Libera a Mistral, pô!

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Mais um GP enfadonho, modorrento, abaixo das expectativas, certo? Certo. É inegável, já que todos esperavam mais para a triunfante volta de Paul Ricard. O que não significa, entretanto, que não possamos analisar cuidadosamente os acontecimentos, para que fiquemos atentos quando as corridas ótimas acontecerem.

Podemos começar com o declaratório. Sinceramente não sei se sempre foi bastante inútil e eu nunca reparei, ou se está mais inútil agora. Isso porque, como já acontece na pré-temporada de testes, times têm mais a esconder do que a mostrar.

Soa ridículo agora quando pegamos as falas de Valtteri Bottas antes do fim de semana, dizendo que “ah, a Ferrari é favorita, eles que devem andar melhor na França, blá, blá, blá”. O domínio de Lewis Hamilton já era notável nos treinos e a coisa ficou ainda mais fácil quando os dois conjuntos que estavam imediatamente atrás – Bottas e Sebastian Vettel – se encontraram ainda na primeira curva, o qu obrigou ambos a realizar uma corrida de recuperação.

Lewis teve apenas que controlar o ritmo e receber a bandeirada, numa pista conhecida pelo asfalto pouquíssimo abrasivo, e com uma Mercedes bastante gentil com os pneus Pirelli que estão com banda de rodagem mais fina, que elimina as bolhas que assustavam o time prateado em algumas situações. O asfalto durante a corrida teve temperatura elevada, perto de 45 graus, e mesmo assim só um chassi horrível como o Williams (pior do ano) destruiu os pneus.

Quanto a Vettel, este se disse surpreso com a rápida recuperação – já era 5º com apenas 20 voltas. Ele contou com um stint bastante longo com pneus macios (os mais duros disponíveis) de 39 voltas, e quando finalmente parou de novo, com 13 voltas para o fim, tinha pneus ultramacios para não ser ameaçado.

O curioso é que Valtteri Bottas fez praticamente a mesma tática, e não passou do 7º lugar, praticamente 20s atrás de Vettel…

Já faz um tempinho que tenho a frase “esse Charles Leclerc é bom” na cabeça. Sua oitava colocação nos treinos, e o pontinho que levou pra casa aumentam as especulações de que ele será substituto de Kimi Räikkönen na Ferrari.

Faz todo sentido. Kimi há muito perdeu a fome, tornou-se um burocrata. Durante a corrida, pensei como seria fantástico se ele “ligasse na tomada” e fosse pra cima das Red Bull e desse calor no Hamilton. E dei risada, sabendo que isso jamais ia rolar.

Kimi só conseguiu passar Daniel Ricciardo porque este passou boa parte da corrida com a asa dianteira quebrada, o que também explica sua diferença de desempenho para Verstappen.

O troféu de Gorila é horroroso, nem em campeonato de videogame de Fórmula 1 dariam uma trapizonga dessas.

Libera logo a Mistral sem chicane, pô!

Baku, naquele aperto todo de circuito urbano, tem 2 km de reta. A Mistral tem 1,8 km. E sabe o que é mais irritante? Quando a F1 disputou de 1986 a 1990 no “Ricardinho”, o traçado curto, a secção final da Mitral era MAIOR do que as secções cortadas pela chicane.

A F1 precisa urgentemente parar de ser uma versão medrosa de si mesma.

De vencedor de Le Mans a último colocado de pista no GP da França. Este foi o duro retorno de Fernando Alonso a sua realidade de piloto de uma McLaren que não é nem sobra do que já foi.

Uma constatação um tanto desesperadora foi dada pelo próprio Alonso, após o desempenho pífio na qualificação: o carro não tinha nenhum problema de balanço ou dirigibilidade, ele simplesmente não tinha velocidade suficiente. Carro lerdo, ruim. E isso escancara a parcela da própria McLaren nos fracassados anos anteriores de parceria com a Honda. O mesmo motor Renault de Alonso, o último colocado na pista, é o que Max Verstappen usou para ser segundo colocado…

A conquista de Le Mans leva ao óbvio: Alonso quer agora a Indy 500. E nessa, nós podemos fazer alguns exercícios especulativos. Primeiramente, existe, sim, a possibilidade da McLaren criar uma estrutura nos Estados Unidos para Alonso disputar uma temporada inteira de Indy. Mas é de se supor que não criem nada do zero, e que façam associação com alguma estrutura já existente.

Diria que o Alonso pagaria do próprio bolso por algo assim. Ou seja, por uma Indy 500, concordaria em reduzir seu salário para que este fosse usado na estruturação de uma equipe de Indy – que é uma mera fração de qualquer equipe pequena da F1.

Primeira constatação: Alonso só pode contar com motores Chevrolet. Claro, a Honda, representada pelas grandes Ganassi e Andretti, quer que o asturiano se exploda. E a única estrutura realmente vencedora a usar Chevy atualmente é… a Penske.

Se eu tivesse na pele do diretor Zak Brown, eu marcaria um café com um tal de Roger Penske. Da mesma forma como houve em 2017 uma associação entre McLaren e a Andretti, seria espetacular uma “McLaren by Penske”, fazendo Alonso juntar-se a Josef Newgarden, Will Power e Simon Pagenaud, além do Hélio Castroneves na próxima Indy. Seria bom pra todo mundo: Alonso, McLaren, Penske, Roger, e para a própria Indy, que viveu um tremendo frisson ano passado com a chegada de Alonso, que andou muito bem e provou mais uma vez sua notável adaptabilidade.

Um plano B seria a associação com um time com bom know-how de Indianápolis. Estou falando de Ed Carpenter Racing. O patrão Ed é o típico piloto de formação de oval, que passou anos tomando tempo em circuitos mistos, sendo notadamente abaixo da média nesse tipo de situação.

Mas Ed sabe demais de ovais, e suas três poles na Indy 500 não deixam mentir. Neste ano, Carpenter conseguiu seu melhor desempenho. Foi quem liderou o maior número de voltas (65), e fechou a corrida numa ótima segunda posição, sendo derrotado apenas por um Will Power que deu uma arrancada irresistível no final, quando teve um carro superior.

Não seria nenhuma loucura uma associação com a Carpenter.

A próxima corrida é na Áustria, e de lá só consigo lembrar daquele reencontro em 2015 da velha guarda, com direito a Lauda, Prost, Piquet & Grande Elenco. Podiam fazer isso todo ano que eu não ia achar ruim.

O que eu acho ruim mesmo é a insensibilidade da Liberty Media com as pautas “retrô”. A cobertura oficial da F1 do evento em que Jacques Villeneuve pilotou a Ferrari com que o pai venceu sua primeira corrida, justamente a primeira edição do GP do Canadá em Montreal, foi pífia. Ficaram fazendo perguntas bobocas enquanto a torcida no autódromo aplaudia a Ferrari.

https://www.youtube.com/watch?v=PASPQwTXE28&feature=youtu.be&t=5m59s

Complicado…

Abração!

Lucas Giavoni
Lucas Giavoni
Mestre em Comunicação e Cultura, é jornalista e pesquisador acadêmico do esporte a motor. É entusiasta da Era Turbo da F1, da Indy 500 e de Le Mans.

3 Comments

  1. Fernando Marques disse:

    Lucas,

    não consegui ver o GP da França … simplesmente esqueci do hora e quando fui me tocar a corrida já tinha terminado … rsrsrsrs … mas pelo visto só perdi a batida entre Vettel e Bottas (a 2ª do ano) que aliás fez o Verstappen rir a toa …
    Com a vitória, Hamilton voltou a ficar com 14 pts a mais que Vettel …
    A grande questão do Alonso neste momento é definir logo o que ele fará em 2019 … pelo que me parece ele não quer mais a Formula 1 e vice e versa … agora é interessante esta questão de qual motor ele poderia usar na Indy … não sabia disso …
    Com relação ao Circuito de Paul Ricard, ele só voltará a ser o que era no dia em que a reta Mistral voltar a ser o que era … do jeito que está parece um feio kartódromo com pele de zebra

    Fernando Marques
    Niterói RJ

  2. Mauro Santana disse:

    É meu amigo Lucas, a nossa amada F1 está perdidinha.

    Infelizmente!

    Abraço!

    Mauro Santana
    Curitiba PR

  3. silvio disse:

    Blog muito bom, fala a verdade o que muitos não fazem pra não prejudicar suas imagens publicas abestadas

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