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Seria fácil dizer que Button venceu a corrida na largada, mas isso seria apenas uma meia verdade.

A primeira corrida do ano é sempre mais do que apenas uma corrida; ela é também um possível trailler do que será visto ao longo do ano. E sob este aspecto, Melbourne, com todas as suas peculiaridades, tem cumprido bem seu papel. Nos últimos anos os conjuntos que dominaram por lá, acabaram confirmando suas forças ao longo da temporada. Vale, portanto, analisar a corrida, sem esquecer daquilo que ela nos informou sobre o futuro.

A formação do grid deu algumas pistas falsas, em relação ao desempenho real de certos conjuntos. Seria possível dizer, por exemplo, que Sergio Pérez, Kimi Räikkönen e Sebastian Vettel largaram em posições inferiores às que deveriam ocupar, em função de erros de pilotagem ou problemas mecânicos. E isso ficou claro ao longo do GP.

Seria fácil dizer que Button venceu a corrida na largada, mas isso seria apenas uma meia verdade. A questão é que Jenson jamais foi ameaçado, mesmo quando teve que lidar com vibrações num determinado jogo de pneus, ou quando o safety car evaporou sua vantagem em relação aos demais. É importante notar que os novos pneus da Pirelli tornaram-se mais próximos entre si, e ainda mais críticos em relação ao desgaste, aumentado o valor da estratégia. Além disso, os pilotos da McLaren tinham problemas com a quantidade de combustível no tanque, e tiveram que economizar a partir da oitava volta. Uma corrida complicada, enfim, com variáveis que casam perfeitamente com o estilo limpo e ascendente de Button.

O segundo lugar de Vettel é um pouco mais difícil de interpretar. Seu tempo nos treinos ficou nitidamente abaixo do que deveria ter sido, e a julgar pela forma como o bicampeão do mundo se posicionou na corrida – incluindo aí uma majestosa ultrapassagem sobre Nico Rosberg – ele parecia ter condições de lutar pela vitória. A maneira como conseguiu se reaproximar de Schumacher após escapar da pista, inclusive andando mais rápido que os pilotos da McLaren, reforçou essa impressão. A troca de pneus sob safety car valeu cerca de 10 segundos, mas a 2ª colocação parecia ser dele mesmo em condições normais. No entanto, ficamos sabendo depois que os prateados poupavam combustível, e a forma como Button sumiu na liderança após a relargada dá a entender que a McLaren tinha uma considerável reserva técnica. De qualquer forma o Red Bull é mais forte do que parecia, e a evolução dos carros pode muito bem ser o fator decisivo para os rumos do campeonato.

Lewis Hamilton na terceira colocação é mais fácil de explicar. Largou mal, não soube administrar os pneus tão bem quanto o companheiro de equipe, teve que poupar combustível e parou uma volta antes do abandono de Petrov. Provavelmente iria perder a segunda posição de qualquer forma, mas o carro de segurança tirou qualquer dúvida a esse respeito. Com os novos pneus, Lewis parece estar diante de um dilema: para bater o companheiro, ele terá que aprender a lutar com as armas do rival. Sua rapidez estonteante agora precisa ser administrada, conforme conveniências estratégicas, e Hamilton nunca foi muito bom nisso. É esperar para ver como ele reage às circunstâncias.

Em relação aos demais pilotos, alguns destaques. Mark Webber se atrasou no início da prova, mas a partir de então apresentou ritmo parecido ao de Vettel, dando indícios de estar bem adaptado ao contexto esportivo atual. Na Mercedes, Schumacher mostrou-se rápido com um carro desenhado sob medida para seu estilo, e aparentemente sofreu a pane no câmbio instantes antes de sair da pista, e não o contrário. Quando o bólido tornar-se mais amigo dos pneus, o heptacampeão deverá brigar por bons resultados. Já Rosberg assinou a melhor largada do dia, antes de começar a ser superado como de hábito. Apesar de ter sido mais rápido que o companheiro de equipe nas duas últimas temporadas, Nico parece não ter convencido a cúpula da Mercedes a respeito de sua capacidade de liderança. A rigor, quando a disputa se acirra, Schumacher se revela sempre um osso muito mais duro de roer.

Na Lotus, boas surpresas. Romain Grosjean mostrou, pela primeira vez na Fórmula 1, a mesma rapidez que sempre exibiu nas categorias de base. Finalmente o piloto franco-suíço parece ter aprendido a lidar com a pressão e, se mantiver a cabeça no lugar, deve se firmar na categoria ao longo do ano. Quem o viu na GP2 sabe que ele é muito mais piloto do que esta geração de Buemis e Petrovs que aportou pela F1nos últimos anos, e tem talento para vencer corridas. Já Kimi, apesar da ferrugem em relação a alguns procedimentos, continua um piloto forte como sempre foi. Na corrida seu ritmo foi excelente, e podemos esperar bons desempenhos desta dupla, ao menos neste início e temporada.

Já na Ferrari, o cenário é um bocado diferente. Fernando Alonso relembrou seus tempos de Renault em 2009 para arrancar um 5º lugar improvável, ao volante de um carro que nasceu mal, consome mais pneus do que a concorrência, e necessita de enorme carga aerodinâmica para se manter na pista. No fim, seu resultado refletiu não apenas seu enorme talento, mas também os problemas enfrentados por Mercedes e Lotus. Sobre Felipe Massa, não há muito que dizer. O brasileiro jamais encontrou um acerto razoável para o carro, devorou os pneus mais do que qualquer um e, apesar da boa largada, não teve meios de se manter entre os pontuadores. Bateu com Bruno Senna ao fim da prova, quando disputavam a 13ª posição. No mesmo instante, os outros dois carros de Ferrari e Williams disputavam o quinto lugar…

Bruno, ao menos, tinha boas razões para estar atrasado. Sua única culpa na batida da 1ª curva se deve ao fato de ter classificado tão atrás do companheiro de equipe. Depois, com o enorme atraso de ter rodado e furado um pneu, Senna até que andou bem, antes de bater. O carro da Williams melhorou muito em relação ao ano passado, e começa a temporada em melhor forma do que a Ferrari, por exemplo. A equipe, no entanto, paga o preço de ter vendido suas vagas, e já deve ter começado a sentir saudades de Rubinho. Porque se depender de Pastor Maldonado, francamente… Rápido e troglodita, o venezuelano arruinou a corrida de Grosjean antes de cometer haraquiri na volta final.

Entre as equipes, aparentemente McLaren lidera, seguida de perto por Red Bull. Mercedes e Lotus aparecem a seguir, à frente do embolado pelotão intermediário composto por Williams, Force India, Sauber, Ferrari e Toro Rosso. A Caterham foi uma enorme decepção, mantendo-se longe das equipes tradicionais apesar da estrutura e do suporte financeiro. Em relação à Marussia, a parceira técnica com a McLaren ainda não rendeu qualquer fruto visível, ao passo que sobre a Hispânia é melhor nem falar nada.

No geral, a primeira impressão foi positiva. A manutenção da base técnica gera a tendência de agrupamento dos carros, e o banimento dos escapamentos aerodinâmicos parece ter ajudado a aproximar os desempenhos.

Quanto aos pneus, a Pirelli tem feito a sua parte. Durante o inverno a fornecedora mudou radicalmente seus compostos, poupando apenas o super macio. Todo os demais foram amolecidos, a ponto do atual duro ser mais macio do que o médio do ano passado. Assim a empresa espera oferecer estratégias menos óbvias às equipes, e isso parece ter sido alcançado em Melbourne.

É uma pena que tudo fique limitado por esta FIA que proíbe a concorrência, e ainda obriga os times a utilizarem cada um dos compostos ao menos uma vez. Se ainda resta algo de óbvio na forma como cada time aborda a corrida, isso se deve ao regulamento obtuso e artificial.

Apesar dele, felizmente, as corridas prometem ser interessantes em 2012.

Abraços, e uma ótima temporada a todos.

Márcio Madeira

Márcio Madeira
Márcio Madeira
Jornalista, nasceu no exato momento em que Nelson Piquet entrava pela primeira vez em um F-1. Sempre foi um apaixonado por carros e corridas.

5 Comments

  1. Eduardo Trevisan disse:

    Dá gosto ver o Domenicali se ferrar com a Ferrari. Péssimo modo de administrar, impondo medo. Imagina como é trabalhar para esse carcamano “exigindo respostas” dos seus engenheiros.

    Gosto do Massa, mas não dá para ele continuar.

  2. Fernando Marques disse:

    Eu não vi a corrida … mas confesso que fiquei suspreso com o desempenho do Button. Isto por que penso que a principio a Maclaren precisaria da rapidez do Hamilton para andar junto ou na frente das RBR’s … e pelo visto estou enganado … com estes peneus que a Pirelli vai fornecer as equipes neste ano …saber dosá-los será fundamental em termos de estrategia e aí Button dá de 10 a 0 no Hamilton …
    Com relação ao Bruno Senna e Felipe Massa digo que se for isso que eles vão mostrar nesta temporada acho que seria melhor abandonar a Formula 1 agora … pelo menos nós torcedores brasileiros não vamos sofrer com tanta incompetencia … se a Mclaren vencer a proxima corrida creio que a RBR’s vão ter que rebolar …

    Fernando Marques
    Niterói RJ

  3. Walter disse:

    Que mudem o regulamento para que a escuderia sediada em Faenza forneça chassis para a escuderia de Maranello. Esta é a salvação da caótica Ferrari que ao meu ver, no momento, tem apenas o Fernando Alonso. O resto da equipe deveria ser descartado.

  4. Mauro Santana disse:

    A temporada começou bem, e acho que vai ser ainda melhor no decorrer do ano!

    Minha torcida é para que Button conquiste o Bi!

    A respeito dos pilotos Brasileiros, a minha unica esperança é que Felipe Nasr chegue mesmo na F1, e pela porta da frente, porque do Massa e do Bruno, não espero muita coisa, pois o primeiro já esta na curva descendente, e o segundo além de não ter grande força, esta começando a carregar a cruz deixada por Barrichello, que tem o nome de Rede Globo.

    Abraço a todos!

    Mauro Santana
    Curitiba-PR

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