Quanto mais lento, melhor

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Mônaco para sempre será uma corrida especial nesse dia especial com tantas corridas icônicas, no último final de semana de maio. Porém, se você, leitor, esperar emoção, ultrapassagens e adrenalina na prova do principado, dificilmente você irá encontrar isso, ainda mais nas circunstâncias da corrida de hoje.

Contudo, outros sentimentos legais podem surgir. Mesmo nascendo em Mônaco, Charles Leclerc não veio de uma família milionária, mas conviveu com alguns pilotos que lá moravam e com certeza várias vezes assistiu à corrida no meio da torcida quando criança. Logicamente Charles tinha como um dos objetivos quando se tornou piloto de vencer em Monte Carlo, mas o triunfo teimava a escapar, algumas vezes de forma cruel. Porém, com uma pilotagem segura e ajudado pela bandeira vermelha logo na primeira volta, Leclerc quebrou a maldição em casa e de ponta a ponta se tornou o segundo monegasco a vencer na frente do príncipe regente.

A classificação em Mônaco é mais acirrada do que o normal justamente pela gigantesca dificuldade de se conseguir uma corrida de recuperação e por isso os pilotos fazem um esforço sobrenatural para conseguir o melhor lugar possível. Posicionamento é tudo em Mônaco! Após um início estonteante de temporada, a Red Bull começa a ver as demais equipes encostarem e a vitória na semana passada em Ímola foi muito mais por mérito de Verstappen do que pelo carro. Numa pista totalmente diferente de Ímola, mais uma vez a Red Bull se viu numa situação incômoda, com McLaren e Ferrari claramente superiores nas apertadas ruas de Monte Carlo, com Leclerc conseguindo a pole, seguido por Piastri, Sainz e Norris. Verstappen foi apenas sexto e Pérez sequer passou ao Q2!

Como falado anteriormente, a corrida em Mônaco esteve léguas de distância de emocionar alguém ávido por ultrapassagens e emoção. Além da dificuldade natural de se ultrapassar no principado, um fator foi preponderante e aconteceu logo na primeira volta, no lance mais polêmico do domingo. Após uma classificação trágica, segundo as próprias palavras de Sergio Pérez, o mexicano largava na rabeira do pelotão e estava próximo da dupla da Haas, desclassificada por irregularidades no DRS. Kevin Magnussen sempre foi um piloto que joga duro e não sem motivo está pendurado para receber uma inédita suspensão por vários pontos na carteira. Pérez saiu cauteloso da St Devote, tendo Magnussen ao lado. Checo tracionou melhor e estava na frente de Magnussen, mas não tinha o carro inteiro à frente. Com carros bastante largos e a Subida do Cassino um dos pontos mais estreitos da pista, Magnussen não tirou o pé e na visão do dinamarquês, foi espremido por Sergio.

Pérez foi tocado por Magnussen em alta velocidade, guinou para a direita e atravessou com o seu carro destruído para a esquerda, atingindo Nico Hulkenberg, que não tinha nada a ver com a conversa. A pancada destruiu o carro de Pérez, além de acabar com a prova da Haas, enquanto Zhou praticamente estacionou seu Sauber para não ser atingido pelo melê. Um acidente grave, mas felizmente sem consequências físicas aos envolvidos. Magnussen escapou ileso de uma punição que poderia lhe render uma suspensão, enquanto Pérez caiu para quinto no Mundial de Pilotos, deixando sua renovação de contrato com a Red Bull ainda mais complicada.

Como se tudo isso não bastasse, Carlos Sainz saiu da pista no Cassino devido a um pneu furado num toque com Piastri na St Devote, enquanto Esteban Ocon permanecia em sua constância de se envolver em acidentes com seus companheiros de equipe, ao tentar achar um espaço inexistente ao lado de Pierre Gasly na Portier e acabou voando, além de estragar o carro do companheiro de equipe. A bandeira vermelha salvou as corridas de Sainz e Gasly, o mesmo não acontecendo com Ocon, que foi o quarto e último abandono do dia, mas o francês não escapará de uma enquadrada da confusa cúpula da Alpine.

Com a notória dificuldade de se ultrapassar em Monte Carlo, o único momento onde poderia haver movimentação seria nos pit-stops durante a corrida, mas a bandeira vermelha acabou com essa agitação. As equipes trocaram os pneus dos pilotos sem terem que fazer o pit-stop obrigatório por regulamento durante o período de bandeira vermelha, deixando praticamente todo o grid livre para ir até o fim da corrida sem parar, não importa se largassem com pneus duros ou médios.

Isso causou um dano enorme a qualquer chance de emoção da corrida, pois com os pilotos tendo que fazer os pneus funcionarem por 76 voltas, o ritmo foi bastante lento e quando alguém vislumbrava em fazer uma parada, bastava que o piloto da frente diminuísse ainda mais o ritmo para evitar que fossem abertos os 23s necessários para fazer o pit-stop e voltar à corrida sem tráfego. Sem pit-stops para os pilotos, o momento em que poderia ter mudança de posição terminou antes mesmo da segunda largada.

O resultado disso foi uma procissão que nem se pode dizer que foi em alta velocidade, pelo ritmo lento imposto pelos pilotos, bastando dizer que os dez primeiros do grid chegaram nas mesmíssimas posições na bandeirada. Houveram tentativas de fazer algo diferente, como os pit-stops de Verstappen (que pediu um travesseiro para dormir, tamanha chatice que estava a sua corrida) e Hamilton, mas nada mudou, pois por mais rápidos que estavam, quando Max e Lewis encostaram em George Russell, ficaram empacados, sem ter o que fazer e ficaram na mesma posição em que largaram.

Foi uma prova totalmente desprovida de emoção, mas claro que Charles Leclerc não tem do que reclamar. O monegasco fora dominante em todo o final de semana e espantando todos os seus demônios, venceu no quintal de sua casa de forma dominante, administrando bem os pneus e a diferença para Oscar Piastri, que fez o mesmo com Sainz, que voltou à corrida após o furo de pneus da primeira largada. Norris tentou armar um pit-stop para tentar atacar o espanhol no final, mas o astuto Sainz percebeu a manobra e diminuiu seu ritmo, deixando seu amigo numa situação onde nada poderia fazer e Lando ficou a corrida inteira vendo a traseira da Ferrari de Sainz.

Russell não parou, mas não se pode dizer que o inglês teve muito trabalho para segurar Verstappen e Hamilton, bem mais rápidos com pneus novos nas voltas finais. Tsunoda teve bem grande em seu retrovisor Albon, mas segurou o piloto da Williams para marcar mais pontos, enquanto Albon e o sobrevivente Gasly marcaram seus primeiros pontos em 2024. A Aston Martin teve mais um dia ruim, onde esteve longe marcar pontos e ainda viu Stroll errando, fazendo-o ir aos pits duas vezes, o único em todo o pelotão. Ricciardo foi o primeiro a perder posição e a imagem dele ao lado de Liam Lawson dentro dos boxes antes da relargada mostra bem o futuro e o passado na Racing Bulls lado a lado. A Sauber parou seus dois pilotos, Bottas chegou a andar 4s mais rápido do que os líderes, mas no fim, nada valeu, com Zhou ficando em último praticamente o tempo todo.

Para o campeonato, não deixa de ser interessante ver essa oscilação da Red Bull e até o momento não se pode afirmar se foi algo pontual ou se o time austríaco chegou ao platô de desenvolvimento mais rápido do que o imaginado. Leclerc tirou bons pontos de Verstappen, num discretíssimo sexto lugar, mas ainda está longe do neerlandês no campeonato, mas a pergunta que fica é se esse momento da Red Bull irá perdurar. Sem contar que a Ferrari não chegou sozinha junto à Red Bull, pois a McLaren mostrou mais uma vez que está na briga por pódios e eventuais vitórias. Piastri fez uma corrida segura para conquistar seu primeiro pódio em Mônaco. A próxima corrida será em Montreal, outra pista de características peculiares. Mesmo com Verstappen e Red Bull bem à frente em ambos os campeonatos, está parecendo que a dominação esperada dos dois não está se confirmando.

Barcelona não estava guardada com muito carinho nas memórias de Francesco Bagnaia até este domingo. Não bastasse os resultados medianos na Catalunha até então, Bagnaia sofreu um sério acidente um ano atrás no circuito de Montmeló, que afetou o restante da temporada que lhe deu o bicampeonato da MotoGP, sem contar que foi potencialmente perigoso, quando Pecco foi atropelado por Binder na primeira volta. Para completar, na Sprint de sábado o italiano caiu quando liderava na última volta, no que parecia uma espécie de maldição para o atual bicampeão em Barcelona. Contudo, com uma pilotagem cerebral, bem ao seu estilo, Bagnaia acabou com qualquer maldição que tinha na pista catalã para vencer pela terceira vez em 2024, mesmo que os pontos perdidos para o líder do campeonato Jorge Martin o deixe ainda distante no campeonato, na sua tentativa de ser tricampeão.

Se faltou emoção num lado do Atlântico, no outro sobrou! Após um atraso de quatro horas, as 500 Milhas de Indianápolis entregaram uma de suas melhores edições dos últimos anos, finalizado com uma ultrapassagem antológica de Josef Newgarden na última volta sobre Pato O’Ward, fazendo com que o americano da Penske conquistasse sua segunda vitória seguida em Indianápolis.

Mais detalhes sobre a prova em Indiana, na coluna do irmão Lucas Giavoni, ainda nessa semana.

Mônaco viu uma corrida sonolenta, onde praticamente nada aconteceu, principalmente no pelotão da frente, com os pilotos tendo que controlar seu ritmo para fazer com que os pneus chegassem até o fim. Isso ajudou demais Leclerc, pois sem qualquer percalço, que um pit-stop poderia trazer, com seus ‘undercuts’ ou ‘overcuts’, o monegasco ficou tranquilo na frente rumo à sua esperada primeira vitória em casa.

Um mês atrás a primeira vitória de Lando Norris, que já estava entrando para o folclore da F1 pela a sua demora, finalmente veio em Miami. Assim como já ocorrera com Rubens Barrichello e Jacques Villeneuve em suas corridas caseiras, Leclerc teve sérios problemas em correr no quintal de sua casa no principado. Problemas indo para o grid, acidentes nos treinos e nas corridas. A lista é grande. Mas nesse domingo não foi assim!

Com os pilotos precisando conservar seus pneus, praticamente não teve corrida e quanto mais lentos andassem, melhor e assim foi para praticamente todo mundo até a bandeirada. Mas Leclerc emocionou a todos com sua genuína alegria pela vitória em casa, que contagiou até mesmo o Príncipe Albert. Foi o único momento emocionante no domingo do principado!

Abraços!

João Carlos Viana

JC Viana
JC Viana
Engenheiro Mecânico, vê corridas desde que se entende por gente. Escreve sobre F1 no tempo livre e torce pelo Ceará Sporting Club em tempo integral.

1 Comments

  1. Fernando Marques disse:

    J. C. Viana,

    apesar da procissão … achei o GP de Mõnaco até legal … talvez pelo fato de não ter visto o Vertappen na frente liderando … aliás alguem viu ele em Monaco? … hehehehe


    Na Moto GP acho que vale dois pontos a serem ditos … um com relação ao Bagnaia que pelo visto começou de vez a reagir e diminuir a poeira que J. Martim vinha levantando … outra é com relação ao Marc Marquez cada vez mais se adaptando a sua Ducatti e anota aí, se não vai brigar pelo titulo, com certeza logo estará brigando por vitorias …


    Na Indy vou comentar na coluna do Lucas

    Fernando Marques
    Niterói RJ

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