Bearman foi punido e acabou fora dos pontos, o mesmo
acontecendo com Ocon, punido por um toque com Stroll ainda no começo da corrida.
Sainz escapou de uma punição por cortar a chicane, mas o toque com Bearman não o ajudou
muito, principalmente com seu companheiro de equipe continuando a marcar pontos para a
equipe, enquanto o espanhol se atrapalha com outros carros. A Alpine teve um dia para
esquecer e mesmo escolhendo estratégias distintas para os seus dois pilotos, os pontos não
foram uma questão para Gasly e Colapinto. Stroll largou nas últimas filas e assim como a
McLaren, esticou seu stint ao máximo rezando por um SC que não veio, fazendo com que o
canadense terminasse em último, contudo, nem de longe Stroll andou como Alonso, que
caminhava para marcar mais pontos, mas acabou tendo sua suspensão dianteira direita
quebrada após um toque aparentemente normal na zebra da Variante Ascari. Alonso lamentou
mais pontos perdidos.
Correndo em casa, Marc e Alex Márquez transformaram o Grande Prêmio da Catalunha da
MotoGP em Barcelona num assunto caseiro. Após arrancar a pole no sábado, Alex Márquez
decepcionou ao cair na Sprint Race, fazendo tornar seu apelido de 'Ralf Schumacher piorado'.
No entanto Alex esteve perfeito no domingo, não cedendo aos ataques do irmão para vencer
pela segunda vez na MotoGP, além de impedir que Marc ganhe o campeonato em Misano,
semana que vem. Será mesmo?
Mesmo que tivesse a chance de decidir o campeonato 2025 da MotoGP na corrida caseira da
Ducati, a missão de Marc não seria fácil, porém, o mais difícil seria comemorar um título na
casa também de Valentino Rossi e sua torcida inflamada, que não esquece da rivalidade entre
as duas lendas. Em Mugello, mesmo correndo com o rosso Ducati, Marc Márquez foi
impiedosamente vaiado pela torcida italiana. Talvez para Marc consolidar o título na etapa
seguinte, no Japão, seja bem mais apropriado.
Mesmo com Max Verstappen completando a dobradinha italiana com todo mérito e dando um
recado claro para a concorrência que ele pode fazer muito mais se tiver o equipamento certo,
a presepada da McLaren foi o grande assunto do pós-corrida. Uma série de questionamentos
se levantam na medida em que a McLaren se intrometeu na briga dos seus pilotos, no que
poderia ser uma bela batalha dentro das pistas.
Aparentemente a McLaren se lembrou do caso da Hungria ano passado, quando quase
entregou a vitória à Norris após Piastri dominar a prova. Com a volta paga, isso significa que
daqui em diante não teremos mais ordens de equipe como essa? Piastri e Norris não estão se
portando de forma passiva demais frente à McLaren? Essas respostas serão dadas até o final
do campeonato.
Abraços!
João Carlos Viana