Lupa no Mundial de Construtores

Viva Las Vegas!
20/11/2023
Condensando 2023
27/11/2023

Sempre damos mais atenção ao Mundial de Pilotos, claro, e isso nos distrai do fato de serem os carros o fator determinante para o sucesso do piloto. Milagres podem acontecer – Ayrton Senna em 93, por exemplo –, mas isso é raro, cada vez mais raro.

Para não ir longe: de 2021 pra cá, até Interlagos, 64 GPs disputados, vitórias inesperadas só podemos considerar as de Carlos Sainz em Singapura 23 (pela repentina fraqueza da RBR), George Russell em Interlagos 22, Steban Ocon na Hungria 21 e Daniel Ricciardo em Monza 21. No mais, tivemos 47 vitórias da RBR, 42 delas graças a Max Verstappen, dez da Mercedes, todas menos uma na temporada 2021, e cinco da Ferrari.

Quem leu minha coluna passada (sempre é tempo: https://gptotal.com.br/medindo-a-superioridade-da-rbr/) viu que tentei colocar em números a força da equipe campeã de Construtores comparada à da equipe 2ª colocada. Terminei convidando os leitores a comentar as minhas elocubrações, já que as mudanças no regulamento de pontuação e na quantidade de GPs não permitem uma comparação simples e direta.

O leitor MarcioD foi um dos que enviaram comentários interessantes. Ele cita a pesquisa que dá aos carros 85% de relevância no desempenho do piloto e identifica corretamente os períodos mais equilibrados do Mundial de Construtores que – surpresa! – coincidem com as nossas temporadas preferidas. Termina sugerindo que se faça a leitura das tabelas por décadas.

Acho interessante também lê-las tendo ao lado os regulamentos técnicos, de forma a conferir se grandes mudanças influenciaram na superioridade das equipes campeãs.

Procurei identificar as alterações mais importantes de regulamento, a partir de 58, primeira edição do Mundial de Construtores. Começando pelos motores:

– de 58 a 60: motores de 2,5 litros aspirados ou 0,75 litro comprimido.

– A partir de 61: motores de 1,5 litro.

– A partir de 66: motores de 3 litros aspirados ou 1,5 litro comprimidos, sendo que, entre 83 e 88, os turbo se tornam dominantes, havendo limitação de consumo de gasolina a partir de 84 e proibição de reabastecimento, que vale até 93.

– A partir de 89: motores de 3,5 litros aspirados.

– A partir de 95: motores de 3 litros, com reabastecimento; a partir de 04 começa a haver limitação no número de motores por GP e temporadas, que vai se tornando mais e mais apertada até nossos dias. Os testes em pista começam a ser progressivamente limitados, tornando indispensável o desenvolvimento dos carros em ambiente de laboratório.

– A partir de 06: motores de 2,4 litros com, a partir de 07, limitação de giros.

– A partir de 10: proibido o reabastecimento.

– A partir de 14: motores híbridos, com limitação de consumo.

Além disso, considerei importante a pesquisa aerodinâmica crescente a partir de 68, com uso dos aerofólios, seguido pelo efeito solo entre 78 e 82, a relevância progressiva dos pneus no desempenho do carro e, mais tarde, da eletrônica embarcada (operando câmbio, suspensão, embreagem e diferencial, por exemplo), o uso de carbono nos chassis, e a imposição de fornecedor único de pneus a partir de 2007. Talvez devêssemos ponderar também a importância das estratégias de pit stops ao longo do tempo, mas deixo isso pra outra hora.

Com estes elementos em mãos, redividi a tabela apresentada. Ficou assim:

O MUNDIAL DE CONSTRUTORES – UMA COMPARAÇÃO ENTRE A EQUIPE VENCEDORA E A 2ª COLOCADA

GPs no anoEquipe campeãPontos

por GP

Equipe 2º colocadaPontos

por GP

Vantagem

campeã/ 2ª

MOTORES 2,5 LITROS
195811Vanwall5,1Ferrari5,10
19599Cooper5,8Ferrari4,238%
196010Cooper5,8Lotus3,756%
MOTORES 1,5 LITRO
19618Ferrari6,5Lotus462%
19629BRM6,2Lotus4,248%
196310Lotus7,4BRM4,564%
196410Ferrari4,9BRM5,1(4%)
196510Lotus5,8BRM6,1(5%)
MOTORES 3 LITROS OU 1,5 LITRO TURBO
19669Brabham5,4Ferrari3,554%
196711Brabham6,1Lotus452%
MOTORES 3 LITROS OU 1,5 LITRO TURBO + AEROFÓLIOS +   CRESCIMENTO DA IMPORTÂNCIA DOS PNEUS
196812Lotus5,1McLaren4,124%
196911Matra6Brabham4,630%
197013Lotus4,5Ferrari4,28%
197111Tyrrell6,6BRM3,2107%
197212Lotus5,1Tyrrell4,221%
197315Lotus6,4Tyrrell5,712%
197415McLaren5Ferrari4,316%
197514Ferrari5,1Brabham429%
197616Ferrari5,1McLaren4,612%
197717Ferrari5,7Lotus3,658%
MOTORES 3 LITROS OU 1,5 LITRO TURBO + EFEITO SOLO
197816Lotus5,3Ferrari3,649%
197915Ferrari7,5Williams550%
198014Williams8,5Ligier4,780%
CHASSIS DE CARBONO
198115Williams6,3Brabham458%
198216Ferrari4,6McLaren4,310%
MOTORES TURBO DOMINANTES (ÚNICA OPÇÃO EM 86), COM LIMITAÇÃO DE CONSUMO A PARTIR DE 84 E VETO AO USO DO EFEITO SOLO
198315Ferrari5,9Renault5,214%
198416McLaren8,9Ferrari3,6149%
198516McLaren5,6Ferrari5,110%
198616Williams8,8McLaren646%
198716Williams8,5McLaren4,782%
198816McLaren12,4Ferrari4210%
MOTORES 3,5 LITROS ASPIRADOS E USO CRESCENTE DE ELETRÔNICA EMBARCADA
198916McLaren8,8Williams4,883%
199016McLaren7,5Ferrari6,811%
199116McLaren8,6Williams7,811%
199216Williams10,2McLaren6,168%
199316Williams10,5McLaren5,2101%
MOTORES 3,5 LITROS ASPIRADOS COM REABASTECIMENTO E LIMITAÇÕES NO USO DA ELETRÔNICA EMBARCADA
199416Williams7,3Benetton6,415%
199517Benetton8Williams6,524%
199616Williams10,9Ferrari4,3154%
199717Williams7,2Ferrari620%
199816McLaren9,7Ferrari8,317%
199916Ferrari8McLaren7,73%
200017Ferrari10McLaren8,912%
200117Ferrari10,5McLaren675%
200217Ferrari13Williams5,4140%
200316Ferrari9,8Williams99%
LIMITAÇÃO NO NÚMERO DE MOTORES POR TEMPORADA/GP
200418Ferrari14,5Bar6,6120%
200519Renault10McLaren9,55%
MOTORES 2,4 LITROS E FORNECEDOR ÚNICO DE PNEUS A PARTIR DE 2007
200618Renault11,4Ferrari11,13%
200717Ferrari12BMW Sauber5,9103%
200818Ferrari9,5McLaren8,312%
200917Brawn GP10,1RBR912%
201019RBR26,2McLaren23,810%
201119RBR34,2McLaren26,131%
201220RBR23Ferrari2015%
201319RBR31,3Mercedes18,965%
MOTORES HÍBRIDOS
201419Mercedes36,8RBR21,373%
201519Mercedes37Ferrari22,564%
201621Mercedes36,4RBR22,264%
201720Mercedes33,4Ferrari26,128%
201821Mercedes31,1Ferrari27,115%
201921Mercedes35,1Ferrari2447%
202017Mercedes33,7RBR18,780%
202122Mercedes27,8RBR26,64,5%
202222RBR34,5Ferrari25,137%
202317RBR39,1Mercedes19,1104%

Números de 2023 até GP de São Paulo, com base nos dados do https://www.statsf1.com.

Na minha coluna anterior, há explicações detalhadas sobre a regra de pontuação do Mundial de Construtores ao longo dos anos.

Agora que a equação está rascunhada, aguardo os comentários dos amigos leitores.

Abraços

Edu

Eduardo Correa
Eduardo Correa
Jornalista, autor do livro "Fórmula 1, Pela Glória e Pela Pátria", acompanha a categoria desde 1968

2 Comments

  1. MarcioD disse:

    Edu, muito interessantes suas colocações envolvendo mudanças de regulamento e suas possíveis consequências no campeonato de construtores e na competitividade da F1.

    Usando o mesmo raciocino de comparação de intervalos que utilizei ao comentar na sua coluna anterior, vou usar os 3 maiores intervalos, que coincidentemente tem 10 anos.

    O primeiro vai de 68 a77 onde temos 5 times campeões, com a maior sequencia de títulos seguidos sendo 3, media de diferenças de 31,7%, máxima 107% e mínima de 8%. Somente uma diferença acima de 100% e uma abaixo de 10%.

    Após 17 anos temos o intervalo de 94 a 03 onde temos 4 times campeões, a maior sequencia de títulos é de 6, a diferença média é de 46,9% a maior diferença é de 154%, a menor é de 3%, com 2 diferenças acima de 100% e 2 abaixo de 10%.

    Após 11 anos temos o intervalo de 2014 a 2023 onde temos somente 2 times campeões, a maior sequencia de títulos é de 8, uma diferença média de 51,65 %. A maior diferença é de 104%, a mínima de 4,5%. Somente uma diferença acima de 100% e uma abaixo de 10%.

    Ora, sabemos que em qualquer esporte o aspecto de maior relevância são os títulos, vindo a seguir as vitorias. Grande numero de títulos,sequencias de títulos num determinado período de anos, grande nº de vitorias, percentual grande de vitorias e grandes diferenças percentuais de pontos num mesmo ano são sinais de desequilíbrio.

    Sendo assim conclui-se que o 1º intervalo é o mais competitivo, porque tem mais vencedores, tem a sequencia máxima de títulos menor e a diferença média é a menor. Isso apesar de ter uma diferença mínima maior do que os outros 2 intervalos e uma máxima menor do que a do 3º intervalo( por enquanto). E o 2º é melhor do que ó 3º pelas mesmas 3 primeiras razões. Ou seja, a competitividade na F1 vem caindo ao longo do tempo.
    Esse 1º intervalo faz parte do que eu chamo de era de ouro da competitividade na F1, que vai de 61 a 85, onde não tivemos títulos sequenciais de pilotos por longos 25 anos, algo impensável nos dias atuais e provavelmente nos futuros.

    Esses grandes domínios de longa duração (4+ títulos sequenciais de pilotos e construtores e mais de 50% de vitorias) iniciando pela McLaren em 88-91 vieram para ficar e a diferença de tempo entre eles só diminuiu.

    Acredito que a situação seria pior ainda se a Mercedes não tivesse se retirado após aquele terrível acidente de Le Mans em 55.

    E não vi ainda efeito pratico (títulos), do teto de gastos no aumento da competitividade.

  2. Fernando Marques disse:

    Edu,

    Numa analise assim dizendo não tanto estatísco, o maior dominio de uma equipe na historia da Formula ainda pertence a Mercedes … foram oito títulos seguidos entre 2014 e 2021 …
    A sua tabela continua um show pois muito da historia da Formula 1 está inserido nela

    Fernando Marques
    Niterói RJ

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *