Passagem para Paris… em 2023

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A Fórmula 1 está vivendo um período de grande interesse por parte do público. Todos estão de olho na briga incandescente entre o multicampeão vigente, Lewis Hamilton, e o mais forte desafiante que enfrentou em toda a carreira, Max Verstappen, que não é mais uma promessa, mas sim uma realidade. É a primeira, vez desde o começo da Era Híbrida, que um time (Red Bull) realmente chama a Mercedes para a briga. Estávamos todos ansiosos por isso, assim como estamos ansiosos pelo regulamento novo que estreia ano que vem, com carros menores (ufa!) e mais propensos a andarem próximos uns aos outros.

Por seu lado, a Indy, atualmente sob administração do “Capitão” Roger Penske, também vive um momento de franco crescimento de interesse. Houve a grande história do tetra de Helio Castroneves nas 500 Milhas e a temporada tem sido movimentada, com vários vencedores e destaque para jovens promissores, líderes do campeonato de momento: Pato O’Ward e Alex Palou. O grid também anda cheio. Na segunda etapa no misto de Indianápolis, nada menos que 28 participantes. Lembra da F1 com grid de 26? Pois é…

Mas e Le Mans / WEC? Toyota andando “sozinha” de novo? Sim. Edição morna, sem imprevistos? Sim. Mas a categoria está em uma transição que promete um futuro que pode ser glorioso. Basta ter um pouco de paciência. Já chego lá.

Neste fim de semana tivemos, de fato, mais uma edição pouco atraente das 24 Horas de Le Mans. Foi disputada fora da data normal de junho por motivos óbvios (pandemia), mas ainda assim, com sinais de que a vida volta ao normal: tivemos público, sempre apaixonado. Como principal novidade, a introdução do novo regulamento de Hypercar em substituição ao antigo LMP1 de protótipos, que viveu seu auge nas batalhas Audi x Peugeot e, mais recentemente, com Audi x Porsche x Toyota, já com tecnologia híbrida embarcada.

Só que os dias de vacas gordas da P1 acabaram virando fumaça – literalmente. As marcas alemãs encerraram seus programas, diretamente afetadas pelo vexatório Dieselgate que pegou em cheio o grupo Volkswagen, das quais fazem parte. Só sobrou a japonesa, que tanto insistia em não ganhar a corrida – sendo a derrota de 2016 a mais dolorida de todas, na última volta, vocês lembram. (E aqui vai aquela pergunta sacana: todo mundo lembra que a Toyota perdeu… Mas quem foi que ganhou mesmo?)

A Toyota podia muito bem ter seguido o caminho das rivais e igualmente encerrado seu programa de endurance após finalmente vencer. Preferiu, porém, honrar um compromisso de permanência. Como eu já disse em anos anteriores, se nenhuma marca quis duelar com a Toyota nestes últimos anos, a culpa certamente não é da Toyota!

Para 2022 já está confirmada a chegada da Peugeot com seu próprio Hypercar, batizado de 9X8 (não, não é “nove a oito”), enquanto a Ferrari revelou seus planos de estrear em 2023, quando Le Mans celebrará seu centenário. É o retorno da Ferrari às disputas pelo título na geral, participação esta que não ocorre desde 1973 e que não se materializa como vitória desde… 1965. O primeiro a achar isso excitante foi Charles Leclerc.

Por falar em pilotos de F1, sabe quem fez uma exibição com carro da categoria antes da largada? Fernando Alonso, em seu Alpine. Isso sinaliza que a equipe francesa, que tem a gigante Renault em sua retaguarda, também pode fazer seu Hypercar, principalmente para combater a (r)egressa Peugeot.

À corrida em si. Bem, como diria o mestre Claudio Carsughi, ninguém poderia ganhar, apenas a Toyota poderia perder. Apesar de favorita disparada, era a estreia do Hypercar. Apenas um trabalho minucioso para garantir a combinação de desempenho e (total) confiabilidade garantiu a vitória, mesmo com os sustos provocados pela chuva nas horas iniciais.

Nenhum dos carros favoritos apresentou qualquer problema, com vitória do #7 do trio Mike Conway / Kamui Kobayashi / José Maria “Pechito” López com uma volta de vantagem para o #8 de Sébastien Buemi / Brendon Hartley / Kazuki Nakajima, que foi tocado na largada, sem maiores consequências.

Em terceiro, o Alpine (ex-Rebellion) de Nicolas Lapierre / André Negrão (sim, um brasileiro no pódio) / Matthieu Vaxivière, ganhou a disputa contra os dois novos Hypercars da americana estreante Glickenhaus, ainda carentes de desenvolvimento, mas que iniciam um projeto promissor e ambicioso – o também brasileiro Pipo Derani estava entre os pilotos dessa nova equipe americana. O fato de terem terminado sem maiores problemas já pode ser considerado uma vitória.

Já a disputa da LMP2 foi intensa. Houve uma boa alternância entre os líderes e tudo foi decidido no baixar da quadriculada. A equipe belga WRT vinha para uma dobradinha, mas seu carro #41, que tinha Robert Kubica como um dos pilotos, simplesmente apagou na abertura da última volta. O outro carro do time, #31, precisou se defender dos ataques do rival #28 e fez uma manobra perigosa na reta de chegada, próximo do responsável pela bandeira quadriculada, pra vencer. Parece que a ACO vai ter que rever alguns procedimentos de segurança…

Toda sequência de melhores momentos foi compilada pelo canal oficial de Le Mans, vale conferir cada um…

Após duas horas de corrida:

Após cinco horas:

Após o cair da noite:

Após 20 horas:

Hora final:

A grande sacada do regulamento Hypercar, que vem sendo pensado desde 2018, é manter uma categoria de topo, mas com um orçamento 75% menor que anteriormente necessário para você ter um time de P1, com cláusulas restritivas bem pensadas. Se você quiser lançar um Hypercar novo, ele terá que entrar em produção para modelos de rua, como era antigamente. E há abertura para transformar em Hypercar modelos superesportivos já existentes.

A Hypercar vai coexistir com a categoria de topo homologada nos Estados Unidos, a LMDh – Le Mans Daytona Hybrid. A IMSA, entidade americana, se juntou com a ACO francesa, criadora do Hypercar com a FIA, para acertarem os ponteiros. A iniciativa de juntar os continentes pode ser proveitosa para todos, já que vários players grandes vão participar da IMSA (e Le Mans) por este caminho: Acura, Audi, BMW e Porsche – todos confirmados para 2023. Os fornecedores de chassis confirmados são Dallara, Ligier, Oreca e Multimatic – esta, para Audi e Porsche. Aliás, sabe quem está por trás da volta da Porsche ao mundo do endurance? Roger Penske. Só isso.

Então conclamo o amigo leitor a imaginar o que poderá ser a edição centenária de Le Mans, daqui dois anos: Hypercars de grandes marcas, bons participantes independentes e uma turma vinda dos Estados Unidos, com protótipos equivalentes em desempenho, para desafiar os competidores europeus.

Dica? Vai valer a pena, desde já, fazer uma reserva financeira para comprar um voo para Paris em junho de 2023. Depois, pegue um trem e desembarque na estação de Le Mans…

Abração!

Lucas Giavoni

Lucas Giavoni
Lucas Giavoni
Mestre em Comunicação e Cultura, é jornalista e pesquisador acadêmico do esporte a motor. É entusiasta da Era Turbo da F1, da Indy 500 e de Le Mans.

3 Comments

  1. Sandro disse:

    Montoya idem!
    Vencedor na categoria LMP2!
    Tríplice Coroa! 🏆🏆🏆😁🤔
    Ok! Não existe uma regra para a Tríplice Coroa!
    É o mesmo que dizer que Messi e Cristiano Ronaldo tem mais gols que Pelé no futebol! O Campeonato Paulista “não vale”! 🤔😝❓

  2. Sandro disse:

    Curiosidade: Graham Hill e a McLaren conquistaram a Tríplice Coroa!
    Surpreendentemente a McLaren GTR F1 ganhou em 1995! 🏆 E ainda fez 1-3-4-5! Surpresa por um carro da classe GT vencer em Le Mans na classificação geral! Por obra e graça de Gordon Murray.
    E se fosse para pedir uma música: Mamma Mia, da banda sueca ABBA. Slim Borgudd, sexto lugar em Silverstone 1981, com ATS, bateria no volante de alegria… 😝

  3. Fernando marques disse:

    Lucas,

    Passar um fim de semana em Le Mans deve ser algo fantástico.
    Ver as corridas de Endurece ao vivo deve ser outra coisa
    Le Mans é um lugar lindo. A pista idem

    Um sonho

    Fernando Marques
    Niterói RJ

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