Que noite!

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Lando Wonderfull Race

Uma série de tv, um filme de cinema, uma história em quadrinhos. Nenhum roteiro encomendado aos autores dos melhores entretenimentos chegaria ao final de campeonato com os dois pilotos ferozmente empatados.

Vamos partir para a triste Abu Dhabi torcendo para sermos contemplados com um momento épico.

E torcendo mais ainda para esse momento épico ser resolvido na pista….

É possível encontrar nas páginas da internet descrições analíticas, volta a volta, segundo a segundo, milímetro a milímetro, de como foi essa prova de estreia da Arábia Saudita no calendário. Não vamos seguir por essa linha aqui no dia de hoje.

Mas qual o motivo? Pesa contra essa análise a a artificialidade do cenário de domingo. Seja pela pista, pelo país ou pelas decisões circenses da direção de prova.

A pista da Arabia Saudita não decepcionou. Cumpriu exatamente o que se previa dela. Uma pista veloz, sem alma, ótima para uma volta lançada sozinho na pista, extremamente perigosa e péssima pra uma corrida de 20 carros.

Por isso não decepciona, a expectativa era nula. Momento alto do final de semana? A corrida de Kart organizado por Vettel para mulheres. Um momento simbólico, pra lembrar ao mundo que Arabia Saudita ocupa a posição 141 no rankig de 144 sobre desigualdade de gêneros feito Fórum Econômico Mundial. Uma vergonha injustificável.

Vettel fez sua ação. Hamilton declarou seu desconforto. Ambos foram pra pista com bandeiras do movimento LGBTQIA+.

Nada deveria ser mais importante que isso.

Mas a F1 tem alguns milhões de motivos pra correr no Oriente Médio e toparam correr numa pista que seria um escândalo em qualquer outra parte do planeta. Com velocidades absurdas, por acaso, sem mais justificativas, áreas de escapes minúsculas foram permitidas. O risco permanente gerou uma das corridas mais desgastante física e mentalmente para os pilotos.

Quem projetou? Hermann Tilke? Você se engana, não foi ele!

Foi o filho dele (isso não é uma piada).

Esse limite (limite extremo como diria o saudoso locutor), já pegou um postulante ao título de surpresa na classificação. Um pequeno erro na entrada da última curva, um pouquinho de areia no pneu e uma grande volta que garantiria a pole position acabou no muro.

Com sorte de campeão, Max não precisou trocar nada que acarretasse punição para a corrida. Estava tudo certo para uma decisão na pista.

Para a primeira largada do dia, tudo correto. A Mercedes via seu sonho se realizar com uma boa largada de seus dois carros. Finalmente Bottas estava em posição de ser o esperado escudeiro de Lewis.

Nessas condições, Lewis e Bottas controlavam o ritmo pra fazer os pneus durarem. Na Mercedes, os rádios dos pilotos combinavam com seus estrategistas o ritmo que deveriam ter dali pra frente.

Até que a F1 pegou um desvio de narrativa, e a prova se perdeu.

Mick Schumacher perdeu a traseira do seu carro e o Safety Car foi acionado. Os dois primeiros colocados foram para a troca de pneus. Max ficou na pista em uma aposta ariscada. Quem aposta alto, tem ganhos maiores. Dessa forma, 4 voltas depois do safety car, a prova foi interrompida com bandeira vermelha.

Max assumiu a ponta e ganhou um pitstop grátis. A regra que já beneficiou Lewis em Silverstone agora beneficia Max. E não deixa de ser uma regra horrível, como ponderou Lando Norris ao final da prova.

Foram 10 voltas até o primeiro Safety car.

Largada parada, a segunda do dia. Cenário perfeito para mais confusão.

Se a série Drive to Survive da Netflix é um dos maiores sucessos da história da F1, deveríamos valorizar também a Codemasters/EA Sports pelo jogo de videogame F1 2021.

Obviamente Max se sente jogando videogame, a pista é só dele, ele pode cruzar curvas, voltar pra pista do jeito que quiser. E nada, nada que ele faz, é culpa dele. Sempre é vítima.

Após uma boa relargada de ambos da primeira fila, Max sai da pista e volta cruzando o circuito na frente de Hamilton. Atrapalhado por Max, Hamilton perde a posição também para Ocon, mas atrás deles a confusão é estabelecida para mais uma bandeira vermelha.

Pela primeira vez na história vimos um, fraco, diretor de provas barganhando punições no rádio. Max claramente ganhou vantagem fora da pista e seria punido. Michael Masi decidiu conversar com times e posicionar Max atrás de Hamilton. Essa era a oferta. Sim, ele usou a palavra OFERTA.

Na história da Formula 1, quando a bandeira vermelha era acionada, se considerava as poisções na volta anterior. Simples assim. Por tanto, uma nova relargada teria que ter o grid exatamente igual ao da segunda relargada e o caso do Max cruzar a pista na frente do Hamilton deveria ser colocado sob investigação dos fiscais. A Mercedes com medo de nada acontecer, aceitou a oferta. A Red Bull, temendo pelo pior, aceitou a oferta. Quem perdeu? Todos nós.

Mais uma relargada, Max agressivamente ocupa o espaço interno da pista e deixa Lewis sem outra alternativa. Teve um toque com Ocon e acaba se posicionando no 3º lugar. A corrida era entre Max e Lewis, a única certeza que havia. Ocon foi rapidamente superado por Lewis e começou uma troca de voltas mais rápidas entre Lewis e Max.

Mas a direção de prova, repito, fraca, começou a usar o recurso do Safety Car Virtual. Tivemos um na volta 23 que acabou na volta 24. Depois outro, rapidamente na volta 28. Depois mais um, da volta 29 até a 33. Sem mais demora, outro acionamento na volta 36. Resumidamente, foram 13 voltas de “anda e para”, sem ritmo de prova e economizando os pneus de todo mundo.

Na volta 36, mais um momento capital entre Max e Lewis. Lewis usa o vácuo e o DRS para fazer a ultrapassagem por for a em Verstappen. Como sabemos, Max não aceita ser passado por fora. O toque não aconteceu na curva 1 porque Lewis recolhe o carro, os dois saem da pista com Max sustentando uma vantagem ainda maior.

Como a corrida já era uma confusão, por que não mais um lance confuso? Max é orientado a deixar Hamilton passar de forma “estratégica”. Leia-se aqui: deixe ele passar exatamente antes da linha de detecção do DRS e o repasse no final da reta. Max tentou, mas colocando no cenário uma freada extra além da redução. Lewis bateu atrás, um erro bobo, mas não fatal. Uma asa danificada e recuperação da perseguição.

Já na volta 42, Max executa seu plano “estratégico”. Deixa Hamilton passar um momento antes do DRS ser detectado, retoma a posição na última curva e se aproveita do DRS aberto pra fugir de Lewis.

Max jogou dentro das regras. Se a regra é burra, é outra história.

Com a vantagem de Max adquirida quando ele saiu da pista na volta 36 estava mantida, ele foi punido em 5 segundos. Depois, como averiguado na investigação da FIA, tomou mais uma punição.

Sem interferir no resultado final, a Mercedes não conseguiu sua dobradinha que daria uma leve vantagem para Hamilton na prova decisiva.

Max nunca vai ceder um milímetro. Ele realmente mede as consequências de seus atos na pista como um jogador amador de videogame: é só apertar o “botão” e o carro volta pra pista para um nova tentativa.

Mas até o “videogame” se profissionalizou, hoje o e-sport é um mercado sério e com regras claras. Nesse sentido são dois problemas que Max tem pela frente.

Primeiramente, ele não corre sozinho em casa com seu brinquedo. Ele já deveria ter aprendido essa lição em Monza e, principalmente, em Silverstone. Não ceder em alguns cenários pode ter consequências gravíssimas pra sua integridade física, não só o fato de perder uma ou duas posições.

O segundo problema é mais difícil de se resolver. Max mora numa casa de pais mimados. Jos (o pai biológico) dispensa comentários, projeta em seu filho a solução para a frustrada carreira que teve. Os outros dois pais – Horner e Marko – são dois idiotas no limite da tolerância do mau caráter. Nada jamais é erro deles, chegando ao absurdo de Marko afirmar que Max foi jogado pra fora da pista e a FIA protegeu a Mercedes de uma punição. Isso mesmo, depois do que aconteceu no Brasil, ele soltou essa.

Num cenário mais amplo, a F1 precisa ir pra terapia. Michael Masi está sob pressão. Ele e sua equipe de fiscais está devendo em consistência e coerência nas decisões.

Tudo se tornou questão de interpretação de regras, com decisões criativas que mais confundem os espectadores do que ajudam na condução do esporte.

Quando deixamos para a interpretação das pessoas, isso acontece. Não há milagre.

Vale ressaltar que fora as confusões da direção de prova, Valteri Bottas selou seu terceiro lugar no campeonato. Não é nada, não é nada, mas …. bom…não significa nada mesmo.

A despeito da quantidade de dinheiro inserida na categoria por esses circuitos novos, será que não tem nenhuma pessoazinha na Liberty Media que pensa assim: “Puxa vida, que legal seria ter um campeonato desses terminando em Silverstone?”. Tem que ter. Não é normal achar que a sequência de Qatar, Arabia Saudita e Emirados Árabes Unidos oferece traçados do nível que esse campeonato necessita.

Uma pena.

O restante da corrida, ninguém prestou muita atenção. Ricciardo foi um dos beneficiados pela primeira bandeira vermelha e chegou em uma boa 5º posição. Ocon, deu dó. Mas ele sabia que a luta dele não era com as Mercedes, fica a sensação que perdeu a posição na linha de chegada (e não antes) por deficiência do Bottas.

Por quase meio século esperamos um campeonato assim: quem chegar na frente na última corrida, leva o caneco!

É um sonho pros amantes da F1. Que pode se tornar um pesadelo se continuarmos na era da interpretação infinitas das regras. Vários campeonatos foram decididos em batidas controversas, não é novidade pro fã da categoria. Prost X Senna (2x), Schumacher X Hill, Schumacher X Villeneuve, sabemos o que pode acontecer. Esses lances capitais eram claros para qualquer um o que havia acontecido e o porquê, diferente de hoje onde tudo é uma questão de interpretações e nuances de um extenso regulamento.

Daqui uma semana, teremos o desfecho desse que um dos mais incríveis campeonatos dos últimos anos. Um menino de 24 anos contra um dos maiores pilotos da história. A fúria juvenil contra um um cerebral veterano.

Que esse desfecho se dê na pista, não como uma partida de videogame ou uma série de televisão.

Abraços

Flaviz Guerra

Flaviz Guerra
Flaviz Guerra
Apaixonado por automobilismo de todos os tipos, colabora com o GPTotal desde 2004 com sua visão sobre a temporada da F1.

5 Comments

  1. Fernando marques disse:

    Quando a meu ver bastava uma faixa com 3 metros de grama (até sintética, serve) logo depois das zebras para os pilotos respeitarem os limites da pista … E não sei lá quantas faixas para FIA criar regras nem sempre devidamente respeitadas e bem interpretadas …

    Fernando Marques

  2. Fernando marques disse:

    Possivelmente veremos a melhor temporada de Formula 1 deste século sendo decidido pelo Tapetão e por uma atitude anti desportiva.

    Fernando Marques

  3. Fernando marques disse:

    Flavis,

    Achei sua análise da corrida sensacional … Mas faltou dizer uma coisa … Este campeonato que será decidido semana que vem onde Verstappen e Hamilton chegam empatados em pontos pode ser uma FARSA … Isso por que os 9 a 8 nas vitórias em favor de Verstappen acontece por causa do maior absurdo que Michael Basi e comissários cometeram nessa temporada … Ratificar o resultado do GP da Bélgica como bom numa corrida que não existiu … Caso clássico de PROCON … Pode definir o resultado final do campeonato … Caso típico de tapetão …

    Outra coisa … O Max Verstappen merecia ter sido desclassificado pela manobra que fez Hamilton colidir na sua traseira … Foi uma atitude anti desportiva … Está claro, que principalmente pelo passeio que tomou do Hamilton no Brasil, Verstappen tenta a todo custo uma colisão com Hamilton que tem conseguido evitar … E faz isso por que vsabe que a Mercedes voltou a ser melhor …

    Márcio D,

    Concordo com tudo em seu comentário …

    Voltando a corrida, se não fosse o duelo Verstappen x Hamilton, o GP da Arábia Saudita seria o pior da temporada … Apesar dos pilotos terem considerado o circuito desafiador …

    Fernando Marques
    Niterói RJ

  4. MarcioD disse:

    Aposto muito numa batida entre os dois postulantes ao titulo em Abu Dhabi, com o menino mimado se tornando campeão. Pelos seguintes motivos: 1- Ele possui uma vitória a mais, portanto uma batida com um provável abandono dos dois o favorece 2- Apesar dele ter sempre ter aprontado com outros pilotos, chegando ultimamente a zigzaguear na pista e fazer brake test, nunca recebeu uma punição deveras exemplar 3- Hamilton insiste em tentar ultrapassa-lo em situações difíceis 4- Prost jogou o carro em cima de Senna em 89 e Senna revidou no ano seguinte. Schumacher jogou o carro em cima de Hill em 94. Todas essas situações ocorreram em decisões de campeonato e ninguém foi punido. Em 97, também na decisão do titulo, Schumacher jogou o carro em cima de Villeneuve e a FIA só o puniu com a desclassificação no campeonato porque ele abandonou e Villeneuve não. Duvido muito que a FIA tiraria um campeonato de Schumacher se os dois tivessem abandonado 5- O mundo gira em torno dos interesses políticos e ou econômicos. 6- O esporte sobrevive do endeusamento de heróis 7- Hamilton está em fim de carreira já com 36 anos e Max só tem 24, ainda não atingiu o auge. 8- Max é hoje o piloto mais popular da F1, Lewis é o terceiro perdendo para Norris. 9- Nos últimos tempos a F1 tem perdido espaço entre os mais jovens 10- Por causa de 5-9 é muito mais interessante para a Liberty/FIA que Max seja o campeão porque atingiriam o publico mais jovem, com mais retorno midiático e financeiro, com um novo “rei” se estabelecendo 11- A narrativa de um jovem destronando um multicampeão é um roteiro de filme muito interessante. Também geraria muitos dividendos.

    A favor de Hamilton temos uma melhora substancial da Mercedes, vencendo as 3 ultimas corridas e um consequente efeito psicológico positivo.

    Ele terá que fazer a pole, preferencialmente com Bottas ao seu lado, largar bem, e conseguir disparar na frente. E torcer para Max largar mal. Se Max fizer a pole ou largar do lado dele é quase certeza que Max vai jogar o carro para cima. Quem tem a perder é Hamilton.

    Uma outra chance, se Hamilton ficar para trás, seria o undercut, mas esta é uma especialidade da Red Bull.

    Acredito que se Hamilton largar atrás e tentar uma ultrapassagem, principalmente em situações difíceis e com pouco espaço, vai se dar mal.

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