UMA CERTEZA, DEZ PALPITES

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28/01/2005
Senna, o Mico e o homem de Pau Grande
02/02/2005

Primeiro a certeza: os pneus vão decidir o campeonato de 2005.

Agora, os palpites:

1 – a Bridgestone levará a melhor sobre a Michelin, proporcionando à Ferrari e Michael Schumacher o sexto título consecutivo.

2 – A McLaren será a maior rival da Ferrari. O tamanho da rivalidade dependerá da qualidade dos pneus Michelin. Kimi Raikonenn e Juan Pablo Montoya proporcionarão a mais interessante disputa do campeonato. O primeiro deve levar a melhor.

3 – A Williams não terá um carro competitivo em 2005. É provável que isso custe a cabeça de Sam Michels, diretor técnico da equipe.

4 – Bar e Renault terão anos piores do que 2004 ainda que possam ganhar algumas corridas.

5 – A Toyota vai fracassar, de novo, o que pode comprometer a continuidade da equipe.

6 – Sauber, Minardi, Red Bull (como sucessora da Jaguar) e Jordan (mesmo depois de vendida) continuarão onde sempre estiveram: no fim do grid.

7 – Por confusa, a nova sistemática dos treinos classificatórios será duramente criticada já nas primeiras corridas do ano. Se o volume de críticas for elevado, pode ser alterada, provavelmente com um retorno ao método de 2004.

8 – As equipes vão inventar algum truque para burlar o regulamento de duas corridas com o mesmo motor. Se um carro de ponta se atrasar, pode valer a pena à equipe simular uma quebra de forma a instalar um motor novo para a corrida seguinte.

9 – No meio da temporada, os carros deverão virar tempos próximos aos de 2004, pelo menos nos treinos de classificação.

10 – A briga entre Bernie Ecclestone, as montadoras, os bancos e sei lá mais quemainda terá muitos rounds ao longo do ano.

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Confesso total e completa incapacidade de dar qualquer palpite sobre o desempenho dos brasileiros em 2005. Rubinho brigará pelo vice-campeonato? Massa fará alguma coisa de notável com o Sauber? Pizzonia vai correr (escrevo no domingo, dia 30, antes portanto do anúncio da Williams)?

Não sei, não sei, não sei.

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Ao contrário de vários leitores, não fiquei especialmente impressionado com o DVD “Emerson Fittipaldi 72/74, Bicampeão da F-1”. Há várias coisas legais, principalmente carros derrapando sobre as quatro rodas, mas, de maneira geral, as cenas de corrida são pobres, assim como o contexto esportivo apresentado.

A pobreza de cenas não é culpa de ninguém: temos, de fato, poucas boas imagens das corridas de antanho (adoro esta palavra). Quando vejo jovens como o Ico criticar impiedosamente as transmissões das corridas de hoje não posso deixar de pensar que eles só dizem isso porque não penaram com as transmissões do passado, com poucas câmeras, uma única unidade de gravação, se tanto (o que significava que só se podia reprisar uma imagem se se estivesse com ela no ar naquele preciso momento), além de uma inexplicável incapacidade dos diretores de TV e câmeras-men de acertar o foco. Como explicar, por exemplo, no DVD de Emerson, que a câmera encarregada de mostrar a primeira curva do GP da África do Sul de 74 tenha permanecido fixa ao invés de acompanhar a disputa de meia dúzia de pilotos pela liderança da corrida?

Não era nada fácil acompanhar Fórmula 1 naqueles tempos.

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No DVD sobre Emerson, reafirma-se duas meias-verdades as quais sou particularmente sensível: a de foi a vitória dele no GP dos Estados Unidos 70 que garantiu o título póstumo a Jochen Rindt e a insinuação de que o brasileiro perdeu o campeonato de 73 porque Colin Chapman, o dono da Lotus, não determinou a inversão nas posições entre Emerson e Ronnie Peterson no GP da Itália.

Aos fatos: Rindt morreu durante os treinos de sábado para o GP da Itália de 70. Nesta altura, acumulava 45 pontos no Mundial de Pilotos, produto de cinco vitórias e nenhuma colocação mais, creio que um fato único na história da categoria.

Jacky Ickx, correndo pela Ferrari, tinha nesta altura míseros 19 pontos – e não marcou nenhum na Itália, vencendo a corrida seguinte, no Canadá. Restando os GPs dos Estados Unidos e México, Ickx não tinha outra alternativa que não vencer ambas, chegando ao título com um ponto de vantagem sobre Rindt.

Da forma como foi exposto no DVD, desavisados podem achar que Emerson passouIckx nas voltas finais do GP dos Estados Unidos mas não foi bem assim. A Ferrari nunca mostrou-se competitiva e ainda por cima teve problemas mecânicos, obrigando Ickx a pelo menos uma parada nos boxes. Graças ao grande número de quebras na corrida, ainda conseguiu terminar na 4ª posição, o que definiu o campeonato.

Assim, melhor do que dizer que Emerson ganhou o título para o companheiro falecido, é dizer que Ickx e a Ferrari o perderam por conta de uma péssima corrida. E, ironia final, Ickx ganhou no México.

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O GP da Itália foi a antepenúltima corrida da temporada 73. Naqueles tempos de nove pontos por vitória, havia, portanto, 27 pontos em jogo e Emerson estava 24 pontos atrás de Jackie Stewart.

A sete voltas do final da corrida, Peterson lidera com Emerson em segundo e Stewart em 4º, depois de se recuperar brilhantemente do atraso provocado por um pneu furado no começo da prova.

Se Emerson vencesse em Monza e Stewart confirmasse, como de fato confirmou, oseu 4º lugar, o brasileiro precisaria ganhar as duas corridas seguintes sem que Stewart marcasse um mísero ponto para, pelo primeiro critério de desempate – o número de vitórias -, levar o título da temporada.

Como Stewart só havia falhado em pontuar em duas das 13 corridas disputadas até então, Colin Chapman provavelmente achou que milagres não davam em árvore e que melhor seria baixar a crista de Emerson, que estava pedindo muito dinheiro para renovar com a Lotus ou mesmo já havia se decidido a mudar de equipe.

Uma coisa que pouca gente sabe sobre esta corrida é que Peterson, por pouco, não entrega a vitória a Emerson por ter se atrapalhado com o local exato da linha de chegada, que havia sido mudado naquele ano.

Peterson viu Chapman jogar o seu boné para o alto – como este fazia habitualmente – e pensou que ali era a chegada, tirando o pé do acelerador, ao contrário de Emerson. O sueco cruzou a linha de chegada apenas oito décimos de segundo à frente do companheiro de equipe.

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Não relembro estas histórias com o propósito de diminuir os feitos de Emerson mas um bicampeão da Fórmula 1 e da Indy 500 simplesmente não precisa destas fantasias para projetar ainda mais uma carreira tão vitoriosa e bem sucedida.

Boa semana a todos

Eduardo Correa
Eduardo Correa
Eduardo Correa
Jornalista, autor do livro "Fórmula 1, Pela Glória e Pela Pátria", acompanha a categoria desde 1968

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