3 x 1

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Foram quatro corridas e quatro dobradinhas até agora. Apesar de não correrem na mesma equipe, Lewis Hamilton e Max Verstappen monopolizam a briga pela vitória e pelo título da temporada 2021. E isso é ótimo! Os dois se enfrentaram na pista em todas as corridas da temporada 2021, com Lewis levando a melhor em três oportunidades e Verstappen ganhando em Ímola, mas chegando em segundo nos triunfos de Hamilton. E o inglês terminando em segundo na vitória de Verstappen. Com dois pilotos de equipes diferentes, isso nunca havia acontecido na F1.

A batalha desse domingo em Barcelona foi mais tática do que emocionante e foi vencida por Hamilton com base na melhor estratégia da Mercedes, que já demonstra ter ultrapassado a Red Bull no quesito performance, mesmo que por muito pouco. Outro problema da Red Bull é que a Mercedes sempre tem duas cartas na manga durante as corridas, enquanto a Red Bull tem apenas Max levando a equipe nas costas. Por mais que critiquemos a opção de Toto Wolff em deixar o opaco Valtteri Bottas na Mercedes, o nórdico está sempre acompanhando Hamilton de perto, fazendo o papel de escudeiro ou ajudando a Mercedes a escolher a melhor estratégia.

Max Verstappen fez uma ótima largada, mostrando suas credenciais logo de cara ao tomar a ponta de Hamilton na primeira curva. Com Max assumindo a primeira posição, as cartas estavam na mesa para os estrategistas de Mercedes e Red Bull moverem suas peças. Verstappen parecia que tinha uma ligeira vantagem quando Bottas teve que desviar de Hamilton na curva 3 e perdeu a terceira posição para Leclerc, não o ultrapassando até a primeira rodada de paradas. Enquanto isso, Verstappen se manteve confortavelmente na ponta e levava a corrida em banho-Maria até que as movimentações nos boxes começassem. Era claro que Hamilton tinha o carro mais rápido, mas não a ponto de ultrapassar Max na pista naquelas condições.

Quando Max parou e Hamilton ficou mais algumas voltas na pista, a Mercedes indicava que Lewis pararia apenas uma vez, deixando a Red Bull numa situação complicada, pois Verstappen teria que dar bem mais voltas do que Hamilton se quisesse chegar a bandeirada sem uma segunda parada. Pensando em igualar a tática da Mercedes, Max baixou seu ritmo, deixou Hamilton ficar na mesma situação de antes da parada, mas havia uma diferença: Bottas era terceiro. Com a Mercedes tendo a garantia de que Hamilton não perderia a segunda posição e que Lewis tendia a ficar empacado atrás de Verstappen se nada de diferente ocorresse, o time comandado por Toto Wolff trouxe Hamilton para os boxes para uma segunda parada. Sem se preocupar com Bottas, Lewis apenas acelerou muito e andando 1,5s mais rápido por volta do que o piloto da Red Bull, foi engolindo a vantagem de Verstappen, que nada pôde fazer quando Hamilton entrou na famigerada janela em que podia usar o DRS. Bastou uma tentativa para Hamilton fazer a ultrapassagem vencedora e partir impávido rumo a terceira vitória do campeonato.

Enquanto isso, Sérgio Pérez, piloto de qualidade inquestionável, largou apenas em oitavo nesse domingo, ganhou duas posições na largada, penou atrás de Ricciardo até fazer uma bela ultrapassagem sobre o australiano e terminou num obscuro quinto lugar. Apesar de alguns problemas de saúde terem afetado o mexicano no sábado, sua posição dentro da Red Bull já começa a ficar delicada na medida em que ele não consegue andar no ritmo dos líderes justamente quando a Red Bull finalmente tem um carro no mesmo patamar da Mercedes. Deixado sozinho contra os dois carros da Mercedes, Verstappen foi um alvo fácil, enquanto Marko pode estar começando a chegar à conclusão de que Pérez não faz nada de muito diferente de Gasly e Albon. Sem muito brilho, Bottas terminou em terceiro, mas ajudou a Mercedes na conquista de Hamilton, fazendo seu papel de segundo piloto, algo que está fazendo muita falta para a Red Bull.

Ao receber a bandeirada em primeiro, Hamilton coroava um final de semana praticamente perfeito, onde conseguiu mais alguns recordes para a sua galeria. O triunfo em Barcelona foi o quinto consecutivo do inglês, igualando a marca do seu ídolo Ayrton Senna, só que em Monte Carlo, recorde absoluto da F1. O circuito de Barcelona tem como característica ao longo dos anos indicar quem tem o melhor carro da temporada e não é nenhuma surpresa que a Mercedes só tenha perdido uma corrida de 2014 para cá, sendo que a derrota de 2016 foi causada por um erro da dupla ‘mercediana’, jogando fora o que seria uma dobradinha certeira.

Esse domínio de longos sete anos também explica outra marca impressionante de Hamilton conseguida nesse final de semana. No sábado ele conseguiu a centésima pole de sua carreira na F1, sendo o primeiro a chegar aos três dígitos na história da F1. Exagero ou Hamilton é o maior da história?

Essa pergunta é bastante capciosa, pois sempre vai esbarrar em injustiças históricas. Ninguém conquista sete títulos e cem poles à toa, portanto não se pode negar os feitos de Lewis Hamilton, porém, olhar apenas os números pode significar diminuir bastante os feitos de Ayrton Senna, Michael Schumacher e Jim Clark, os antigos recordistas de poles e que conseguiram seus recordes numa situação diferente da atual. Por mais que a F1 sempre nos mostre grandes hegemonias, o que a Mercedes vem conseguindo desde 2014 é totalmente fora da curva e Hamilton vai se aproveitando para inflar seus já impressionantes números.

Isso significa dizer que cravar Lewis Hamilton como o ‘deus da pole position’, como feito por Sergio Maurício na transmissão da Band, soa como um exagero olhando o contexto atual. Por outro lado… como é rápido esse Lewis Hamilton!

Com dois protagonistas tão dominantes, a F1 de 2021 parece viver unicamente em torno dos seus dois protagonistas e suas lutas pela vitória ao longo da temporada, mas houve pontos interessantes na morna corrida na Catalunha. Charles Leclerc fez uma senhora corrida ao colocar a Ferrari em quarto, na frente de um carro da Red Bull e superando a principal rival da Ferrari em 2021, a McLaren, com quem deverá brigar pela terceira força do campeonato.

Daniel Ricciardo se mostrou bem superior à Lando Norris nesse final de semana e segurou até onde pôde Pérez, mas garantiu a sexta posição, logo à frente do piloto da casa Carlos Sainz, ainda tateando o carro da Ferrari em ritmo de corrida. Já o outro piloto anfitrião não foi nada bem. Fernando Alonso largou atrás de Ocon e permaneceu a corrida inteira no limite da zona de pontuação, tentando uma estratégia de uma parada que não vingou, fazendo Alonso ser atacado por quem se aproximava dele, jogando o piloto da Alpine numa obscura décima sétima posição, após Alonso ter que fazer a necessária segunda parada.

Costumo apelidar Fernando Alonso como o ‘Carlos Reutemann com títulos’, por causa da coincidência de erros de gestão de carreira que ambos cometeram e, nesse momento, todas as energias positivas para Reutemann, que passa por um momento delicado de saúde.

Como é tradição em Barcelona, a corrida não foi das mais emocionantes. Não importa a geração de carros, motores e pilotos, a prova de F1 na Catalunha normalmente é desprovida de emoção, mas muitas perguntas começaram a ser respondidas. Por mais que diga que não, a Mercedes ainda tem o melhor carro da F1 e a grande diferença é que a Red Bull nunca esteve tão próxima como agora. Se nos tempos em que a Ferrari estava próxima da Mercedes, Hamilton soube administrar muito bem um Vettel já em começo de declínio na carreira, dessa vez Lewis está enfrentando um piloto num momento mais forte. Max Verstappen hoje é um piloto quase completo e ansioso para confirmar o que todos sabem do que ele é capaz: bater a Mercedes e Hamilton para ser campeão, com as condições corretas. Sabendo disso, Lewis Hamilton aumentou seu sarrafo e ao invés de bater de forma protocolar seu companheiro de equipe Bottas, agora o inglês está incomodado e lutando por cada vitória para bater Verstappen.

Hamilton pode ter sido até passivo ao ser ultrapassado por Verstappen na largada, mas ele não se acomodou em nenhum momento e forçou o ritmo para conseguir a vitória. Como aconteceu em outras disputas entre dois grandes pilotos, o título poderá ser decidido no número de vitórias e no momento o placar está 3×1 para Hamilton.

Porém, nada impede que ocorra uma virada num futuro próximo e Verstappen provou que tem condições para tal, mesmo que no momento esteja sozinho nessa luta, mas Hamilton não entregará os pontos sem batalhar. Senhores, estamos tendo campeonato!

Abraços e saúde a todos!

João Carlos Viana

JC Viana
JC Viana
Engenheiro Mecânico, vê corridas desde que se entende por gente. Escreve sobre F1 no tempo livre e torce pelo Ceará Sporting Club em tempo integral.

14 Comments

  1. Gus disse:

    Sim, Hamilton é o maior da história em números. E ninguém pode tirar esse mérito dele pois desde muito novo era um piloto diferenciado. O melhor da história? Bem, para isso alguns pilotos nunca poderiam ter nascido, como Nuvolari (sei que não pegou a época da F1, mas…), Fangio, Clark, Senna ou até o Schumacher.
    Pode até ser da turma, mas oito anos seguidos com o melhor carro – o maior domínio de sempre na categoria – facilitam um bocado as coisas; não muitos anos atrás, no auge da Vettelmania, até o alemão era considerado um dos melhores de sempre, como as coisas podem mudar de repente hein?
    Hamilton é excepcional, mas não vejo ele mais forte do que Max, que está levando o carro nas costas, e falta ao inglês uma prova emblemática, como Nurburgring 1935 de Nuvolari e 1957 de Fangio, Donington de 1993, ou Espanha de 1996 com Schumacher, quando que, com carros inferiores ou dificuldades técnicas superiores, esses pilotos esmagaram a oposição mostrando uma classe MUITO superior aos demais.
    História sendo escrita, para mim, é ver combates de verdade na pista; números massivos apenas, não me interessam.

    • Fernando Marques disse:

      Então Gus,

      eu não vi Nuvolari, Fangio e nem J. Clark … mas vi Senna, Schumacher, Vettel, Prost, estamos vendo o Hamilton … e para mim o melhor e mais completo de todos foi o Nelson Piquet … o que não muda o que disse sobre o Hamilton ser o maior … escolher o melhor implica em muitas outras coisas …

      Fernando Marques

      • Gus disse:

        Exatamente, mas existe um movimento (e de gente que em tese entende muito do assunto) para adjetivar o inglês como o melhor de todos os tempos. Preguiça ou desconhecimento histórico? Difícil avaliar, o melhor de todos os tempos é algo que nunca poderá ser escolhido de fato.

        • Fernando Marques disse:

          Concordo,

          Até por que nunca um inglês como piloto alcançou este status que Hamilton tem.
          Digo isso por que lembro que J. Clark e J. Stuwart até então os britânicos mais vencedores na fórmula 1 não eram ingleses e sim escoceses. Sendo a Inglaterra o maior berço da fórmula 1 , tendo um só bi campeão, no caso G. Hill, e vendo Brasil, Argentina, França, Escócia e Alemanha se destacando com pilotos multi campeões, certamente tal realidade era incômodo. Hamilton neste caso até lava a alma dos ingleses neste sentido.

          Fernando Marques

        • Fernando Marques disse:

          Inclui a Áustria e Austrália nesta lista de revelar pilotosulyi campeões.

  2. Fernando Marques disse:

    JC Viana,

    Sobre a corrida nada a acrescentar. Sua leitura sobre a corrida foi perfeita.
    Mas sobre alguns temas abordados, gostaria de dar uns pitacos.

    1) L. Hamilton é o maior piloto da história da Formula 1? Pra mim já é.
    Não só pelos números e por ter uma Mercedez dominante desde 2014. O que ele conseguiu conquistar neste período que está na Mercedes, não vejo nenhum piloto neste período que pudesse alcançar tal feito. Muitos certamente seriam campeões e vencido um bom número de corridas. Mas conquistar o que Hamilton conquistou, nenhum conseguiria. Nem Alonso
    Outro detalhe. Desde que chegou na fórmula 1 ele sempre venceu corridas. E desde o ano de sua estreia já lutava por títulos. O cara é um fenômeno. Ele no conjunto da obra se mostra mais competente que Senna e Schumacher, os mais citados por vocês.

    2) Verstappen é bom. Não. É muito bom demais da conta. Mas não está no nível do Hamilton. Ele pode ser campeão este ano. Sim. Tem carro, tem competência. Mas mesmo conseguindo tal feito, pra chegar no nível Hamilton vai precisar comer muita grama.

    3) Sérgio Peres … Desconfio que ele não tem um carro igual ao do Verstappen. Foi assim com Ocom e Gasly. A RBR ainda não pensa grande como a Mercedes. Peres falha pois está precisando andar mais que o carro permite. Talvez este o o recado, nas entre linhas, que o Verstappen deu a RBR ao comentar a ausência de Peres andando lá na frente, como bottas vem fazendo.

    Fernando Marques
    Niterói RJ

    • Fernando Marques disse:

      O problema não é o Sérgio Peres e sim o carro

      Fernando Marques

      • Acho o carro da Red Bull feito tão no limite, que apenas um piloto muito experiente com esse tipo de bólido pode se destacar, como é o caso do Verstappen, além do neerlandês ser um piloto diferenciado.
        Pérez é um ótimo piloto, mas infelizmente está devendo até o momento. Para o bem do campeonato, seria muito bom se Checo conseguisse andar mais próximo dos líderes e evitar que a Mercedes tenha duas cartas na manga, contra apenas uma da Rd Bull.

        • Fernando Marques disse:

          JC,

          Eu penso assim. A fórmula 1 não pode mais fazer treinos. E aí usa os treinos da corridas pra testar. Quem testa na RBR é o piloto número 2. Se funcionar Verstappen usa. Ao contrário não. E aí piloto 2 não se classifica bem pra largada.
          A situação do Peres na RBR, suspeito que seja essa. Na Mercedes ao menos, bottas pode brigar pela pole.

          Fernando Marques

    • Fernando Marques disse:

      Inclui a Áustria e Austrália na relação de ter revelado pilotos multi campeões

      • Se fosse assim, por que trazer o Pérez? Deixava o Albon por lá…

        • Fernando Marques disse:

          Também acho.
          Mas penso que faz sentido desconfiar face a forma como a RBR trata seus pilotos. Principalmente o número 2, considerando que certamente eles não querem encrenca com verstappen nesse sentido.

          Fernando Marques

  3. Mauro Santana disse:

    Estou torcendo para que o Perez pegue logo a mão do bólido da Red Bull e faça ótimas corridas.

    Belo Texto, JC!

    Abraço

    Mauro Santana

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