O novo século trouxe a Audi para as 24 Horas de Le Mans e uma nova hegemonia para Porsche nenhuma por defeito: 13 vitórias diretas em 15 anos, a partir de 2000. E em um dos dois anos em que a Audi não venceu, a prova foi vencida por uma equipe-irmã, a Bentley.
Foi um período de intensa inovação na clássica francesa, com a introdução dos motores diesel e híbridos e também de um recorde extraordinário: o dinamarquês Tom Kristensen somou nove vitórias em Le Mans, seis delas em seguida, correndo entre 1997 e 2013.
2000, 2001, 2002, 2004 e 2005 – Audi R8
A Audi estreou nas 24 Horas em 1999, com o modelo R8R terminando a prova em 3º e 4º lugares.
A partir de 2000, com o modelo R8, emenda cinco vitórias em seis anos. A hegemonia beneficia-se da ausência de outros grandes construtores, mas nem por isso a Audi descuidou-se da qualidade do seu carro, equipado com um motor V8 biturbo, de 3,6 litros, e da organização da equipe.
Entre 2000 e 2002, Kristensen, Frank Biela e Emanuele Pirro conseguem três vitórias consecutivas, correndo pela equipe oficial de fábrica. O carro número 8, da foto acima, é o vencedor em 2000.
Em 2004, a vitória cabe ao trio Kristensen, Rinaldo Capello e Seiji Ara, o carro sendo inscrito por uma equipe japonesa. No ano seguinte, a vitória é de Kristensen, Marco Werner e JJ Lehto, correndo por uma equipe americana, carro número 3, cruzando na foto a linha de chegada.
A lembrança triste associada ao R8 é que foi num deles que Michelle Alboreto perdeu a vida, durante um teste em Lausitz, em abril de 2001.
2003 – Bentley Speed 8
A marca inglesa voltou às 24 Horas de Le Mans em 2001, com um belíssimo histórico: cinco vitórias entre 1924 e 1930. Pertencente ao grupo VW, a Bentley criou seu programa esportivo à sombra do da Audi, também parte do grupo.
Com carro e motor baseados no Audi R8C, um dos antecessores do R8, a Bentley disputou as 24 Horas em 2001 e 2002, só perdendo para os Audi oficiais.
O Bentley de 2003 foi extensamente revisto em relação ao dos anos anteriores, sendo equipado com um motor Audi V8 biturbo de 4 litros e inscrito pela equipe Joest.
Beneficiada pela ausência da equipe oficial da Audi, a Bentley dominou, largando da pole e liderança quase toda a prova, chegando a vitória com o trio Kristensen, Capello e Guy Smith. Em 2º, ficou outro carro da equipe, que encerrou sua participação no automobilismo dias depois da vitória em Le Mans.
2006 a 2008 – Audi R10
A equipe Audi de fábrica está de volta e emenda três vitórias com o modelo R10 TDI, vencedor desde a sua estreia, nas 12 Horas de Sebring de 2006.
Revolucionário, era equipado com um motor diesel – primeira vez que um arranjo destes venceu em Le Mans –, de 5,5 litros, V12 biturbo. O chassi do R10 foi construído na Itália pela Dallara.
Ao volante em 2006 e 2007, Biela, Pirro e Werner; em 2008, Kristensen, Capello e Alan McNish.
Em 2006, o brasileiro Thomas Erdos termina em 8º, com um MG-Lola, Nelson Piquet Jr em 9º, com um Aston Martin, e Christian Fittipaldi em 11º, com um Saleen.
2009 – Peugeot 908 HDI
A marca francesa consegue romper o domínio alemão e coloca seus carros nos dois primeiros lugares das 24 Horas. No vencedor estão os pilotos David Brabham, Marc Gené e Alexander Wurz.
Com um motor diesel V12 biturbo, a Peugeot estreou em Le Mans em 2007, conseguindo a pole – e de novo no ano seguinte –, mas acabou batida pela Audi.
Jacques Villeneuve era um dos pilotos da equipe, o que tornou possível o surgimento de um novo tríplice coroado, igualando o feito de Graham Hill, já que o canadense havia vencido Indy e o Mundial de F1. O carro de Villeneuve quebrou em 2007. No ano seguinte, terminou em 2º, na mesma volta do Audi vencedor.
Em 2008 Ricardo Zonta terminou as 24 Horas em 3º, a duas voltas do vencedor, dividindo um Peugeot com Christian Klien e Franck Montagny.
2010 – Audi R15
Equipado com um motor diesel V10 turbo de 5,5 litros, o novo modelo da Audi venceu em sua estreia, em Sebring 2009, e seguiu confiante para Le Mans, mas foi batido pela Peugeot, terminando em 3º lugar.
No ano seguinte, a batalha repete-se, mas os Peugeot abandonam e o R15 pode ocupar os três primeiros lugares, com Mike Rockenfeller, Timo Bernhard e Romain Dumas no carro vencedor. Eles alcançaram o recorde, não batido até hoje, de distância percorrida durante a prova: 5 410 km.
Thomas Erdos, com um Lola, terminou em 8º.
2011 a 2014 – Audi R18
Os alemães renovam sua hegemonia no Mundial de Marcas e em Le Mans em especial com o R18, um carro de aparência assustadora, tal a exasperação da pesquisa aerodinâmica que o tornou possível.
Equipado com motor diesel V6 turbo, de 3,7 litros, o R18 tinha cabine fechada.
Dois carros da equipe se envolvem em graves acidentes na edição 2011. O modelo sobrevivente, pilotado por Marcel Fässler, André Lotterer e Benoît Treluyer, vence a prova menos de 14 segundos à frente da Peugeot, que consegue também o 3º e 4º lugares.
Nos três anos seguintes, com o modelo R18 e-tron quattro – que tem o motor diesel associado a um motor elétrico ligado a um kers projetado pelos engenheiros da Williams –, a Audi vence com Fässler, Lotterer e Tréluyer; Kristensen, McNish e Loïc Duval (carro número 2, foto na abertura desta coluna) e, de novo, Fässler, Lotterer e Tréluyer.
Em 2013, Lucas di Grassi termina a prova em 3º e, no ano seguinte, em 2º, correndo pela Audi (carro número 1, na foto acima).
2015 a 2017 – Porsche 919 Hybrid
Para quebrar de vez a hegemonia da Audi, foi preciso chamar a Porsche.
Ela voltou a Le Mans em 2014, com carro de aerodinâmica tão exasperada quanto a do R18, empurrado por um V4 turbo de 2 litros, híbrido. Terminou as 24 Horas em 11º lugar.
No ano seguinte, a Porsche vence, com os pilotos Nick Tandy, Earl Bamber e Nico Hulkenberg (carro número 19, na foto acima), que percorrem 5 383 km durante a prova, a segunda melhor marca de Le Mans, só atrás do Audi de 2010.
A Porsche consegue também o 2º e 5º lugares, deixando a Audi em 3º e 4º, este com um carro pilotado por di Grassi.
Em 2016, nova vitória, com Marc Lieb, Romain Dumas e Neel Jani (carro número 2), desta vez de forma dramática. A Toyota liderava a prova até abrir a última volta, quando uma pane eletrônica paralisa o carro pilotado por Kazuki Nakajima, filho de Satoro, bem na linha de chegada.
Como é imprescindível que o vencedor esteja correndo ao término das 24 horas da prova e não foi possível aos japoneses religar o carro, nada podem fazer a não ser assistir o Porsche descontar a volta e receber a bandeirada.
2016 marca a despedida da Audi de Le Mans. Seu melhor carro termina em 3º lugar, pilotado por di Grassi.
Em 2017, os japoneses ficam pelo caminho e o Porsche de Bernhard, Brendon Hartley e Bamber ganha a prova, à frente de dois carros de uma equipe chinesa.
André Negrão termina em 4º, com um Alpine Renault.
2018 a 2020 – Toyota TS 050 Hybrid
A sonhada vitória japonesa demora, mas chega e abre uma nova hegemonia em Le Mans, que já dura cinco anos e será agora desafiada pela Porsche, Ferrari e Peugeot, entre outras entrantes na categoria Hypercar.
A Toyota estreou em Le Mans em 2012 e colheu alguns bons resultados – um 2º lugar em no ano seguinte, por exemplo –, mas a vitória só veio em 2018. Beneficiada pelo abandono da Porsche, o trio Nakajima, Fernando Alonso – ele mesmo –, e Sébastian Buemi vence e a Toyota faz também o 2º lugar. Bruno Senna termina em 4º, com um Rebellion.
Em 2019, a Toyota repete vitória e 2º lugar, o carro vencedor nas mãos do mesmíssimo trio do ano anterior. De novo, Senna termina em 4º, com um Rebellion.
Buemi e Nakajima emendam a terceira vitória seguida em 2020, desta vez dividindo o carro com Hartley.
Cinco volta atrás, chega o Rebellion pilotado por Senna, repetindo o 2o lugar de José Carlos Pace, Raul Boesel e di Grassi. Senna tem como companheiros Gustavo Menezes e Norman Nato e deixam o outro Toyota em 3º.
2021 e 2022 – Toyota GR 010 Hybrid
Na primeira edição sob o regulamento Hypercar, nova vitória Toyota, com Mike Conway, Kamui Kobayashi e José María López (carro número 7, acima). Negrão termina em 3º com um Alpine, e Pipo Derani em 4º, com um Glickenhaus.
Finalmente neste ano, a Toyota obtém sua quinta vitória em Le Mans , com Hartley, Buemi e Ryo Hirakawa, conseguindo também o 2º lugar, enquanto Derani repete o 4º lugar com Glickenhaus.
Mais Foto-Legendas:
Le Mans, 81 a 99 – https://gptotal.com.br/foto-legendas-le-mans-81-a-99/
Le Mans – Os anos 70: https://gptotal.com.br/foto-legendas-le-mans-anos-70/
A saga do Ford GT40 em Le Mans: https://gptotal.com.br/foto-legendas-a-saga-do-ford-gt-40-em-le-mans/
As joias da Ferrari em Le Mans https://gptotal.com.br/foto-legendas-as-joias-da-ferrari-em-le-mans/
O Porsche 917 https://gptotal.com.br/foto-legendas-porsche-917/
Jim Clark https://gptotal.com.br/foto-legendas-jim-clark/
Legendas 1 https://gptotal.com.br/foto-legendas-1/
6 Comments
Belíssimo texto, Edu!
A exemplo do que a Porsche fez na edição de 1982, em 2002 a Audi cruza a linha de chegada com os seus respectivos carros na numeração 1, 2, e 3, em primeiro, segundo, e terceiro lugar.
Até nisso, a Porsche e a Audi conseguiram tais feitos.
Abraço!
Mauro Santana
Curitiba-PR
Edu,
Como sempre _Fotos Legendas – Le Mans” parte final foi um deleite de se ver e ler.
O automobilismo mundial tem suas histórias e recordes a serem igualados ou superados .
A tríplice coroa e as 9 noves vitórias do Kristensen são grandes exemplos.
Mas uma coisa não posso me falar. Assim como na formula 1, a evolução e regulamentos deixaram os carros mais feios
Fernando Marques
Niterói RJ
Fechamento de gala dessa série. Apenas um porém: são tres corridas que formam essa coroa, 500 milhas, 24 horas e GP de Monaco. Villeneuve não chegaria a triplice pois nunca venceu em Monaco.
Valeu, Robertão, obrigado pelo comentário
A Tríplice Coroa nunca foi formalmente definida. Há quem a associa à vitória em Mônaco, há quem o faça em relação ao Mundial de F1.
Como Hill ganhou em Mônaco (cinco vezes!) e o Mundial, a controvérsia nunca demandou um tira-teima.
Abraços
Edu
Valeu Edu. Obrigado pelo esclarecimento.
abs