Por diversos anos repito: Bahrain não deveria receber a Fórmula 1. Não por conta da pista ruim. Não por conta de ser uma corrida no meio do deserto. Não por nada. Só mesmo pelos confrontos armados e desrespeitos aos direitos humanos do lado de fora do muro do autódromo em um passado bem recente, já seria motivo suficiente.
Mas a Fórmula 1 é implacável na busca dos rendimentos de suas aplicações financeiras e o dinheiro do petróleo é musica nos ouvidos de Bernie Ecclestone. Sem demora, a Fórmula 1 desembarca no Bahrain para a décima segunda corrida na ilha árabe e pela primeira vez vamos ver os carrinhos de 2016 em um circuito fechado medindo forças na luta pelo tão sonhado campeonato mundial.
O circuito de Bahrain tem se mantido igual em todas etapas. Uma única ressalva para 2010 quando algum gênio teve a feliz ideia de usar o circuito completo em um tédio retumbante de 23 curvas sem a menor graça. Nas outras dez já realizadas, usam o circuito intermediário tradicional.
A pista segue a receita básica do nosso amigo Tilke. Retas, cotovelos e zig-zags. Quase nenhuma elevação (14 metros somente por toda a extensão) e muita areia espalhada.
Para esse ano há a diversão garantida de escolhas de pneus. O que cada um escolheu? Como vão usar na corrida? Já podemos tirar conclusões com o que vimos em Melbourne?
Não dá para tirar conclusão alguma. Só perceber alguns comportamentos dos carros com suas borrachas.
Por exemplo, a Mercedes. Os caras são obrigados a ter disponível um (jogo de) pneu médio e macio no dia da corrida, certo? Só tem um médio pra cada piloto do time prateado. Sabem que mesmo no calor do deserto o composto mais duro (medium) não vai ser necessário e vão dividir suas fichas no supersoft e no soft. Seis jogos de cada tipo para cada piloto, religiosamente iguais. Repare que com um jogo só de pneus médios por carro, não vão dar nenhuma voltinha nos treinos para saber que tempo o carro ‘vira’. Estão confiantes?
Na outra ponta, tem gente que aparentemente só vai conseguir fazer a prova com médios e tem jogos para treinar e correr. Sem surpresa são os carros do fim do grid. Wehrlein, Haryanto e Nasr trazem 4 médios na bagagem.
No total, só STR, Sauber e Haas tem alguma diferença de combinação de jogos entre seus pilotos.
Apesar da regra ser confusa de explicar, pode-se dizer que funcionou bem na última corrida. Será interessante ver os mesmos compostos de Melbourne numa pista muito mais abrasiva e com muitas curvas de baixa antes de grandes retas, um cenário que demanda muita tração para você ter um tempo de volta perto do decente.
httpv://youtu.be/nNQde0feS0w
Para quem quiser dar uma revisada na matéria.
Nesse ano teríamos a presença de 3 pilotos que disputaram todas as provas da história da F1 no circuito de Bahrain. Teríamos. Alonso de fora, sobram Button e Massa.
Pois é, todo mundo já sabe que Alonso não vai correr. Não muda muito a cotação do dólar e não atrapalha as pretensões de chegar ao tricampeonato em 2016. O que espanta é não ter descoberto as lesões no domingo do acidente.
Alonso saiu do carro, fez o checkup do hospital da corrida e foi para o hotel. Acordou dolorido mas foi liberado para voar para casa. Fez até gracinha no Instagram, tranquilão. Acordou no dia seguinte com muitas dores e foi ao médico onde descobriram lesões no pulmão e agendaram seu retorno para dali uma semana. Passa uma semana em repouso, sem preparação física pra não doer nada e volta ao médico. Ainda com dores, hora de virar o rapaz do avesso e descobrir umas costelinhas quebradas.
Isso. “Costelas” e “quebradas” na mesma frase.
Alonso, misterioso como sempre (quem não lembra dos testes de inverno do ano passado?), não dá detalhes. Só diz que nem tudo está colado e vetaram ele correr por conta do risco de perfurar os pulmões.
Não é chocante o cara sair de um acidente daquele tamanho com as costelas quebradas e demoram uma semana para descobrir?
Quem está feliz da vida é Stoffel Vandoorne. Vai estrear na F1 na poderosa McLaren sob o numeral 47! O rapaz de nome nada fácil conhece a pista direitinho. Correu 6 vezes com a GP2, ganhou 3 e tem 5 pódios. Tem a chance de se adaptar rapidinho e andar próximo de Button com facilidade.
Havia uma promessa interna de não reclamar do mesmo assunto em colunas sequenciais. Promessa quebrada, a F1 não ajuda.
O maravilhoso formato de classificação foi um fracasso no Q3. No domingo da corrida de Melbourne ficou decidido que voltaria ao formato de 2015. Passou uma semana e avisaram que só o Q3 ficaria igual a 2015. Aí o pessoal chegou no Bahrain e tiveram uma ideia brilhante: o formato proposto para 2016 vai ser usado novamente.
Vettel, o indignado maior dessa história toda, bem que poderia liderar os pilotos a não marcar tempos no Q3. Ninguém sai e os caras se viram para decidir o critério de classificação (provavelmente as melhores voltas do Q2). Ia ser bem divertido, os carros todos parados no inútil Q3 como forma de protesto.
Com seu tom amistoso e professoral Vettel explica para o “aspirante a fã da F1” o que ocorre hoje na F1, acompanhe: “Coloque desta forma, você vende sorvete. Você vende baunilha e todos que vem a sua loja pedem sorvete de chocolate. No dia seguinte você abre, você pensa em vender sorvete de chocolate, mas em vez disso você decide vender baunilha novamente. Normalmente, você faria o que seus clientes gostariam que você fizesse, então você não está realmente fazendo o seu trabalho se você está fazendo exatamente o oposto.”
É isso, pedimos bananas. Nos jogaram jacas.
Como a regra se manteve… “Dança das cadeiras”, é o nome mais estúpido que deram para isso.
Na pista a regra é clara: não deixem a Mercedes sair na frente. Se ela sair na frente, a corrida acaba. Os caras não gastam pneus e andam com sobras o final de semana todo. A grande frustração para toda a F1 é que um carro tão rápido como o deles é incapaz de ultrapassar uma Toro Rosso com motor Ferrari Ano/Modelo 2015/2015, nem com o DRS aberto. É de uma tristeza profunda.
Tirando esse pequeno detalhe de largadas, a Mercedes mostrou que em 2016 é a grande favorita em todas as pistas e nós ficaremos com as migalhas de descobrir a pista que a Ferrari estará mais próxima ou menos longe. Uma vitoriazinha aqui ou ali para os carros da Ferrari são mais do que possíveis, mas não farão um campeão do mundo. Lewis vai buscar o Tetra e Nico vai para sua última chance de ser campeão. Se não conseguir esse ano, melhor ir buscar algo para fazer em Le Mans.
No lado de Vettel e Raikkonen, há sorrisos. O carro é bom. O motor tá legal. E Vettel está motivado para entregar a melhor pilotagem de sua vida. A largada de Melbourne é um bom indicativo, não? Bahrain é uma pista que Ferrari costuma andar bem, não seria surpresa então uma briga pela vitória em situações especiais.
Somente Alonso e Schumacher venceram no Bahrain e não estarão na pista esse ano. Button (1), Massa (2) e Hamilton (2) vão para pista na luta para bloquear novos membros nesse clube de vencedores.
Depois das duas equipes que sobram um pouco mais a frente, a carne do pescoço está disponível para o apetite de um amontoado de equipes. Williams vem muito burocrática para 2016 e estará aos tapas com as irmãs Red Bull e Toro Rosso por um lugarzinho ao sol, popularmente conhecido com a zona de pontos. A Toro Rosso era esperado, a Red Bull sim é uma grande surpresa. Ainda tem a Force India se acertando com o carro para colocar mais lenha nessa fogueira.
Interessante notar nos tempos do Q2 de Melbourne o tamanho da encrenca que é esse pelotão. Hamilton colocou 0.652s de vantagem para o primeiro carro não Mercedes, Vettel em terceiro. No mesmo Q2, adicionando ao tempo de Vettel a mesma diferença que ele recebeu de Hamilton, chegaríamos em uma vaga na posição de número 11. Nos mesmos 0.652s que separam Hamilton do primeiro “não Mercedes” temos duas STR, uma RBR, uma Ferrari, uma Williams e duas Force India. Realmente está apertado em 2016!
Na turma de baixo uma briguinha interessante pode acontecer novamente no Bahrein. Haas surpreendentemente, tem ritmo para brigar com Renault e McLaren. Ainda com uma leve vantagem de performance pura em ritmo de corrida. Pesa contra a total falta de experiência em tudo que diz respeito a F1. Relargadas os americanos sabem fazer e o carro vira para os dois lados, ótimo! Acertando estratégia (mostram bom indicativos com Grosjean na Austrália), pits e montagem do carro, tem potencial para liderar esse pelotão.
Lá no fundo, o pelotão da desgraça, pelo menos em corrida deve ser mesmo dominado por Sauber e Manor. No Bahrein com grandes chance da Sauber ser a lanterninha. Seu carro sofre com aquecimento de freios (nada bom isso acontecer no deserto) e a Manor tem um reluzente motor Mercedes para desfrutar nas retas do Bahrein. A salvação da Sauber pode ser a também falta de experiência da Manor, desde sua dupla de pilotos. Por conta disso, a Sauber ainda consegue deixar seu nariz para fora d´água e também garantir um desempenho superior em classificação.
Circuito: Bahrain International Circuit
Voltas: 57
Comprimento: 5.412 km
Distância: 308.238 km
Recorde da Pista: 1:31.447 – P De la Rosa (2005)
Programação
Sexta-Feira: 8h00 – 1º treino livre e 12h00 – 2º treino livre
Sábado: 9h – 3º treino livre e 12h – Classificação
Domingo: 12h – Corrida
O que podemos esperar para essa infeliz prova no deserto? Bahrain o ano passado foi interessante por ter sido logo após ao GP da China, um dos piores já produzidos pelo homem na Terra. Esse ano a referencia está distante e vai ter que se destacar com as próprias forças.
Pois é, outra vez, Bahrain!
Boa corrida para todos nós!
Abraços, Flaviz Guerra – @flaviz
6 Comments
Pois é a Flaviz, aquela edição de 2010 foi uma das piores provas da história da F1.
Será que a Mercedes vai conseguir finalmente fazer história, sendo a primeira equipe a vencer todas as etapas!?
Nos resta aguardar.
E como o Fernando comentou, eu já coloquei as cervejas pra gelar, e vamos ver se tomando uma gelada no capricho, a corrida fica mais animada.
E domingo às 16:00 tem MotoGP na Argentina.
Sorte dos Hermanos!
Abraço!
Mauro Santana
Curitiba-Pr
Mauro,
Tá lado a lado com China-2015!!!
Agora esse domingo tá ótimo. 12:00 F1, 14:15 Nascar, 16:00 MotoGP.
Abraços
E não se esqueçam do GP de Phoenix da F-Indy neste sábado, às 9:30 da noite.
Um forte abraço a todos do GPTotal !!!
Marcelo C.Souza
Amargosa-BA
Flavis,
tem uma coisa de bom nesta corrida … aqui para a gente ela acontece ao meio dia e dá muito bem para assisti-la comendo uns tira gostos e tomando uma cervejinha gelada …
Quanto aos treinos, sabe-se lá o que vai ser … mas pretendo assistir …
Com relação as costelas quebradas do Alonso, já tive a infeliz experiência de quebrar duas num lance de infortúnio meu numa pelada de futebol. Os médicos tiraram umas 10 chapas de raio X e não conseguiram ver onde estava fissurado … só sei que tomei umas injeções de morfina para atenuar a dor e fui para casa ficar repouso … mesmo com tomografia computadorizada e tudo mais, sei que achar uma fissura na costela de alguém é complicado … deve ter siso isto o que aconteceu com Alonso … ele fissurou e não quebrou … se quebrasse duvido que sairia andando daquele acidente como ele saiu … a dor insuperável não permitiria ele fazer aquilo …
Quanto a corrida vou torcer que o Vettel novamente consiga fazer frente as Mercedes … só assim teremos uma corrida boa e movimentada … ao contrário Hamilton/Rosberg vão levantar poeira no Bahrain …
Fernando Marques
Niterói RJ
Poxa, que dureza!
Mas ainda fico chocado!
Abraços e vamos abrir nossa cerveja!
Flavis,
os preparativos já começaram hoje mesmo … até domingo haja espaço na freezer … hehehehe
Fernando Marques