Goodwood – diversão sobre 2 ou 4 rodas

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O colunista esteve presente pela segunda vez e conta tudo sobre o maior festival do mundo para os amantes do esporte a motor

Pela segunda vez estive em Goodwood, e pode parecer estranho, outros podem até achar que estou querendo me gabar, mas a verdade é que parecia que estava voltando pra casa. Rever os grandes pilotos e os clássicos carros, muitos dos quais havia visto no ano anterior me deu uma sensação de estar em um lugar já bastante familiar. Tive esse impressão ao ver por exemplo John Surtees, campeão na F1 e nas motos, sobre o qual escrevi aqui mesmo no GP Total um texto no ano passado.

Cumprimentei o vitorioso piloto como se já o conhecesse, e pasmem, impressão boba a minha, mas acho que também me reconheceu, e amarramos uma conversa sobre a moto que ele pilotaria nesta edição. A moto era uma Norton, com uma história incrível, como cada um das centenas de carros e motos que aparecem em Goodwood. Segundo Surtees, aquela não era uma moto qualquer.

Só existiu um protótipo feito – e era aquele. A moto foi feita para que Surtees competisse no campeonato mundial de 1955, mas depois de Surtees testar a moto em 1954, a fabrica fechou seu departamento internacional e o projeto de corridas foi desfeito. Com isso, a moto foi desmanchada e as partes foram cada uma para um lugar diferente. Até que em 1982, o próprio Surtees começou a procurar essas peças e a juntá-las, com a ajuda do chefe dos mecânicos original da moto. E foi o resultado desse trabalho todo que Surtees pilotou na pista.

Entre os carros, Goodwood festejou este ano, os 60 anos da Lotus em competição. Lembrando que na F1, a Lotus só começou a correr em 1958, em Monaco, com um carro que estava lá – o Lotus –Climax 12. Este carro hoje pertence a um australiano, com uma paixão imensa pelo veículo. Ele me mostrou um livro que demorou 13 anos para ser finalizado, mas nele, o australiano conseguiu reunir todas as notícias, resultados e informações sobre o carro. Tem lista de resultados oficias das provas, fotos, peças marcadas, enfim, um trabalho magnífico ! E o orgulho com que ele mostrava o livro, dava a mesmo sensação em quem o lia.

Em meio a tantos carros da Lotus, e de tantas lembranças para nós brasileiros, nossos ícones de velocidade estavam lá. Emerson Fittipaldi pilotou o modelo com que estreou na F1, em 1970 no GP da Inglaterra, a Lotus 49 C, vermelha e branca com a estampa Gold Leaf. Emerson, com os olhos marejados lembrava com saudades do dia que se sentou pela primeira vez naquele carro. Disse que as lembranças até do cheiro vinham a memória, e que não tinha idéia de tantas alegrias nas pistas que o futuro lhe reservava.

Fittipaldi andou também na Lotus que lhe deu a primeira vitória, o ainda modelo vermelho 72, nos EUA, em Watkins Glen (perto de Nova York) e na Lotus 72 E, já preta e dourada, modelo com o qual conquistou o primeiro título em 1972, após vencer na Itália.

Ainda sobre nossos heróis brasileiros, lá estava também a Lotus 97 T, o mesmo carro com o qual Ayrton Senna venceu sua primeira corrida na F1, no Estoril, em Portugal. Quem teve a honra de pilotar o carro foi Chris Dinnage, que foi mecânico desse mesmo carro quando Senna o pilotava. Chris não escondia a alegria e a satisfação da ocasião. Me disse para imaginar o que se passava na cabeça dele, afinal aos 24 anos era mecânico desse carro, e agora com mais de 50 iria pilota-lo na frente de milhares de pessoas.

Relembrou também Senna, disse que nunca viu um piloto ser mais completo e ter tantos canais ao mesmo tempo. Disse que enquanto Senna pilotava com um olho, deixava o outro para olhar ao redor, verificar os sistemas do carro, além de usar todos os outros sentidos, tudo ao mesmo tempo, e ouvir o motor, o barulho do freio e o público em volta. Falou com saudades e reverência.

Entre tantos carros icônicos e vitoriosos, como os de efeito-solo e outros tantos turbo, como o primeiro Renault RS01 turbo, de 1978, outros muitos carros, no mínimo curiosos, também estavam por lá, como o Lotus Pratt &Whitney 56 B, com motor de helicóptero, com o qual Emerson Fittipaldi fez apenas 1 corrida das 3 que o carro disputou em 1971. O 56 B criado originalmente para a Indy foi levado para a Fórmula 1 por Colin Chapman, por ser bastante rápido – e isso ele realmente era – mas, acontece que os freios não conseguiam segurar tanta potência. Pense bem, o carro não tinha o freio motor, então somente o conjunto de freio a disco deveria tentar segurar o impossível !

Os carros de 6 rodas também estiveram em Goodwood, seja com 4 rodas na frente ou com 4 rodas atrás. Em especial, falei com o piloto de uma March Cosworth 2-4-0, um protótipo desenvolvido pela March no final de 1976. O carro foi comprado por dois amigos, levado para a oficina e lá terminaram de desenvolve-lo especialmente para provas de subida de montanha, como Goodwood. Segundo ele , o carro é ótimo para pilotar, com uma ótima aderência e nas curvas se sente tração por todos os lados.

Enfim, Goodwood é um parque de diversões. Não há Mikeys, Plutos, Donalds e muito menos Patetas, por outro lado Stirling Moss, Alain Prost, Sebastian Vettel, Mark Webber, Lewis Hamilton e Jackie Stewart são presenças garantidas. Brinquedos então … não faltam!

Até a próxima!!

Tiago Toricelli
Tiago Toricelli
Jornalista, autor de "Rally dos Sertões" e "Manual do Alpinista de Primeira Montanha". Já cobriu 12 temporadas de F1 (CBN) e acompanhou de perto as principais categorias da velocidade.

3 Comments

  1. Fernando Marques disse:

    Eu adoro ser saudosista … adoraria estar tambem em Goodwood

    Fernando Marques
    Niterói RJ

  2. Allan disse:

    Ai, ai… Um dia, quem sabe, estarei por lá… Parabéns, Tiago! Bela narrativa, mas sente-se que teve MUITO mais que pudesse vir a público… E as fotos? E ali, era um F5-A? Emmerson não andou no melhor carro de F1 que o Brasil já fez? E o mais bonito! Se tiver um blog, informe aí que quero ler e ver mais coisas sobre Godwood 2012!

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