Guerra de estilos

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Apenas por um pequeno capricho aritmético, esta coluna não parabeniza Vettel pelo seu bicampeonato. Temos uma situação em que, estatisticamente, seria mais fácil um satélite desgovernado cair na cabeça de José Sarney, tão lindamente homenageado no Rock In Rio, do que Vettel perder o campeonato.

 

Apenas por um pequeno capricho aritmético, esta coluna não parabeniza Sebastian Vettel pelo seu bicampeonato. Com a vitória do alemão nesta etapa de Cingapura, a 9ª da temporada, basta um miserável 10º lugar em uma das próximas cinco corridas para que um dos títulos mais manjados que já se viu seja finalmente oficializado – resultado só necessário se Button vencer tudo. Temos uma situação em que, estatisticamente, seria mais fácil um novo satélite desgovernado da Nasa cair na cabeça de José Sarney, tão lindamente homenageado no Rock In Rio, do que Vettel perder o campeonato.

Em quase duas horas de prova, há quem a tenha achado desinteressante. E que pode ter em mente frases como “ah, só o Vettel ganha, está chato, né?”, tal como proferiu certa vez uma das apresentadoras dominicais de esporte da rede platinada, em típica situação de que em boca fechada não entra mosquito. Para quem só olha Sebastian partindo da pole e ganhando de ponta a ponta, o caminho é esse mesmo.

Entretanto, não podemos cair nessa superficialidade. Aprofundando nossa análise, esta corrida em Marina Bay foi muito interessante por ressaltar justamente o que eu havia escrito anteriormente, na Olhar de alpinista, sobre estilos de pilotagem que ressurgiram com o fim do reabastecimento e pneus sulcados. Vettel foi tipicamente descendente, e Button foi tipicamente ascendente, tal como em Monza. E por muito pouco não tivemos um aguardado e espetacular duelo entre os dois, como no super GP do Canadá. Mas a guerra entre os estilos ficou evidente.

 

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Vettel fez mais uma pole-foguete (11 em 14 tentativas este ano), pulou bem e foi obscenamente mais rápido nas voltas iniciais, como manda a escola de Fangio-Clark-Senna de pilotagem. Apenas no giro inicial, abriu 2,6s para Button, que pulou para 2º na patinada de Webber. Em 10 voltas, Seb já contava com respeitáveis 11,6s de vantagem. Ele e o inglês, é bom frisar, estariam sempre nas mesmas estratégias de pneus: largada de super soft (vermelho), dois jogos de soft (amarelo) e retorno para o super no fim, eliminando uma possível variável entre os dois.

Na volta 27, a maior distância: Sebastian, mais exuberante que nunca, abre intermináveis 20,6s. Mesmo com um carro supostamente superior, não é recomendável forçar demais em pista de rua, tão propícia a entradas de Safety Car. Tanto que, duas voltas depois, este entra em cena por conta do erro de Schumacher. Toda aquela vantagem some. Por sorte de Vettel, não por completo: na relargada, volta 34, Button é segurado pelo retardatário Kobayashi e apenas nessa primeira volta passa 8,9s atrás, resultando em 10s no giro seguinte, quando finalmente o supera. O japonês seria punido com drive-thru, enquanto o inglês rema para provar que pilotos ascendentes, da escola Stewart-Fittipaldi-Lauda-Prost de pilotagem, também têm a receita do sucesso.

Com 13 voltas para o fim, Button coloca seus pneus supermacios, quando tinha os mesmos 10s de desvantagem. Passa então para o modo ‘qualify’ e assusta a Red Bull: não apenas deixa claro que Webber não o alcançaria para formar dobradinha, como também começa a descontar perigosamente a vantagem de Vettel, que desta vez não consegue ser o mais rápido da pista. Caso fosse o alemão o mais forte daquele momento, poderia ter freado o avanço do rival simplesmente com uma volta bem rápida, para provar que estava sobrando.

Entretanto, não foi o que aconteceu. O inglês marca a melhor volta da corrida no giro 54 (tirando de Sebastian a chance de marcar um “Grand Slam”) e no 58, a distância cai para apenas 3,7s. Mas então o tráfego novamente mostrou-se fator determinante, selando o destino entre os competidores na bandeirada, na volta 61.

Sim, é possível dizer: foi o atraso causado por Kobayashi que nos privou de assistir uma batalha em que Vettel poderia muito bem ter perdido para um Button no geral menos rápido, mas mais inteligente e mais forte no fim.

Aguardemos ansiosamente mais duelos desse tipo.

 

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A Ferrari ficou abaixo de McLaren e Red Bull simplesmente porque apresentou desgaste de pneus muito mais acentuado. Apenas para ilustrar o problema, o jogo super soft de largada de Fernando Alonso decaiu com apenas 8 voltas de uso, obrigando o asturiano a procurar os boxes já no giro 9, fora do previsto. Vettel e Button conseguiram fazer a primeira rodada de pits na volta 14. Vários pilotos foram de super soft no stint final. Os da Ferrari nem cogitaram a possibilidade – dá-lhe pneu amarelão.

Sobre Felipe Massa, a história se sempre, como bem apontou Márcio Madeira colunas atrás: ruim de treinos e bom de largada, acaba sendo alvo de ultrapassagens ou acidentes, como o que causou Lewis Hamilton. (Aproveito para requisitar a ajuda dos sempre antenados leitores do GPTotal, a fim de levantar o número de acidentes que Lewis causou em 2011 e quantos drive-thru ele tomou. Confesso que estou curioso para saber o montante dessa conta, certamente muito volumoso).

Voltando ao assunto dos pneus, Paul di Resta, por seu lado, fez sua melhor corrida na F1 ao fechar a prova em 6º lugar. Seu trunfo foi largar com amarelos em sua Force India (único do Top Ten a fazer isso) e fazer uma parada a menos que o restante dos competidores. Eu nunca ouvi falar que a Force India fosse gentil com a borracha alheia – Adrian Sutil também fez apenas dois pits e chegou em 8º. Quem tem essa fama é a Sauber, que desta vez ficou abaixo da expectativa.

Mas quem ficou realmente muito abaixo do esperado foi a Renault, a equipe que mais decaiu durante o ano. Dos pódios nas corridas iniciais, quando chegava a incomodar a Ferrari, para pior equipe do grid depois do trio Lotus-Virgin-Hispania do fundão. Tudo bem que eles deram um passo errado no upgrade aerodinâmico para a etapa de Cingapura, mas é melhor levantar a poeira logo: Vitaly Petrov terminou a corrida atrás de um eufórico Heikki Kovalainen, vibrando pelo 16º lugar conseguido. Visto por esse ângulo, o 15º lugar de Bruno Senna não soa tão mal. Só fico lamentando desde já a situação de retorno do Robert Kubica para a equipe.

Até Williams andou melhor que Renault, ainda que sem levar ponto algum. E estamos falando em um time que está em sua pior temporada desde 1978, quando Frank Williams uniu-se a Patrick Head e refundou o time que antes dividia com Walter Wolf. Triste ver a terceira mais importante equipe da História se arrastando e orientando suas escolhas de piloto para 2012 priorizando os famigerados “paga pra correr”. A Silly Season promete ser sofrida para Barrichello, que como Schumacher, quer também soprar 20 velinhas.

 

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O grid de largada em Marina Bay apresentou duplas de Red Bull, McLaren, Ferrari, Mercedes e Force India largando lado a lado. A primeira imagem que veio à mente foi aquela famosa foto do grid do GP da França de 1988, com McLaren, Ferrari, Benetton e Lotus (de verdade) com seus respectivos pares. Um toque flashback – pois a história é cíclica, não é linear…

 

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Que venha Suzuka, para que possamos finalmente erguer o punho de Sebastian, senhor absoluto dos recordes da juventude!

Aquele abraço!

Lucas Giavoni

Lucas Giavoni
Lucas Giavoni
Mestre em Comunicação e Cultura, é jornalista e pesquisador acadêmico do esporte a motor. É entusiasta da Era Turbo da F1, da Indy 500 e de Le Mans.

9 Comments

  1. Marcel Pilatti disse:

    Vale lembrar, também, o GP do japão de 2002 que teve essa situação, com ferrari, mclaren, williams e jordan compondo as filas em sequência.

  2. Sandro disse:

    Falta apenas Vettel “o puto maravilha” (ora pois!) ganhar uma corrida sem ser na primeira fila…
    … E o Grand Slam (ou Grand Chelem)!
    Amplexos! ^-^

  3. Não concordo que os carros atuais sejam feios. Apenas evoluíram… ou esperavam que os carros de 2011 tivessem o mesmo design de 1988?

  4. Rogerio Tofoli Kezerle disse:

    A corrida de Cingapura foi monotona apenas na disputa do primeiro lugar. No resto não achei.
    Vettel está absurdamente “conectado” à seu carro. É o tipico casal perfeito. O carro não quebra e Vettel não erra. Falaram que Cingapura não era uma pista para a Red Bull. Talvez, mas deve ser uma pista para o Vettel. E ele arrebentou. Discordo do Lucas apenas quanto à diminuição da diferença na volta 58. Ela caiu tanto por que Vettel foi atrapalhado pelos retardarios, o que levou Button a tirar uns 3 segundos em uma volta. Diferença retomada na volta seguinte, quanto Button é que foi atrapalhado. Massa foi realmente mal, mas acho que a Ferrari foi a equipe grande mais prejudicada pelo traçado.
    Hamilton… Bem.. Não vou dizer que é um piloto excepcional, pois estes não fazem tanta bobagem quanto Hamilton faz. Perdeu um titulo ganho por burradas. Quase perdeu outro na sequencia, por mais burradas, mas deu uma sorte do cão em Interlagos. Agora que não tem o melhor carro, as burradas custam mais caro. Tanto que Button está muito na frente dele. Hamilton é muito rapido. Como dizia Piquet sobre Mansell, a besta mais rapida do mundo.
    QUanto às punições, acredito que a tese do Petry está correta. É o tal do racismo ao contrario. Caso Hamilton sofra uma punição exemplar, como acho que já passou da hora de receber, vão ficar dizendo que é apenas por ser negro. Para estes a reposta pode ser : Schumacher é branquelo de olhos claros e perdeu todos os pontos de uma temporada por uma burrada. Hamilton já merece esse tipo de punição. E o Withmarsh mais ainda por dizer que Hamilton não fez nada de errado no acidente com Massa. Ou então ele precisa procurar um oculista, psiquiatra, ou outro especialista qualquer……

    Parabéns a Vettel pelo bi-campeonato. O bi-campeão mais jovem de todos os tempos e, acredito, o piloto mais jovem de todos os tempos a conseguir este numero de vitórias, 19….

  5. Arlindo Silva disse:

    As confusões de Hamilton esse ano foram:

    – Bateu com Alonso na Malásia (embora esse tenha sido mais culpa do espanhol);
    – Jogou Massa pra fora da pista em Monaco;
    – Jogou Maldonado pra fora da pista em Monaco;
    – Bateu com Webber no Canadá;
    – Tentou uma ultrapassagem impossível contra Schumacher e deu uma escapada de pista no Canadá;
    – Bateu com Button no Canadá;
    – Deu uma escapada de pista nas voltas iniciais de Silverstone;
    – Rodou sozinho e depois deu um cavalo de pau na frente do retardatário na Hungria;
    – Tocou rodas com Maldonado na qualificação da Bélgica;
    – Bateu com Kobayashi na corrida da Bélgica;
    – Se estranhou com Massa na qualificação em Cingapura;
    – Bateu com Massa na corrida de Cingapura.

  6. Mauro Santana disse:

    Olá Amigos do GPTotal!

    Fiz um levantamento de cabeça dos títulos que foram decididos na fantástica pista de Suzuka no Japão, e os amigos leitores que me corrijam se estiver esquecendo de alguém.

    Vamos lá

    1987 – Piquet
    1988 – Senna
    1989 – Prost
    1990 – Senna
    1991 – Senna
    1996 – Hill
    1998 – Hakkinen
    1999 – Hakkinen
    2000 – Schumacher

    E gostaria de aproveitar a oportunidade para fazer um comentário ao Hamilton.

    É fato que ele anda fazendo muitas bobagens nas pistas, mas não da para negar, que hoje, ele é um pouco o que foi Mansell no passado, e isso, torna o espetáculo mais animado, e eu, particularmente, gosto muito, pois sempre fica aquele frisson no ar!

    Lucas Giavoni

    Esta foto da largada do GP da França de 1988 é mesmo marcante, e olhando para os carros daquela época comparados aos de hoje, fica claro como estes carros de hoje são verdadeiras aberrações!!!

    Eu tento achar algo de bonito nestes carros de hoje a cada GP disputado, mas realmente, não consigo!

    Abraço a todos!

    Mauro Santana
    Curitiba – PR

  7. Geraldo disse:

    Mesmo com o acidente, a performance do Felipe Massa foi horrorosa … já que o Hamilton, depois da penalidade, voltou atrás do próprio Felipe Massa (lá pelo 19º) e terminou em quinto lugar … enquanto o Felipe Massa terminou em nono

  8. Fernando Marques disse:

    Mais uma coisa … pergunto aos amigos o que voces acharam da atitude do MAssa e os tapinhas que ele deu no Hamilton diante da TV?

    Fernando Marques
    Niterói RJ

  9. Fernando Marques disse:

    Apesar do belo texto continuo achando que o GP de Cingapura foi o mais chato da temporada … não pelo Vettel que mais uma vez sobrou … mas pelas ausencias do Alonso e L. Hamilton brigando por posições nas pistas … Alonso pela Ferrari mais uma vez ter tido um desempenho decepcionante e o L. Hamilton por mais uma burrada que o jogou para o fim do pelotão … esperar de Button ou Webber alguma emoção nas pistas é algo dificil …
    Com relação ao Hamilton e suas burradas, acho que a FIA deveria lhe dar um castigo pais penoso do que ele vem sofrendo com seus “drive thru” como dar um gancho por uma ou duas corridas …
    O Felipe Massa pode reclamar do Hamilton e se posar de vitima mas nas pistas não continua andando nada … é uma decepção ele ter uma Ferrari e sequer ter subido ao podiun este ano …
    Rubinho e Senna eu não vi nas pistas … creio que só o Galvão … hehehehe

    Fernando Marques
    Niterói – RJ

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