Ao final da Classificação desse sábado em Spa, havia um clima estranho no ar. Mesmo com a pole nas mãos, Carlos Sainz tinha uma fisionomia tensa e quem vibrava era a turma da Red Bull, mas não com a pálida segunda posição de Sergio Pérez e sim com a 15º posição de Max Verstappen. Isso mesmo. Desde o começo do final de semana do Grande Prêmio da Bélgica, sabia-se que a Red Bull trocaria o motor de Max e que ele largaria no final do grid, junto com outra penca de pilotos, incluindo aí seu grande rival em 2022, Charles Leclerc. Porém, o ritmo que Verstappen impôs em sua pista caseira (apesar de correr com a bandeira neerlandesa, Max nasceu na Bélgica como a sua mãe) espantava a todos. Verstappen marcou o melhor tempo do final de semana com folga e o piloto da Red Bull já admitia que um pódio era bastante plausível. Talvez Max tenha sido realista demais.
Com Max largando na 15º posição, que viraria 13º com os problemas tardios da dupla da Alpha Tauri pouco antes da largada, todos esperavam uma corrida parecida com a famosa remontada de Michael Schumacher em 1995, quando o alemão saiu de 16º para primeiro numa corrida épica. A vitória de Max veio, mas sem um décimo do brilhantismo de Michael vinte e sete anos atrás. Na realidade, a impressão que ficou foi que Verstappen conseguiu a vitória em Spa de forma tranquila. A Red Bull hoje tem o melhor carro disparado do pelotão e com Max Verstappen numa fase esplendorosa, parecia que Max estava correndo no nível Easy no jogo F1-2022. Foi uma vitória categórica!
Quando Max conquistou o título na polêmica e lendária final de 2021, muitos comemoravam simplesmente pelo fato da série de Hamilton ter sido interrompida, mesmo a Mercedes tendo conquistado seu oitavo título no Mundial de Construtores. “Finalmente ganhou alguém diferente”, pensou o mais desavisado. Porém, o que pode ter ocorrido foi uma troca de guarda ou de dominância. Com a vitória de hoje, Max já tem nove vitórias em catorze corridas em 2022 e Verstappen usufrui de uma situação muito parecida que Hamilton tinha entre 2017 e 2020, quando Lewis tinha uma equipe entrosada trabalhando para si, um carro superior, um companheiro de equipe rápido, mas inofensivo e uma concorrência vacilante por variados motivos. Assim está a mesa posta para Max Verstappen, que vai se aproveitando para acumular recordes e vitória. No ritmo que vai, Max deverá acabar o ano como o sexto piloto mais vitorioso da história da F1, logo atrás de Senna, mas sendo justos, assim como fazemos com Hamilton, também temos que contextualizar os números de Verstappen, pois a F1 atual tem mais corridas e os domínios estão sendo mais comuns a ponto de concentrar cada vez mais números em um único piloto, algo que acontece desde a era Michael Schumacher.
Felizmente Spa teve seu contrato renovado para pelo menos 2023, sendo que a lógica seria que o contrato deveria ser renovado de forma vitalícia. Contudo hoje vemos que a regra de que uma pista boa rende corridas boas não é tão simples assim. Hoje Spa não viu uma corrida tão agitada como em outros anos, mesmo com vários pilotos largando fora de posição pelas inúmeras punições por troca de motor. Um dos motivos foi que o uso do DRS ainda no início da reta Kemmel matou qualquer chance de defesa para a grande maioria dos pilotos. Para ultrapassar, bastava se colocar bem na saída da Raidillon que o DRS fazia o resto do serviço.
Todos esperavam uma corrida de recuperação forte de Verstappen, mas o que ninguém aguardava era a facilidade com que Max atravessou o pelotão como se fosse faca quente na manteiga. O ritmo do piloto da Red Bull era tal que rapidamente ele estava em quinto e antes das primeiras paradas, era terceiro e muito próximo dos líderes. Logicamente Max não teve trabalho para ultrapassar o segundo colocado Pérez e após a primeira rodada de paradas, ultrapassou o pole Sainz com uma facilidade desconcertante. A cara assustada de Sainz no sábado se mostrava com razão. E ficaria ainda pior, com Pérez alcançando o espanhol para completar a dobradinha da Red Bull na corrida, enquanto Checo assumia a mesma posição no campeonato. A vantagem da Red Bull é tal que, provavelmente, o time irá se concentrar mais em dar à Checo o vice-campeonato e conquistar uma inédita dobradinha no Mundial de Pilotos.
A grande polêmica da corrida não envolveu os pilotos que estavam no pódio. Sainz largou bem, o mesmo não acontecendo com Pérez, que ao tentar fechar Alonso, abriu as porteiras para a dupla da Mercedes. Hamilton estava mais rápido e ultrapassaria Alonso a qualquer momento, porém Lewis preferiu acabar com a disputa o mais rápido possível, escolhendo a forte freada da reta Kemmel. O que Hamilton calculou muito mal foi ter tentado a manobra por fora em cima de alguém como Alonso. O contato foi inevitável, jogando a Mercedes de Hamilton para o alto, forçando o primeiro abandono do inglês em 2022. Contudo, o que aconteceu depois foi mais interessante. Pelo rádio, Alonso chamou Lewis de idiota e fuzilou: esse cara só sabe andar quando está em primeiro. Ouch! Os haters de Hamilton soltaram fogos e acenderam velas para São Fernando das Astúrias. Porém, Fernando estava de cabeça quente, o que não era o caso de Hamilton mais tarde. Após uma longa caminhada e um belo banho, Lewis foi cutucado por Mariana Becker quando foi confrontado pelas palavras de Alonso via rádio. Hamilton obviamente assumiu a culpa pela manobra desastrada na Les Combes, mas não deixou de soltar uma farpa para Alonso: nossas carreiras tiveram diferentes números de conquistas. E todos sabem que Alonso odeia quando tocam no assunto número de títulos. Ouch! A tréplica não tardou, com Alonso relembrando o toque, no mesmo lugar, entre Hamilton e Nico Rosberg em 2014…
Lewis Hamilton e Fernando Alonso são grandes campeões que se respeitam bastante. Mas daí dizer que se gostam, vai uma diferença enorme!
Uma corrida de F1 em 2022 sem um erro crasso da Ferrari não seria uma corrida de F1, mesmo Sainz tendo completado o pódio, não sem antes segurar o quarto colocado George Russell, que ensaiou um ataque nas voltas finais. Após sofrer um problema incomum ainda na primeira volta, com uma sobre-viseira entrando num duto de freio do seu carro, Charles Leclerc foi forçado a fazer um pit-stop não-programado e mesmo largando logo atrás de Verstappen, não repetiu a corrida do rival. Porém, Leclerc fazia uma corrida razoável e pelos problemas que vinha tendo, estava num possível quinto lugar. Só que o estrategista da Ferrari teve a brilhante ideia de ganhar um pontinho no campeonato pela melhor volta. Ele usou seu ábaco e trouxe Leclerc para os boxes e lhe colocar pneus macios para garantir a melhor volta da corrida. Mais um pontinho no bolso certo? Errado! Leclerc voltou à pista logo atrás de Alonso na abertura da penúltima volta, só conseguindo a ultrapassagem na última passagem, tendo perdido toda a área em que a Ferrari tinha clara vantagem na pista de Spa e com isso, Leclerc não conseguiu marcar a melhor volta. Para tornar a vida de Leclerc e da Ferrari ainda mais plena, foi mostrado uma punição por excesso de velocidade dentro dos pits, causando uma punição de 5s para Charles e ao invés de ganhar um ponto… perdeu dois! Se não fosse a Red Bull um carro tão dominante nesse meio de temporada, 2022 seria marcado como uma equipe pode entregar um campeonato de bandeja, por oferecimento da Ferrari.
Esse final de semana ficou marcado pelo anúncio da entrada da Audi na F1 em 2026, comprando boa parte da Sauber, que será chamada de Alfa Romeo somente até o final de 2023. O que a equipe fará entre 2024 e 2025 é um detalhe não explicado até agora (Sauber-Audi-Ferrari?), mas é uma ótima notícia ter uma montadora com a tradição da Audi na F1, podendo a montadora alemã ser um player importante no final dessa década.
Outro movimento importante foi a confirmação da saída de Daniel Ricciardo da McLaren no final desse ano, o deixando a pé no momento. Por sinal, hoje Ricciardo deu outra demonstração do motivo de ter sido dispensado pela McLaren, pois o australiano largou em sétimo, onze posições à frente de Norris, e ainda chegou atrás do companheiro de equipe. Ricciardo não se adaptou bem aos novos carros e já contando com 33 anos de idade, talvez uma mudança de categoria poderia trazer seu sorriso de volta. Por sinal, a Alpine já abre vantagem sobre a McLaren no Mundial de Construtores, fazendo pensar se Oscar Piastri ainda tem tempo para apagar seu post no Twitter…
A forma como Max Verstappen venceu nesse domingo demonstrou bem que o neerlandês está em uma fase incrível, assim como a Red Bull. Mesmo largando em 14º, não houve disputas de levantar as sobrancelhas envolvendo Max Verstappen. Seu ritmo era tão avassalador, que os demais pilotos preferiam nem perder tempo se defendendo. A Red Bull se aproveitou de fragilidade de suas adversárias e já impõe, nesse meio de temporada, um domínio parecido que a Mercedes fez nos últimos anos.
Já Verstappen faz contas de quando comemorará o seu bicampeonato e com quase cem pontos de vantagem sobre Pérez, a conta pode fechar entre Suzuka e Austin. Porém, na próxima semana já ocorrerá uma bela festa para Max, com a corrida acontecendo em sua Zandvoort natal. Do jeito que está performando, Verstappen dará outra festa de arromba na frente dos seus conterrâneos.
Abraços!
João Carlos Viana
1 Comments
JC Viana,
não pude assistir a corrida em razão de vários compromissos que tive neste fim de semana. Aliás nem o treino para definir o grid pude ver … mas pelo seu belo relato, Versttappen cumpre bem o seu papel … tem o melhor carro e hoje é o melhor piloto do grid … só quem poderia brigar com ele seria o Checo … mas … obvio que isso jamais acontecerá, ao menos em 2022 … vale lembrar que o titulo de 2021 foi controverso em várias situações … a começar pelo resultado do GP da Belgica ano passado …
A Ferrari, esquece … virou cavalo paraguaio …
Fernando Marques
Niterói RJ