Tempestade perfeita que não aconteceu (coluna + vídeo)

Fórmula 1 75-58-24
22/05/2025
Diretivas?
02/06/2025

13 de junho de 2010. O desgaste de pneus mais alto do que o normal durante o Grande Prêmio do Canadá fez com que as equipes parassem seus carros duas vezes em média nos pits, ao contrário da tática normal de uma parada que marcou aquela temporada. Aquela corrida em Montreal fez com que a F1 pedisse à Pirelli que construísse um pneu mais macio e que se desgastasse mais, trazendo mais pit-stops para as corridas. 26 de maio de 2024. Uma bandeira vermelha na primeira volta do Grande Prêmio de Mônaco fez com que a corrida realizada no principado fosse uma das piores edições já vistas, com todos os pilotos andando lentamente para chegarem até o final sem precisar trocar de pneus. Com a F1 pensando cada vez mais em entretenimento (e menos em esportividade), resolveu-se obrigar todas as equipes a pararem pelo menos duas vezes em Monte Carlo.

Era a tentativa de trazer mais “emoção” para a corrida em Mônaco, sempre conhecida por ser pouco movimentada em termos de ultrapassagem. A tempestade perfeita, de uma corrida mais estratégica e movimentada por um motivo externo e artificial acabou que foi um tiro que saiu pela culatra.

Ao contrário do que foi dito pela transmissão oficial para o Brasil, a corrida desse domingo foi nada maluca e de fácil explicação. Os quatro primeiros colocados do grid chegaram nas mesmas posições e a vitória de Lando Norris foi decidida, como sempre ocorreu e sempre ocorrerá em Mônaco, na largada. E por ironia das ironias, a corrida foi marcada pela lentidão de boa parte do pelotão, como aconteceu em 2024. Equipes como Williams e Racing Bulls diminuíram o ritmo dos seus carros de propósito de forma estratégica. E funcionou, com ambas colocando seus carros nos pontos! Porém, como dito pela própria Williams, uma tática eficiente, mas nada bonita de se ver.

Considerada a classificação mais importante do ano, Monte Carlo viu equipes e pilotos nem se importando muito com o ritmo de corrida. Nas confusas três sessões de treinos livres, os pilotos andavam o tempo todo para incrementar a confiança e conseguir aquele centésimo a mais que faria toda a diferença em um pelotão muito compacto. Com os carros precisando recarregar a bateria andando muito lento, foi visto também muito tráfego atrapalhando pilotos em suas voltas rápidas e muitas bandeiras vermelhas. Com 22 carros esperados para 2026, esse caos deve aumentar, com muita gente já pedindo modificações para a classificação monegasca do ano que vem, com a separação em grupos sendo a mais popular. E talvez justa.

Correndo em casa, Charles Leclerc liderou os três treinos livres e fazia uma classificação forte, tendo totais condições de repetir o feito de 2024, quando fez a pole e conseguiu uma emocionante vitória, no queria seria também uma surpresa, vide o rendimento abaixo da Ferrari em ritmo de classificação em 2025. Porém, Charles acabou superado por Lando Norris quando o cronômetro já estava zerado no Q3. Após ter vacilado em vários Q3’s nessa temporada, finalmente Norris marcou uma pole e em Mônaco, isso faria muita diferença.

A bela paisagem no principado viu uma largada bem mais tranquila do que na F2, que viu um grande Big-One eliminar quase metade do grid. Leclerc sabia que sua chance seria na largada e o piloto da Ferrari tentou ir para cima do pole Norris, mas o inglês fritou seus pneus para se manter na ponta. Verstappen também tentou algo para cima de Piastri, mas o australiano estava mais ligado que na semana passada e manteve o terceiro lugar. Logo na primeira volta Bortoleto efetuou uma bela manobra em cima de Antonelli na Hairpin, mas deixou a porta aberta na Portier, fazendo com que o italiano colocasse por dentro, deixando Bortoleto no muro, trazendo o único Safety Car Virtual da corrida.

Alguns pilotos foram aos pits fazer suas paradas, mas no pelotão inicial, ninguém se animou a fazer a primeira parada. Norris liderava andando num ritmo bem baixo, seguido por Leclerc, Piastri e Max, sempre andando próximos, mas sem ataques. Logo ficou claro que algumas equipes sacrificariam os seus segundos pilotos para que o piloto à frente garantisse dois pit-stops tranquilos. Quem começou a brincadeira foi Liam Lawson, nono colocado, que segurava todo o pelotão para fazer com que Isack Hadjar, em quinto, fosse beneficiado. Lawson andava 4s mais lento que os demais, fazendo com que Hadjar fizesse suas duas paradas sem sair da zona de pontuação.

Vendo isso, a Williams fez o mesmo com Sainz, que começou a tirar o pé para que Albon fizesse suas paradas. Isso tudo arruinava a prova da Mercedes. Com os dois carros fora da zona de pontuação pela péssima classificação de Russell e Antonelli, a Mercedes andou sempre com alguém mais lento à sua frente, para frustração dos dois pilotos a ponto de George Russell cortar a Chicane de propósito para ultrapassar Albon (que retribuía o favor para Sainz) e preferir ser punido do que devolver a posição. O que George não esperava era que a FIA lhe desse um Drive Through, destruindo de vez a prova do inglês. A Mercedes teve seu pior final de semana de 2025 até agora, perdendo também na estratégia, com seus dois carros fora dos pontos.

Enquanto isso, lá na frente Lando Norris fez seus dois pit-stops de forma tranquila e quando Max Verstappen arriscou tudo ao postergar sua última parada ao máximo, o piloto da McLaren se viu preso atrás da Red Bull, vendo a aproximação de Leclerc. O monegasco tentou, fustigou, mas não atacou de verdade, ainda mais quando Piastri se aproximou de vez, fazendo com que os três primeiros recebessem a bandeirada muito próximos, enquanto Verstappen terminou na mesma quarta posição que largou depois de arriscar, mas não petiscar, fazendo sua segunda parada já na abertura da penúltima volta.

Hamilton fez uma prova solitária e mesmo perdendo três posições no grid por ter atrapalhado Verstappen na classificação, Lewis recebeu a bandeirada mais de 40s atrás do companheiro de equipe. E Hamilton foi o último a terminar na mesma volta do líder. Com tanta gente andando muito lento por motivos estratégicos, o sexto colocado Hadjar terminou uma volta atrás, mas marcando bons pontos para Racing Bulls, enquanto Lawson finalmente marcou pontos com o oitavo lugar. Ocon foi sétimo, fazendo uma corrida correta num circuito onde sempre andou bem. A dupla da Williams terminou em nono e décimo, após ajudarem-se durante a corrida. E de tanto andarem lentos, Albon e Sainz terminaram duas voltas atrás.

Fernando Alonso continua seu calvário após sua boa classificação, mas o motor Mercedes do seu Aston Martin entregou os pontos quando o espanhol tinha os seus primeiros pontos de 2025 nas mãos. Gasly abandonou ao acertar a traseira de Tsunoda na Chicane do Porto.

Ambos levaram seus carros à lugares seguros e o Safety Car não apareceu na prova, ao contrário dos prognósticos. A Sauber fez diferente das demais equipes e parou seus pilotos três vezes e mesmo batendo na primeira volta, Bortoleto conseguiu seu melhor resultado na carreira até agora e ainda ficou na frente de Hulkenberg.

Nas últimas semanas surgiu a notícia que o atual campeão da MotoGP Jorge Martin teria colocado a Aprilia contra a parede, por causa do rendimento abaixo da marca italiana, mesmo Martin só tendo feito uma corrida com a moto. E nem a completou. Com proposta da Honda e vendo o crescimento da gigante japonesa nessa temporada, Martin tentaria se livrar da Aprilia para 2026. Realmente a marca italiana não estava vindo muito bem em 2025, mas em Silverstone a Aprilia deu uma bela resposta à Martin com a vitória de Marco Bezzecchi.

Porém, a corrida em Silverstone ficou marcada pela belíssima corrida de Fabio Quartararo, que liderou a prova inteira com sua Yamaha e tinha tudo para vencer após quase três anos, mas um problema elétrico pôs tudo a perder. Fabio não escondeu seu pranto, tendo perdido uma corrida que estava nas suas mãos. Marc Márquez foi discreto em Silverstone e terminou em terceiro, mas viu seu companheiro de equipe desmoronar, com Pecco Bagnaia cair sozinho quando já estava fora do top10. Marc Márquez parte incólume rumo a mais um título.


Fala-se nos Estados Unidos que uma vitória nas 500 Milhas de Indianápolis vale mais do que o título de campeão da Indy. A temporada 2025 de Alex Palou era praticamente perfeita, com quatro vitórias em cinco corridas, sendo que na corrida que não venceu, Palou chegou em segundo lugar. Porém, tudo o que importava era o que o espanhol poderia fazer em Indianápolis, não importando o que Palou havia feito até agora no campeonato.

Por isso que o espanhol, atual dominador da Indy, estava com sangue nos olhos para uma vitória em Indianápolis. Palou sempre esteve entre os primeiros colocados nas 500 Milhas de Indianápolis, mas após o último pit-stop o piloto da Ganassi deu os botes certeiros para vencer sua primeira corrida num oval. E logo em Indianápolis!

Alex Palou se tornou um imortal no automobilismo mundial e com o tetracampeonato encaminhado e uma vitória nas 500 Milhas de Indianápolis na conta, tudo isso com menos de 30 anos de idade, o futuro tende a ser glorioso para esse espanhol.

Sobre as 500 Milhas de Indianápolis, mais detalhes na coluna de Lucas Giavoni, que vai ao ar nesta sexta-feira.

Norris teve seus méritos em fazer o necessário para vencer em Monte Carlo. Arriscou tudo no sábado e na largada para ter o posicionamento básico para triunfar no principado e escrever seu nome entre os vencedores em Mônaco.

Mais do que isso, Lando encerrou o jejum de vitórias que já sofria desde a primeira etapa de 2025 e encostou de vez em Piastri no campeonato, com apenas três pontos separando os dois pilotos da McLaren. Não teremos Papaya Rules tão cedo! E espero que também não tenhamos regras artificiais, que no caso desse domingo, saiu pela culatra.

Abraços!

João Carlos Viana

JC Viana
JC Viana
Engenheiro Mecânico, vê corridas desde que se entende por gente. Escreve sobre F1 no tempo livre e torce pelo Ceará Sporting Club em tempo integral.

3 Comments

  1. Leandro disse:

    Mônaco é aquele circuito complicado, mas histórico…

    Penso que aquela classificação com um carro por vez em volta rápida que já houve na F1 cairia muito bem para Monaco.

    Eu estava até animado com as posibilidades que as trocas forçadas de pneu poderiam trazer… mas achei bem triste o resultado, embora as estratégias da Racing Bulls e Williams foram interessantes. Jogaram com o regulamento debaixo do braço, fazendo uma coparação com o futebol, foi como aquele time que, jogando pelo empate, entra com uma retranca e não deixa o outro time jogar. Faz parte.

    Martin no meu ponto de vista, fará mal negócio cavando sua saída da Aprilia. além de ser muito cedo para isso, penso que para sua imagem seja algo ruim perante outras equipes. Um cara que abandona o barco.

    Infelizmente desde o fim do Star Plus estou órfão de acompanhar a Moto GP, mas vi nos higlights o passão oportunista que o Diogo Moreira deu para conquistar um belo pódio.

    • Fernando Marques disse:

      Leandro.,

      Canal ESPN está transmitindo a moto gp … todas as corridas, inclusive as sprints é a moto gp 2 e 3

      Fernando Marques

  2. Fernando Marques disse:

    J.C. Viana,

    Acho que vc foi bonzinho demais nos comentários. Essa regra de dois pit stop não valeu de nada … se a intenção foi de trazer alguma surpresa na corrida … A regra não valeu de nada … corrida foi chata do início ao fim … só o pessoal da Band achou a corrida sensacional, assim como a regra … O ganhar disse que chegou a ter sono na corrida … imagina então pra quem assistia na TV.

    Vou esperar os comentários do Lucas Giovani sobre o que foi a prova. Mas vi o início e depois de tantas voltas com safety cara , achei melhor ver a Vitória do Mengão sobre o Palmeiras.

    Agora que corrida foi o GP do Reino Unido na MotoGP … Catarraro dando um show, as Ducatis comendo poeira e no fim a grande surpresa com a vitoria da Aprila … A fórmula 1 deveria ver o que realmente pneus macios podem proporcionar numa corrida …

    Fernando Marques
    Niterói RJ

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