Para ver e rever durante as férias. Férias?

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Para ver e rever durante as férias. Férias? O corpo técnico da Ferrari deverá bater mesa este ano.

Como sabemos, agora começam as férias de verão na Europa e os artistas do circo da F1 também tem direito a uma praiazinha com suas famílias, especialmente os originários de países com inverno rigoroso. Mas o corpo técnico da Ferrari deverá bater mesa este ano.

A começar por Pedro De La Rosa, que já está trabalhando em Magny Cours com a aposentada F150, mediante permissão especial da FIA, para entender porque a pista teima em dar resultados diferentes dos computadores vermelhos. Ferragosto terá um outro sentido para eles, em especial para o departamento de aerodinâmica.  Oficialmente James Allison vai começar dia 1º de setembro mas é voz corrente que a Ferrari pagou mais um bom dinheiro, além da multa rescisória, para obter o seu passe ainda este ano. Será tarde demais?

Credenciais: cresceu cercado de carros rápidos e aviões ainda mais velozes, porque seu pai, Marechal Sir John Allison, ex-comandante-em-chefe da RAF, era um hábil restaurador de carros e aviões antigos. James formou-se engenheiro mecânico com especialização em aerodinâmica pela Universidade de Cambridge em 1991. Trabalhou com Robin Herd e Willem Toet na Benetton. Interessante observar que participou do planejamento, projeto e construção do túnel de vento dessa equipe em Enstone, o que pode ajudar a resolver os problemas da instalação similar de Maranello. Allison sabe bem como é a Ferrari, trabalhou lá durante a era Schumacher.

Se você estivesse na pele do Domenicali, iria esperar até dia 1º para colocá-lo para trabalhar?

Não é apenas o Alonso que está stanco morto depois de empenhar 4 dos melhores anos de sua carreira para ficar no quase. Montezemolo está furioso, exausto de dar desculpas, exigir empenho, dizer que esta situação não o agrada etc. Mas não deverá passar as férias só pressionando Pat Fry.

Nas próximas semanas ele poderá ler e reler a tese que o diretor da Autosprint, Alberto Sabbatini, levantou a respeito de colocar toda a equipe a serviço de um único piloto. Especialmente quando o carro é claramente inferior.

“Os pontos conquistados por Alonso são mais mérito seu do que do carro, todos sabem. Mas a equipe precisa dos pontos do Campeonato de Construtores porque se traduzem em dinheiro e esse dinheiro pode ser investido no desenvolvimento técnico. Mas a Ferrari insiste em competir com um único piloto, ao contrario do que fazem Mercedes, Lotus e a própria Red Bull, em que pesem os resultados irregulares de Webber.

Há três anos Massa ouviu no GP da Alemanha Fernando is faster than you. Desde então não voltou a andar na frente de Fernando. Massa é frequentemente empregado não para fazer o que sabe fazer melhor, mas para cobrir as costas de Alonso. Mesmo que este não precise.

Os fatos demonstram que Massa anda forte somente em determinadas condições: quando a F138 faz os pneus trabalharem bem. Nesse tipo de situação é tão ou mais rápido que Alonso, como se comprovou nesse mesmo último GP da Alemanha, quando foi o mais veloz da dupla nos Q1, Q2 e Q3. Em circunstâncias adversas, pneus que não atingem a temperatura ideal, que geram graining, pista escorregadia, chuva, ele se perde. Fernando, ao contrário, é quem sabe melhor como tirar proveito de condições adversas entre todos os pilotos.

Por isso obrigar Massa a adotar a mesma estratégia de Alonso é uma decisão claramente perdedora.

O último GP da Alemanha evidencia isso. A decisão de fazer Alonso tentar a classificação com médios, para por em prática uma estratégia diferente era original, fascinante e arriscada, e valia a pena tentar seja porque as simulações recomendavam seja porque teve o mérito de confundir os adversários. Mas também era preciso que Massa qualificasse e largasse com soft. Primeiro porque com aqueles pneus de classificação ele se deu bem e foi 137 milésimos mais rápido que Alonso no Q2.

Segundo porque diversificar a estratégia para cobrir qualquer imprevisto é uma regra sagrada nas corridas, se não por que alinhar dois carros? Terceiro porque teria ajudado psicologicamente não ser sacrificado por usar as mesmas estratégias de Alonso e poder desfrutar de largar uma posição na frente dele. Durante a corrida, se tivesse funcionado melhor a estratégia dos pneus médios, Alonso a um certo ponto se encontraria na frente de Massa; se fosse o contrário, Massa com os soft poderia fazer o papel de lebre, incomodar os pilotos que estivessem na frente e, eventualmente, dar passagem a Alonso, como fez o Grosjean.”

Acho que faz todo o sentido. Acho que a Ferrari mais se prejudica do que tira proveito com essa herança da era Schumacher.

Aos “patriotas” apressados, que defendem o brasileiro simplesmente porque é brasileiro, lembro que Autosprint foi a primeira a pedir a cabeça de Massa durante a crise do ano passado, portanto Sabbatini não está sugerindo isso para proteger o brasileiro mas para cobrar da Ferrari maior eficiência, assim como qualquer torcedor de futebol cobra implacavelmente a Seleção Brasileira.

Problema: Alonso jamais abriria mão de repetir o modelo Schumacher. Sob esse aspecto, faria sentido para uma Ferrari que continuará na F1 muito depois que o asturiano se aposente, substitui-lo por Kimi. Problema: substituir também o Santander. Domenicali, por outro lado, já disse que Massa está reconfirmado. Os motivos de sua reconfirmação devem ser os mesmos que foram abordados aqui no ano passado.

Observação compartilhada com meu amigo e mestre Gigante, experiente ex-piloto e chefe de equipe: quantos segundos a Ferrari levaria para trocar uma asa dianteira? Uns 6 segundos tá bom? Gigante acha que Massa recuperaria isso em 10 voltas. Não seria só esse o ganho, ele consumiria menos pneu, portanto teria chances de chegar mais à frente.

É a segunda vez que os estrategistas da rossa fazem essa aposta. Lembra do Alonso encostando no pneu do Vettel na primeira volta e na seguinte a asa indo parar embaixo do carro, fazendo com que ele levasse zero pontos para casa? Será que, além do túnel de vento os programas de simulação ferraristas também tem problemas?

Montezemolo também deve sair pedindo explicações a quem de direito para a involução da Ferrari versus a evolução da Mercedes com a atual configuração de pneus. Mesmo não tendo participado do último teste, esta surpreendeu todo mundo na corrida.

Você ouviu um rádio da Red Bull em que o engenheiro informava o piloto com quem ele deveria se preocupar e Hamilton não estava entre eles? Portanto não era jogo de cena a surpresa de Lewis ao declarar que a pole não significava muito, o problema era a corrida. Não duvido que Horner, Whitmarsh e colegas façam o mesmo que o presidente da Ferrari.

Penso que todos os pilotos devem ver e rever a ultrapassagem de Lewis sobre Button e a não-ultrapassagem de Vettel sobre o mesmo. OK, Lewis tinha menos a perder que Seb mas… passar por fora é coisa de gente grande. Em minha humilde opinião, o melhor momento da corrida.

Villeneuve deve ver e rever o que fez com o Grosjean, que vem melhorando a cada corrida. E tente dormir bem depois. Até o Massa saiu em defesa do piloto da Lotus.

 

 

Carlos Chiesa
Carlos Chiesa
Publicitário, criou campanhas para VW, Ford e Fiat. Ganhou inúmeros prêmios nessa atividade, inclusive 2 Grand Prix. Acompanha F1 desde os primeiros sucessos do Emerson Fittipaldi.

10 Comments

  1. Fernando MArques disse:

    Eu concordo com o Lucas … a Ferrari primeiro precisa melhorar o carro que começou bem o a temporada e simplesmente estagnou … se considerar as ultimas 3 provas o desempenho do Alonso foi pífio diante da situação que ele luta pelo campeonato …

    Fernando Marques
    Niterói RJ

  2. Lucas disse:

    Não vejo muito sentido nessa tese de que a Ferrari está perdendo pontos por “trabalhar por um piloto só”. Estão perdendo porque desde 2009 não fazem um carro decente. Em quantas corridas dá pra realmente dizer que o total de pontos foi claramente menor por causa disso? Eu ficaria surpreso se a quantidade desde 2010 fosse suficiente pra encher os dedos de uma mão só. Na grande maioria das corridas, Massa nem sequer teria como ajudar Alonso. Falar que a Ferrari poderia estar usando Massa como “lebre” é fácil, mas basta rever as corridas para lembrar que um dos grandes problemas de Massa é (como sempre foi, desde o início da carreira) se livrar de carros com desempenho similar ou mais lento. Com carro excelente e largando na frente, Massa é de fato eficiente e poderia ser uma ótima “lebre”, só que ele não encontra essas condições desde 2009, e aí não tem milagre: só faz papel de “lebre” quem consegue largar da frente e andar rápido. Só que lugar na primeira fila ele só conseguiu uma única vez esse ano, no lado sujo, e com uma Red Bull à frente. Como hoje em dia piloto larga com combustível pra corrida inteira (antigamente ainda dava pra criar uma “lebre” deixando o piloto largar com quase nada no tanque), não há espaço de manobra pra isso: se ele fizer o Q3 de pneu mole, pode até conseguir uma posição de largada razoável, mas como já começaria a corrida com pneus abaixo da situação ideal, dificilmente conseguiria disparar. Sinceramente, eu acho que não há muito que a Ferrari possa fazer pra maximizar seus pontos. O que eles precisam é melhorar o carro.

    • Carlos Chiesa disse:

      Olá Lucas. Todos concordamos que a Ferrari não tem produzido carros vencedores há pelo menos 4 anos. Penso que o Sabbatini nem discute isso. Acho que a tese é válida, sim, porque aponta um possível caminho para se obter mais do que se tem. Não vejo como não concordar com ele que adotar a mesma estratégia para pilotos com características diferentes é correr para perder, mesmo que não estejamos falando de vitórias. Um deles será bem menos eficiente que o outro. Entendo que quando propõe “lebre” não está se referindo ao sentido absoluto do termo, mas sim o relativo, dentro dos limites que as deficiencias aerodinamicas dos Ferrari tem imposto à equipe. Veja que ele menciona “incomodar” os que estão na frente. A tese da coluna, enfim, é apontar que além dos problemas do carro a Ferrari também tem problemas de estratégia. Deixar de trocar a asa dianteira, por exemplo, me parece pouco defensável.

      • Leandro Giannetti disse:

        Carlos, não sabia desta tese, muito interessante mesmo. Acredito que os problemas sejam dos estrategistas pós 2006, pelo que me lembro era comum o Barrichello e o Schumacher adotarem estratégias diferentes. A questão de não existir um “carro padrão” também é compreensível, já que compensaria eventuais gastos com acertos diferentes com retorno na pontuação.

        • Mauro Santana disse:

          Pessoal, sinceramente eu não me impressiono com a atual situação da Ferrari, pois cá pra nós, na sua história eles tem vários anos de fracassos e retalhações com a imprensa italiana.

          Os anos de glória da Ferrari se deram quando os pilotos que estavam a frente praticamente mandavam na equipe, pois foi assim com Lauda e Schumacher, e o Alonso esta tentando isso à alguns anos, mas, infelizmente a coisa não anda fácil, e que nos faz lembrar dos tempos de Prost na equipe.

        • Lucas Bleicher disse:

          Eu sou extremamente cético quanto a isso. Piloto não faz carro, quem faz carro é projetista, aerodinamicista, engenheiro, e quando o carro não é bom, “mandar” não adianta nada. Agora então nem se fala, já que com a limitação dos testes não dá pra Ferrari fazer como na época em que eram o time dominante, quando podiam gastar rios de dinheiro em testes e manufaturas de peças, colocar o Badoer pra testar zilhões de asas diferentes, mil combinações de acertos, ver se a aletinha do lado do bico fica melhor meio milímetro pra cima ou meio milímetro pra baixo, etc. Isso quando não testavam ao mesmo tempo nas duas pistas particulares, com os dois titulares e mais um ou dois pilotos de teste. Agora desenvolvimento do carro é algo de altíssimo risco, o que pro caso deles é pior ainda devido aos problemas de correlação com o túnel de vento.

    • Allan disse:

      Desde a época de Barrichello – e por que não Irvine? – a Ferrari entrega coisas distintas aos pilotos. E isso pq o “sol” costuma pedir, e a “empresa” atender sem maiores questionamentos. Vale lembrar que Kimi aparentemente não era sol, se bem que Massa andou melhor que ele a partir do momento em que o finlandês ficou de saco cheio de tudo… O carro é “o mesmo”, mas aparentemente um tem potência maior que o outro, melhores mecânicos, peças, etc. E não é só lá. Ou o que explica o carro do Webber ter tantos problemas e o do Vettel não?

      • Carlos Chiesa disse:

        Não creio que um carro seja nitidamente inferior ao outro. As atenções da equipe sim, e isso implica uma infinidade de detalhes, inclusive a repetição da estratégia. Sobre Vettel e Webber, realmente o carro deste costuma ter problemas de KERS, mas o do Vettel quebra, entregando corridas ganhas. Voltando à Ferrari, se não me falha a memória, o Comendatore dizia que quem vencia eram os carros, não os pilotos. E sobre períodos negros, até onde sei todas as equipes têm os seus, basta ver a Williams de hoje.

  3. Mauro Santana disse:

    O bicho tá pegando e feio na Ferrari.

    Vamos aguardar o aguaceiro que vai passar por debaixo desta ponte.

    Mauro Santana
    Curitiba-PR

    • Carlos Chiesa disse:

      Tá mesmo, Mauro. Como disse, a Ferrari está para a Itália como a seleção canarinho está para o Brasil. O nível de exigência também chega ao nível da patologia.

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