Quão tirânico é o atual domínio da RBR?
Pensei sobre isso nas últimas semanas, troquei ideias com os colegas do Gpto e acabei montando uma tabela comparando os resultados das equipes campeão e vice do Mundial de Construtores de 2010 aos nossos dias e que, acho eu, permite visualizar a grandeza do feito da equipe de Max Verstappen. Indo direto ao poste: o domínio da RBR em 2023 é o maior sobre a 2ª colocada no Mundial de Construtores desde 2004 e o 7º maior nos 65 anos da disputa. Nos anos em que a categoria é controlada pela Liberty Media não houve nada parecido.
Animado com o resultado da minha primeira tabela, a fui ampliando até chegar a 1958, primeira temporada em que se premiou os Construtores, além do piloto campeão.
O resultado do meu trabalho vocês verão logo abaixo. Mas, antes, uma breve explicação do que eu fiz.
Tabulei os pontos das equipes 1º e 2º colocadas no Mundial de Construtores desde a sua primeira edição e dividi pelo número de corridas de cada temporada. Consegui, assim, um número médio de pontos por GP por equipe e depois apurei a vantagem percentual da campeã, chegando a um resultado que, no meu entendimento, permite uma comparação direta ao longo dos anos, ainda que ela precise ser ponderada à luz do regulamento de pontuação.
Por isso produzi três tabelas e não uma. A cada tabela corresponde uma regra de pontuação, devidamente mencionada.
A comparação dentro de cada tabela não é perfeita – há pequenas alterações na regra de pontuação ano a ano. Por exemplo: na tabela 2010-2023, há que se fechar os olhos ao acréscimo dos pontos das sprint races a partir de 2021 e de um ponto por melhor volta, este concedido a partir de 2019. Mesmo assim, creio que minha comparação segue válida.
Vamos aos números:
O MUNDIAL DE CONSTRUTORES – UMA COMPARAÇÃO ENTRE A EQUIPE VENCEDORA E A 2ª COLOCADA
De 1958 a 1978
– Pontuação só para o carro mais bem colocado da equipe
– temporadas 58 e 59: 8, 6, 4, 3 e 2 pontos para os cinco primeiros colocados
– 60 e 61: 8, 6, 4, 3, 2 e 1 pontos para os seis primeiros colocados
– 62 a 78: 9, 6, 4, 3, 2 e 1 pontos para os seis primeiros colocados
– Considerada a pontuação total das equipes, sem os descartes
– A cor diferente no ano assinala temporadas nas quais a equipe campeã de Construtores não é a mesma do piloto vencedor do Mundial
GPs no ano | Equipe campeã | Pontos por GP | Equipe 2º colocada | Pontos por GP | Vantagem campeã/ 2ª | |
1958 | 11 | Vanwall | 5,1 | Ferrari | 5,1 | 0 |
1959 | 9 | Cooper | 5,8 | Ferrari | 4,2 | 38% |
1960 | 10 | Cooper | 5,8 | Lotus | 3,7 | 56% |
1961 | 8 | Ferrari | 6,5 | Lotus | 4 | 62% |
1962 | 9 | BRM | 6,2 | Lotus | 4,2 | 48% |
1963 | 10 | Lotus | 7,4 | BRM | 4,5 | 64% |
1964 | 10 | Ferrari | 4,9 | BRM | 5,1 | (4%) |
1965 | 10 | Lotus | 5,8 | BRM | 6,1 | (5%) |
1966 | 9 | Brabham | 5,4 | Ferrari | 3,5 | 54% |
1967 | 11 | Brabham | 6,1 | Lotus | 4 | 52% |
1968 | 12 | Lotus | 5,1 | McLaren | 4,1 | 24% |
1969 | 11 | Matra | 6 | Brabham | 4,6 | 30% |
1970 | 13 | Lotus | 4,5 | Ferrari | 4,2 | 8% |
1971 | 11 | Tyrrell | 6,6 | BRM | 3,2 | 107% |
1972 | 12 | Lotus | 5,1 | Tyrrell | 4,2 | 21% |
1973 | 15 | Lotus | 6,4 | Tyrrell | 5,7 | 12% |
1974 | 15 | McLaren | 5 | Ferrari | 4,3 | 16% |
1975 | 14 | Ferrari | 5,1 | Brabham | 4 | 29% |
1976 | 16 | Ferrari | 5,1 | McLaren | 4,6 | 12% |
1977 | 17 | Ferrari | 5,7 | Lotus | 3,6 | 58% |
1978 | 16 | Lotus | 5,3 | Ferrari | 3,6 | 49% |
De 1979 a 2009
– Pontuação para os dois carros da equipe
– temporadas 79 a 90: 9, 6, 4, 3, 2 e 1 pontos para os seis primeiros colocados
– 91 a 02: 10, 6, 4, 3, 2 e 1 pontos para os seis primeiros colocados
– 03 a 09: 10, 8, 6, 5, 4, 3, 2 e 1 pontos para os oito primeiros colocados
– Considerada a pontuação total das equipes, sem os descartes
– A cor diferente no ano assinala temporadas nas quais a equipe campeã de Construtores não é a mesma do piloto vencedor do Mundial
GPs no ano | Equipe campeã | Pontos por GP | Equipe 2º colocada | Pontos por GP | Vantagem campeã/ 2ª | |
1979 | 15 | Ferrari | 7,5 | Williams | 5 | 50% |
1980 | 14 | Williams | 8,5 | Ligier | 4,7 | 80% |
1981 | 15 | Williams | 6,3 | Brabham | 4 | 58% |
1982 | 16 | Ferrari | 4,6 | McLaren | 4,3 | 10% |
1983 | 15 | Ferrari | 5,9 | Renault | 5,2 | 14% |
1984 | 16 | McLaren | 8,9 | Ferrari | 3,6 | 149% |
1985 | 16 | McLaren | 5,6 | Ferrari | 5,1 | 10% |
1986 | 16 | Williams | 8,8 | McLaren | 6 | 46% |
1987 | 16 | Williams | 8,5 | McLaren | 4,7 | 82% |
1988 | 16 | McLaren | 12,4 | Ferrari | 4 | 210% |
1989 | 16 | McLaren | 8,8 | Williams | 4,8 | 83% |
1990 | 16 | McLaren | 7,5 | Ferrari | 6,8 | 11% |
1991 | 16 | McLaren | 8,6 | Williams | 7,8 | 11% |
1992 | 16 | Williams | 10,2 | McLaren | 6,1 | 68% |
1993 | 16 | Williams | 10,5 | McLaren | 5,2 | 101% |
1994 | 16 | Williams | 7,3 | Benetton | 6,4 | 15% |
1995 | 17 | Benetton | 8 | Williams | 6,5 | 24% |
1996 | 16 | Williams | 10,9 | Ferrari | 4,3 | 154% |
1997 | 17 | Williams | 7,2 | Ferrari | 6 | 20% |
1998 | 16 | McLaren | 9,7 | Ferrari | 8,3 | 17% |
1999 | 16 | Ferrari | 8 | McLaren | 7,7 | 3% |
2000 | 17 | Ferrari | 10 | McLaren | 8,9 | 12% |
2001 | 17 | Ferrari | 10,5 | McLaren | 6 | 75% |
2002 | 17 | Ferrari | 13 | Williams | 5,4 | 140% |
2003 | 16 | Ferrari | 9,8 | Williams | 9 | 9% |
2004 | 18 | Ferrari | 14,5 | Bar | 6,6 | 120% |
2005 | 19 | Renault | 10 | McLaren | 9,5 | 5% |
2006 | 18 | Renault | 11,4 | Ferrari | 11,1 | 3% |
2007 | 17 | Ferrari | 12 | BMW Sauber | 5,9 | 103% |
2008 | 18 | Ferrari | 9,5 | McLaren | 8,3 | 12% |
2009 | 17 | Brawn GP | 10,1 | RBR | 9 | 12% |
2010 a 2023, até GP de São Paulo
– Pontuação para os dois carros da equipe
Temporadas 10 a 18: 25, 18, 15, 12, 10, 8, 6, 4, 2 e 1 pontos para os dez primeiros colocados
– 19 a 20: 25, 18, 15, 12, 10, 8, 6, 4, 2 e 1 pontos para os dez primeiros colocados mais um ponto pela melhor volta, desde que o piloto tenha chegado entre os dez primeiros
– 21: 25, 18, 15, 12, 10, 8, 6, 4, 2 e 1 pontos para os dez primeiros colocados mais um ponto pela melhor volta na corrida, desde que o piloto tenha chegado entre os dez primeiros, e 3, 2 e 1 pontos para os três primeiros carros na sprint race
– 22 e 23: 25, 18, 15, 12, 10, 8, 6, 4, 2 e 1 pontos para os dez primeiros colocados mais um ponto pela melhor volta na corrida, desde que o piloto tenha chegado entre os dez primeiros, e 8, 7, 6, 5, 4, 3, 2 e 1 pontos para os oito primeiros carros na sprint race
– A cor diferente no ano assinala temporadas nas quais a equipe campeã de Construtores não é a mesma do piloto vencedor do Mundial
GPs no ano | Equipe campeã | Pontos por GP | Equipe 2º colocada | Pontos por GP | Vantagem campeã/ 2ª | |
2010 | 19 | RBR | 26,2 | McLaren | 23,8 | 10% |
2011 | 19 | RBR | 34,2 | McLaren | 26,1 | 31% |
2012 | 20 | RBR | 23 | Ferrari | 20 | 15% |
2013 | 19 | RBR | 31,3 | Mercedes | 18,9 | 65% |
2014 | 19 | Mercedes | 36,8 | RBR | 21,3 | 73% |
2015 | 19 | Mercedes | 37 | Ferrari | 22,5 | 64% |
2016 | 21 | Mercedes | 36,4 | RBR | 22,2 | 64% |
2017 | 20 | Mercedes | 33,4 | Ferrari | 26,1 | 28% |
2018 | 21 | Mercedes | 31,1 | Ferrari | 27,1 | 15% |
2019 | 21 | Mercedes | 35,1 | Ferrari | 24 | 47% |
2020 | 17 | Mercedes | 33,7 | RBR | 18,7 | 80% |
2021 | 22 | Mercedes | 27,8 | RBR | 26,6 | 4,5% |
2022 | 22 | RBR | 34,5 | Ferrari | 25,1 | 37% |
2023 | 17 | RBR | 39,1 | Mercedes | 19,1 | 104% |
Agradeço sugestões dos amigos leitores para melhorias nas tabelas, lembrando que nosso foco aqui é unicamente o Mundial de Construtores.
Em nosso próximo encontro, arriscarei alguns comentários sobre o resultado destas tabelas
Abraços
Edu
8 Comments
Como vai Mário?
A sua observação é pertinente e o que eu propondo então é uma divisão do 1º intervalo de 21 anos em 2, começando de 58 até 68 onde temos o fim dos anos 50 e quase a totalidade dos anos 60. E de 69 a 78 onde teríamos o ano de 69 e a quase totalidade dos anos 70.
O 2º intervalo, eu me equivoquei, pois ele tem na verdade 31 anos. Corrigindo então a média das diferenças desse intervalo seria de 55,06%, para minha surpresa ainda pior do que a do 3º intervalo. Ele seria dividido em 3: de 79 a 89 englobando o ano de 79 e todos os anos 80, de 90 a 99 mostrando todos os anos 90, e por ultimo de 2000 a 2009 mostrando todos os anos 2000.
O 3º intervalo com 14 anos permaneceria como está.
Acredito que é uma representação bem aproximada do que eu pensei, permitindo uma analise mais a curada.
Abraços
Márcio,
achei bem pertinente esse formato e complementando o raciocínio apresentado pelo Edu
Interessante notar que os domínios são bem específicos e muitas vezes em períodos de inflexão dos regulamentos
obrigado pela elucidação
grande abraço
Mário
Venho da área de exatas, sou engenheiro mecânico e gosto de estudos que envolvem números. Não gosto de discussões onde eles não estão presentes, porque costumam dar margens a narrativas muitas vezes emotivas e carregadas de preferencias.
Numa analise inicial dessa compilação, que achei muito interessante por causa dos fatores de comparação envolvidos, de cara fui logo querendo tirar a media dos intervalos e checar os máximos e mínimos envolvidos para compara-los.
Então vejamos: o primeiro intervalo de 21 anos nos mostra uma media de 35,67% das diferenças, com máximas de 107, 64 e 62 por cento, só apresenta uma temporada com diferença superior a 100% e mínimos de 0, 4 e 5 por cento e 3 temporadas onde o piloto vencedor não dispunha do carro campeão.
O segundo intervalo de 21 anos nos mostra uma media de 81,29% com máximas de 210(a maior de todos os 56 anos analisados), 154 e 149 por cento, tendo 7 temporadas com diferença acima de 100% e mínimas de 3, 3 e 5 por cento, e 7 temporadas onde o carro e piloto campeão não são da mesma equipe.
O terceiro intervalo de 14 anos nos mostra uma media de 45,55% com máximas de 104, 80 e 73 por cento, uma só temporada acima de 100% e mínimas de 4,5 , 10 e 15% e somente uma temporada com o piloto vencedor não tendo o carro campeão(o numero seria 0 se não fosse aquela atitude do Masi em 2021).
Segundo estudo matemático-estatístico de uma universidade inglesa, 85% em media dos resultados de um piloto são devidos ao carro e equipe, os números sendo crescentes ao longo do tempo. Antigamente meio que na intuição falava-se em 80%.
Posto isso me surpreendeu a discrepância entre o alto percentual de 81,29% de media de diferença no 2º intervalo, bem acima dos outros 2 intervalos, com um grande numero de diferenças acima de 100% e o numero de 7 temporadas com piloto e carro campeão não coincidentes.
Sendo assim considero o 1º intervalo o mais competitivo, pelo percentual menor de diferença média, com diferenças máximas e mínimas menores, apesar de somente em 3 temporadas o piloto e carro campeão não estarem na mesma equipe.
Grande mérito para Piquet, que apesar de alguns métodos questionáveis, conseguiu ser o único piloto campeão da historia 2 vezes , 81 e 83, sem o carro vencedor.
E realmente a McLaren massacrou com 210% de diferença em 88 com o MP4-4, Senna e Prost.
Eu gostaria de sugerir ao Edu a recompilação desses dados divididos em décadas, porque é a maneira mais usual de se estudar a F1 e porque a comparação vai ficar mais acurada.
Marcio D
sensacional a sua análise … principalmente quando fala em comparar os números por décadas …
O trabalho do Edu está fantáscico tbm.
Fernando Marques
Valeu Fernando!!
olá Marcio
endosso as palavras do amigo Fernando, seu comentário é muito bem embasado, tenho uma dúvida genuína e te faço a seguinte pergunta,: a sua proposta de separar por décadas ao meu ver esbarra na questão de mudanças de regulamento, como seria possível avaliar regulamentos diferentes para termos um avaliação equitativa ?
de qualquer forma excelente, e continua a nos escrever
abraços
Mário
O Piquet, sempre foi de mais! Pra mim o melhor de todos os tempos! Quanto a métodos questionáveis, acredito sempre em uma implicância que sempre tiveram com o Piquet. Os franceses na época sairam falando isso. Por quê? Porque tomaram um baile do trio Piquet-Murray-Rosch Sem contar toda a equipe Brabham! E isso em um ano e meio de desenvolvimento. Enquanto os franceses estavam a uns 6 a 7 anos trabalhando no projeto turbo! No mais, parabéns pela análise,excelente por sinal !
Edu,
se valendo da tabela, o ano de 1988 é o mais dominante … mas essa questão da pontuação sem duvidas influi muito no resultado … por que na minha opinião 2023 a RBR vai alcançar uma marca invejável … a de vencer todas as corridas da temporada com excessão da vitória do Ferrari … pois mesmo restando ainda duas corridas para o termino, não vejo como RBR não vencer essas etapas … são muitos mais vitorias que a Mclaren alcançou em 88.
Fernando Marques
Niterói RJ